Radinho de Pilha

Sempre gostei de futebol. E é tanta essa paixão que acho que até sou meio fanático, a ponto de deixar alguns compromissos familiares de lado, só pra poder ir ao estádio assistir à partida do meu time.

Mas, não é só de futebol que gosto. Gosto também de ouvir rádio. Isso desde criancinha. Não sei porque o rádio sempre me atraiu.

Quando era criança, na minha casa tínhamos um rádio na sala. Era habitual. Todas as casas tinham seu rádio na sala. Mesmo porque não havia ainda televisão. Aliás, minto, já havia. Nós é que não tínhamos dinheiro para comprar uma. Na verdade, poucas eram as famílias que as tinham. Depois a coisa foi ficando mais acessível. Daí a tevê acabou sendo incorporada àquele ambiente. Não para tomar o lugar do rádio, pois esse era insubstituível. Mas sim, para somar. A tevê ficava em um canto e o rádio no ambiente central. Mas não vou aqui falar da rivalidade do rádio e da tevê. Vou é mais falar das minhas paixões pueris, que na verdade continuam até hoje, talvez porque eu ainda não tenha crescido, ou essas paixões cresceram comigo, as duas: futebol e rádio.

E por falar nelas, nas duas paixões, que pensar então, nas duas misturadas: o futebol no rádio. Como me fascinava ouvir no rádio as transmissões das partidas de futebol. Que emoção! Quanta vibração!

Jamais locutor nenhum na tevê conseguirá colocar tanta energia numa transmissão de jogo como nas transmissões do rádio. Mesmo porque, como dizem, uma imagem fala mais que mil palavras. Então, por isso, talvez, o locutor de rádio seja obrigado a falar duas mil palavras para tentar construir na mente do ouvinte a precisão do lance, na precisão do momento da partida. E nesse esforço, eles acabam se tornando insuperáveis!

Ainda me lembro da Copa de 66, aquela fatídica em que o Brasil entrou de salto alto por conta dos dois títulos nas Copas anteriores (58-62). Daquela em que quebraram o rei, Pelé. Daquela em que reinou o príncipe, Euzébio. Daquela em que a Coréia mostrou que não tinha só radinho de pilha. Tinha também futebol. Daquela em que fizeram tudo para o time da rainha ganhar, sobre o time do kaiser. E não deu outra!

Essa foi a primeira Copa que acompanhei. E pelo rádio. Transmissão tecnicamente ruim, cheia de chiado, como se as ondas magnéticas do rádio viessem ao sabor das ondas do mar que atravessa os dois continentes. Mas tudo isso era superado quando “abriam-se as cortinas e começava o espetáculo”. Era o brilhante Fiori Giglioti, o moço nascido em Barra Bonita, mas criado em Lins! Divino Fiori. Entrava em campo com os jogadores. Sentíamos o coração saindo pela boca a cada jogada de ataque do “escrete canarinho”, termo por ele lapidado. Ele lapidava e coloria a transmissão!

Mas essa foi a Copa da frustração. A primeira pra mim, que nem nascido era em 1950, quando, dizem, foi essa a pior de todas!

Mas, “o tempo passa…”, como diria o meu amigo Fiori. E daí veio a Copa de 70. Aquela que não teve pra ninguém e talvez a mais espetacular trajetória de nossa seleção em uma competição. Todos os resultados incontestáveis. E era também a estréia da tevê, ofuscando as transmissões de rádio, na voz das gerais, do Geraldo José de Almeida. É verdade, mas ele veio da escola do rádio, como muitos outros que migraram para a televisão, como o Walter Abrahão, comandando a Equipe 1040 da Tupi.

Tempos outros. O nosso rádio da sala, aos poucos trocou de lugar com a tevê. Ele que era de madeira brilhante, tipo móvel, acabou cedendo seu espaço. E se retirou para um canto da sala. Mas mesmo de canto, ainda era útil. E nessa de ser encostado, teve que inovar. Deixou de ser de válvula, que levava um século para ligar, fazendo-me muitas vezes perder o lance do gol. Incorporou outra tecnologia: a do transistor. Ficou menor. Ganhou mobilidade e outro nome. Era o Spica. Deixou o canto da sala, nos acompanhando para todos os lados, mais ágil em todos os sentidos. Bastava acionar o botão e lá começava ele a tagarelar sem parar, passando todos os lances das partidas, não mais me fazendo perder o lance do gol.

E assim, eu continuei fiel a ele, por todas as partidas dos campeonatos paulistas. E ele nunca me decepcionou. Mandava suas transmissões de todos os cantos. De Ribeirão Preto, a “Califórnia Paulista” ora com o Comercial, ora com o Botafogo. De Piracicaba com o Quinze. De Araraquara, a “Morada do Sol”, com a Ferroviária. De Prudente, com a Prudentina, lógico. De Campinas, com a Ponte e o Guarani. Sempre o Fiori. E só o Fiori, pra criar essas imagens do rádio.

Quantas noites de quarta-feira eu ia pra cama com o meu radinho de pilha, ouvindo as partidas de futebol. E quantas vezes meu pai tinha que tirar o radinho por de baixo do travesseiro para poder desligá-lo, pois quando o jogo era morno ou meu cansaço era grande, que me desculpasse o Fiori. Eu o deixava falando sozinho!

E os anos foram passando. Novos campeonatos. Os torneios Rio – São Paulo, também pelas ondas do rádio. Vieram os primeiros campeonatos brasileiros. Vieram outros locutores criando suas próprias ondas. “Pimba na gorduchinha”, era o Osmar Santos. Talentoso Osmar, que o destino quis que se calasse e passasse a ser ouvinte apenas, como eu. Mas enquanto deu seu recado, falou bonito, criou escola e deixou um irmão, o Oscar Ulysses, que apesar do gene da família, tem seu estilo próprio.

Teve o Joseval Peixoto, nome de cantor, mas um tremendo locutor! E o Zé, também! O José Silvério. Conseguiu o seu espaço. Pinta as transmissões com cores próprias. Ele e outros tantos. Locutores e seus estilos, que vão e que vêm, nas ondas etéreas do rádio.

E com todas idas e vindas, a tevê procura selvagemente atingir as transmissões de rádio. São um, dois, três, trinta canais, livres e pagos. Transmitem várias partidas, de vários campeonatos ao mesmo tempo. Com tudo que é recurso técnico. O slow motion, o replay, o tira-teima, a computação gráfica, as dezoito, vinte e quatro câmeras espalhadas no campo, nos vestiários e corredores, a tomada aérea do dirigível. Tudo, pura covardia!

E o rádio, o radinho, coitado, tem resistido bravamente. E talvez esse seja o seu segredo. Hoje com seu imperceptível tamanho, resoluto, diminuto, consegue se esconder no bolso dos seus fiéis ouvintes, que sempre o acompanharão, atrás das emoções que só ele, com seus vibrantes locutores, sabe passar!
Fonte: São Paulo Minha Cidade

” Causos ” do futebol

1 – É GoooooooL…
…e em 1989, o narrador Garcia Junior armou uma boa. A Rádio Capital foi a única emissora do Rio que viajou para Medellín na Colômbia para transmitir Nacional x Vasco pela Taça libertadores da América. Durante a partida surgiu um pênalti para o Nacional, e foi para a cobrança o goleiro Higuita, enquanto isso aqui no Rio de Janeiro, as Rádios Globo, Tupi e Nacional, que não levaram equipes para Medellín acompanhavam a partida no famoso “geladão”, ouvindo o Garcia. Quando Higuita cobrou o pênalti, Garcia Júnior gritou:

– “GOOOOOOOOOOOOOOOL”
…e as outras emissoras também. Mas para a surpresa geral, logo após o grito de gol de Garcia Júnior, ele emendou: “O carro mais vendido do Brasil, já a venda na Distac Veículos”, Higuita havia perdido o pênalti, levando a loucura o pessoal das Rádios Globo, Tupi e Nacional que estavam gritando o “fictício” gol. Isto lhe rendeu até um processo por falta de ética profissional na ACERJ.

2 – …Ari Barroso irradiava um jogo no Maracanã.
Chamou o locutor-volante, seu querido amigo e colega, Isaac, que naquele dia, falava em microfone pela primeira vez na vida:
– Alô Isaac! – gritou Ari.
– Quem fala? Com quem quer falar? – perguntou o Isaac, com voz de telefonema.
E Ari Barroso, irritadíssimo:
– Desculpe, é engano, eu disquei errado.

3 – …Copa do Mundo de 1962. Brasil x Chile. Fim de jogo. Para variar, Garrincha tinha “arrebentado”. Um repórter chileno chega-se a ele, querendo entrevistá-lo e diz:
– Señor Garrincha, diga un hola al microfono.
Garrincha, na sua proverbial simplicidade, diz:
– Hola microfono
E vai embora, deixando o repórter com a maior cara de tacho…

4 – …O narrador Eduardo Ribeiro, ao iniciar a transmissão pela Rádio Cultura de Campos de mais um jogo pelo Campeonato Estadual em 2002, pediu a escalação do time do Americano que enfrentaria o Bangu. José Augusto, do campo, disse que o time já estava definido.
– Pois então qual é? – insistiu Eduardo.
– O Americano vai jogar com o goleiro Braz. Na lateral, o técnico Gaúcho ainda não sabe se contará com Marcelo Paulista. Na zaga, Marcelo Gomes é dúvida, da mesma forma que …
– Espera aí, José Augusto! Para quem disse que o Americano estava definido, há alguma coisa errada. Parece que só o Braz está garantido, não?
– É que o time está definido, mas não está completo…

5 -Diz o locutor de uma rádio:
– No último censo realizado pelo IBGE, ficou comprovado que a média da estatura brasileira é de 1,71m e somente 1 a cada 10.000 brasileiros mede acima de 1,90m.
Ao que alguém comenta nas sociais:
– E é justamente este FDP que senta na minha frente toda vez que eu sento nas cadeiras numeradas.!
Este último eu adaptei, porque sempre senta um cara alto na minha frente.
Fonte: Sintonia, o guia das rádios do Rio

ARTIGO DA SEMANA N°13/2008 A TRAGÉDIA DO ALIANZA LIMA EM 1987 VEIO A TONA 19 ANOS DEPOIS!!!!

Em Dezembro de 2007 se cumpriram 20 anos da tragédia aérea que vitimou toda a equipe do mais popular clube do Peru,o Alianza Lima,o acidente foi no dia 8 de Dezembro de 1987,nele faleceram 43 pessoas vinculadas ao clube,entre eles todos os jogadores e seu técnico.

Em 1987 o Alianza Lima,”Los Potrillos”,como eram conhecidos ocupava o primeiro lugar na tabela do campeonato peruano e faltando apenas algumas rodadas dava-se a impressão de estar indo rumo a um novo título quando aconteceu esta terrível tragédia.No dia 07 de Dezembro deste ano o Alianza Lima viajou a cidade de Pucallpa para jogar uma partida do Campeonato Nacional,contra o Deportivo Pucallpa.

A partida foi ganha pelo Alianza por 1×0 com gol de Carlos Bustamante,porém esta foi a notícia menos importante daquele dia.Após a partida a equipe que havia fretado um vôo charter para fazer a viagem de ida,onde tudo foi normal,como a viagem de volta.
O retorno aconteceu na noite do dia 08 de Dezembro em um avião Fokker F-27 da Marinha de Guerra do Peru,quando o avião se precipitou no mar quando se encontrava a poucos Km do Aeroporto Internacional Jorge Chávez na altura da cidade chalaça de Ventanilla.

ABAIXO O PILOTO EDILBERTO
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O único sobrevivente deste acidente foi o piloto, Edilberto Villar Molina que hoje vive na Austrália, falecendo todos os jogadores do clube, seu corpo técnico encabeçado pelo seu treinador Marcos Calderón.
No ano de 2006 uma investigação jornalística conseguiu a informação oficial preparada pela Marinha de Guerra do Peru,até então mantida em sigilo.Em 9 de Fevereiro de 1988, a Junta de Investigación de Accidentes de la Aviación Naval entregou ao Alto Comando da Marinha de Guerra do Peru o resultado das investigações, que continham os dados da caixa-preta do avião.
Neste relatório do acidente se assinalava que o avião apresentava falhas técnicas e que o piloto não tinha experiência para realizar vôos noturnos e nem de realizar os procedimentos de emergência corretos em caso de pane, fator determinante para a queda, chegando ao ponto do avião já em situação de emergência, o co-piloto, ter de ler o manual de procedimentos de emergência para o piloto, só que o manual estava em inglês e ambos tinham 40% de conhecimento da língua.Além disso continha um documento do relato do piloto onde pode-se ler os últimos momentos de vida do único jogador que conseguiu sair da aeronave ainda vivo,além do próprio piloto.
Alfredo Tomassini,jogador do Alianza e o piloto Edilberto,ainda ficaram algumas horas no mar de Ventanilla a espera de socorro.Alfredo não resistiu e morreu antes da chegada do socorro.

Esta informação foi sigilosa até 2006, por 19 anos ela ficou guardada na caixa-forte de um banco norte-americano.A divulgação de tal informação causou uma comoção nacional por saber da falta de preparo dos pilotos da Marinha do Peru e da péssima manutenção da aeronave.Familiares e dirigentes souberam dos detalhes do acidente e ficaram chocados.O piloto Edilberto e o co-piloto, entraram em pânico quando na segunda tentativa de aterrisar com problemas no trem de pouso da frente os passageiros foram até a cabine para ver o que ocorria.
O piloto então entregou o comando do avião ao co-piloto, ainda mais inexperiente, enquanto saiu da cabine e foi pedir a todos que se sentassem.Enquanto a noite, o co-piloto não percebia no altímetro por estar em pânico o avião descer a 700m por minuto, o piloto tentava acalmar os passageiros, de volta a cabine começou a tentar decifrar o manual em inglês para realizar o terceiro procedimento de emergência,deixando o co-piloto comandando a aeronave.

Como os passageiros voltaram a se reunir assustados na porta da cabine pela descida brusca do avião, isso causou um peso maior na parte frontal da aeronave, que aumentou ainda mais sua velocidade, nesta altura descendente.Sem reparar nas chamadas da torre do aeroporto por estarem neste estado de choque, em dado momento o co-piloto em um ato de desespero simplesmente entregou o manche do avião ao piloto, retirou os fones do ouvido e disse;”Ele é seu”; e saiu desesperado pela cabine de comando.
O piloto assustado e em choque pegou o comando do avião novamente, só que como estava em desespero também não reparou no altímetro,segundos depois o avião se espatifou no mar.
Por ironia do destino, nas duas passagens pelo aeroporto anteriores em que tentou baixar o trem de pouso da frente do avião em uma manobra de emergência, ambos foram avisados várias vezes que os 3 trens de pouso estavam já baixados em posição normal, fato visto pela torre, porém, tanto piloto como co-piloto tentaram uma terceira manobra de emergência, a que nunca ocorreu, por não ouvirem a torre comunicando este fato o que com certeza salvaria a vida de todos a bordo.Mas em desespero ambos ignoraram a torre de comando e continuaram a decifrar o manual em inglês.
Detalhe que 01 ano antes a Fokker havia mandado um relatório a Marinha do Peru,dizendo que o piloto em estado de stress,entrava em pânico e se desestabilizava.

O Alianza Lima terminou o campeonato de 1987 jogando com um time formado por juvenis e alguns jogadores emprestados pelo Colo Colo do Chile,que havia passado por uma tragédia similar e deu seu apoio ao clube peruano.A amizade destes dois clubes se fortaleceu muito após este ato de seus dirigentes.Infelizmente no restante do campeonato o Alianza fragilizado não conseguiu manter a liderança e o título acabou com a equipe do Universitário de Deportes de Lima.

Pereceram neste acidente 16 integrantes da equipe, 6 membros do corpo técnico, 4 auxiliares, 8 membros da torcida, 3 árbitros e 6 tripulantes.

JOGADORES

José Manuel “Caico” Gonzalez Ganoza
César Sussoni
Tomás Lorenzo “Pechito” Farfán
Daniel Reyes
Johnny Watson
Braulio Tejada
José Mendoza
Gino Peña
Aldo Chamochumbi
Carlos Bustamante
Milton Cavero
Luis Antonio Escobar
Ignacio Garretón
José Casanova
Alfredo Tomassini
William León
Aldo Sussoni
Marcos Calderón Medrano(Técnico)

ÚLTIMA FOTO DE LOS POTRILLOS
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Fonte:Internet(tradução minha)

A polêmica dos pênaltis em 1956!!!!

Matéria Fonte:Esporte Ilustrado 1956

A primeira defesa de um pênalti executado por Fried causou extraordinária sensação. O autor da façanha foi o falecido Flosi, jogavam Palestra e Ipiranga em 1917, quando o segundo foi beneficiado por um tiro máximo.
Fried apontou, e com grande surpresa de todos Flosi escorou o pênalti.
Venceu o Palestra por 2 a 1. Durante muitos anos a proeza de Flosi foi sempre lembrada, mas com o tempo, passou para o rol das coisas esquecidas, porque o feito foi referido em inúmeras vezes por outros adeptos.
Certa vez, no campeonato de 1921, o Paulistano perdeu dois pênaltis no célebre jogo com o Corinthians. Mais tarde, no jogo Paulistano x Germânia, Filó e Fried perderam também dois pênaltis.

Amilcar e Del Debbio erraram dois contra a Portuguesa, em 1923.
Se Grané nos últimos anos em que jogou deixou de marcar tentos de pênalti, não causou mais aquela sensação de alguns anos atrás. Todavia, foi sempre uma novidade, porquanto o tiro de Grané continuou sendo formidável.
Em 1929, como os leitores devem lembrar-se no jogo final do Campeonato Brasileiro, Jaguaré parou um pênalti de Grané, êsse pênalti glorificou o então arqueiro vascaíno, no Rio.

Em São Paulo, o guardião que mais teve sorte com os pénaltis de Grané, foi Athié. Foi, de fato, o guarda-redes santista que começou a não manter com infalível o chute máximo do gigantesco corintiano. Hoje em dia, continuamos possuindo vários arqueiros que não se deixam vencer tão facilmente apesar das regras atuais não permitirem muita ações dos guarda-redes.

Barbosa, querido no Ipiranga, foi o arqueiro que mais pênaltis defendeu en 1942, em São Paulo.
Há anos o Palmeiras também perde dois pênaltis na sua derrota (2 a 1,contra o S P. R)
Em São Paulo, cabe a Cláudio cobrar com maior êxito os pênaltis.
É o jogador número 1 para cobrar a penalidade máxima. Gilmar é o goleiro que mais pênaltis tem defendido, entre o quais 7 no estrangeiro.
Acho que os amigos paulistas podem falar mais sobre os jogadores aqui citados para acrescentar ao artigo.

O gol uruguaio não tinha porta

Num ponto os torcedores brasileiros eram unânimes: Zizinho foi o maior jogador do futebol brasileiro em sua época. Durante mais de dez anos defendeu a seleção brasileira. Sentiu muitas emoções e poucas decepções. Mas, aquela de 1950 fez o mestre chorar. Flávio Costa formou uma equipe cheia de craques acostumados a ganhar títulos importantes. Naquela final, contra os uruguaios, seria mais um.

Se Zizinho pudesse tirava do calendário do futebol brasileiro aquele 16 de julho de 1950. Embora reconhecendo o quanto é doloroso recordar, principalmente para aqueles que viveram o dramático momento, o Mestre Ziza comentou a decisão contra os uruguaios –

“Estamos ás vésperas do último compromisso do Brasil. Na intransitável concentração, a balbúrdia era geral. Ninguém entendia ninguém. Industrias queriam fotografias dos futuros campeões segurando seus produtos. Abraços e mais abraços de felicitações antecipadas. Todo o pensamento do Brasil se concentrava em São Januário. O estádio do Vasco não era de ninguém, era de todos. Para três que saiam, dez entravam. Perto de Mario Américo, eu não compartilhava da alegria geral. Alguma coisa me deixava apreensivo. Mentalmente, me perguntava – pra que serve a concentração?”.

Visivelmente emocionado Zizinho continuou falando sobre a decisão de 1950, no maracanã.

“Já no vestiário do maracanã, tivemos noticias de que faixas haviam sido preparadas. Cartazes com dizeres alusivos a conquista do campeonato do mundo pelos brasileiros. Mais tarde vim a saber de que até edições de jornais haviam sido preparadas antecipadamente para sair logo após o termino do jogo com manchetes anunciando nossa brilhante vitória. Bebi água, fizemos uma fila indiana e subimos os degraus de acesso ao gramado. Fomos recebidos de forma entusiástica. O povo, também, todo otimista, olhava para nosso selecionado como campeões”.

E foi a partir dai que as coisas começaram a se complicar para o Brasil.

“Endossando meu pensamento, o time demonstrava que não se encontrava em seus melhores dias. Não parecia aquela seleção que enfrentara a Suécia e a Espanha. Os passe não tinham a mesma precisão. Os chutes não pareciam possuir a mesma potência. Senti que, aos vinte minutos, o torcedor já não se sentia à vontade. Mas, como o empate servia… O jogo foi se arrastando até que terminou o primeiro tempo sem gols. Somos recebidos nos vestiários como vencedores. Era só voltar para mais quarenta e cinco minutos e depois beber champanha na Taça Jules Rimet. E logo no inicio do segundo tempo veio o gol de Friaça. O Maracanã, superlotado, explodiu em um delírio nunca visto. As bombas estouravam sobre nossas cabeças”.

Zizinho gostaria de não continuar, mas com um sorriso triste ele falou sobre o dia em que Gighia calou o Brasil interiro.

“Sem entender o que aconteceu vi os uruguaios empatarem o jogo. A torcida que estava mal acostumado com as vitórias de 7×1 contra a Suécia e 6×1 contra a Espanha, aquele empate não estava no programa. Somente quando tomamos o segundo gol é que passamos a compreender toda extensão do drama que começávamos a viver. Nosso time partir todo para o ataque. E o bombardeio ao gol de Maspoli começou. Os minutos se passavam, a bola batia nas costas de um, batia na trave, passava raspando a meta de Maspoli que também fazia defesas milagrosas. Houve um momento que vislumbrei o gol de empate. Ademir correu ao lado de Obdulio Varella, ganhou na corrida e no momento no chute foi derrubado. E com ele caiu nossa melhor chance de gol. A falta foi cobrada para fora. No último minuto, um escanteio cobrado por Chico com a bola caindo no meio da área. Não me recordo quem chutou, o certo é que a bola bateu nas contas de um uruguaio e caiu nas mãos de Maspoli. O gol dos uruguaios estava fechado. Os chutes dos Brasileiros encontravam a porta fechada. Quando o juiz deu o último apito, veio à sentença: os futuros campeões de mundo não passavam de eternos e desacreditados vice-campeões “.

O mestre Zizinho será sempre lembrado como um dos craques mais talentosos do nosso futebol. E aquele 16 de julho de 1950 será, para sempre, o dia de finados para a história do futebol brasileiro.

Ultima hora de dezembro de 1952.

O lado da Copa que poucos conhecem

SÉTIMA COPA DO MUNDO EM 1962

A Copa no fim do mundo. Depois de dois anos na Europa, a Fifa decidiu que o de 1962 seria de novo nas Américas. E o obstinado presidente da Confederação Sul-Americano não só convenceu os delegados a votar no Chile como superou até terremotos para organizar a festa.

Quatro paises se candidataram para sediar a Copa de 1962: Espanha. Alemanha ocidental. Argentina e Chile. Mas a Fifa decidiu que, após duas Copas seguidas na Europa (1954 e 1958), chegara à vez das Américas. Assim, a mais forte candidata, a Espanha, foi descartada. Sobraram então a Argentina, que vinha pleiteando a realização de uma Copa desde de 1930, e o Chile, que apresentara sua candidatura ainda em 1952, no Congresso da Fifa em Helsinque por meio do diplomata Ernesto Alvear. Os delegados dos paises europeus torceram o nariz para as pretensões chilenas, argumentando que o pais era pobre e sem a necessária estrutura para promover uma Copa.

Mas a candidatura do Chile tinha um defensor de peso: Carlos Dittborn Pinto, que em 1956 havia sido eleito presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol. Mesmo sem o apoio da Argentina e do Uruguai, ele fez uma ardorosa defesa das possibilidades chilenas no Congresso de Lisboa, em 16 de julho de 1956. Aí, os 56 paises membros presentes foram convidados a votar. Surpreendentemente, o Chile conseguiu 32 votos, incluindo o do Brasil, e a Argentina apenas 11. Outros 14 paises se abstiveram da votação. Frustrados, mas impávidos, os argentinos deixaram registrada sua pretensão de sediar a Copa de 1970, que acabou sendo realizada no México.

Carlos Dittborn foi à alma e o coração da preparação da Copa. Nascido em 26 de abril de 1921, em Niterói, cidade onde seu pai desempenhava a função de diplomata, mudou-se para o Chile aos 4 anos de idade, e lá, descobriu sua paixão pelo futebol principalmente pela Universidade Católica, clube do qual foi presidente em 1954. Sob os olhares desconfiados dos opositores à Copa do Mundo, ele arregaçou as mangas em 1957. De acordo com seus planos, o estádio Nacional de Santiago, inaugurado em 1937, teria capacidade aumentada de 45.000 para 70.000 expectadores. E um novo estádio seria construído em Viña del Mar.

Quando os dirigentes pareciam estar começando a ganhar o respeito dos céticos, o Chile foi surpreendido por uma hecatombe: em 21 e 22 de maio de 1960, dois violentos terremotos atingiram o pais. O segundo foi o mais forte do mundo no século 20. Registrou 8,5 pontos na escala Richter, com epicentro em Valdivia e Comcepcion, 750 quilômetros ao sul de Santiago, causando 5.000 mortes e deixando ao desabrigo 25% da população nacional. Para um pais de poucos recursos, o enorme prejuízo financeiro decorrentes da tragédia era uma sentença de morte para a Copa do Mundo. Mas o obstinado Dittborn pronunciou uma frase que se tornou célebre e acabou reproduzida em cartazes por todo território chileno: “Porque nada tenemos, lo haremos todo” (porque nada temos, faremos tudo). E a Fifa impressionada tanto com a frase quanto com a persistência de Dittborn, deu-lhe o necessário voto de confiança. No entanto, ele não viu o resultado final de sua grande obra. pois sofreu um ataque cardíaco e morreu um mês antes do inicio do evento, aos 42 anos de idade, no dia 28 de abril de 1962. É bem provável que as provações enfrentadas nos seis anos anteriores e os incríveis esforços, tanto físicos quanto mentais, dedicados à preparação do Mundial, tenham influído em sua morte prematura. O estádio de Arica, em homenagem ao homem que nunca desistia, foi batizado de Carlos Dittborn.

Um recorde de 54 paises se inscreveram para as eliminatórias. Só quatro não entraram em campo, mas o cruzamento definido pela Fifa fez com que os africanos r asiáticos acabassem fora do mundial.

Depois da Copa de 1958, quando ganhou o titulo na Suécia, a seleção do Brasil entrou em campo 32 vezes, conseguindo 28 vitórias, 2 empates e 2 derrotas. Nesses jogos, foram 102 gols a favor e 31 contra. Melhor ainda, em 191 e 1962. Foram 11 jogos e 11 vitórias. Nesses dois anos, o técnico já era Aymoré Moreira, porque Vicente Feola tinha sido acometido de nefrite aguda e também padecia de crônicos problemas cardíacos. Mas,tirando Feola, a comissão técnica de 1962 era a mesma de 1958. O presidente da Confederação Brasileira de Desportos, João Havelange, decidira repetir, tintim por tintim, o planejamento tão bem sucedido de quatro anos antes.

Os jogadores também seriam, na medida do possível, os mesmos. Incluindo Nilton Santos, que afirmara em várias entrevistas que tinha dado o máximo de si para aproveitar a chance de ser campeão do mundo, porque “nunca mais haveria outra”. Mas aos 37 anos, ele não só estava na lista como ainda era titular absoluto da lateral esquerda. Em abril, os jogadores seguiram para Campos de Jordão, para exames clínicos. O doutor Hilton Gosling montou uma equipe de dez médicos e eles logo perceberam que muitos craques tinham algo insuspeito: calo. E um enfermeiro-calista foi chamado. De Campos do Jordão, todos foram para treinar, primeiro em Friburgo e depois em Serra Negra. Em um mês, a comissão técnica decidiu quais seriam os 22 jogadores que iriam a Copa.

Jogo Final –17 de junho de 1962.
Brasil 3 x Tchecoslováquia 1.
Gols de Masopust e Amarildo no primeiro tempo. Zito e Vavá no segundo tempo.
Estádio Nacional de Santiago.
Horário: 15 horas.
Publico: 68.679 torcedores.
Juiz: Nikolai Latichey (União Soviética).
Brasil: Gilmar. Djalma Santos e Mauro. Zito. Zozimo e Nilton Santos. Garrincha. Didi. Vavá Amarildo e Zagalo.
Tchecoslováquia: Schroiff. Lala. Popluhar e Novak. Pluskal e Masopust. Pospichal. Scherer. Kadraba. Kvasnak e Jelinek.

Brasil levou 22 jogadores.

GILMAR dos Santos Neves – Santos.
DJALMA SANTOS – Palmeiras.
MAURO Ramos de Oliveira – Santos.
ZOZIMO Alves Calazans – Bangu.
NILTON dos SANTOS – Botafogo.
ZITO José Ely de Miranda – Santos.
GARRINCHA Manoel Francisco dos Santos – Botafogo.
DIDI Valdir Pereira – Botafogo.
VAVÁ Edvaldo Ecídio Neto – Palmeiras.
AMARILDO Tavares da Silveira – Botafogo.
Mario Jorge Lobo ZAGALLO – Botafogo.
Carlos José CASTILHO – Fluminense.
ALTAIR Gomes Figueiredo – Fluminense.
COUTINHO Antonio Wilson Honório – Santos.
Hideraldo Luiz BELINI – São Paulo.
JAIR DA COSTA – Portuguesa de Desportos.
JAIR MARINHO de Oliveira – Fluminense.
JURANDIR de Freitas – São Paulo.
MENGALVIO Pedro Figueiró – Santos.
PELÈ Edson Arantes do Nascimento.
PEPE – José Macias.
ZEQUINHA José Ferreira Franco – Palmeiras.

Comissão Técnica.
Chefe da delegação – Paulo Machado de Carvalho.
Supervisor – Carlos Nascimento.
Médico – Dr. Hilton Goslig.
Dentista – Mario Trigo.
Superintendente – Mozart Machado Di Giorgio.
Administrador – José de Almeida.
Tesoureiro – Ronald Vaz Moreira.
Psicólogo – Ataíde Ribeiro.
Secretario – Adolfo Marques Junior.
Jornalista – Ricardo Serran.
Técnico – Aymoré Moreira.
Massagista – Mario Américo.
Roupeiro – Aristides Pereira.
Convidados – João Mendonça Falcão e João de Paiva Menezes.

O chefe da delegação brasileira, Paulo Machado de Carvalho, levou tão ao pé da letra a ordem de Havelange para repetir todos os passos da vitoriosa campanha de 1958 que começou tirando ao armário o mesmo terno marron, cheirando a naftalina, que usara durante toda a campanha em gramados suecos.

Além de ouvir as vibrantes transmissões dos locutores de rádio – o radinho portátil foi a grande sensação do inicio da década de 1960, comparável à febre do celular dos anos noventa – os brasileiros puderam pela primeira vez ver os jogos pela televisão. O vídeotape embarcava no Chile, de avião, e era apresentado aqui apenas dois dias depois de cada jogo. Para que isso se tornasse realidade, um sério problema precisou ser superado. Em 1960, o Chile não tinha condições técnicas de gravar os jogos da Copa. Atendendo a um pedido da Fifa, o multimilionário mexicano Emlio Azcárraga, dono da Televisa e, mais tarde, do próprio estádio Azteca. Na cidade do México, instalou os equipamentos necessários. Para a América do Sul era um progresso enorme. Para a Europa nem tanto.

Um lance muito lembrado do jogo Brasil e Inglaterra foi à invasão de campo por um cachorrinho preto que ciscou pela intermediária, driblou Garrincha só foi capturado pelo atacante inglês Jimmy Greaves, que se pôs de quatro em frente ao bichinho, produzindo a cena mais divertida da Copa.

Futebol de Várzea:A noite que o Flamengo passou um sufoco!!!

O Clube de Regatas Flamengo, que naquela noite se defrontava com o Colodino Atlético Clube em memorável contenda que entrou para a história futebolística gonçalense.
O Flamengo não veio completo, porém trouxe um timaço, com sensacionais craques que brilhavam no plantel principal naquele ano de 1962, se a memória não me está atrair. O Colodino também levou ao campo seus melhores jogadores, alguns já profissionalizados em clubes do Rio, mas com as pernas e os corações sempre defendendo o verde-esmeralda da camisa do melhor time de São Gonçalo.

O jogo correndo, na intermediária do Colodino emergia Carlinhos Danilo como um deus mitológico. Um craque, na mais pura e verdadeira acepção, aquele jovem. Até do seu nome emanava a poesia da bola que ele jogava com maestria. E mesmo debaixo de chuva e lama não havia uma jogada qualquer que não se concluísse magistralmente a partir da genialidade e dos maravilhosos pés de Carlinhos Danilo.
Ele era deslumbrante jogando, apesar de simples no toque perfeito da pelota. Aí residia, porém, a genialidade dele: na matada da bola no peito, do jeito que ela viesse, na subida elegante para o cabeceio, na parada da bola naquele piso encharcado, e ela, a bola, submissa a seus mágicos pés e saindo em direção milimétrica para a direita, ou esquerda, ou direto à área após o passe que ele dava, fosse qual fosse a perna.

Naquela noite de indizível emoção, eu, flamenguista doente, torcia para que o Colodino vencesse. E via, feliz, o respeito dos craques rubro-negros pelo meio-campista colodinense, um fenômeno que eles, os craques flamenguistas, não esperavam encontrar num time de várzea. Mas encontraram… E admiraram deveras aquele mágico da bola, ela, rolando ou parada, no drible ou no chute, no passe ou no cabeceio, enfim, um poeta da pelota vestido de verde-esmeralda e ensinando aos profissionais do Flamengo o valor de um craque amador.

E no gol? Sim, prezado leitor, sim, no gol estava outro monstro sagrado. Estava Derval, um elástico que se esticava firme no alto e no baixo. Eram muitas as bolas chutadas pelos craques adversários contra a meta do Colodino. Vinham quentes, sim, mas Derval delas não tomava conhecimento: voava veloz, e com precisão, e sempre catava a pelota com carinho, como se ela fosse assim sua namorada, porém com a firmeza de quem sabe o que faz. Ele estava vestido de preto, ostentando o escudo do Colodino na altura do seu coração, aquele que se confundia com este na vibração de um jogo inesquecível. E ainda havia o João Batista, goleiraço, cria da casa, que chegou a envergar a camiseta do Botafogo F. C. e também defendeu com amor as cores do Colodino. Revezava com Derval na tarefa de abraçar a bola que com eles dificilmente balançava a rede do verde-esmeralda. Eram barreiras intransponíveis, Joãozinho e
Derval.

Estava zero a zero. Assim correu o primeiro tempo, com o Flamengo bombardeando o gol de Derval. Contudo, do outro lado, também vestido de verde-esmeralda, havia Mimi. Sim, caro leitor, havia Mimi, o maior jogador de futebol que São Gonçalo já viu e tem guardado na memória. E lá estava ele, o ponta-de-lança do drible seco, da corridaem diagonal e do chute perigoso, sempre rasteiro e forte, atordoando os goleiros adversários. Mimi lembrava Dida, o estupendo atacante do Flamengo.
Naquela noite, sofriam com Mimi os beques e o goleiro do Flamengo, os primeiros sem conseguir dominar aquele endiabrado atacante, e o segundo voando nervoso e a toda hora atrás de segurar a bola quente arremessada pelos pés mágicos de Mimi e do seu parceiro Loloca. Sim, Loloca, na dianteira do Colodino, também a levar cabelos brancos às jovens cabeças dos jogadores do Flamengo. Era Loloca o centroavante de ébano, o nosso Pelé gonçalense, sem tirar nem pôr.

Sim, sim, Loloca era um negro que brilhava dentro de campo, brilhava na cor e na bola. Na subida para o cabeceio, dentro da área, ele parecia o verdadeiro Pelé, o monstro sagrado do futebol. Mas Loloca ficou por São Gonçalo deleitando os torcedores do Colodino A. C. e às vezes do E. C. Peixoto nos domingos de futebol.Trabalhava no Departamento de Estrada de Rodagem.Também Mimi trabalhava no DER, como topógrafo, apesar de ter jogado profissionalmente no Bonsucesso e no Vasco da Gama. Mimi foi traído por uma contusão no joelho que lhe encerrou a carreira num piscar de olhos. Mas continuou atuando no futebol amador, sempre maravilhoso aos olhos de centenas de assistentesque se apinhavam nas beiradas dos campos somente para vê-lo atuar, como eu muitas vezes o fiz.

O jogo corria debaixo da chuvarada. O campo estava marrom da lama solta pelas ferozes chuteiras dos vinte jogadores. Debaixo das balizas havia um mar de água barrenta, com os goleiros literalmente nadando e mergulhando atrás da bola molhada e pesada. No campo, a habilidade dos atletas estava explorada ao máximo, com muitos deles vencidos por escorregões inevitáveis. Mas aí é que aqueles craques se superavam, proporcionando raro esplendor à noite feia.
Poderia o leitor imaginar que somente havia em campo esses craques. Não, não, o Colodino colocara outro monstro sagrado: Tião da Sá Pinto. Este, um mulato de mais ou menos 1,70m de altura, voz fininha a gritar: “Vai, fulano!” Fazia da bola a sua companheira íntima. Tanto como os demais que aqui enalteço, Tião da Sá Pinto, nome da rua em que morava, jogava como ninguém. Apresentava um lindo toque de bola, extraindo suspiros e exclamações de admiração.

Naquela noite Tião estava magistral. Deixava atônita a defesa do Flamengo, caindo na direita ou na esquerda do meio-de-campo, num revezamento que não lhe alterava a qualidade. Em ambas as situações ele era um perigo para a defesa adversária, esta que não sabia como parar seus passes de mágico endereçados aos atacantes Mimi e Loloca, e nos dribles secos que a toda hora aplicava nos atônitos adversários. Eta linha de ataque maravilhosa!
A bem da mais pura verdade, não eram somente esses endiabrados craques que deslumbravam os assistentes. Havia Jorge Calheiro, bom de bola e de canto, seresteiro de renome. Mas na bola era maestro, assim como na música. Havia o grandioso zagueiro central Bringela segurando a garotada rubro-negra, ele, o mais velho dentro do campo, o vovô do time, porém com uma saúde de invejar.

Ao lado de Bringela estava Nonô, o beque direito. O homem não era de brincadeira.Jogava leal, mas com um rigor de assustar os adversários. Era um touro de tão forte e chegava duro na bola. Não perdia uma dividida, a bola era dele, ganhava-a na marra e saía jogando com classe. Mas sua cara feia assustava. Sim, assustava deveras os incautos atacantes que para ele olhava. Não era cara de muitos amigos, mas tudo somente impressão, porque Nonô jogava com lealdade. E muito bem, por sinal.
Esse era o time, ou melhor, a espinha dorsal de um plantel estupendo que nunca será esquecido. É certo, porém, que não lembrei de muitos nomes, e talvez tenha errado na grafia de alguns que nomeei; mas não o suficiente para deixá-los anônimos por confusão. O que está escrito, com certeza, basta para que eles sejam reconhecidos por todos quanto os viram jogar. E aqueles que não os viram, saibam que muito perderam…
O jogo corria suado, o Flamengo de um lado e o Colodino do outro, misturando os craques o suor com água e lama. Mas o gol não saía, e eu, na beirada do campo, torcia, nervoso, admirando a genialidade daqueles craques. E ocorreu o primeiro gol,do Flamengo, marcado talvez por Espanhol, se a memória me não está a falhar.Confesso que tremi, achando que aquele um a zero poderia se transformar egoleada. E comecei a sonhar ali mesmo, debaixo da chuva, de os olhos abertos.
Sonhava com os reforços gonçalenses que poderiam estar completando aquele timaço do Colodino. Sonhava com Antônio Carlos, Mimi e Loloca se revezando com Careca, do Nacional Esporte Clube, outro timão de São Gonçalo. Careca lembrava Reinaldo, o maravilhoso craque do Atlético Mineiro, mas com a mesma qualidade.
Careca tinha a velocidade do tufão com a bola nos pés; gingava na frente dos beques e sempre os deixava a ver navios enquanto a bola sacudia a rede adversária.Sim, Careca era um goleador que fazia estremecer as melhores defesas. E, junto com Antônio Carlos, Mimi e Loloca, que quarteto maravilhoso seria! Não resisto em novamente exclamar: Que linha de ataque maravilhosa!… Que trabalho os defensores rubro-negros teriam naquela memorável noite!…
E foi quando quase ocorreu o gol do empate, através de Mimi, em estupendo petardo que ele mandou contra a meta do Flamengo. O goleiro pegou. Todavia, a vibração foi total. Agora, quem estava a tremer era o timaço do Flamengo, que não esperava encontrar tanta dureza pela frente. Mas eles, os rubro-negros, também eram espetaculares em campo; e sem o reforço por mim sonhado o jogo terminou com mais um gol dos rubro-negros. Dois a zero, no final. Não foi um justo resultado, sem demérito do vencedor.

Em boa hora a lembrança de Careca me fez ver em campo, no meu sonho acordado, outros craques que gravaram seus nomes na memória futebolística gonçalense. Sim, sim, havia Lulinha, cria do Colodino, que foi titular do Fluminense nos anos sessenta, e ainda havia os irmãos Paraquett, Tunico e Luiz Carlos, dois maravilhosos craques da bola e jogadores do Esporte Clube Peixoto.
Tunico, na posição de zagueiro central, era um monstro sagrado. Não havia em São Gonçalo um beque melhor. No tiro de meta, ao repor a bola em jogo, tanto fazia se ela estivesse em posição de ser chutada pelo pé direito ou pelo esquerdo. Tunico batia igual com as duas pernas e colocava a esfera onde queria. No cabeceio dentro da área,até mesmo o genial Loloca respeitava o baixinho Tunico, cuja impulsão ultrapassava em altura o Pelé gonçalense. Tunico era efetivamente um leão em campo, mas nunca deu pancada em ninguém. Deslizava entre as pernas dos atacantes e lhes tomava a
bola. Nunca os tocava em falta. Era, sim, delicado dentro e fora do campo.
E Luiz Carlos Paraquett?… Este jogava no meio-de-campo, como o mestre Carlinhos Danilo, mas sem perder em qualidade para aquele outro. Luiz Carlos era magrelo e pouco mais baixo que Carlinhos Danilo, com quem formou, quando juntos jogaram, Carlinhos Danilo também envergou, numa época, a camisa tricolor do Esporte Clube
Peixoto,o mais espetacular meio-de-campo que se pode imaginar existir ou ter existido no futebol amador. E não seria demais afirmar que, se ambos tivessem formado em algum time profissional, seriam destacados como sérios ocupantes da intermediária da Seleção Canarinho.

Luiz Carlos, carinhosamente apelidado por “dez letrinhas”, parecia ter elástico no corpo. Era uma enguia com a bola nos pés, capaz de aplicar nos adversários os dribles mais desconcertantes. No passe, era um perfeccionista, não escolhendo perna para jogar. Era simplesmente assombroso, e que o digam aqueles que o enfrentaram em campo. E era um implacável goleador, como o é atualmente o Marcelinho do
Coríntians, capaz de destronar qualquer goleiro.
Os atônitos jogadores do Flamengo certamente vieram a São Gonçalo, naquela noite, pensando em golear um timeco qualquer. Estavam enganados, redondamente enganados. Mas, diga-se a bem da verdade, o time rubro-negro não veio a São Gonçalo pra levar derrota.
Fim de jogo, dois a zero para o Flamengo, e os comentários nunca mais pararam.
Resistem até hoje à passagem dos anos. Alguns dizem que, se o tempo estivesse bom,o Flamengo sairia do campo do Tamoio com uma fragorosa derrota; outros já ousam afirmar que seria o contrário, que o Flamengo venceria, como de fato venceu, aquele jogo. Eu particularmente acho que não seria bom nem mesmo para a Seleção Brasileira enfrentar aqueles craques gonçalenses em noite de inspiração.
Diriam muitos que exagero, e alguns que os craques de várzea jamais ultrapassariam o brilho efêmero do futebol local, dos jogos em campos ruins e das carreiras curtas, logo trocadas por proeminentes barrigas de bebedores de cerveja.
Talvez, talvez… Mas continuo achando que o Flamengo teria levado uma surra naquela noite se estivesse em campo o time gonçalense dos meus sonhos. E se arrependeria de ter vindo a São Gonçalo enfrentar os craques do futebol amador daquela terra.
Tanto é assim que até hoje esses jogadores estão vivos na memória popular gonçalense, enquanto que os profissionais flamenguistas não têm mais seus nomes sequer lembrados.
Loloca e os irmãos Luiz Carlos e Tunico Paraquett estão mortos. Mas nunca serão esquecidos naquelas paragens que formam os bairros do Desvio de Dona Zizinha,

Naquela memorável noite, diga-se de caminho, acho que somente jogaram Loloca,Carlinhos Danilo, Derval, Mimi, Nonô, Jorge Calheiro e Tião da Sá Pinto, entre os demais que aqui homenageei porque sonhei com esses jogadores num mesmo time.
Mas não importa se há algum esquecimento. E muito menos importa o fato de muitos não terem conhecido os jogadores que aqui me referi. Porém, é fácil trocar esses nomes por outros, assim como é simples imaginar outras cidades, outros campos e outros times de várzea. Pois o que efetivamente tem importância é o registro de uma época em que o futebol amador às vezes revelava um jogador como Garrincha. Sim,havia muitos campos de várzea. Não como hoje: os campos se escassearam e os craques de futebol amador ficaram na lembrança dos mais velhos, tal como agora o faço. E quantos craques,como Garrincha, poderiam ter sido revelados como naqueles tempos em que sobravam campos para o povo simples jogar?..

Fonte:www.emirlarangeira.com.br

Grêmio Atlético Osoriense

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O Grêmio Atlético Osoriense – GAO foi fundado em Osório, RS em 18 de setembro de 1953 para ser uma agremiação social e desportiva, com ênfase para o futebol amadoristico. Segundo Nage Mamed, o GAO foi fundado para ser um clube desportivo que pudesse nao só competir com as equipes municipais, mas também enfrentar equipes de outros municípios de modo a bem representar o município de Osório. As cores vermelha e branca do clube foram escolhidas pelos fundadores para ganhar a simpatia dos torcedores do Esporte Clube União, do Porto Lacustre, cujas cores eram as mesmas.

Inicialmente o GAO arrendou do Sr. Timoteo Martins, um terreno localizado na rua Sete de Setembro. Nesse terreno havia muitas árvores chamadas “capororocas” . Por isso o local foi chamado “Campo das Capororocas”, visto que o seu rival, o Gremio Esportivo Sul Brasileiro – GESB, tinha o seu “Campo dos Taquarais ou da Taquareiras”. O terreno do campo de futebol do GAO inicialmente nao era murado ou cercado. Em volta do gramado, havia apenas um parapeito para os expectadores se apoiarem, para assistir assim as partidas em pé. Em alguns pontos, embaixo das capororocas, havia alguns poucos bancos de madeira para os assistentes se sentarem. Posteriormente, todo o terreno foi cercado com tábuas e depois construída uma arquibancada de madeira em um dos lados do gramado para dar maior conforto aos torcedores. Foi construido também um alambrado em volta do gramado de modo a oferecer maior proteção aos jogadores. O pórtico de entrada e a bilheteria ficava na rua Sete de Setembro.
Conforme Nage Mamed, o GAO ali necessitava construir a sua própria praça de esportes. Compreensiva a isso, nos anos 60 a Prefeitura Municipal cedeu um terreno de sua propriedade na rua Voluntários da Pátria. Porém, a Prefeitura concedeu um prazo para o GAO executar a obra. Como esse prazo nao foi cumprido, a Prefeitura retomou o terreno no qual, em 1974, foi construido a Escola Polivalente de Osório (atual Escola Estadual de 1o. Grau Maria Tereza V. Castilhos).

Fundado em 1953, já em 1954 o GAO disputou o campeonato municipal, enfrentando o Grêmio Esportivo Sul Brasileiro – GESB e o Clube Atlético União. Todos os jogos foram disputados no “Campo dos Taquarais”, do GESB, visto que o GAO ainda não tinha o seu gramado. A equipe do GAO era formada por atletas locais e jogadores oriundos de cidades vizinhas, principalmente de Porto Alegre. Esses atletas nao residiam em Osório, eles aqui vinham apenas para treinar e jogar; às vezes, chegavam no dia do jogo (domingo) apenas para jogar. O campeão desse ano foi o Grêmio Esportivo Sul Brasileiro – GESB que possuia uma equipe muito mais entrosada que também contava com atletas de outras localidades.
1955 – Nesse ano, a equipe do GAO veio mais fortalecida. Na disputa de jogos com a equipe do GESB e com o União, o GAO conquistou o seu 1º campeonato.
1956 – Nesse ano, o GAO sagrou-se novamente campeão.
1957 – Era o ano do Centenário de Osório (1857 – 1957). O GAO sagrou-se novamente campeão.
1958 – Novamente o GAO foi o campeão. O jogo final contra o GESB foi disputado no campo do GAO na mesma data em que a seleção brasileira sagrava-se campeã do mundo na Suécia (29/06/1958). O jogo Brasil x Suécia se desenrolou no final de manhã (no Brasil) e a partida GAO x GESB foi à tarde. Nota: Nesse ano, a equipe do GAO foi jogar na localidade de Igrejinha contra o time local.
1959 – Conforme depoimento de Nage Mamed, neste ano o GAO foi representado por uma equipe formada por atletas de Capão da Canoa. O campeão municipal desse ano foi o Grêmio Esportivo Sul Brasileiro – GESB.

TRICAMPEÃO MUNICIPAL (1960-1961-1962):
Nos anos de 1960, 1961 e 1962 o GAO atingiu o seu maior momento desportivo desse período quando além de conquistar o tricampeonato municipal, representou Osório no regional de amadores.

CAMPEONATOS ESTADUAIS (1960-1961):
1960 – Em 1960, o GAO, como campeão municipal, participou do Campeonato Estadual de Amadores, promovido pela Federação Rio-Grandense de Futebol (FRGF), antigo nome da Federação Gaúcha de Futebol (FGF). Representando o município de Osório, o GAO enfrentou as equipes do Jaú (Santo Antônio da Patrulha), Alvi-Rubro (Gravataí) e Igrejinha (Taquara). O GAO foi o vencedor desse Grupo. Na fase seguinte teve que enfrentar a equipe do 15 de Novembro (Campo Bom). Após 2 jogos, um em Campo Bom e outro em Osório, a equipe do GAO foi eliminada da competição.

1961 – No ano seguinte (1961), novamente como campeão municipal, representando o município de Osório, o GAO enfrentou o Alvi-Rubro (Gravataí) pela Chave 3, Série Branca. Como nos dois cotejos disputados, um em Gravataí e outro em Osório, ocorreram dois empates, houve necessidade de uma terceira partida que foi realizada em Santo Antônio da Patrulha, quando então a equipe de Gravataí levou a melhor, alijando o GAO de prosseguir na disputa.

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Fonte:Nage Mamed,pesquisador do GAO