Arquivo da categoria: 15. Vítor Dias

Campeonato Potiguar 1942 – Os clubes se rebelam contra o Paysandu, um testa-de-ferro do ABC

Clubes participantes:

  • ABC Futebol Clube
  • ALECRIM Futebol Clube
  • AMÉRICA Futebol Clube
  • Centro Esportivo FORÇA E LUZ
  • Clube ATLÉTICO Potiguar
  • PAYSANDU Sport Club
  • SANTA CRUZ Futebol Clube

Quem era o Paysandu

O Paysandu foi fundado em 1927 a partir de uma dissidência do América, disputou apenas o campeonato de 1928, e foi reorganizado anos depois para o campeonato de 1937. Desde sua reorganização, pairavam suspeitas de que se tratava de um clube mantido por baixo dos panos por Vicente Farache, eterno mecenas e mandatário de facto do ABC. Coincidência ou não, o Paysandu nunca tirou um ponto sequer do ABC em jogos de campeonato. Vejam a lista de confrontos entre os dois a partir de 1937: 10 jogos, 10 vitórias do ABC, sendo três delas entregas de pontos (WO).

CampeonatoDataEquipePlacarEquipe
1937domingo, 13/06/1937ABC5-0Paysandu
1937sábado, 04/09/1937ABC9-1Paysandu
1938domingo, 15/05/1938ABC4-2Paysandu
1938domingo, 04/09/1938ABC9-1Paysandu
1939domingo, 21/05/1939ABC6-0Paysandu
1939data desconhecidaABC1-WOPaysandu
1940domingo, 25/08/1940ABC1-WOPaysandu
1941domingo, 03/08/1941ABC2-1Paysandu
1941domingo, 08/02/1942ABC1-WOPaysandu
1942domingo, 12/07/1942ABC4-0Paysandu

As suspeições dos demais clubes em relação ao Paysandu atingiram seu nível máximo em 1942. Mais do que nunca, em 1941 o Paysandu foi decisivo no título do ABC: conquistou três pontos preciosos contra o Santa Cruz, evitando que o clube fosse campeão e ainda por cima quebrando sua invencibilidade, e novamente perdeu os dois jogos contra o ABC – no segundo jogo, o clube azul sequer entrou em campo, tendo recorrido ao velho instituto da entrega de pontos.

Dessa forma, o Atlético, apoiado por Alecrim, América, Força e Luz e Santa Cruz, ingressou com um pedido de desfiliação do Paysandu, atitude que desencadeou uma crise sem precedentes na Federação Norte-rio-grandense de Desportos, que culminou na suspensão de jogos e no eventual abandono do campeonato de 1942.

Em represália a esse movimento dos demais clubes, alguns esportistas do ABC – seu diretor Vicente Farache e alguns atletas – sabotaram a preparação da seleção do Rio Grande do Norte, que foi facilmente abatida no Campeonato Brasileiro pela seleção da Paraíba logo na primeira fase.

Em 12 de outubro, na reta final de resolução da crise, o Conselho Geral da FND se reuniu e suspendeu o Paysandu por 3 anos, e em 19 de outubro foi eleito para a presidência da Federação um militar paulista, o Capitão José Porfírio da Paz, figura histórica do São Paulo Futebol Clube, que estava servindo em Natal naquele período. Por fim, em 12 de fevereiro de 1943, um ato da presidência da FND anulou todas as partidas e cancelou o certame de 1942.

TORNEIO INÍCIO

Domingo, 10/05/1942
Local: Estádio Juvenal Lamartine, Natal/RN

Quartas de final

Jogo 1, 13h30 – SANTA CRUZ 0-1 ATLÉTICO
Árbitro: Hermes Marques de Amorim
Gol: Ubarana

Jogo 2, 14h05 – PAYSANDU 2-0 FORÇA E LUZ
Árbitro: Salatiel Silva
Gols: Pajeú e Tico

Jogo 3, 14h40 – AMÉRICA 2-0 ALECRIM
Árbitro: José Gomes de Carvalho

Semifinais

Jogo 4, 15h15 – ABC 5-0 ATLÉTICO
Gols: Taperoá (2), Badof (2), Simão

Jogo 5, 15h50 – PAYSANDU 0-2 AMÉRICA

Final

Jogo 6, 16h40 – ABC 0-2 AMÉRICA
Gols: Stephenson, Piri.

Campeão do Torneio Início: AMÉRICA

CAMPEONATO POTIGUAR 1942

Fórmula de disputa: pontos corridos em turno e returno.

Tabela do primeiro turno:

DataMandantePlacarVisitante
domingo, 17/05/1942Alecrim3-1Atlético
domingo, 24/05/1942Santa Cruz4-2Força e Luz
domingo, 07/06/1942Paysandu3-1América
domingo, 14/06/1942Força e Luz0-10ABC
domingo, 21/06/1942Atlético1-3Santa Cruz
domingo, 05/07/1942América1-2Alecrim
domingo, 12/07/1942ABC4-0Paysandu
domingo, 19/07/1942Atlético4-3Força e Luz
domingo, 26/07/1942Santa Cruz3-6América
sábado, 01/08/1942Alecrim2-2Paysandu
domingo, 09/08/1942ABCAtlético
domingo, 16/08/1942América9-3Força e Luz
domingo, 23/08/1942Alecrim2-2Santa Cruz
domingo, 30/08/1942PaysanduAtlético
domingo, 13/09/1942Força e LuzAlecrim
domingo, 20/09/1942AtléticoAmérica
sem data originalSanta CruzPaysandu
sem data originalAlecrimABC
sem data originalABCSanta Cruz
sem data originalAméricaABC
sem data originalForça e LuzPaysandu

Em 24/07/1943, o Conselho Geral da FND se reuniu e resolveu, por maioria de votos, suspender o Paysandu Sport Club, tendo em vista as suspeitas de irregularidades e beneficiamento ao ABC Futebol Clube. Em 30/07/1943, o mesmo Conselho Geral destituiu o presidente da FND, Gentil Ferreira de Sousa. Ainda não conseguimos encontrar a publicação desses atos oficiais nos jornais da época.

As partidas de campeonato entre os dias 09/08 e 20/09 foram adiadas por atos de Gentil Ferreira de Sousa como presidente da FND. Mas, como os demais clubes já o desconheciam como presidente da federação, foram disputadas algumas dessas partidas de campeonato.

Em 03/08/1942, a Presidência da FND, através do Ato nº 07/1942, publicado no jornal A República de 04/08/1942 e abaixo transcrito, anulou as resoluções do Conselho Geral do dia 24/07/1942:

Ato nº 7

O Presidente da Federação Norte-riograndense de Desportos, no uso das atribuições que lhe são conferidas pelo estatuto em vigor e

considerando que o Conselho Geral reuniu-se em sessão extraordinária no dia 24 de julho passado;

considerando que somente os clubes em dia com os cofres da Federação podem tomar parte nas deliberações do Conselho Geral;

considerando que, pelo art. 76 do estatuto, as resoluções do Conselho Geral são nulas, desde que para elas tenha discutido e votado representante de clube em débito para com a Federação;

considerando que o filiado Paisandú Esporte Clube requereu a anulação das decisões da referida sessão do Conselho Geral para o que juntou certidão competente provando que o filiado América Futebol Clube estava em débito para com a Federação no dia da realização da supracitada sessão do Conselho Geral e considerando o art. 25, letra e, do estatuto vigente,

RESOLVE anular as resoluções do Conselho Geral do dia 24 de julho passado, bem como os efeitos delas decorrentes.

Natal, 3 de agosto de 1942.

Gentil Ferreira de Souza
Presidente

Em 09/08/1942, segundo notícia divulgada pelo jornal A República em 11/08/1942, a diretoria da Confederação Brasileira de Desportos se reuniu para deliberar sobre a situação da FND:

A CRISE NO FUTEBOL POTIGUAR

RIO, 9 – A diretoria da C.B.D., ontem, reunida sob a presidência do sr. Luiz Aranha, tomou conhecimento da crise que se manifestou na Federação Norteriograndense de Desportos e resolveu realizar diligências a fim de esclarecer a situação. Nesse sentido, serão solicitadas informações pela entidade máxima dos dirigentes do futebol naquele Estado. Como é do conhecimento dos nossos leitores, vários clubes da F. N. D., insinuando haver o Paisandú A. C. (sic) se deixado derrotar pelo clube A. B. C., e como não lograssem a convocação do Conselho Superior pelo presidente da Federação, sr. Gentil Ferreira de Sousa, resolveram depô-lo, passando a presidência ao sr. Sílvio Tavares, vice-presidente e deliberaram, ainda, eliminar o Paisandú. Levado o caso ao conhecimento do Conselho Regional do Rio Grande do Norte, resolveu este intervir, determinando fosse reintegrado o presidente, sr. Gentil Ferreira de Sousa, no que não foi obedecido, tanto assim que a C. B. D. recebeu, ontem, comunicação da eleição do sr. Porfírio da Paz, antigo esportista de São Paulo, para a presidência da Federação Norteriograndense. A Confederação somente poderá agir em caso de recurso legal impetrado pelo sr. Gentil Ferreira de Sousa.

Em 10/09/1942, o jornal carioca Diário de Notícias publicou que Gentil Ferreira de Sousa recorreu à CBD, que conheceu do recurso e o reconduziu à presidência da FND, mas manteve a suspensão ao Paysandu decidida pelo Conselho Geral, notícia replicada pelo jornal A República em 13/09/1942:

Reconduzido ao seu posto o presidente da Federação Norte-Riograndense de Desportos

Anuladas, pela diretoria da C. B. D., todas as resoluções tomadas pelo Conselho Geral daquela entidade nortista, na sessão em que foi destituído o sr. Gentil Ferreira de Souza

RIO, 10 (Pelo Aéreo) – O “Diário de Notícias”, em sua edição de hoje, divulga o seguinte:

“A diretoria da Confederação Brasileira de Desportos, em sua reunião de ontem, deu provimento ao recurso interposto pelo sr. Gentil Ferreira de Sousa contra o ato do Conselho Geral da Federação Norte-riograndense de Desportos que o destituiu da presidência dessa entidade. A sessão foi presidida pelo sr. Teixeira de Lemos, vice-presidente, tendo comparecido os srs. Célio de Barros, secretário-geral, Pizarro Filho, tesoureiro, Castelo Branco, presidente do Conselho Técnico de Futebol, além do representante da Federação Norte-riograndense, sr. Paulo de Carvalho. A sessão terá prosseguimento no próximo sábado às 14 horas.

A resolução da diretoria da C. B. D. está assim redigida:

‘A diretoria da Confederação Brasileira de Desportos, conhecendo do recurso interposto pelo dr. Gentil Ferreira de Sousa, da resolução do Conselho Geral da Federação Norte Riograndense de Desportos, que, em reunião de 30 de julho último, o destituiu da presidência da mesma Federação, e usando o poder que lhe confere o art. 76, do Estatuto, resolve:

1º – Anular todas as resoluções do Conselho Geral, tomadas na referida reunião.

Não foi publicada nota da respectiva convocação, nem se provou ter sido feita por ofício aos seus membros competentes, inclusive o presidente da Federação, que devia também presidi-la.

2º – Anular o ato nº 7 do presidente da Federação tornando sem efeito a resolução do Conselho Geral, tomada na reunião de 24 do mesmo mês.

Ainda quando tivesse o presidente da Federação competência para anular qualquer resolução do Conselho Geral, e ainda quando estivesse em mora com a entidade um dos clubes que dela participaram, certo é que os quatro restantes contra os quais nada se arguiu representavam a maioria do Conselho, sendo legal, portanto, a sua resolução.

3º – Mandar que o presidente reintegrado reúna, mediante prévia convocação e dentro dos dez dias úteis que se seguirem à comunicação da presente, o Conselho Geral, para conhecer do pedido de desfiliação do Paisandú Esporte Clube e deliberar a respeito de tudo quanto julgue necessário aos interesses da Federação dentro de sua competência.’”

O mesmo ofício da CBD foi republicado no jornal A República em 17/09/1942 por ordem do Ato nº 16 do presidente reconduzido da FND.

Com a aproximação do Campeonato Brasileiro de Seleções, a FND resolveu, como de praxe, suspender definitivamente o campeonato em 19/09/1942, que já tinha na prática sido paralisado pelos sucessivos adiamentos de partidas durante a crise. A estreia da seleção do Rio Grande do Norte foi marcada pela CBD para o dia 11/10/1942, em Natal, contra a seleção da Paraíba, partida mais tarde remarcada para a cidade de João Pessoa.

Em 27/09/1942, o Diário de Notícias (RJ) divulgou que as determinações da CBD não foram cumpridas: o presidente reconduzido Gentil Ferreira de Sousa não convocou o Conselho Geral, em desacordo com o determinado pela CBD, e os outros cinco clubes (Alecrim, América, Atlético, Força e Luz e Santa Cruz), como consequência, enviaram à CBD protestos contra a atuação de Gentil Ferreira de Sousa. Em 29/09/1942, o mesmo jornal divulgou que a CBD, em reunião no dia 28/09/1942, resolveu destituir novamente Gentil Ferreira de Sousa da presidência da FND, determinando que o vice-presidente assuma a presidência e convoque o Conselho Geral da entidade no prazo legal.

Em 08/10/1942, O Diário divulgou que alguns jogadores do ABC, entre os quais Gageiro, Tico, Edgar e Acácio, não compareceram ao último treino da seleção potiguar em 07/10/1942; que Gageiro e Tico estariam exigindo roupas, sapatos e dinheiro para se integrar a equipe; que Vicente Farache – diretor do ABC, mecenas histórico do clube e mandatário de facto do alvinegro – se negou a fornecer material a seus jogadores, não só para os treinos mas também para a partida contra a seleção paraibana. Contudo, havia outros jogadores do ABC presentes no treino – Joãozinho, Badof e Saravoti. De fato, os quatro primeiros não viajaram à Paraíba e os três últimos compareceram à viagem e entraram em campo. O placar do jogo foi Paraíba 6×0 Rio Grande do Norte, quebrando uma invencibilidade histórica da seleção potiguar contra a vizinha seleção paraibana. É bastante possível que esse ato de sabotagem de esportistas do ABC esteja ligado à crise em curso, como retaliação aos demais clubes.

Em 28/10/1942, o jornal Diário de Notícias (RJ) divulgou que a diretoria da CBF, em reunião no dia 27/10/1942, solicitou esclarecimentos à FND sobre as resoluções tomadas pelo Conselho Geral da entidade, após a destituição definitiva de Gentil Ferreira de Sousa. Em 30/10/1942, o mesmo jornal divulgou que, no dia 29/10/1942, um telegrama da FND para a CBD comunicou que, no dia 12 do mesmo mês, o Conselho Geral da FND se reuniu e deliberou pela exclusão do Paysandu Esporte Clube por 3 (três) anos e que, em Assembleia Geral de 17 de outubro, foi eleito para o cargo de presidente da FND o Capitão José Porfírio da Paz.

O campeonato não foi retomado após o fim da crise. Outros eventos esportivos e amistosos iam sendo realizados a cada domingo. Por fim, o Ato nº 023/1943 da Presidência da FND, publicado no jornal A Ordem de 16 de fevereiro de 1943 e abaixo transcrito, anulou todas as partidas e cancelou o certame de 1942:

Ato nº 23

O Presidente da Federação Norte-riograndense de Futebol, no uso das atribuições que lhe são conferidas pelo art. 25, letra f, do estatuto em vigor,

considerando que o campeonato oficial da cidade de 1942 foi interrompido desde o dia 2 de agosto de 1942 em virtude dos atos ns. 6, 10, 11, 12, 13, 14, 15 e 17 do mesmo ano;

considerando que o referido campeonato teve, apenas, nove (9) jogos realizados, constantes da respectiva tabela e relativos ao primeiro turno;

considerando que o estádio desta Federação requer algumas e inadiáveis benfeitorias, naturalmente antes do início da temporada desportiva do corrente ano;

considerando que o prosseguimento do campeonato de 1942 não atende aos interêsses da administração desta entidade, além do que dificultará o preparo prévio dos clubes para o campeonato do corrente ano;

considerando que é pensamento da atual diretoria desta entidade seja promovida a temporada desportiva do corrente ano dentro dos prazos determinados pelo estatuto e regulamento em vigor;

considerando que os filiados Clubes (sic) Atlético Potiguar, América F. C., Santa Cruz F. C. e Alecrim F. C., pelos seus representantes se pronunciaram coletivamente e contrariamente ao não prosseguimento (sic) do campeonato de 1942;

considerando que o cancelamento do campeonato de 1942 e consequente anulação dos jogos já realizados condizem, não apenas com os interêsses desta Federação, mas também com os daqueles filiados, os quais, em conjunto, já o solicitaram a esta entidade;

considerando que os aludidos filiados, pelos seus delegados, constituem a maioria dos membros do Conselho Geral desta federação; e considerando o pronunciamento sobre o assunto da Confederação Brasileira de Desportos, em o ofício 227/43, assim redigido: ‘Ilmo. Sr. Presidente da Federação Norte-riograndense de Futebol. Acusando o recebimento do seu of. n. 18/43, venho informar a essa filiada que esta Confederação apenas opinou que prosseguissem na disputa do Campeonato de 1942, até seu término, como determinava a tabela. Essa orientação, não constituindo lei, poderá ser aceita ou não por essa Entidade, de acôrdo com seus próprios interesses. Valho-me do ensejo para assegurar a V. S. a certeza de meu elevado apreço. (a) Manoel Furtado de Oliveira – Subsecretário’;

RESOLVE cancelar, no interêsse desta Federação e da maioria dos clubes que lhe são filiados, o campeonato oficial da cidade de 1942 e, consequentemente, anular todas as disputas realizadas, na vigência daquela temporada desportiva.

Natal, 12 de fevereiro de 1943

Capitão José Porfírio da Paz
Presidente

FONTES: Biblioteca Nacional (jornais A Ordem e Diário de Notícias) – Repositório do LABIM/UFRN (jornal O Diário) – Material de pesquisa de Arthur Pierre dos Santos Medeiros (jornal A República)

Clube Atlético Pastoril – Governador Valadares (MG): Existiu entre 1950 a 1972

O Clube Atlético Pastoril foi uma agremiação da cidade de Governador Valadares (MG). No sábado, do dia 12 de Outubro de 1946, a Companhia Agropastoril Rio Doce iniciou suas atividades, e constituiu-se como uma das mais modernas fábricas de compensado do Estado de Minas Gerais.

Sete anos depois, o interesse dos valadarenses pelo futebol, somado ao rebuliço que tomou conta em todo o país pela Copa do Mundo, atraiu a atenção dos dirigentes da Companhia Agropastoril Rio Doce, de tal forma que resultou na Fundação do CAP (Clube Atlético Pastoril), em 1950.

As suas cores eram o verde e branco. O mascote do Pastoril era um ‘Leão’ e o time era conhecido como “O Leão da Baixada“, pois o seu Estádio Campo da Cia. Agro Pastoril se localizava no Bairro São Pedro, também chamado de “baixada“.

Nasce o Pastoril com ‘pinta de gente grande’

A estrutura assemelhava-se à de time profissional, já que contava com atletas de reconhecida habilidade técnica, e recebendo alguns benefícios econômicos. Construído na década de 1940, o campo localizava-se nas proximidades da serraria e possuía uma estrutura que o capacitava para receber alguns dos considerados “grandes clubes nacionais”.

Dentre eles, podemos mencionar o São Paulo Futebol Clube, Bahia, Clube de Regatas Flamengo, Clube de Regatas Vasco da Gama, Clube Atlético Mineiro e Cruzeiro Esporte Clube. Enfrentou até a Seleção do Paraguai.

O maior nome de sua história foi, sem dúvida, o jornalista Sebastião Pereira Nunes, mais conhecido como Carioca. Como jogador, ele participou de um grande momento clube na década de 50, mas precisamente no Domingo, do dia 04 de Novembro de 1956, quando empatou em 2 a 2 contra o então imbatível Botafogo, de Garrincha, Nilton Santos, Didi e Bauer, no Campo da Cobraice, próximo à Açucareira.

Jogos eram divulgados por meio de panfletos

O Clube Atlético Pastoril mobilizava um significativo número de pessoas para assistirem às partidas. De acordo com Chaves da Silva, quando o CAP ia disputar uma partida com algum clube de reconhecimento nacional, como, por exemplo, o Clube Atlético Mineiro ou o Cruzeiro Esporte Clube, a Companhia divulgava o jogo distribuindo panfletos pelos locais em que fazia entrega de compensado.

Desta forma, vinham pessoas de outras regiões, mas principalmente da cidade. O fato é que o CAP atraiu a atenção das pessoas não somente pela fama de seus adversários, mas também pelo seu bom desempenho em campeonatos regionais. Dentre os títulos conquistados, podemos citar o de campeão amador nos anos de 1955 e 1956.

Democrata x Pastoril: O “Clássico dos Clássicos”

Em Governador Valadares, o futebol praticado pelo CAP dentro da vila operária, e a rivalidade deste clube com o Esporte Clube Democrata, concorreram para uma maior influência e presença dessa atividade esportiva no cotidiano da cidade.

Nos jogos em que esses dois clubes se enfrentavam, a expectativa era de que seria um grande jogo, com a torcida comparecendo em massa. Eram considerados “clássicos”. De acordo com o radialista Luiz Alberto Coelho Teixeira:

As cores do Pastoril era verde e branca e o símbolo era o leão, e o Democrata era a pantera. (…) Então era assim, em um ano o Democrata era campeão e no outro ano era o Pastoril. Existia muita rivalidade. (…) A história que eu sei é que o Pastoril era muito querido. E até hoje [ em 2008] existem ex-pastorilenses que choram quando lembram do CAP. Seria muito bom para o Democrata se o Pastoril fosse reativado, (…) é bom ter rivalidade“.

Sobre essa rivalidade entre Democrata e Pastoril, o músico e autor do Hino do Democrata Rosenberg Petersen afirma que: “O Pastoril é um time que até hoje tem uma enorme torcida aqui em Governador Valadares, e pra cidade seria melhor fazer voltar o Pastoril. Isto porque toda cidade tem que ter no mínimo um time para fazer rivalidade, da mesma forma que tem o Atlético e Cruzeiro, e também o Internacional e Grêmio (…) Se Governador Valadares conseguisse que o Pastoril voltasse, isso aqui seria ‘um trem de doido’. Seria melhor e a torcida iria dobrar em campo, principalmente na época de um clássico. Nos jogos Pastoril X Democrata era um clássico como Cruzeiro X Atlético. Seria muito bom pra cidade“.

1969: Primeira e última participação no Mineiro da 2ª Divisão

Tentando seguir os passos do rival, o Democrata, participou do Campeonato Mineiro da Primeira Divisão (na prática equivalia a Segunda Divisão) em 1969. Isto porque, a Federação Mineira de Futebol (FMF) criar uma divisão intermediária entre a Divisão Extra e a PDP, dado o inchaço de clubes nesta última divisão – a edição de 1968 atingiu o recorde de 51 clubes, e aumentar as garantias financeiras e de infra-estrutura para participação nessa divisão.

Década de 70: Falência da fábrica decretou o fim da linha do Pastoril

A Cobraice (Cia Brasileira de Industria e Comércio), era empresa proprietária da Cia Agro Pastoril e mantenedora do Clube Atlético Pastoril. Na década de 60, a empresa mudou as operações para o estado do Espírito Santo, em Braço do Rio, distrito de Conceição da Barra, onde fundou outro clube de futebol, o Clube Atlético Cobraice.

Consequentemente, o Clube Atlético Pastoril encerrou suas atividades, e ainda neste início do século XXI, é mais lembrado do que a própria empresa à qual pertencia, deixando saudades.

FONTES: Rsssf Brasil – Página no Facebook “Fotos antigas e atuais de Governador Valadares MG” – Livro “Território, Sociedade e Modernização – Abordagens e interdisciplinares”, de Haruf Salmen Espindola  e Jean Luiz Neves Abreu