O Sete de Setembro Futebol Clube é uma agremiação da cidade de Belo Horizonte (MG). O Tigre da Floresta foi fundado no domingo, do dia 07 de Setembro de 1913, com o nome de Sete de Setembro Foot-Ball Club.
Sua primeira diretoria ficou assim constituída:
Presidente honorário – Manoel Caillaut;
Vice-Presidente – capitão João Castro;
1º secretario – João Gonçalves;
2º secretario – Guiné Ribeiro.
Sete: a quarta força de Belo Horizonte
Em “Futebol no Embalo da Nostalgia”, o jornalista esportivo mineiro Plinio Barreto conta momentos históricos do futebol das Alterosas, e menciona a relação do Sete com o bairro:
“Houve época em que o Sete tinha uma torcida que se rivalizava com as de Atlético, Palestra e América. A Floresta em peso se deslocava para ver o Sete onde o Sete estivesse. Seu corpo social era numeroso, com uma atividade constante, reunindo setembrinos em saraus dançantes. Os bares florestinos que se prezassem tinham sempre uma fotografia do time pregada nas paredes”, disse Barreto.
Vice-campeão Mineiro em 1919 e 1920
O seu primeiro grande feito do Sete de Setembro aconteceu no Campeonato Mineiro da 1ª Divisão em 1919, quando se sagrou vice-campeão vencendo o Yale por 2 a 1 em uma decisão da Taça de Bronze. No ano seguinte, novamente “bateu na trave”, terminando em segundo lugar em 1920.
Título inédito do Torneio Início de 1922
O Sete foi campeão do Torneio Início do Campeonato Mineiro em 1922. No domingo, do dia 2 de abril de 1922, ainda no antigo campo do Prado Mineiro, após vencer o Palestra Itália (atual Cruzeiro), e o América nas fases eliminatórias, confrontou na final do Torneio Initium o Atlético, vencendo-o por número de escanteios e conquistando o seu primeiro título oficial com a seguinte escalação: Veiga; Pé de Ferro, Américo; Sant’Anna, Paulo, Guilherme; Nino, Novato, Romano, Totó, Oscarlino.
Campeão da Taça Coronel Oscar Paschoal de 1956
Já com a nova casa voltou a erguer um troféu em 1956, a Taça Coronel Oscar Paschoal. A FMF (Federação Mineira de Futebol), a organizou o Torneio Coronel Oscar Paschoal entre os quatro clubes eliminados do terceiro turno do Campeonato Mineiro de 1955.
O Sete, mesmo perdendo para o Cruzeiro, ficou com os pontos por irregularidades do adversário, depois venceu o Metalusina de Barão de Cocais e, após um empate sem gols, no Estádio Independência com portões abertos, contra o Asas de Lagoa Santa, conquistou o título do torneio com a seguinte escalação; Mão de Onça; Valter II e Ranieri; Alaor, Amauri e Mundico; Edinho, Wander, Valter I, Márcio e Vicentino. Técnico: Paulo Benigno.
Sua última conquista foi em 1997
Somente em 1997, o Tigre da Floresta voltaria a conquistar um título oficial, o Campeonato Mineiro de Futebol da Segunda Divisão, vencendo o Fabril de Lavras, no Independência, com um gol de pênalti aos 50 minutos do segundo tempo marcado por Fábio Menezes, irmão de Ramon Menezes, que atuou por Cruzeiro e Atlético-MG.
A escalação do time campeão era: Laércio; Chris (Telão), Roberto, Ralf, Carlão; Willian, Lói (Léo Salazar), Clemilson, Wellington (Paulinho); Fábio Menezes, Jorge. Técnico: Jurandir Gamma Filho.
Você sabia?
Um detalhe curioso é que, na década de 40 (a partir de 1944), o clube temporariamente se chamou Sete de Setembro de Futebol e Regatas, quando foi criada a Federação Mineira de Remo. Em setembro de 1948, voltou a atender por Sete de Setembro Futebol Clube.
Praça de Esportes
O seu magnifico campo de “football” cedido pela Prefeitura, está situado em terrenos do Parque Municipal (concorrendo a construção por conta da sociedade), na Zona Leste de Belo Horizonte, mais especificamente ao bairro da Floresta, daí a sua alcunha, o Tigre da Floresta,
A equipe alvirrubra mandava suas partidas na Chácara Negrão, atual Praça Otacílio Negrão de Lima, no bairro da Floresta. Posteriormente, jogou no 5º Batalhão de Policia Militar do Santa Teresa (atual Colégio Tiradentes no Bairro Santa Tereza), bairro este limítrofe ao bairro da Floresta.
No final dos anos 40, América, Atlético e Cruzeiro tinham cada um o seu próprio estádio. Vale destacar que os três estavam “dentro” da Avenida do Contorno, estando o Sete do outro lado do Rio Arrudas. No plano original da cidade, Belo Horizonte seria apenas o que estivesse dentro da Avenida do Contorno, estando o Sete na periferia da capital mineira.
Faltava ao Sete de Setembro a sua própria casa, já que este jogava no campo dos outros clubes da capital, ou no campo do V Batalhão acima mencionado. Faltava! Em 1948, em um terreno entre as ruas Ismênia e Pitangui, no bairro do Horto (bairro vizinho de Santa Teresa e Floresta) se inicia a construção do estádio Raimundo Sampaio, o popular Independência.
As obras foram capitaneadas pela prefeitura de Belo Horizonte, na gestão de Otacílio Negrão de Lima, juntamente com o então presidente do Tigre, o então vereador Antônio Lunardi.
O dirigente uniu o útil ao agradável: o Sete precisava de um estádio, e, em poucos anos o Brasil sediaria a Copa do Mundo e BH precisava de um monumento à altura do evento.
O projeto original era um pouco diferente do que a versão construída. A proximidade da Copa do Mundo fez com que a arquibancada localizada atrás de um dos gols não fosse concluída, levando ao formato de ferradura. Uma das marcas do Independência até os dias de hoje.
O estádio despontou como o maior dentre os estádios da cidade e um dos maiores do país, apto a receber o Mundial de 1950. E é justamente a história do estádio um dos fatores que fez o Sete não ser esquecido na memória dos belo-horizontinos. Os mais antigos ainda o chamam de “campo do Sete”.
A ideia vigente na época era a de que um clube não se desenvolveria se não tivesse um estádio próprio, então a construção do Gigante do Horto era vista com ótimos olhos.
As suas participações no Campeonato Mineiro, eram medianas e ruins, onde viu no Independência, o Atlético em 1950, o Villa Nova em 1951, o América em 1957 e o Cruzeiro em 1959, serem campeões.
A cancha setembrina só perdeu o posto de maior estádio da cidade, em 1965, quando foi inaugurado o Mineirão. Com isso, o gigante do Horto cairia em período de ostracismo revezando algumas partidas do próprio Sete, ficando às minguas na maioria do tempo.
Declínio na década de 60
Na década de 60 o Sete entrou definitivamente em decadência, pois sobrevivia até então, dos aluguéis pagos por seus rivais para uso do seu estádio. Participou de algumas edições do Campeonato Mineiro, Torneios Incentivos e da Taça Minas Gerais até 1976. A partir daí participou de forma intermitente as divisões de acesso do futebol do estado.
Nos anos 80, o estádio Raimundo Sampaio voltaria a ganhar protagonismo na cena do futebol de Belo Horizonte, após ganhar uma reforma promovida pelo Governo do Estado de Minas Gerais.
Um velho rival do Tigre, o Coelho, que desde que vendeu o estádio da Alameda peregrinava entra o Vale Verde, em Contagem, e o Mineirão, viu no Independência a oportunidade de estar mais próximo de seus torcedores, saudosos do campo americano no bairro do Santa Efigênia, também vizinho do Horto.
Sete e América firmaram um contrato de cooperação que permitia ao Coelho mandar ali os seus jogos, tendo também que assumir a responsabilidade pela manutenção do estádio.
Foi no Independência que o América viveu a sua maior gloria: em 1997, quando faturou a série B do Campeonato Brasileiro. Esse foi também o último ano que o Tigre da Floresta disputou (e venceu) um torneio oficial.
Com uma equipe formada em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais, conquistou o Campeonato Mineiro da 2ª Divisão (equivalente a Terceirona). O certame teve também as participações do tradicional Siderúrgica, do Fabril de Lavras, do Esportivo de Passos de Minas e do Aciaria de Ipatinga. O Tigre passou bem pela primeira fase, e no quadrangular final, garantiu o título na última rodada ao superar o Fabril, no Independência.
O título lhe rendeu a classificação para o degrau seguinte, o Módulo 2 em 1998. Mas o projeto não foi para frente e o Sete não usufruiu da vaga conquistada. E deste então não voltou a atuar em competições profissionais. Por algum tempo ainda figurou em competições de base, até desaparecer por completo do cenário do futebol mineiro em 1998.
Posteriormente, o Independência seria incorporado ao patrimônio do América, e o Sete de Setembro deixaria de existir, deixando um vazio no futebol de Belo Horizonte, que ficou desfalcado de um dos mais tradicionais times dos primórdios do Campeonato Mineiro.
Breve histórico no Estadual
Nos registros da Federação Mineira de Futebol, o Sete participou 17 vezes do Campeonato Mineiro de 1916 a 1932, quando o futebol era amador e 30 vezes da era profissional, em 1934, de 1938 a 1961, de 1969 a 1971 e de 1974 a 1976, ano que encerrou suas atividades na 1ª Divisão do Futebol Mineiro.
As últimas participações do Sete de Setembro em torneios oficiais foram na Terceira Divisão de 1997 e no Módulo II de 1998 com um convênio com a UFMG, treinado pelo Prof. Jurandir Gama Filho.
O renascimento do “Tigre da Floresta”
O Sete se afastou dos gramados por um tempo, mas não morreria nunca o sonho de ser grande, e de fazer frente aos demais times da capital. O Sete de Setembro é um patrimônio da cidade, é parte da história da Zona Lesta de Belo Horizonte, é uma história que merece ser preservada e resgatada. Por tudo que representa o seu passado e pelo pioneirismo no futebol mineiro, o Tigre merece um lugar ao sol.
Atualmente, graças ao trabalho incansável do seu presidente, Fabiano Rosa Campos, o Sete de Setembro participa de competições amadoras de Belo Horizonte com equipes de juniores, juvenis, e também time de futebol feminino, sonhando em voltar aos embates com América, Atlético e Cruzeiro.
Sete trabalha para retornar a esfera profissional
Enquanto não volta a jogar no Independência ou no Mineirão, é nos campos de várzea que o Tigre da Floresta vem renascendo na esperança de em breve estar novamente filiado a Federação Mineira de Futebol, já que aos poucos vem reativando suas categorias de base e equipe de futebol feminino.
Este resgate histórico ressalta a importância do clube rubro no cenário esportivo belo-horizontino, esperamos que este seja o princípio de um processo que resulte na volta do Sete de Setembro ao campeonato mineiro.
O antigo dono do estádio Independência, o Sete de Setembro Futebol Clube está com as atividades profissionais interrompidas desde 1997, quando fundiu seu conselho deliberativo ao do América Mineiro.
Em 2020, o Tigre da Floresta passou a disputar competições amadoras e, no momento, segue com o processo para retomar a licença profissional e voltar aos gramados.
O Sete de Setembro volta às atividades de base com um forte lado social, utilizando no uniforme temas como a diversidade e consciência negra – neste caso, uma homenagem a Taian, jogador setembrino assassinado na década de 1940, na comemoração de um jogo.
Colaborou: Fabiano Rosa Campos
FOTOS: Estado de Minas (MG)
FONTES: O Paiz (RJ) – O Tempo (MG) – livro “Futebol no Embalo da Nostalgia”, de Plinio Barreto – Wikipédia – “O Futebol na Cidade de Belo Horizonte: amadorismo e profissionalismo nas décadas de 1930 e 1940, de Sarah Teixeira Soutto Mayor – Curso de Educação Física, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2017.