
Finalmente dissipou-se a dúvida quanto ao treino da seleção brasileira, na quinta-feira, do dia 1º de maio de 1958. Como o Ministério do Trabalho não houvesse concretizado a sua proposta para que o prélio tivesse lugar no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro (RJ). A C.B.D. (Confederação Brasileira de Desportos) resolveu atender ao pedido do SESI, de São Paulo a fim de que a exibição se realize no Pacaembu.
Assim sendo os craques nacionais, depois de seu retorno de Araxá (MG), se apresentarão primeiramente aos olhos da torcida bandeirante. No domingo, do dia 4 de maio, todavia, estarão em atividade no Rio, para enfrentar a representação paraguaia no primeiro jogo pela Taça Oswaldo Cruz. A segunda peleia está confirmada para São Paulo, na quarta-feira, do dia 7 de maio.
A entidade brasileira convidou o árbitro austríaco, Erwin Hiergger para apitar a peleja, no Maracanã. Com a impossibilidade em atender o convite, a CBD acabou escolhendo o árbitro carioca Alberto da Gama Malcher (Federação Metropolitana de Futebol).

Cr$ 50,00: arquibancadas na estreia do selecionado
Abertura dos portões do Maracanã às 12:45 horas, por ocasião da partida entre brasileiros e paraguaios – Aprovada a tabela de preços dos ingressos
A C.B.D. anunciou, ontem, preços dos ingressos para a parti da de apresentação do escrete brasileiro, frente ao do Paraguai, dia 4 de maio, no Estádio do Maracanã, na primeira partida da série de duas, pela posse do troféu “Oswaldo Cruz”.
Tais preços deverão prevalecer, também, por ocasião do segundo cotejo, dia 7, no Pacaembu. A tabela aprovada é a seguinte:
Camarotes: Cr$ 750,00;
Camarotes laterais: Cr$ 400,00;
Cadeiras numeradas: Cr$ 150,00;
Cadeiras sem número: Cr$ 80.00;
arquibancadas: Cr$ 50,00;
Gerais: Cr$ 20,00;
Militares e menores: Cr$ 15,00.

Programou a C. B. D. a venda antecipada dos ingressos, nos Teatros Municipal e João Caetano, a partir das seguintes datas: Cadeiras, 28 do corrente; Arquibancadas, 2 de maio, e as demais, das 9 horas em diante, do dia do jogo, nas bilheterias do próprio Estádio do Maracanã.
A preliminar desse encontro reunirá as equipes do Cruzeiro do Sul e do S. C. Maracanã. O cotejo entre as representações do Brasil e do Paraguai terá início às 15,30 horas e os portões do Estádio estarão abertos a partir das 12:45 horas.
De acordo com o regulamento da Taça “Oswaldo Cruz”, se houver empate após os dois jogos, permanecerá em poder do detentor.

Crônica na integra do jogo, pelo Diário de Notícias
NÃO deixa de ser algo significativa uma vitória de um selecionado nacional sobre outro, por 5 a 1. E quando se trata de selecionados que se preparam para uma final de Taça do Mundo, um triunfo em tais proporções traz sempre algo de alentador.
Alentador, sim, deve ter sido para quantos assistiram o encontro de domingo, aquele resultado de 5 a 1 a favor da equipe brasileira. Porque, afinal de contas, ganhando de tal forma de uma equipe que já fora, inclusive, apontada como uma das favoritas do Mundial e que viera de uma vitória sobre os argentinos, em Assunção, seguida de uma derrota vendida a peso de grandes esforços, em Buenos Aires, os paraguaios deixam-nos o consolo de que, pelo menos não deverá ser o Brasil o concorrente mais fraco dentre os sul-americanos.
Vamos considerar, com excesso de otimismo, brilhantíssima a vitória do nosso quadro domingo último. Foi de certo, uma vitória espetacular, a tanto elevou-a o marcador de 5 a 1. Mas, devemos ter em conta que os números expressam mais a precariedade da defesa e do ataque paraguaios do que, propriamente, perfeição do trabalho do nosso conjunto.
Partindo-se desse ponto, temos que os brasileiros se impuseram, realmente, e realmente mereceram o triunfo. Fizeram-se senhores da situação logo aos primeiros dez minutos de jogo e manobram como bem entenderam, superando com surpreendente facilidade os homens da defesa contrária, que não apresentaram a menor ideia de coe são nem de valor individual, e aniquilando por completo a ação dos atacantes, dentre os quais José Parodi e Romero mostraram-se mais agressivos que os seus companheiros.

Tendo assinalado, sem maiores preocupações depois do primeiro tento, três a zero na primeira etapa, os brasileiros, provavelmente desestimulados pela fraqueza do adversário, desinteressaram-se do marcador, o que não lhes Impediu de marcar mais dois tentos, enquanto os paraguaios. graças a uma falta máxima do viril Belini, conseguiram o seu tento de honra, para fixar o marcador, finalmente, em 5 a 1.
OS SEIS TENTOS
Brasil 1 a 0 – Foi Zagallo que abriu a contagem, aos 12 minutos; recebendo um passe de Dino Sani, que invadira a área pela direita, o ponteiro rubro-negro, num belo ‘mergulho’ cabeceou, abrindo o placar.
Brasil 2 a 0 – Aos 13 minutos, um tiro de Dida levou a bola a resvalar nos pés do zagueiro Lescano e voltar aos de Vavá, que acompanhava Dida; emendando violentamente, Vavá assinalou o segundo.
Brasil 3 a 0 – Aos 33 minutos Dida, aproveitando um centro de Dino, de fora da área, desviou a bola com o calcanhar para ampliar.
Brasil 3 a 1 – O tento do Paraguai surgiu nos 33 minutos do segundo tempo. Arevalo, depois de impressionante e resistência dos demais jogadores (o mal é continental…) cobrando uma falta máxima de Belini em Pelayo.
Brasil 4 a 1 – Aos 37 minutos, aproveitando a bola rebatida na trave, na cobrança de um escanteio, Pelé (entrou aos 24 minutos do 2º tempo), que entrara em lugar de Dida, marcou o quarto tento.
Brasil 5 a 1 – Е, aоs 39 minutos, Zagallo, valendo-se de uma rebatida do guardião Mayeregger, assinalou o quinto e último tento brasileiro.

Destaques
Entre os brasileiros, que tiveram, como dissemos, uma tarefa cômoda, agradou especialmente, o trabalho de Dino e Zózimo, na defesa, e Didi, Vavá e Pelé, no alaque. É certo que Dida mostrou-se um elemento oportunista: Pelé foi, porém, mas agressivo, emprestou mais vida às investidas dos brasileiros nos poucos momentos em que esteve em campo.
Os demais ele mentos, regulares, apenas Oreco falhou muito. Em conjunto, nossa defesa apresentou-se mais falha do que ataque. Entre os guaranis, salientaram-se Arevalo e Exchague, na defesa, e José Parodi e Romero, no ataque.

ARBITRAGEM
Funcionou na arbitragem o sr. Alberto Gama Malcher. Teve um trabalho suave, dado o comportamento amistoso dos jogadores, embora fossem assinalados alguns “fouls” e deixasse de marcar outros. Eunápio de Queirós e Frederico Lopes funcionaram como auxiliares.
Na preliminar, os quadros Maracanã e Cruzeiro do Sul empataram por 2 a 2. Foi apurada a renda de Cr$ 4.306.000.30, correspondente a 75.646 ingressos pagos, possivelmente umas oitenta mil pessoas terão assistido ao encontro de domingo.
BRASIL 5 X 1 PARAGUAI
LOCAL | Estádio Mario Filho, o ‘Maracanã’, no Rio de Janeiro (RJ) |
CARÁTER | Taça Oswaldo Cruz de 1958 |
DATA | Domingo, do dia 4 de maio de 1958 |
HORÁRIO | 15 horas e 15 minutos (de Brasília) |
RENDA | Cr$ 4.306.030,00 |
PÚBLICO | 75.646 pagantes |
ÁRBITRO | Alberto da Gama Malcher (BRA) |
AUXILIARES | Eunápio de Queirós (FMF) e Frederico Lopes (FMF) |
BRASIL | Gilmar; De Sordi, Bellini, Zózimo e Oreco; Dino Sani e Didi; Joel, Vavá, Dida (Pelé) e Zagallo. Técnico: Vicente Feola |
PARAGUAI | Ramón Mayeregger, Edelmiro Arévalo e Juan Vicente Lezcano (Darío Segovia); Salvador Villalba, Ignacio Achucarro e Elígio Echagüe; Juan Bautista Agüero, José del Rosario Parodi, Jorgelino Romero (Raúl Aveiro), Óscar Aguillera e Florencio Amarilla (Gilberto Penayo). Técnico: Aurélio González |
GOLS | Zagallo aos 12 minutos (BRA); Vavá aos 13 minutos (BRA); Dida aos 33 minutos (BRA); no 1º tempo. Edelmiro Arévalo, de pênalti, aos 33 minutos (PAR); Pelé aos 37 minutos (BRA); Zagallo aos 38 minutos (BRA), no 2º tempo. |
PRELIMINAR | Maracanã 2 x 2 Cruzeiro do Sul |

No segundo jogo, na quarta-feira, do dia 7 de maio de 1958, no Estádio do Pacaembu, terminou empatado sem abertura de contagem. Com esse resultado, a Seleção Brasileira se sagrou campeã da Taça Oswaldo Cruz.
TRABALHO DE PEQUISA: Sérgio Mello
FOTOS: Acervo de Amir Otoni de Oliveira
FONTES: Correio da Manhã (RJ) – Diário de Notícias (RJ) – O Jornal (RJ) –Tribuna da Imprensa (RJ)