No dia 18 de agosto de 1912 no bairro do Fonseca, Niterói, um grupo de desportistas fundou o Ypiranga Football Club. As cores escolhidas para a fundação foram o azul e branco, e o primeiro uniforme camisas brancas com uma faixa horizontal azul (semelhante ao do Olaria).
O Ypiranga não obteve grande sucesso nos anos 10, com exceção de um título de terceiros quadros na LSF em 1916, mas era considerado um clube respeitável, oferecendo jogo duro aos favoritos nos torneios locais.
O Ypiranga se tornaria rubro-negro apenas em 1921. No dia 3 de abril daquele ano o clube niteroiense recebeu a visita ilustre do poderoso Flamengo, campeão carioca, em disputa de uma taça amistosa, chamada Taça Maurício de Medeiros (equivocadamente listada em vários sites sobre o Flamengo como “Taça Ypiranga”). A partida foi disputada no campo do Byron, e o Flamengo venceu por 4 a 1.
Após a disputa o Ypiranga, que já vinha cogitando mudar de cores (Canto do Rio e Barreto já eram azuis), decidiu adotar as cores e uniforme idênticos ao do Flamengo: camisas listradas rubro-negras com monograma branco. O escudo, porém, era diferente: em metades rubro-negras, com o monograma no centro e contorno branco, muito semelhante ao do Fluminense (nota: na verdade, por um breve período antes de usar o famosíssimo escudo listrado, a seção terrestre do Flamengo chegou a utilizar um escudo idêntico ao do Fluminense. Talvez pela rivalidade, o Flamengo omita o fato – mas quem é pesquisador e já se deparou com esse escudo, certamente levou um susto).
Outro ano importante para o Ypiranga é 1925: o clube fez uma fusão – na verdade absorção – com o América F.C. niteroiense e ficou com a sede e campo desse, entre as ruas São Lourenço e Indígena, no bairro de São Lourenço, de onde nunca mais sairia. O nome da rua motivou seu apelido e seu mascote: “O Clube Indígena”.
Em casa nova, logo em 1926 o clube começaria a sua fase dourada, vencendo o título da Associação Nictheroyense. No mesmo ano conseguiria uma vitória impressionante: 2 a 1 sobre o Botafogo, que fora a Niterói em disputa amistosa.
O clube seria vice em 1927 e 1928, este último doído, após perder os pontos de uma partida decisiva para o Byron – os ypiranguenses jamais se conformariam, e se entitulariam campeões morais desse ano para sempre, frequentemente com apoio da imprensa.
A tristeza seria amenizada com um grande tricampeonato, em 1929/30/31, lembrando que o título de 1930 foi dividido com o Fluminense Atlético. O ano de 1929, então, foi impressionante: o clube goleava impiedosamente os seus adversários niteroienses, por 8, 9, 10 gols, com um desempenho infernal da dupla de ataque Manoelzinho e Oscarino. Falando neles, em 1930 o clube ainda teve a glória, provavelmente jamais igualada, de ser o único clube de Niterói a ceder jogadores para a Copa do Mundo, quando os dois craques ypiranguenses foram convocados.
Outra seleção, a niteroiense, teve bem mais que um dedo do Ypiranga: quase metade dos atletas da Seleção de Niterói tetracampeã estadual de 1928/29/30/31 eram do Ypiranga.
Outro momento marcante do clube foi em 1931: o clube transformou o campo da Rua São Lourenço no Estádio Luso-Brasileiro, e inaugurou os refletores com uma partida amistosa contra o São Cristóvão, então forte equie carioca. O resultado: vitória rubro-negra por impressionantes 11 a 5!
Embora o uniforme “flamenguista” seja famoso, é curioso lembrar que no período mágico de 1928 a 1931 o clube utilizou um outro padrã de uniforme: inteiramente vermelho com uma faixa horizontal preta e escudo no peito, sendo que a separação entre o vermelho e preto do escudo e do uniforme ficavam perfeitamente alinhados. Completavam o uniforme os calções brancos e golas e punhos negros, uma combinação muito bonita. Talvez o Ypiranga tentasse ter uma “cara” mais própria, lembrando que o padrão era o mesmo da fundação. Porém, a partir de 1932, o uniforme “flamenguista” foi readotado e, até onde sei, jamais mudado novamente (embora com um detalhe curioso: uma tendência a usar golas vermelhas, ao contrário das comumente negras dos flamenguistas).

Em 1934 o Ypiranga tornou-se um clube profissional, e conquistou os títulos dessa categoria de Niterói em 1935 e 1936. O clube poderia ter participado do campeonato dos campeões da FBF, mas o Aliança, de Campos, foi em seu lugar em episódio que motivou tensão entre a liga de Niterói e a Federação Fluminense, e levando o clube a abandonar o profissionalismo já em 1937.
Na década de 40 o clube diminuiu o ritmo. Embora continuasse forte, desenvolveu uma tendência a decepcionar e terminar em segundo ou terceiro lugar… Apenas em 1949 quebrou o jejum, conquistando um emocionante título em final contra o Fonseca.
Em 1953 arriscou-se novamente no profissionalismo: foi campeão em 1958, mas antes de disputar as finais do estadual desistiu do regime remunerado, cedendo sua vaga ao vice Manufatora, que ironicamente conquistou o título máximo do Estado do Rio. De volta ao amadorismo, foi campeão em 1965 e 1967, e já sem o mesmo prestígio e dinheiro, decidiu abandonar as competições adultas em 1970. Totalmente falido, perdeu o Estádio Luso-Brasileiro em 1975, e em seu lugar hoje existe uma subestação de energia elétrica. Parte da sede, o ginásio, também foi desmontada, e hoje existem lojas por lá.
Mantendo apenas uma modesta sede e sem campo, o Ypiranga montou equipes infantis e juvenis nos anos 70 e 80, de forma cada vez mais esporádica, até que um belo dia parou de funcionar.
Não se sabe exatamente quando o clube foi extinto, já que a morte do Ypiranga deu-se “aos poucos”, ou mesmo se está realmente extinto – afinal, se a extinção não foi decidida em assembléia, existem sócios perdidos por aí, ou a posse do terreno ainda está inscrita ao Ypiranga, o clube tecnicamente ainda existe. Só se sabe que a sede está lá, entre as ruas Indígena e São Lourenço, completamente vazia e abandonada, com uma placa de “aluga-se”. Uma lembrança de um clube que foi muito forte em um breve período, e tornou-se um nada em tempo recorde.
A quem interessar, digitem “Rua São Lourenço, 16, Niterói” no google maps e vejam o Street View.