O goleiro Dudízio chegou ao Jabaquara de Santos em 1961 para ser o reserva de Barbosinha, mas, na primeira chance que teve de substituir o goleiro titular, não deixou mais a posição.
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Em 1962, foi eleito terceiro melhor goleiro do campeonato paulista pela Rádio Difusora, atrás apenas de Gilmar e Félix, isso apesar de seu time ter sofrido 72 gols ao longo do campeonato, ficando com a segunda pior defesa. No mesmo ano, foi eleito ainda o melhor goleiro jovem da competição, em votação da agência Sport Press publicada pela Folha da Manhã. Também foi convocado para defender a seleção paulista na disputa do Campeonato Brasileiro de Seleções de 1962.
Essa aparente incongruência fica mais clara quando se lê artigos de jornal da época. Em uma partida perdida para o Santos por 5×2, em 19 de agosto, por exemplo, um jornal do dia seguinte destacava que “Dudízio, apesar de ter sofrido cinco gols, foi um dos bons valores do Jabaquara”. Outro elogiou ainda mais a atuação do goleiro, elegendo-o à seleção da rodada, apesar dos cinco tentos sofridos: “Dudízio jogou uma extraordinária partida contra o Santos. Não fora ele, e o Jabuca teria perdido por dez. Até penalidade máxima defendeu! Maior arqueiro da rodada, com belíssima atuação.” Essa penalidade máxima foi cobrada por Pepe, conhecido como “Canhão da Vila”. Dudízio foi um dos poucos goleiros a defender um pênalti cobrado por Pepe.
Em outra derrota, por 3×1, para o São Paulo, em 28 de outubro, um jornal do dia seguinte estampava: “Dudízio apareceu como a melhor figura da sua equipe, evitando uma contagem maior.”
Após uma derrota por 1×0 para o Juventus, na Rua Javari, em 11 de novembro, a Gazeta Esportiva do dia seguinte foi eloqüente: “O desenvolvimento do encontro girou praticamente em torno de dois jogadores: Dudízio e Da Silva. O juventino organizou com eficiência e dinamismo os movimentos do seu ataque, que implicaram no domínio total exercido pelo quadro local. O arqueiro jabaquarense Dudízio, por sua vez, foi o obstáculo mais sério que o Juventus enfrentou, notadamente no primeiro tempo, quando a pressão dos grenás foi mais acentuada. Dudízio teve atuação impecável e encarregou-se repetidas vezes de anular, com oportunas defesas, a conclusão do trabalho que o meia juventino Da Silva pacientemente executou no meio do campo.”
O site de Milton Neves chega a brincar com esse assunto: “[Dudízio] deve ter sido o goleiro mais vazado da história. Mas ele era muito bom. O time do Jabaquara é que era muito ruim.” Não parecem ser exageradas as histórias que dão conta de que, ao final de 1962, o Jabaquara tenha recebido propostas das quatro grandes equipes de São Paulo pelo seu passe.
Em 1963, as boas atuações continuaram. O Diário da Noite, em sua edição de 29 de julho, escreveu: “Gilmar, Antônio Lima dos Santos, Pelé, Cabrita, Rubens Salles e Dudízio foram os melhores valores do encontro.” Detalhe: a partida terminou 5×2 para o Santos.
Em um amistoso contra a Portuguesa Santista, então na divisão de acesso, no mesmo ano (derrota por 2×0), a Gazeta Esportiva advertia que o Jabaquara caminhava perigosamente rumo ao rebaixamento. Mas destacava: “Não fora a atuação de Dudízio, trabalhando por si e pelos outros, às vezes, e possivelmente o escore teria ido além, mostrando que a situação do tradicional rubro-amarelo é por demais precária no momento.”
O rebaixamento de fato ocorreu, com o Jabaquara na lanterna do campeonato e dono da defesa mais vazada (mais de 20 gols sofridos a mais que a segunda defesa mais vazada), mas, ainda assim, Dudízio foi eleito o quarto melhor goleiro do campeonato pelo jornal Mundo Esportivo, atrás de Gilmar, Rosan e Machado. O Jornal Mundo Esportivo era de Geraldo Bretas, polêmico jornalista.
O mesmo jornal fez em outra edição durante o torneio, após um empate em 1×1 com o Corinthians em 16 de junho, uma das referências mais elogiosas a Dudízio: “O homem deu um ‘show’, mostrando como se joga de fato nessa posição. Classe, categoria, arrojo, extraordinário golpe de vista, colocação impecável debaixo das traves, segurança, perfeito preparo físico, elasticidade etc. etc. foram as características de Dudízio. Quando alguém do Corinthians pensava em gol, desanimava-se, porque pela frente teria este goleiro, o melhor homem da partida. Nenhum goleiro jogou neste campeonato, até o presente momento, como o jabaquarense, que merece um quadro de honra especial: o de homens com belas atuações .
Em jogo contra o São Paulo, em 8 de setembro, o jornal Equipe , de propriedade do jornalista Wilson Brasil, avaliou a atuação de Dudízio da seguinte maneira: “Dudízio praticou pelo menos meia dúzia de intervenções espetacularíssimas, que salvaram sua equipe de uma ‘goleada’. Em excepcional forma, com enorme elasticidade, foi sempre um ‘não’ às pretensões tricolores.”
No final da temporada, recebeu proposta do Santos, por meio do técnico Lula, para substituir o goleiro reserva da equipe, mas as negociações, que chegaram a ficar adiantadas, acabaram não sendo concretizadas.
Até hoje, Dudízio é considerado com um dos grandes ícones da história do Jabaquara. Sobre a época em que defendeu o Jabaquara, costumava contar histórias sobre as “peladas” na praia, às segundas-feiras, em que teria jogado junto com Pelé.
Em 1963, o velho Jabuca de Dudízio estava na última colocação, com 33 pontos perdidos e, para piorar, perdeu os três jogos seguintes. Todos diziam que era o fim de tudo.
O Jabaquara enfrentou o Juventus, na Vila, e mesmo com uma apresentação razoável conseguiu empatar por um gol. Uma vitória bonita contra o XV de Piracicaba, por 3×1, deixou os jabaquarenses em festa. E alegria ainda maior, venceu a Portuguesa de Desportos pelo mesmo resultado. Faltavam apenas dois jogos para encerrar o campeonato e, se o Leão vencesse as duas partidas, teria oportunidade de disputar com a Prudentina, penúltima colocada, o chamado rebolo.
Um dos adversários seria o Santos. Exatamente a 11 de dezembro de 1963, estavam alinhados no gramado da Vila Belmiro, o Jabaquara e o Santos. O último, com uma posição privilegiada na tabela, podia perder. Neste jogo pediram para um jogador do Santos bater o pênalti fora, para salvar o Jabuca. Mas isso não aconteceu e o Santos arrasou o Leão do Macuco numa goleada histórica de 5 a 3.
Olhos vermelhos, lenço na mão, os torcedores olhavam o placar. Ninguém comentava os lances, ninguém falava do primeiro gol do Coutinho. Alguns diziam que o Santos poderia ter entregue o jogo. Outros achavam que o Santos não ganhou, o Jabaquara perdeu.
Era o fim de um trabalho gigantesco: o Jabaquara de Dudízio caiu para a 2ª Divisão.
Wikipedia
Diário do Comércio, 20/09/2004, pág. Esportes-1
Gazeta Esportiva, 12/11/1962
http://www.miltonneves.com.br
Diário da Noite, 29/07/1963
Mundo Esportivo, 13/11/1963
Equipe, 11/09/1963
O Estado de S. Paulo, 07/12/1963
Carlos Augusto Colussi, “Dudízio: uma fera entre dois leões”, A Tribuna, Santa Cruz das Palmeiras, janeiro de 2004