Arquivo do Autor: Gilberto Maluf

Gerhardt Müller – Atacante – Nördlingen (Alemanha) –

Pouco se podia esperar do gordinho atacante alemăo que, na infância, era apelidado de Der Dick, em alemăo, o gordinho. Tanto assim que o técnico da seleçăo alemă Helmut Schön justificava-se para năo convocá-lo (quando já começava a marcar os seus gols no Bayern de Munique) dizendo que “Müller é gordo, năo é bem um jogador de futebol, e faz gols por sorte”.
No decorrer de sua carreira, entretanto, Müller foi deixando de ser Der Dick para ser Der Bomber de “o gordinho” para o “bombardeiro”.
Agora sim o apelido estava bem colocado. Afinal, Gerd Müller é, até hoje, quem mais marcou gols na história das Copas do Mundo: dez na Copa de 70 e quatro na de 74, totalizando 14 gols.
Além de marcar muitos gols, Müller marcava gols importantes: foi dele o gol que deu o título mundial ŕ Alemanha em 1974 e marcou 3 no jogo que deu ao seu país a Eurocopa de 72. Por 7 vezes, Müller foi artilheiro do campeonato alemăo, estabelecendo em 71 um recorde: 40 gols no campeonato nacional. No ano seguinte, esse recorde seria igualado. Por ele mesmo. Foi por duas vezes artilheiro da Europa. Pela seleçăo, jogou 62 partidas, marcando 68 gols. É o maior artilheiro da história da seleçăo alemă, com uma média de 1,1 gol por jogo.
Logo que chegou no Bayern de Munique, ajudou o clube da capital alemă a subir para a primeira divisăo em 1965. Já no ano seguinte, estrearia na seleçăo contra a seleçăo da Turquia (era a primeira partida da Alemanha Federal depois de perder a final da Copa de 66 para os donos da casa, os ingleses). Campeăo do campeonato alemăo em 69, 72,73 e 74, venceu também as Copas da Alemanha de 66, 67, 69, 74, 75 e 76. Foi também campeăo da Recopa em 74, da Copa dos Campeőes em 74, 75 e 76, e Mundial Interclubes em 1976, todos esses títulos pelo Bayern. Pela seleçăo alemă, foi campeăo da Eurocopa de 72 e do Mundo em 74.
Em 1970, ganhou o título de melhor jogador da Europa. Em 1978, machucou-se gravemente, nunca chegando a se recuperar por completo. Foi entăo jogar no futebol americano, assim como seu compatriota, Franz Beckenbauer. Em 75 jogos pelo Fort Lauderdale, marcou 38 gols. Jogou ainda pelo Smith Brothers Lounge, também dos Estados Unidos.
Ao terminar a carreira, teve sérios problemas com a bebida, perdendo todo o dinheiro acumulado em anos de futebol. Aos 45 anos, internou-se numa clínica, com as despesas pagas por Franz Beckenbauer. Recuperado, assumiu o cargo de técnico das categorias de base do Bayern de Munique.
“Müller é gordo, năo é bem um jogador de futebol, e faz gols por sorte.”
(Helmut Schön, ex-técnico da seleçăo alemă, justificando porque năo convocava Gerd Müller, que viria a ser o jogador que mais gols fez na história das Copas do Mundo (superado por Ronaldo na Copa de 2006)
“Chuto rente ao chăo, assim é mais difícil para o goleiro.”

O conhecido jornalista desportivo Wolfgang Golz regularmente entrevista jogadores, técnicos, fãs e especialistas . Desta feita ele fala com o ex-jogador da seleção alemã e recordista de gols em Copa do Mundo, Gerd Müller, sobre sua expectativa em relação à Copa do Mundo, seu gol mais famoso, e as peculiaridades do futebol atual.

Antigamente o senhor sempre entrava em campo com uma calma impressionante – ou era só aparência?

Antes de jogos importantes o nervosismo vai aumentando. Mas, uma vez em campo não havia mais nervosismo. Também, no meu caso tenho de reconhecer: eu sempre joguei em equipes de ponta. Aí, não há porque ficar nervoso.

O senhor é o maior goleador alemão de todos os tempos. Onde é mesmo que está a sua estátua?

Imagina – não, isso não existe. Não preciso disso.

O senhor era conhecido com “Der Bomber” ou Müller baixinho, gordinho.

Nesse caso preferia o Bomber. O meu ex-técnico Cajkovsky me chamava de Müller baixinho, gordinho. E na realidade era um apelido carinhoso.

Senhor Müller, no final da Copa do Mundo de 1974 o senhor fez o gol decisivo contra a Holanda, na vitória de 2×1. O senhor hoje em dia ainda sabe o ponto certo?

O ponto exato. Até porque este gol está sempre sendo mostrado na televisão. Mas eu também tenho este gol na memória. Quando eu vejo o lance, muitas vezes me pergunto: como consegui chutar aquela bola dentro do gol? Toda vez me arrepio.

E como foi, exatamente?

(Gerd Müller levanta de súbito e organiza a cena em cima da mesa, mesmo sem bonecos que representem jogadores). Bem, havia três holandêses, eu fui para frente, eles também. Eu voltei, eles ficaram. A bola veio da direita, chutada pelo Bonhof, a bola quicou e escapou do meu pé esquerdo …

Desculpe, o senhor não trocou de pé de modo propositado?

Não, não, a bola pulou do meu pé esquerdo para o pé direito. Eu me virei e chutei direto. Como atacante a gente não tem que parar para pensar onde está o gol …

O senhor chutou em gol de qualquer posição. Os atacantes hoje em dia costumam chutar para o gol com força bruta.

É o que eu sempre digo e reclamo. Eles só usam a força e na maioria das vezes chutam em cima do goleiro. As vezes a bola tem de ser rolada ou levantada. O que conta é a bola atrás da linha. Gols pequenos também valem.

O senhor é técnico da seleção de amadores do FC Bayern. O que o senhor transmite a estes jovens?

Eu lhes dei vídeos para que vissem como eu joguei, mas isso é algo que não se aprende, só aperfeiçoa. O Bruno Labbadia foi o único, que tinha um estilo de jogo parecido. Não há outro.

Aqui entre nós, Senhor Müller, considerando a quantidade de gols que o senhor marcou, surge a pergunta: os defensores eram tão ruins, ou o senhor era tão bom?

Eu era bom, sem dúvida. Naquela época ainda havia o beque e o médio-volante contra você. Quase não havia espaço. Agora eles jogam com a linha de quatro. Com este sistema eu teria feito ainda mais gols. Mas os que eu fiz já está bom.

Qual o gol que considera o seu gol mais bonito, e qual foi o mais importante?

O 2×1 na final da Copa do Mundo sem dúvida foi o mais importante. Mas o meu gol mais bonito foi o do jogo repetido da Copa da Europa, final, em 1974, no 2×0 contra o Atlético Madrid: bola do Kapellmann – mas não tenho mais bem certeza -, bola matada no peito, volley e gol.

(Nota o primeiro jogo terminou em 1:1, o segundo em 4:0 para o FC Bayern, gols: Müller e Hoeneß, 2 gols respectivamente)

Comparando com os anos 70 e 80, quais as alterações que ocorreram no sistema de jogo?

Nós ainda jogavamos com cinco atacantes , ou pelo menos três. Hoje em dia as vezes eles jogam com dois atacantes, as vezes só um. E com a linha de quatro sempre há um jogador a mais atrás, do que havia antigamente. Quando o Franz (Beckenbauer.) como libero ia pra frente, o Zobel ou o Bulle Roth tinham que lhe dar cobertura. O beque “Katsche” Schwarzenbeck nunca podia ir pra frente.

O senhor trabalha como técnico – antigamente o senhor aparecia mais. O senhor gosta do que faz?

Sim, é o que mais gosto. Acabei de prolongar meu contrato em cinco anos, até 2010. Até lá estarei com 65 anos, e aí vou parar.

Fonte: deutschland.de/PT/Content/WM-Aktuell/Interviews

Meus amigos, para aqueles que não o viram jogar, não precisa nem ler o currículo, basta somente ler a entrevista para sentir o quanto era perigoso este baixinho alemão.

Solta essa bola, Garrincha!

Essa é do tempo que os jogos da Copa do Mundo eram transmitidos apenas pelas ondas do rádio. Na Copa do Mundo de 1962, no Chile, no entanto, o torcedor brasileiro passou a assistir em videoteipe às partidas que eram exibidas um dia depois, muitas vezes nas madrugadas.

O videoteipe de Brasil x Espanha teve uma grande audiência. O jogo representou a classificação da Seleção Brasileira para as quartas-de-final. O time dirigido por Aymoré Moreira começou a partida muito mal e terminou o primeiro tempo perdendo por 1 a 0, gol de Adelardo.

Começou o segundo tempo, e o Brasil continuou jogando mal. Garrincha, que estava prendendo a bola mais do que o costume, passou então a irritar o locutor que transmitia o jogo. A cada lance, a cada bola perdida, o locutor não perdoava.

– Assim não dá, ele não passa a bola para ninguém!

Aos 26 minutos do segundo tempo, Zagallo fez boa jogada pela ponta-esquerda e cruzou para Amarildo empatar, de pé esquerdo, antecipando-se aos zagueiros espanhóis.

Mas a implicância do locutor com Garrincha não parava.

Até que, a três minutos do final., Garrincha exagerou. O genial ponta-direita segurou a bola, driblou de um lado para o outro, e não a soltava. O locutor se desesperou.

– Por isso que o Brasil não ganha esse jogo. O Garrincha não dá a bola pra ninguém! Tem de soltar essa bola! – repetia, aos berros.

Cada vez mais enfático na pregação contra Garrincha, o locutor não percebia que o ponta ia levando a melhor sobre seus marcadores. Até que ele chegou à linha de fundo e cruzou com precisão para Amarildo desempatar, com uma cabeçada. Os berros do locutor passaram do inconformismo à empolgação.

[img:garrincha.jpg,full,vazio]

– Cruzou Garrincha, é gol do Brasil!. É gol do Brasil, Amarildo!. Grande jogada de Garrincha! Brasil 2 a 1!.

Com a vitória, o Brasil passou às quartas-de-final, em que derrotou a Inglaterra por 3 a 1. Depois viriam o Chile, na semifinal, superado por 4 a 2, e a Tchecoslováquia na final, vencida por 3 a 1. O Brasil foi bicampeão mundial, na Copa em que Garrincha foi o herói.

CBFnews

Franz Beckenbauer, este sim o verdadeiro Imperador

Franz Beckenbauer nasceu em Munique, na Alemanha. Aos 13 anos já jogava no juvenil do Bayern. Com 20 se integrou à seleção B do país e, pouco tempo depois, à seleção principal. Na Copa do Mundo da Inglaterra, em 1966, fez parte da campanha do vice-campeonato. Jogou também o Mundial do México, em 1970. Mas foi em 1974, na cidade onde nasceu, que se tornou campeão mundial.Com o Bayern, Beckenbauer foi campeão alemão em 1969 e 1972, e conquistou a Copa da Alemanha nos anos de 1966, 67, 69 e 1971. Era chamado de “Kaiser” (imperador) pela liderança dentro e fora de campo. Em 77, já próximo de encerrar a carreira, participou da criação da Liga de futebol dos Estados Unidos, contratado pela equipe do Cosmos, onde atuou ao lado de Pelé . De 1980 a 82 jogou no Hamburgo, retirando-se dos campos no dia 1º de junho com uma partida em sua homenagem entre o próprio Hamburgo e a seleção alemã. A partir de 1984 passou a treinar a Alemanha, dirigindo o time nos Mundiais do México , em 1986, e da Itália, em 1990. Após conquistar o título da Copa de 1990, passou a ser garoto propaganda de uma fábrica de materiais esportivos e, entre 1990 e 1992, treinou o Olympique de Marselha, da França. Em 1993 voltou ao Bayern, agora como treinador, e chegou a ser presidente do clube que o revelou para o futebol .Foi eleito o melhor jogador da Alemanha três vezes e ganhou a Bola de Ouro da revista francesa France Football em uma oportunidade . O velho Sepp Herberger, mitológico treinador da seleção alemã que ganhou a Copa do Mundo de 1954, conseguiu, certa vez, realizar a proeza tentada inutilmente por jogadores, técnicos, jornalistas e admiradores do futebol dos cinco continentes: definir, com palavras, o deslumbrante e até então indescritível talento de Franz Bekenbauer. – “Se houvesse apenas craques como ele, o futebol não seria um jogo. Seria uma manifestação artística”.
Maior estrela que já brilhou nos estádios alemães e certamente um dos seis principais nomes de toda a história do futebol internacional, Bekenbauer foi, na verdade, bem mais que um simples artista dos gramados. O supremo momento de Beckenbauer, aconteceu em 1974, na sua própria terra. Ao levantar da Taça de ouro da FIFA, mais do que simbolizando a comemoração de um titulo mundial, ele se mostrava aos olhos do mundo, através das imagens da televisão, como o responsável maior pela façanha através de sua notável capacidade de liderança.
Redação Terra.
Meus amigos, não houve no Brasil, na posição do Kaiser, alguém com semelhante técnica e categoria. Como dizia o capitão do tri, Carlos Alberto, ele gastava a chuteira somente no lado, pois só batia na bola de três dedos, de trivela, de “fianco” etc.

Antigo hino do São Paulo Futebol Clube

Curiosidade: No início dos anos 60, apesar do hino atual já estar criado e oficializado por Porfírio da Paz, era este o hino tricolor que se ouvia nas rádios:

Salve o São Paulo
Clube das Treze Listras
Preto, Branco e Vermelho
Tradição dos Paulistas

Salve o São Paulo
Rei da Brasilidade
És um Clube, um Estado
E uma Grande Cidade

Salve o São Paulo
Tradição
Tu viverás em nosso
Coração

Teus Onze Heróis
Modernos Bandeirantes
Reviverão Tuas Glórias
Sob aplausos delirantes.

Letra de Oswaldo Moles
Música de Antônio Bruno”.

Nos anos 40, com a inauguração do Pacaembu, a torcida do São Paulo, quando o locutor do estádio anunciava, pausadamente, a escalação assim se comportava:

Locutor: King.
Torcida: Raaah.

Locutor: Piolin.
Torcida: Raaah.

Ia assim até o ponta esquerda Pardal, quando então havia uma explosão:

São Paulo!
São Paulo!
São Paulo!

Eh São Paulo
Eh São Paulo
O Mais Querido da Terra Bandeirante

Eh São Paulo
Eh São Paulo
Com o Tricolor é bola no barbante!

Entramos em campo confiantes
Nossa defesa joga com valor
Vão para frente os avantes
Aumentar o placar do tricolor

Grita a torcida delirante
Com o Tricolor é bola no barbante.

SPFCpedia

Porque o sensacionalismo nas manchetes dos jornais esportivos

O semanário Mundo Esportivo, de propriedade de Geraldo Bretas, o mais polêmico jornalista que tive notícia, era um jornal pelo qual passaram algumas das mais brilhantes penas do jornalismo esportivo do Brasil como Roberto Avalone, Milton Camargo, Luís Carlos Ramos, Renato Santana, Reginaldo Leme, Ítalo Neves, Chico Lang, Juarez Soares, Albino Castro, Dalmo Pessoa, Vital Bataglia, entre tantos outros. Nesta mesma época circulava um tablóide, também semanal, de autoria do jornalista Wilson Brasil, creio que o nome era Equipe.
Porque relembro os semanários? Porque tinham manchetes exageradas e sensacionalistas. Destaco a seguir o inconformismo atual de um torcedor do Fluminense sobre as manchetes atuais dos jornais cariocas no Blog do JSports:
” A mídia rubronegra ataca novamente: Apesar de o Fluminense ser o time de melhor campanha entre o Brasileiros na Libertadores, ser o único até o momento a ter conquistado uma vitória fora de casa,contra um adversário que é o bi-campeão nacional do país que lidera a eliminatória da copa do mundo, de virada e apresentando um futebol competitivo, e ter feito apresentações convincentes nos seus três jogos, e estar a um passo da classificação para a segunda fase, a imprensa rubro-negra dá maior destaque a uma vitoria no Flamengo no Maracanã contra um time inexpressivo do interior fluminense (eu nem me lembro da última vez que ganhou fora, como também não me lembrava de uma vitória sem que o juiz tivesse sido decisivo), com direito a matéria de capa no JS , em detrimento do clássico do dia, como eu já previa desde ontem após o jogo. O ufanismo e a vontade de vender jornal não tem limites. Mas será que é realmente preciso fazer esse tipo de presepada pra vender jornal? Será que é impossível colocar um olhar mais imparcial sobre os fatos?”
No que responde o jornalista: ” O leitor precisa entender que um jornal comercial vive de renda, precisa vender seu produto e obter lucros. Esta é a verdade nua e crua e tentar desmentir esta verdade é tentar, como diz o outro, tentar tapar o sol com a peneira”.
Voltando ao semanário Mundo Esportivo, de idêntica tendência, em 1965 eu tinha 14 anos de idade e o time do meu coração tinha como principais adversários o Santos de Pelé e a Academia de Palestra Itália. É mole? Então não dava mesmo. Mas bastava uma vitória corintiana para eu correr às bancas de jornais procurando a manchete do jornal. E era deste tipo em letras garrafais:
CORINTHIANS PLÁ PLÁ PLÁ. E eu acreditava.
Por isso não posso criticar os jovens de hoje .
Vi certa vez em frente aos Diários e Emissoras Associados na rua Sete de Abril em São Paulo o jornalista Geraldo Bretas. O homem era do tamanho do antigo técnico Yustrich. E tão bravo quanto. E não sei quem era mais brigão.
Eis então breve relato sobre os jornais ufanistas dos anos 60.

Sexta Copa do Mundo em 1958 e o planejamento brasileiro

Apesar da morte de três de seus pioneiros, a Fifa seguiu a receita da Copa de 1954, na Suíça, para garantir o sucesso do mundial de 1958, na Suécia.

A Suécia foi apontada (provisoriamente) como sede da Copa de 1958 com dez anos de antecedência, no Congresso da Fifa de 1948, em Luxemburgo. A decisão acabou oficializada em 1954, sem contestações, em Zurique, na Suíça.Logo em seguida, porém, três dos grandes pioneiros da Fifa morreram em 7 de outubro de 1955, aos 78 anos, o belga Rodolphe Seeldrayers, que presidia a entidade desde de novembro de 1954. Em 9 de novembro de 1954, aos 72 anos o francês Henri Delaunay e em 16 de outubro, aos 83 anos, o também francês Jules Rimet, seu primeiro presente de 1921 a 1954. Com a morte de Seeldrayers o comando passou para o britânico Arthur Drewry, de 64 anos. E ele, para não correr riscos na organização da primeira copa sob sua gestão, entregou-a ao suíço Ernst Thommen, que havia feito um excelente trabalho no mundial de 1954.

Cada vez mais gente estava convencida de que nossos jogadores eram talentosos, mas nada confiáveis na hora da decisão. As preces pelo surgimento de um craque foram atendidas em 1957, com a entrada em cena de Pelé. Nas cinco primeiras Copas, o Brasil acumulara mais desculpas do que glorias. Em 1930, tínhamos sido representados por uma seleção inferior. Em 1950, estávamos confiantes demais. Em 1934, 1938 e 1954, a culpa foi de juizes mal intencionados. Após a frustração do mundial na Suíça, começou a ganhar corpo a teoria de que nossos jogadores eram talentosos, mas pouco confiáveis, na hora da decisão. Era consenso que havia atletas bons e sérios, mas que os bons não eram muito sérios e os sérios não eram muito bons. Para levantar a taça Jules Rimet, o Brasil precisava de um craque diferenciado. E as preces foram atendidas em 1956, com a entrada em cena de Pelé. Tudo aconteceu muito rápido. No dia 7 de setembro, aos 15 anos e 10 meses, Pelé estreava no time principal do Santos. Em abril de 1957, assinou seu primeiro contrato de profissional com o clube da Vila Belmiro. Nesse mesmo ano foi artilheiro do campeonato paulista com 18 gols de 17 partidas. Em junho, participou de um combinado Vasco-Santos na disputa de um torneio internacional do Rio de Janeiro. Jogou quatro partidas e fez seis gols. Pirilo era o técnico da seleção e o convocou para os jogos do Brasil contra a Argentina. E no dia 7 de julho, no maracanã, Pelé estava no banco e entrou no segundo tempo para marcar o único gol do Brasil na derrota de 2×1 para os argentinos. Nunca mais deixou de ser convocado.

No inicio de 1958, João Havelange escolheu para chefe da delegação brasileira o paulista Paulo Machado de Carvalho, patrono do São Paulo e dono da TV Record. Paulo Machado e Carlos Nascimento foram os responsáveis pelo plano da seleção na Suécia. E tinha mais Paulo Amaral, Dr. Hilton Gosling professor Cavalhares, Mario Américo e a novidade, o dentista Mario Trigo. Só faltava a decisão do técnico. Dois técnicos eram candidatos: Fleitas Solich e Flavio Costa. Mas, o eleito foi Vicente Ítalo Feola. Foi bi campeão paulista em 1948 e 1949. Foi auxiliar de Flavio Costa na Copa de 1950 e atuava nos bastidores do São Paulo quando o técnico era o hungaro Bela Guttman. A indicação provocou irritação entre os jornalistas cariocas que começaram a ter pesadelos com uma seleção somente com paulistas. Mas as intenções de Paulo Machado de Carvalho e Carlos Nascimento eram outras: eles só queriam alguém capaz de se amoldar a um plano e de trabalhar em equipe, duas coisas que provocavam urticária em Flavio Costa.

Conforme o previsto, no dia 7 de abril os 33 convocados escolhidos se apresentaram para exames médicos na Santa Casa de Misericórdia, no Rio. Garrincha e Orlando tiveram que operam as amigdalas. Mas quem teve mais trabalho foi Mario Trigo: todos os jogadores tinham problemas dentários. Mario Trigo e seus ajudantes da faculdade Nacional de Odontologia contabilizaram perto de 500obturações e extrações. No dia 10 de abril, a seleção partiu para Poços de Caldas, em Minas Gerais, onde ficou por 20 dias treinando. E, por sugestão dos jogadores, Mario Trigo foi junto, por sua capacidade de descontrair qualquer ambiente com uma piada. O tempo mostrou que ele ajudava a dar estabilidade emocional aos craques, mais até que o professor Cavalhares. Por falar nele, sua bateria de testes apresentou resultados assustadores: alguns jogadores eram infantis, outros tinham QI baixo e a maioria nem deu bola para aquela coisa de completar figuras ou interpretar rabiscos. O plano de Paulo Machado de carvalho tinha críticos veementes. No Jornal dos Sports, Mario Filho não se cansava de torpedear as invencionices. Ademar Pimenta, técnico da seleção de 1938, batia na mesma tecla em seus comentários na Rádio Mauá do Rio de Janeiro. Em São Paulo, o comentarista da Rádio Tupi, Geraldo Bretas, prometia solenemente nunca mais comentar futebol se o Brasil voltasse campeão, promessa que não foi cumprida.

A comissão técnica que tinha tudo planejado nos mininos detalhes, se esqueceu de fornecer a Fifa os números das camisas dos jogadores. Diz a lenda que o uruguaio Lorenzo Vilizio, membro do comitê organizar da Copa, definiu a numeração por contra própria , sem consultar nenhum dirigente brasileiro. O que realmente ocorreu nunca ficou bem explicado, mas a lista de Vilizio teve erros e acertos incríveis. O mais intrigante foi a concessão do 10 para Pelé. Mais do que um numerólogo por acidente, Vilizio foi profético. Confira os números com que os jogadores brasileiros disputaram a Copa de 1958.
1) Castilho.
2) Belini.
3) Gilmar.
4) Djalma Santos.
5) Dini Sani.
6) Didi.
7) Zagalo.
8) Moacir.
9) Zozimo.
10) Pelé.
11) Garrincha.
12) Nilton Santos.
13) Mauro.
14) De Sordi.
15) Orlando.
16) Oreco.
17) Joel.
18) Mazzola.
19) Zito.
20) Vavá.
21) Dida.
22) Pepe.

Depois de vencer por 4×0, as duas partidas internacionais contra Fiorentina e Internacionale, na Itália, no dia 3 de junho, o Brasil seguiu para Copenhague, na Dinamarca, e de lá, para Gotemburgo, na Suécia. Às 11 horas e 30 minutos, os jogadores pisaram em solo sueco e seguiram direto para a concentração, no Turist Hotel da pequena cidade de Hindas. Cinco dias depois, o Brasil estreou na Copa.

Jogo final –29 de julho de 1958.
Horário: 15 horas.
Brasil 5 x Suécia 2 –Solna Racunda, em Estocolmo.
Gols de Liedholm. Vavá. Vavá no primeiro tempo. Pelé. Zagalo. Pelé e Simonsson no etapa complementar.
Juiz: Maurice Guigue, da França.
Publico: 49.737 torcedores.
Brasil: Gilmar. Djalma Santos e Belini. Zito. Orlando e Nilton Santos. Garrincha. Didi. Vavá. Pelé e Zagalo.
Suécia: Swensson. Bergmark e Axdom. Borjesson. Gustavsson e Parling. Hamrim. Gunnar Green. Simonsson. Liedholn e Skoglund.

Comissão Técnica –
Chefe da delegação: Paulo Machado de Carvalho.
Técnico: Vicente Ítalo Feola.
Supervisor: Carlos Nascimento.
Médico: Dr. Hilton Gosling.
Preparador Fisico: Paulo Amaral.
Psicólogo: Professor Cavalhares.
Dentista: Dr. Mario Trigo.
Massagista: Mario Américo.

Doutor Paulo… Na época, esse titulo era atribuído, por mérito, a médicos e advogados. Mas, por cortesia ou temor, o povo também apelidava de “Doutor” os delegados da policia e os homens ricos. Paulo Machado de Carvalho se enquadrava no último quesito, mas ninguém duvidava que ele assumiria qualquer um dos outros três papéis, se as circunstâncias assim o exigissem. Figura exuberante, o doutor Paulo ria muito, gostava de apertar as bochechas dos jogadores e tinham sempre um conselho na ponta da língua. Nilton Santos afirmou que ele foi o primeiro dirigente a tratar jogador de futebol como gente.

Julinho Botelho, ponta direita da Seleção na Copa de 1954, preparava-se para voltar ao Brasil após quatro anos em Florença. Lá, ajudara a Fiorentina a ganhar o primeiro scudetto de campeão italiano de sua história, em 1956. Julinho chegou a ser convocado para a Copa de 1958, mas recusou alegando que não era justo, jogando njo exterior, tomar o lugar daqueles que estavam atuando no Brasil. Ele chorou quando teve que enfrentar o Brasil em amistoso na Itália antes da Copa na Suécia.

A Argentina foi goleada pela Tchecoslováquia por 6×1 e o retorno da delegação a Buenos Ayres foi precedido por noticias de noitadas e falta de empenho nos treinos. Apesar dos desmentidos de Raul Colombo, presidente da Associação de Futebol da Argentina, uma pequena multidão foi ao aeroporto atirar moedas e pedras nos jogadores. Foi um melancólico fim de carreira para o grande Angel Labruna, craque desde dos anos 40, com nove campeonatos conquistados pelo River Plate e 292 gols assinalados.

Diz a lenda que uma comissão de jogadores – Belini, Nilton Santos e Didi – foi ao técnico Feola exigir a escalação de Garrincha e Pelé. Mas não foi bem assim. Dois dias antes do jogo contra a Rússia, já era dada como certa a estréia de Pelé. Mas ninguém sabia se Garrincha ia jogar. Nos dois primeiros Joel recebera boas notas da imprensa, por seu um ponta moderno que ajudava na marcação. Mas Zagalo já fazia isso pela esquerda. Com a entrada de Zito, um marcador implacável, Feola teve a chance de reforçar o ataque com um ponta autêntico. Ele tinha duas opções: substituir Zagalo por Pepe ou Joel por Garrincha. E ficou com a segunda hipótese. A alteração, decidida num treino secreto na véspera do jogo, foi comunicada a todo o grupo. E o doutor Paulo Machado de Carvalho, como sempre fazia, foi ouvir a opinião dos mais experientes, Belini como capitão, se manifestou a favor e foi apoiado por Didi e Nilton Santos. Dessas conversas informais, após o anuncio oficial, surgiu mais tarde a lenda da rebelião.

Terminada a decisão, os jogadores brasileiros ficaram perfilados no centro do campo para ouvir o hino nacional, com Zagalo e Pelé chorando copiosamente. Em seguida, o Rei Gustavo Adolfo desceu das tribunas e entregou a Taça Jules Rimet para o capitão Belini, em cima de um patamar de madeira. A legião de jornalistas impedia que muitos fotógrafos registrassem o momento – e um deles pediu para Belini levantar o troféu. Belini segurou a taça com as duas mãos e ergueu sobre a cabeça, num gesto que, dali em diante, virou marca registrada de todos os campeões.

Bobby Moore – o Incomparável

A cena ocorrida no venerável Estádio de Wembley perante 100 mil torcedores, entre os quais a Rainha Elizabeth II, continua tão viva como naquela tarde cinzenta de 30 de julho de 1966. Booby Moore, o capitão da Inglaterra, ergueu para a multidão a Taça Jules Rimet, no ato final de uma conquista sem precedentes. Ele pouco sorriu. Com o semblante sempre sério e com os olhos azuis fixo no troféu de ouro, se viu engolfado pelos abraços dos companheiros.

Um dos maiores zagueiros de todos os tempos, Bobby Moore disputou os mundiais de 1962, 66 e 70 pela Inglaterra, tendo somado 14 partidas em Copas. Em 1966 foi fundamental na única conquista inglesa de um campeonato mundial.

Dono de uma categoria invejável, reinou soberano na defesa inglesa por 11 anos, até se despedir do selecionado em 1973, depois de disputar 108 jogos. Apesar de sua classe incontestável, jogou apenas por times pequenos da Inglaterra. Fez praticamente toda carreira no West Ham, entre 1958 e 1974, e depois se transferiu para o Fulham, em 1977. Ainda assim conseguiu ganhar uma Copa da Inglaterra e uma Recopa pelo West Ham.

Onze anos depois, quando Booby Moore saiu de campo pela última vez para entrar nas páginas dos livros da história do futebol, encerrava-se a mais lendária e esplendida época até hoje vivida na Inglaterra. Ele estabeleceu um recorde até agora insuperado de 108 partidas pela seleção inglesa.

Num episódio curioso, acabou preso na Colômbia, local utilizado pela seleção de seu país para os treinamentos antes da Copa do México, em 1970. A história nunca ficou bem explicada. Moore foi acusado de roubar uma peça de uma joalheria, mas acabou inocentado e voltou a se juntar ao grupo quatro dias depois. Faleceu em 1993 depois de uma dura luta contra o câncer.
Revista Placar

Como as transmissões de Rádio e TV evoluíram ao longo dos Mundiais

A Copa do Mundo, o mais atraente evento esportivo para o público, faz parar todo o país, mas nem sempre chegou às casas dos brasileiros com um simples toque no botão do controle remoto. Do primeiro Mundial transmitido para o Brasil, em 1938, até 1966, o único meio de o torcedor estar em cima do lance ao vivo era pelo rádio. Hoje se vê a imagem de cada jogada; antigamente tinha-se de acreditar no locutor. E dar asas à imaginação.

Não era fácil torcer pelo verde-amarelo em outras terras. As transmissões, em ondas curtas, às vezes tornavam-se inaudíveis, deixando os ouvintes ainda mais nervosos. Como fazem hoje diante da televisão, as pessoas reuniam-se nas casas ao redor do rádio. Em algumas praças, multidões juntavam-se para ouvir as narrações em alto-falantes que cumpriam a mesma função dos telões atuais.

1930 – Uruguai
Os programas de rádio eram interrompidos para informar os resultados dos jogos, que vinham por telegrama da UPI. Algumas pessoas sintonizavam emissoras uruguaias e argentinas em rádios de fabricação caseira

1934 – Itália
Só ouviu o jogo quem conseguiu sintonizar rádios italianas ou inglesas (ondas curtas)

1938 – França
Pela primeira vez um Mundial foi transmitido para o Brasil – por Gagliano Netto, da Rádio Clube do Brasil, do Rio de Janeiro. Alto-falantes eram instalados nas praças

1950 – Brasil
Quem não foi aos estádios ouviu pelo rádio. Não havia ainda repórteres de campo. Os narradores às vezes eram dois, um para cada ataque

1954 – Suíça
Primeiro Mundial televisionado para a Europa. O Brasil acompanhou de novo pelo rádio. Destaque para Oduvaldo Cozzi, da Rádio Guanabara, do Rio, que levou a emoção para a narrativa

1958 – Suécia
Os filmes dos jogos eram passados na TV dias depois, editados com meia hora de duração. Direto, só pelo rádio

1962 – Chile
Começamos a receber os videoteipes das partidas, que chegavam no dia seguinte e eram mostrados na íntegra. Fiori Giglioti transmite sua primeira Copa

1966 – Inglaterra
Os teipes eram passados dois dias depois dos jogos. No centro de São Paulo, em transmissão virtual, com uma bolinha luminosa marcando a posição da bola num painel-campo

1970 – México
O Brasil vê, enfim, uma Copa direto pela TV – como não havia ainda TV colorida no país, as imagens eram em preto-e-branco. Os mexicanos introduzem o replay durante a transmissão

1974 – Alemanha
Pela primeira vez o Brasil vê uma Copa colorida

1978 – Argentina
Aumenta o número de câmeras abertas e no meio do campo. Replay de impedimento

1982 – Espanha
Surgem as câmeras em planos mais fechados e as por trás dos gols

1986 – México
Novidades: os tira-teimas da Globo, as estatísticas e o super-slow motion (com melhor definição)

1990 – Itália
A organização do Mundial põe no ar os tira-teimas. A Globo lança o comentário de arbitragem

1994 – EUA
Nos estádios, telões reproduzem o público

1998 – França
Experimenta-se a alta definição. O recurso torna as imagens quase perfeitas

2002 Japão/Coréia
Muitos países viram a Copa em alta definição, o que forçará a mudança do parque de transmissores e receptores

Os bordões que ficaram

“Aplica-lhe o rodopio!”
Oduvaldo Cozzi

“Indivíduo competente” e “O relógio marca…”
Waldir Amaral

“Que que é isso, minha gente!” e “Lindo, lindo, lindo, lindo!”
Geraldo José de Almeida

“Ripa na xulipa!”
Osmar Santos

“Anotem… Tempo e placar no maior do mundo”
Jorge Curi

“Atirou… entrou!”
José Carlos Araújo

“Abrem-se as cortinas e começa o espetáculo”
Fiori Giglioti

“Vai que é tua, Taffarel!”
Galvão Bueno

“Tá lá o corpo estendido no chão”
Januário de Oliveira

“Pelo amor dos meus filhinhos!”
Sílvio Luiz

Fonte: Revista Época