Arquivo do Autor: Franklin Carvalho

Quando a Fonte Nova se despediu da Primeira Divisão

Você já ouvir falar que um estádio chorou? Pois isto aconteceu em 2003 na Bahia com a Fonte Nova! Mas antes vou contar porque essas coisas acontecem no Brasil. Enquanto em outros países começaram a organizar seus campeonatos desde o início do Século XX no Brasil a CBD só o faria em 1971.
É por isto que até hoje há clubes que reivindiquem a chamada “unificação dos títulos” para que um monte de torneios que foram feitos antes sejam equiparados ao atual campeonato. Por traz de tudo isto existe uma luta surda pela hegemonia esportiva nacional, como a que foi feita recentemente, em benefício de São Paulo, trocando a liderança de São Paulo e Flamengo pela da dupla Santos e Palmeiras.
Desde que foi criado o Campeonato Brasileiro sempre foi desigual e submetido a toda espécie de conveniência política no interesse dos chamados grandes clubes. Em noss país, quando algum “clube grande” se aproxima da zona do descenso é um “Deus nos acuda” aparecendo todo tipo de armação pra que isto não aconteça. É por isto que depois de 40 anos de Campeonato “Brasileiro” nenhum dos clubes tidos como grandes está na Segunda Divisão.
A criação do certame nacional coincidiu com os anos mais sombrios da ditadura militar quando interessava fazer concessões as elites estaduais pra garantir a centralização política e esportiva. Em 1979 a Primeira Divisão chegou a ter 94 clubes. Na década de 70 o Nordeste, tradicional reduto de sustentação dos poderosos desde o Império, ganharia algumas migalhas com diversos de seus clubes participando.
Mas depois que veio a CBF e, principalmente, que se organizou o campeonato por pontos corridos, foi “o fim da picada” para os nordestinos. Nunca mais viram um título brasileiro. Pra se classificar para a Taça Libertadora da América só sobrou mesmo o recurso da Copa Brasil ou ser campeão da Copa América. A coincidência é que este modelo de campeonato começou no ano em que a Fonte Nova se despediu da Primeira Divisão.
A era do Campeonato Brasileiro por pontos corridos
Ano clubes Sul + Sudeste Centro-Oeste Norte Nordeste
2003 26 7 14 2 1 2 (Bahia-Vitória)
2004 24 8 13 1 1 1 (Vitória)
2005 22 6 12 2 1 1 (Fortaleza)
2006 20 6 11 1 0 2(Fortaleza/Santa Cruz)
2007 20 6 10 1 0 3(América(N), Sport e.
Náutico)
2008 20 5 11 1 0 3(Vitória, Sport e Náutico)
2009 20 5 11 1 0 3(idem)
2010 20 4 12 2 0 2 (Vitória e Ceará)
2011 20 6 11 1 0 2 (Bahia e Ceará)
Bem, acho que isto basta pra ver que se reproduz no futebol a mesma discriminação regional secular que faz com que o Brasil seja uma república “pra inglês ver”. O Sul e o Sudeste tem apenas sete estados mas nunca ficaram com menos de 16 representantes. Dentre eles, um só estado, São Paulo, já teve sete clubes na primeira divisão. Desde que instituíram vinte clubes no Campeonato Brasileiro estas regiões nunca tiveram menos de 80% dos representantes.
O campeonato paulista, somente em cota de TV, reparte com seus clubes 67 milhões de reais, ficando quase 60% disto com os quatro grandes(Palmeiras, Santos, Corinthians e São Paulo). Enquanto isto o campeonato baiano em 2011 receberá apenas quatro milhões, ficando pra dupla BA-VI 25% deste montante. Ou seja, num país de desigualdades um campeonato paulista vale quase 17 campeonatos baianos.
O sonho de alguns dirigentes paulistas é transformar o Campeonato “Brasileiro” em um convescote dos times do estado. Enquanto isto o Nordeste, com nove estados, neste modelo de campeonato, sofre com a “cota” de dois clubes. Não é a toa que temos os piores índices sociais, de saúde, educação, e, como se vê, até no futebol! A politicagem da CBF tem sido para o Nordeste uma verdadeira madrasta. Desde que instituíram a opção “democrática” de todos jogarem contra todos, o Nordeste não saiu do lugar, expulsaram os clubes do Norte, e as vagas perdidas por outras regiões ficaram com o Sul e Sudeste.
O que se chama de Campeonato “Brasileiro” não é nada mais que um certame de duas regiões (parecido com o antigo “Robertão” ampliado) com três ou quatro convidados. Quando as reclamações apertam demais a CBF aceita incluir apenas mais UM clube das regiões mais pobres. Isto ficou evidente no último campeonato. Quando o EC Bahia começou a garantir o seu ascenso a Primeira Divisão começaram a acontecer coisas estranhas. O Sport, que estava ganhando de todo mundo, estancou passando a perder jogos fáceis. Aqui em Salvador apareceram estranhos juízes e bandeirinhas pra apitar os jogos do EC Vitória.
Pênaltis não eram marcados e a toda hora “rolava” o cartão amarelo. Nem vou falar de impedimentos e inversões de faltas. Mas o pior mesmo estava reservado pros jogos decisivos para o rubro negro contra o Corinthians e Atlético Goianiense. No jogo contra o alvi negro paulista o juiz deixou de marcar um gol legítimo do centroavante rubro-negro Junior e um pênalti escandaloso do goleiro corintiano em Adailton.
Como tinha que manter a vaga do Centro-Oeste o jogo final foi tragicômico. Ali, mesmo jogando mal o Vitória poderia ter ganhado a partida não fosse pela atuação do juiz da federação paulista. Deu pra ver nas emissoras de televisão locais (porque não sai isto nos programas esportivos do Sul-Sudeste) o meia rubro negro Ramon ser empurrado dentro da área e o gol sensacional de “bicicleta” de Junior. Mas para o juiz não houve gol nem pênalti e o time foi rebaixado para a Segunda Divisão.
Desde o império os nordestinos estão submetidos a um Estado Federal que incorpora algumas demandas das elites baianas mas diz não aos seus grandes interesses. Desde que foi inventado o futebol vimos à consolidação do poder esportivo no Sul-Sudeste. A partir da criação do “Brasileiro” aos poucos nos deixaram escanteados. E esta situação conta com o apoio dos dirigentes esportivos beneficiados. Eles aceitam toda esta situação injusta, um calendário esportivo estafante, e fazer os campeonatos estaduais em apenas quatro meses, em troca de apenas dois clubes participarem do dito certame nacional.
Durante oito meses os demais clubes ficam numa situação de dar pena! Alguns zanzam pela segunda divisão de onde nunca saem. Outros ficam numa ainda pior, amargando a terceira e quarta divisões. Há quem sequer participe de divisão nenhuma. Como o dinheiro das televisões e da CBF é distribuído com base na Primeira Divisão dá pra imaginar quem fica com a parte do leão. Aí o Norte e o Nordeste sofrem com a falta de estrutura esportiva, com o privilégio da mídia a favor dos clubes do Sul-Sudeste, com as dificuldades pra manter seu elenco tendo em vista os custos astronômicos da Primeira Divisão, etc., etc.
O assunto deste artigo é o último campeonato por pontos corridos realizados no estádio foi em 2003, que também foi o último ano que participaram a dupla BA-VI no nosso histórico estádio. Naquele ano, nosso histórico estádio foi tomado por uma profunda tristeza, pois parece que estava adivinhando que não veria mais os clubes baianos na Primeira Divisão.
O campeonato começou no fim de março, em meio à disputa da Copa Brasil. Na ocasião a tabela foi ingrata para o tricolor. Apesar de só haver dois clubes do Nordeste, os colocaram para abrir a primeira rodada do “nacional”, no “Castelão” prejudicando logo de saída Bahia e Fortaleza em função do empate sem gols. Logo depois pegaria o Flamengo(em casa) e o Internacional(no estádio do “Beira Rio”).
Assim, o tricolor perderia do Flamengo(1 X 2) e do Inter(0 X 2). O primeiro foi o único jogo que a torcida prestigiou em massa acorrendo na estreia 50.000 pessoas. O técnico do Bahia era Bobô e o time uma lástima. Veja se lembra de alguém: Márcio, Guto, Marcelo Souza, Valdomiro e Lino; Otacílio(Nilson Sergipano), Jair, Luiz Alberto, Preto Casa Grande e Paulo Sérgio(Marcelo Nicácio); Claudio. Conseguiu? Eu só recordo de Preto(que hoje é comentarista) Márcio(que está no Atlético Goianiense), e tenho vaga lembrança de Otacílio e Marcelo Nicácio, que nem sei mais onde estão.
Mas agora o esquadrão de aço emendaria duas partidas seguidas na Fonte Nova e tinha esperanças de recuperação. A primeira foi contra o Juventude quando apareceram somente oito mil torcedores, que viram o tricolor se reabilitar ganhando por três a um. Mas três dias depois o time seria goleado em plena Fonte Nova pelo Atlético Mineiro por quatro a dois! Jair e Nonato evitaram que o desastre visto por onze mil torcedores não fosse ainda maior.
Foi no início do certame que o Bahia cruzaria com o Vasco da Gama pela Copa Brasil. Os jogos seriam muito disputados mas as rendas nem tanto. A primeira partida ocorreu na véspera de meu aniversário de 55 anos, quando. o tricolor derrotaria os cruzmaltinos por dois a um na Fonte Nova. Antes do jogo de volta, porém, estava marcada uma partida contra o Paraná fora de casa, que resultou em uma derrota contundente do esquadrão de aço por três a um.
Aí se estabeleceu a primeira crise deste ano sendo Bobô substituído por Gil Sergipano ás vésperas do segundo jogo contra o Vasco. O castigo veio a cavalo fazendo com que o time não conseguisse impedir a vitória carioca pelo escore mínimo, sendo eliminado pelo critério de gols fora de casa. Agora cuidaria somente do Campeonato “Brasileiro”.
A torcida sofria com o clube que, desde a década anterior, havia perdido a hegemonia no futebol do estado. Mas o nosso histórico estádio ainda acreditava no esquadrão de aço mesmo sem muita gente nas arquibancadas. Quando foi feita nova substituição do técnico, agora por Evaristo Macedo, campeão de 1988, infundiu-lhe mais esperanças, confirmadas logo pela vitória contra o Grêmio por dois a um, dois dias depois das manifestações do Primeiro de Maio, as primeiras da Era Lula.
O EC Bahia apresentou certa melhora, voltando a São Januário onde empataria com o Vasco por um gol, e voltaria a ganhar na Fonte Nova, graças a dois gols de Nonato, contra o Paissandu. O time pareceu estar mais estabilizado. Experimentar-se-ia nova derrota na saída contra o Figueirense(0 X 1), voltaria pra ganhar pela terceira vez seguida na Fonte Nova, agora contra o Goiás(2 X 1), colhendo na sequencia um excelente resultado no Morumbi contra o São Paulo(2 X 2).
Mas o melhor estava reservado para os tricolores na fase Evaristo, ganhar no último BA-VI na Primeira Divisão na Fonte Nova por dois a um. Apesar do público não ser o esperado, apenas 22.000 pagantes, os gols de Lino e Nonato(contra o de Nadson para o rubro negro)fizeram esquecer todas as mazelas e afastar o fantasma do rebaixamento.
O próximo jogo seria contra o Curitiba em casa e nenhum torcedor aceitava outro resultado que a quinta vitória consecutiva do tricolor. A torcida, entretanto, ainda desconfiava da equipe dos desconhecidos e esta amargaria um empate em dois gols com a Fonte Nova ás moscas. Parecem que estavam adivinhando o que viria. O time faria dois jogos fora de casa contra Santos e Fluminense e veio com duas derrotas na mala. Na Vila Belmiro foi de quatro a zero, e no Maracanã pelo escore mínimo.
A ameaça de um nova crise foi descartada pela retomada do caminho da vitória em casa contra o Guarani(2 X 0). Mas quem ia ao jogo já percebia que algumas áreas do estádio estavam embranquecidas, é que a Fonte Nova estava com os cabelos brancos de tanta apreensão. No entanto os próximos jogos não pareciam difíceis, Ponte Preta e Atlético Paranaense (fora de casa) e São Caetano na Fonte Nova. Desses jogos dependia a esperança da retomada. No entanto, os resultados foram péssimos para o Bahia que perdeu em Campinas(0 X 1) e em Curitiba(1 X 2), e empatou sem gols contra o São Caetano na Fonte Nova com mais moscas que torcedores. Agora o clube estava rondando a zona de rebaixamento e a sua torcida sofria as gozações dos rubro negros, que só cairiam no próximo ano.
Agora nem gols o time fazia, empatando de novo com o Corinthians para a plateia mais reduzida que viu a equipe paulista jogar na Fonte nova, dez mil pessoas. Só a condição de equilibrista mantinha Evaristo no cargo. O técnico vitorioso tinha voltado 15 anos depois para rebaixar o tricolor? Era a pergunta que se fazia!
Pois foi nesta situação que o Bahia viajou pra enfrentar o Cruzeiro no “Mineirão” onde levou de cinco a dois com Aristizábal fazendo a festa na defesa tricolor. Mesmo assim preferiu manter o técnico que não conseguiria ganhar do Criciúma na Fonte Nova(2 X 2) e, ao sair de novo, seria massacrado no Maracanã pelo Flamengo por seis a zero com um show de Edilson que ajudaria o rebaixamento do Vitória no próximo ano. Era o caos!
Aí não deu mais e o tricolor contratou o seu quarto técnico no certame, Marcelo Chamusca. A ocasião era propícia para o recém-chegado pois haveriam dois jogos seguidos na Fonte Nova. Esta, entretanto, já começava a se desesperar com aquela situação onde nem havia torcida nem subida na tabela. Foi assim que o tricolor ganhou do Fortaleza(1 X 0) e voltou a perder, agora pro Inter(1 X 3).
A diretoria não sabia mais o que fazer. Trocou de técnico, mudou boa parte do time e nada! Aí trocou de treinador mais uma vez, o quinto foi Lula Pereira. Este, apelou pra um recurso muito conhecido. Para os dois próximos jogos fora de casa colocou o tricolor na retranca, embora não evitasse novas derrotas, contra Juventude e Atlético Mineiro, pelo escore mínimo. Pelo menos parecia ter passado a fase das goleadas.
Dentro de casa porém, colocou o time pra jogar pra frente. Houve na época quem achasse que o esquema era demasiado ofensivo no entanto foi logo abafado pela vitória de 4 X 2 contra o Paraná. Outro problema foi que nenhum atacante fez gol neste jogo apreciado por apenas sete mil torcedores. A própria Fonte Nova se iludiu aplaudindo o “jogo aberto” do Bahia. Parecia dar certo o esquema de Lula(o técnico não o presidente)que colheria um ótimo empate no estádio Olímpico contra o Grêmio em um gol e voltaria para arrasar o Vasco com convincentes três a zero. Nesse dia até a torcida melhorou, dezoito mil pagantes, e um atacante fez gol, Didi.
O Bahia havia subido na tabela e parecia que afastaria definitivamente a ameaça do rebaixamento. O próximo jogo seria em Belém com o time do Paissandu teoricamente mais fraco. Foi aí que Lula Pereira abandonou a tática defensiva fora de casa, colhendo como resultado uma acachapante derrota por quatro a zero. Este resultado foi decisivo para o que viria a seguir no campeonato derrubando a moral da equipe.
No retorno a Salvador a Fonte Nova chorava a olhos vistos. Quem chegava para o jogo e via as arquibancadas molhadas pensava que era devido às chuvas e não as lágrimas do nosso histórico estádio que começou a prever o que ia acontecer. O Bahia empata com o Figueirense em um gol ainda sem desempenho dos atacantes. Logo depois sai pra perder do Goiás (1 X 3) com Didi salvando a “honra” dos atacantes.
Os próximos jogos sugeriam dificuldades, o poderoso São Paulo em casa e o Vitória no “Barradão”. A preocupação era evidente entre os torcedores do esquadrão de aço. Mas, por incrível que possa parecer, o tricolor surpreendeu a todos e transformou as lágrimas de tristeza da Fonte Nova em uma torrente de alegria ao enfiar três a zero no tricolor paulista, sem que se preocupasse com a falta de gols dos atacantes. Na ocasião Lula Pereira voltou a utilizar a tática de “peito aberto” na Fonte Nova.
Logo a seguir o Bahia perderia de novo, agora para o seu arquirrival no “Barradão” que descontaria a derrota do turno pelo mesmo placar enfiando o tricolor “na zona” e logo no Dia das crianças. A tabela previa ainda outro jogo fora de casa, contra o Curitiba, levando o tricolor a nova derrota(2 X 3). Com o tricolor nesta situação só restava convocar a torcida pra partida contra o Santos onde jogaria pra vencer.
Na oportunidade Lula Pereira empregaria mais uma vez o seu esquema de jogar “de igual para igual” dentro de casa, sequer se lembrando de que o Bahia havia perdido de cinco para os santistas na Vila Belmiro. A campanha até que deu certo atraindo 17.000 torcedores. A Fonte Nova ficou desconfiada mas decidiu apostar. Mesmo que no jogo os atacantes voltassem a marcar fazendo quatro gols à maneira aberta de enfrentar o Santos foi uma lástima fazendo com que este enchesse o balaio do Bahia com sete gols. Foi um dos resultados mais desastrosos em certames nacionais na Fonte Nova. Eu não fui ao jogo mas tem gente que foi que jura que ouviu as ferragens do estádio rangendo: era o choro copioso da Fonte Nova.
Faltavam oito partidas pra acabar o certame e o Bahia avaliava a conveniência de contratar um sexto técnico. Enquanto isto discutia com o técnico para mudar a tática suicida que vinha empregando, de tudo ao nada, por jogar com mais cuidado na defesa e melhorar o ataque fora de casa. Os primeiros efeitos foram sentidos no jogo contra o Fluminense na Fonte Nova(2 X 2)mas o time tinha deixado de ganhar dentro de casa.
Sobrou para o técnico sendo contratado o sexto do certame, Edinho Nazareth. Acreditem, para seis jogos! Coube-lhe a responsabilidade de livrar o clube do rebaixamento. Na verdade o que os dirigentes estavam atrás era de um milagre! Edinho promoveu o equilíbrio entre ataque e a defesa e este mostrou evolução em Campinas, mesmo perdendo por três a dois. Depois voltaria a jogar dentro de casa com nova filosofia, buscando ganhar e garantir o resultado, o que lhe valeu uma vitória para a Ponte Preta por um a zero.
Em cinco jogos o Bahia decidiria sua vida. A nova saída porém não seria nada auspiciosa caindo de quatro a um para o São Caetano fora de casa. Não havia mais jeito a não ser manter o técnico. A tabela programava dois jogos na Fonte Nova e dois fora pra livrar-se do rebaixamento. A torcida acorreu em número maior contra o Atlético Paranaense, quase vinte mil pessoas, mas o tricolor foi de novo derrotado, agora por dois a zero. Agora sairia em excursão pra encerrar sua campanha contra o futuro campeão Cruzeiro em casa.
Haveria uma heroica reação tricolor como tantas do passado? Não foi o que aconteceu, registrando-se derrotas para o Corinthians(1 X 2) e para o Criciúma(2 X 3) antes de enfrentar a raposa mineira. O Bahia ficaria em último lugar, sendo rebaixado junto com o Fortaleza, por “coincidência os dois do Nordeste”. O desastre experimentado contra a equipe de Wanderley Luxemburgo em 14 de dezembro de 2003 foi o maior de toda a história do Bahia na Fonte Nova. Até que teve um bom público, mais de vinte mil torcedores compareceriam a última vez que se jogaria pelo Campeonato Brasileiro em nosso histórico estádio. Eis o time do EC Bahia daquele dia “inesquecível”: Emerson, Chiquinho, Acioly, Paulinho e Valdomiro; Otacílio, Ramos, Cícero e Preto Casagrande; Cláudio e Didi. Ah, não podemos esquecer-nos do “milagreiro” Edinho Nazareth.
Os torcedores que estavam ali ainda saíram da Fonte Nova com a “cabeça inchada” e não puderam esquecer, não só os cinco gols de Alex, assim como os de Mota e Felipe Melo (aquele que faria um papelão na Copa da África!), mas o choro da Fonte Nova. Quem diria Greta Garbo acabou no Irajá! Um estádio que tinha abrigado cinco decisões nacionais agora passava a ser um equipamento “de segunda”, e, logo após, “de terceira”. Era realmente pra chorar mesmo!

• Agradeço as informações dos blogs Wikipédia, Bola na área e futipédia. globo.com.

A vingança do EC Bahia

Em 1955 o Brasil viveu dias tensos. O suicídio do presidente Getúlio Vargas no ano anterior tinha levado a Café Filho assumisse provisoriamente o governo até as eleições que se realizariam neste ano de 1955. A Bahia ainda vivia o clima político getulista que tinha levado Antônio Balbino ao Palácio da Aclamação. As ideias forças no período eram desenvolvimento, modernização, indústria, reforma urbana e questão social. Começava a surgir um político que marcaria época, e que este ano conquistaria uma cadeira na Assembleia Legislativa, Antônio Carlos Magalhães.

Em janeiro se realizariam eleições suplementares para deputado em mais de trinta municípios do estado confirmando os mais votados. Entre fins de março e inicio de abril se organizaria o torneio de despedida do governador Regis Pacheco vencido pelo EC Vitória, ao tempo em que os ingleses se despedem de seu herói de guerra Winston Churchill que renuncia ao cargo de chanceler do Reino Unido. Em maio, enquanto as tensões na Europa são elevadas pela criação do Pacto de Varsóvia, começa o turno extra do campeonato do ano anterior, onde porfiam Vitória, Bahia e Botafogo, e se encerra com a vitória tricolor.

O próximo campeonato começa em junho, quando começa a se intensificar a campanha presidencial. A liderança rubro negra iria coincidir com a morte de Carmen Miranda. É nesta ocasião que começa a ser organizado o Torneio Vivaldo Tavares. Peço licença aos leitores para fazer um parêntesis, pois muitos não sabem por que o certame levou este nome.

Vivaldo Tavares foi um esportista baiano que atuou como jogador, árbitro e presidente do Ypiranga. Sua história está relacionada ao nosso maior clássico. Foi ele quem apitou o primeiro BA-VI ocorrido no Campo da Graça. Apenas três anos depois seria protagonista de um dos episódios mais dramáticos do futebol baiano. Era a data magna da Bahia, o dois de julho, e jogavam ali novamente Bahia e Vitória com o tricolor vencendo de dois a um.

Em dado momento o árbitro assinalou um pênalti a favor do Vitória. No entanto, só na segunda cobrança é que o jogador Barbosa conseguiria marcar, pois na primeira, Vivaldo mandou voltar alegando que o goleiro havia se adiantado antes da cobrança. O episódio revoltaria os jogadores do EC Bahia que reclamavam da presença de jogadores adversários na área no momento da cobrança.

A confirmação do gol levou ao tumulto, onde o jogador Bitonho (Antônio Fernandes da Costa) deu um soco no olho de Vivaldo Tavares que revidou com um pontapé que não conseguiu acertar o alvo. O jogo então degenerou em agressões mútuas embora tenham todos se recolhido posteriormente aos vestiários. No entanto, nem Bitonho nem Vivaldo voltariam para o segundo tempo. O primeiro por ser preso e o segundo em virtude dos ferimentos. O rubro negro acabaria vencendo a partida por quatro a três.

O jogador sairia da delegacia mediante fiança, mas, ao verificar a repercussão na imprensa do episódio se suicidaria ingerindo quantidade expressiva de cianureto. Vinte e um anos depois deste trágico incidente, e na semana da independência, se organizaria um torneio para a homenagem do antigo juiz dos anos 30 e dirigente esportivo do auri negro nos anos 40/50.  

O certame foi organizado pelo Ypiranga e foi feito para homenageá-lo. Não dava pra ter outro resultado que a vitória auri negra, especialmente para que fizesse as pazes com o título! Em relação à Fonte Nova o problema era mais grave, porque em 1951 havia disputado apenas um jogo no nosso histórico estádio, o que fez com que apenas de forma indireta se possa dizer que ganhou um certame na era da Fonte Nova.

A ideia do Ypiranga impactou na escolha dos convidados fazendo com que não refletissem a situação do certame em curso. Desta forma não foi convidado o rubro negro e, além da dupla Bahia e Ypiranga, se trouxe o Santa Cruz de Recife e o Vitória (ES)!).  

A abertura do torneio ocorreu a três de setembro, exatamente a trinta dias das disputadas eleições presidenciais. Na ocasião a UDN de Carlos Lacerda, avaliando a falta de condições de chegar ao poder, proporia a adoção do critério da eleições através maioria dos votos. Juscelino Kubitscheck viajou o país inteiro chegando a fazer quase trezentos comícios e mais de mil discursos para ganhar as eleições. 

A rodada de abertura do torneio veria o Vitória (ES) ganhar do Santa Cruz (1 X 0) e o empate sem gols entre Bahia e Ypiranga. Logo no outro dia os times entraram de novo em campo, agora com a vitória de ambas as equipes baianas. O Ypiranga venceria o Vitória (ES) pelo escore mínimo e o Bahia ao santa Cruz por três a um. Estava tudo como “mandava o figurino”, os clubes de fora afastados da decisão da taça e a decisão programada para o sete de setembro. 

No entanto, o comparecimento de público estava longe de ser dos melhores. Vários fatores podem explicar o que ocorreu na ocasião. Desde que a Fonte Nova havia sido inaugurada era comum à existência de torneios para ocupar datas vagas na agenda do histórico estádio, e, as “atrações” de fora estavam longe de despertar a expectativa necessária à frequência de público. A experiência de deixar de fora o EC Vitória foi outro fator que, junto do mau desempenho do Santa Cruz, levariam a aquela situação.  

Assim, de última hora, o Santa Cruz é “desconvidado” assumindo o EC Vitória em seu lugar para a última rodada. Para o auri negro foi um verdadeiro “tiro no pé”, pois a vitória contra os pernambucanos por certa diferença de gols asseguraria que o clube canário levasse o troféu que tinha o nome de seu estimado dirigente. O rubro negro, no entanto, não estava nem aí fazendo um grande jogo que terminou empatado em empate em dois gols.  

O resultado afastou definitivamente o Ypiranga do título do torneio que tinha organizado com tanto carinho. A decisão ficou para baianos e capixabas que brindaram o maior público do torneio com outro bom espetáculo e com muita movimentação. Flores marcaria os dois tentos do Vitória (ES) enquanto Ruivo Rui e Juvenal garantiriam os do Bahia. Precisou de duas décadas para o tricolor “vingar” Bitonho. 

No entanto a vida continuava. Nove dias depois um golpe militar na Argentina deporia o presidente constitucional Juan Domingo Perón. No dia 30 seria a vez do cinema e da juventude perderem o astro que seria o protótipo da rebeldia nos anos 50, James Dean em acidente de automóvel. Mais três dias e JK atingiria 33,8% dos votos dos brasileiros, longe, portanto, do percentual exigido pela UDN.  

A vitória é questionada por Carlos Lacerda que alegando a necessidade de “estabilidade política”. Dias depois começa o burburinho nas hostes militares. Um par de meses depois o presidente Café Filho pede uma estranha licença pra tratamento de saúde assumindo em seu lugar o deputado e presidente da Câmara Carlos Luz, adversário de JK. 

O PSD e PTB, entretanto, não “dormem de touca” e, contando com o voluntarismo do general Teixeira Lott, dão um contragolpe destituindo Carlos Luz e declarando o impedimento de Café Filho, entregando a chefia da nação ao Nereu Ramos, presidente do Senado, que vai governar o país até a posse do presidente eleito. A manobra não poria fim à resistência vendo também outros episódios de insubordinação militar que prefigurariam 64.

• Agradeço as informações de Paulo Fábio Dantas Neto, dos sites do Esporte Clube Bahia e semprebahia.com, e dos blogs RSSF Brasil, Wikipédia, marketingpolítico-manhanelli. blogspot.com.

Eu vi o Botafogo FR em sua época de ouro na Fonte Nova!

Hoje vou falar de um clube que já torci nos anos 50/60, o Botafogo de Futebol e Regatas do Rio de Janeiro. Era o time de “painho”, junto com o Santos, e assim como a mania de torcer pro EC Vitória, torcemos pro glorioso também. Influiu para isto as grandes equipes que o glorioso teve nos anos 50 e 60, que alguns botafoguenses intitulam de “época de ouro”, quando jogavam no clube craques como Didi, Garrincha, Zagalo, Nilton Santos, Gerson, Manga, Jairzinho e Quarentinha, que fez carreira no Vitória.

Estávamos na era do rádio onde não bastava torcer pros times da Bahia, pois todos perguntavam pra quem agente torcia no Rio e em São Paulo! Só quando fui tomar consciência da problemática regional e visitei o Sudeste é que percebi que lá eles “se lixam” pros clubes daqui. Ai, inclusive porque já tinha saído de casa pra casar, deletei os times de outros estados passando a torcer somente pro rubro negro baiano. Sobrou só a simpatia!
Pra mim a era de ouro do clube foi entre 1957 e 1970. Considero que o Botafogo despertou a atenção do mundo ao ganhar o título carioca daquele ano com uma goleada histórica de seis a dois sobre o Fluminense. O clube ainda conquistaria os campeonatos estaduais de 1961, 1962, 1967 e 1968, os torneios Rio – São Paulo de 1962 e 1964, a Taça Brasil de 1968 e seria a base da seleção brasileira na Copa do Mundo realizada no México em 1970. O Botafogo foi um dos clubes que mais jogou na Fonte Nova, trinta e quatro vezes, atuando aqui por meio século. E, como não podia deixar de ser, jogou também aqui na sua “era de ouro”.  

O clube já tinha uma longa tradição de relações com a Bahia, que vem desde o campinho do Rio vermelho. Logo após a Primeira Grande Guerra aportaria por aqui tendo de ser organizado ás pressas um combinado baiano para enfrentá-lo, e que seria devidamente arrasado por sete a um! O dia é histórico, 18 de fevereiro de 1919, e deve ter sido o primeiro clube carioca a pisar na Bahia. Depois daí levaria muitos anos pra aparecer de novo, particularmente pelo fato do estado não ter sido incluído na excursão que então fez ao Norte e Nordeste do país. 

Voltaria a Salvador no atribulado ano de 1935 ás vésperas do movimento que passou a história com a denominação dos vencedores, a “Intentona Comunista”, o levante da Aliança Nacional Libertadora contra o governo Vargas. A equipe ficaria aqui dez dias. Estrearia no dia 20 de outubro com o resultado maiúsculo do seu homônimo local (4 X 4). Logo depois, entretanto, arrasaria o EC Vitória por sete a dois! Foi aí que o Galícia honrou a sua fama de demolidor de campeões derrotando-o por três a um. Encerraria a excursão batendo o Bahia por quatro a três. 

Vinte três dias depois a revolta começaria em Natal, se estendendo dois dias depois para Recife, e chegando aos cariocas no dia 27 de novembro. Os revolucionários foram drasticamente reprimidos, ocorrendo mortes, torturas e prisões, ficando trancafiado durante anos o “cavaleiro da esperança” Luís Carlos Prestes. 

No início de 1942, em pleno Estado Novo, o time da estrela solitária voltaria a Salvador em nova e vitoriosa excursão. Desta vez não deu mole pro seu homônimo local aplicando-lhe cinco a um na estreia. Logo depois o Vitória consegue honroso empate em quatro gols. Mas o time granadeiro desta vez não arranjaria nada, caindo por cinco a um. Venceria o Bahia a seguir (3 X 1), encerrando sua temporada em Salvador com um empate a um gol contra o Ypiranga. Foi então jogar em Feira de Santana, quando derrotou a seleção local por quatro a dois. Neste interim recebeu proposta de revanche do Bahia. A aceitação da partida tirar-lhe-ia a invencibilidade, caindo o alvi negro por dois a um. 

Só retornaria à boa terra depois da Segunda Grande Guerra, quando já se idealizava o estádio da Fonte Nova. A excursão seria curta e grossa, com o Botafogo não dando chance ao Vitória (4 X 3), ao Botafogo local (5 X 1) nem ao Bahia (1 X 0). Três anos depois viria ao Nordeste, mas não pisaria nos gramados do estado. 

E era da Fonte Nova receberia o antigo clube de General Severiano no seu terceiro ano, confirmando o seu pioneirismo de ser um dos primeiros clubes cariocas a ali jogar. A má escolha do dia da partida (oito de dezembro, consagrado a Nossa Senhora da Conceição), porém, lhe seria fatal, pois arregimentaria os cristãos a se desforrar de quem não preservava o dia santo e seria responsável pela sua maior derrota em terras baianas: quatro a um para a seleção baiana. A volta um mês depois para tentar se recuperar contra o Vitória também fracassou no empate por dois gols. 

Em meados da década o Botafogo visitaria Sergipe e Pernambuco, mas não daria uma “chegada” na Bahia. Somente no ano seguinte (1956) viria à região do cacau enfrentar o Colo Colo (5 X 0) e a seleção itabunense (2 X 1). Em setembro, porém, cumpriria uma verdadeira maratona por aqui jogando três vezes em quatro dias, empatando na Fonte Nova com Galícia (0 X 0) e Bahia (1 X 1) e em Feira de Santana com o Fluminense local (1 X 1).

O glorioso viria a Fonte Nova por oito vezes em sua era de ouro. O primeiro jogo foi em julho de 1958, logo após a Copa do Mundo da Suécia onde o Brasil sagrou-se campeão. Num ano eleitoral seus jogadores da seleção Garrincha, Didi, Nilton Santos e Zagalo receberam homenagens. Houve muita politicagem, mas não adiantaria, pois o ponteiro das pernas tortas faria o único gol do jogo contra o tricolor baiano. Não me lembro de se meu pai nos levou a este jogo. Ele não se lembra, mas não tinha como não ir. Na época eu tinha apenas dez anos. 

No próximo ano voltaria a Salvador, começando pela Fonte Nova uma temporada pelo Norte e Nordeste com nova vitória sobre o Bahia, e pelo mesmo escore. Em 1960, após o esquadrão de aço vencer a I Taça Brasil, jogaria duas vezes contra o alvi negro carioca no mês de junho. Uma delas no Rio de Janeiro, quando seria a primeira vez que este confronto se realizaria fora da Bahia, registrando outra vitória pelo mesmo placar. O outro amistoso terminaria sem gols na Fonte Nova. Até então sequer íamos sozinhos na Fonte Nova. 

A nova excursão ao Norte e Nordeste feita em 1962 evitaria o estado. Passaram-se três anos sem que o clube da estrela solitária voltasse a Salvador. Mas quando veio foi pra fazer o seu primeiro jogo oficial com um clube baiano, no caso o Bahia. Estava sendo realizada a V Taça Brasil, e o jogo era pelas semifinais, em 17 de outubro de 1963. Apesar de já comparecer aos jogos assisti este pelo rádio, pois meu pai estava viajando a serviço.

Acho que foi um dos maiores públicos da época quando o tricolor devolveria o escore mínimo e carimbando a sua classificação treze dias depois com um empate sem gols no Maracanã. Assisti pela rádio Globo no intervalo o repórter entrevistar Nilton Santos no intervalo que orientou os defensores a não subirem demasiadamente pra que não perdessem de novo pra “esse time”. Neste ano o tricolor perderia as duas partidas das finais contra o Santos. 

No inicio da ditadura militar as duas equipes realizariam dois amistosos, mas a nova tendência de se enfrentarem em jogos oficiais viria pra ficar. A época era de crise no futebol baiano fazendo com que essas promoções tivessem pouco retorno financeiro. No ano do golpe o “placar oficial” mínimo para o Botafogo, e no ano seguinte, o empate por um a um. Em 1966 o alvi negro viria ao Norte e Nordeste, mas não a Bahia. 

O torneio apelidado de “Robertão” seria ocasião para novos confrontos contra o tricolor baiano. Desta vez, porém o esquadrão de aço obteria resultados melhores, ganhando por duas vezes por um a zero e dois a um. Quem foi a Fonte Nova neste jogo, em cinco de novembro de 1969, veria pela última vez o clube em sua era de ouro.

O próximo período seria o da era do Campeonato Brasileiro quando faria dezenas de partidas no nosso histórico estádio durante 1971 e 2003. Seriam vinte e duas partidas, quatorze contra Bahia, sete contra o Vitória e uma contra o Galícia. Se observarmos toda a era da Fonte Nova haveria um equilíbrio entre o desempenho do Botafogo em confronto com os clubes locais. Ganharia onze, empataria doze, e perderia onze partidas. Marcaria 32 gols e sofreria 34. 

No primeiro campeonato brasileiro ainda conseguiria ficar em terceiro lugar classificando-se pras finais. Mas não seria mais o mesmo. Jogaria, e venceria o Bahia, na ocasião com um plantel irreconhecível. O técnico era Paraguaio, e o time formava com: Ubirajara mota, Mura, Brito Djalma Dias e Valtencir; Paulo Cesar (autor do gol), Nei Conceição e Galdino (Silva); Roberto Miranda, Nei Oliveira (Careca) e Zequinha. 

Depois da ascensão do Botafogo viria à queda. Entraria a nova década perdendo o Campeonato carioca para o Fluminense e, no ano seguinte, o Campeonato Brasileiro para o Palmeiras. Em 1973 seria desclassificado na Taça Libertadores da América. Já havia começado há muito o desmonte de seu grande elenco, mas esta situação se agrava com a crise financeira.

O clube transferiria suas atividades para o subúrbio indo jogar em Marechal Hermes. Levaria anos afastado do pelotão da frente do futebol brasileiro de onde nunca deveria ter se afastado. Quanto a Fonte Nova, depois de 2003 passaria a sediar jogos da segunda e terceira divisão e o Botafogo não mais se encontraria ali com times baianos.

• Agradeço as informações dos sites do Botafogo FR e de Fernando Dannemann. recanto das letras.com, e dos blogs futipédia. globo.com e RSSSF Brasil.

O torneio do almirante

                                   O Torneio do almirante

Na década de 70, com um misto de “milagre econômico” e repressão, os generais do Brasil estenderam seu domínio para todos os domínios da vida social. Chegaram até no futebol! Em 1974, para eliminar a influência de João Havelange colocaram o presidente da ARENA-RJ na CBD. Nada menos do que o almirante Heleno Nunes. Foi uma verdadeira intervenção no esporte, e sob a sua gestão a entidade se encheu de políticos e bateu o Recorde de maracutaias. O próprio Campeonato Brasileiro passou a ser moeda de troca política. Ei vivi e militei nesta época, quando dizíamos “onde a ARENA ia mal, um clube no nacional”.

Mostro aqui a progressão da aritmética político-militar no Campeonato Brasileiro ano a ano, e que se acentua nos anos eleitorais. 
1971 – 20 clubes
1972 – 26 clubes (eleições municipais)
1973 – 40 clubes
1974 – 40 clubes (eleições estaduais)
1975 – 40 clubes
1976 – 545 clubes (eleições municipais)
1977 – 62 clubes
1978 – 74 clubes (eleições estaduais)
1979 – 94 clubes

Durante o mandato do almirante Heleno Nunes (1974-1980) a CBD enfrentou duas copas do mundo perdendo as duas, porém, declarou a seleção brasileira de 1978 “campeã moral”. Nestas ocasiões efetivaria o capitão Cláudio Coutinho como preparador físico (1974) e técnico (1978) da seleção. O almirante, como era chamado, metia seu bedelho em todo e qualquer assunto do esporte. Seria de sua lavra a ameaça de corte do atacante Reinaldo da seleção brasileira após entrevista dada ao jornal Movimento de oposição, só revertida graças a pressões, como a ação do presidente do Clube Atlético Mineiro ao qual o jogador pertencia.

Torcedor confesso do Vasco da Grama seria um dos responsáveis pela doação ao clube do centro de treinamento que leva o seu nome. Por coincidência os cruzmaltinos quase ganham o torneio que levou seu nome em 1984. Os desmandos do almirante á frente da CBD foram tão grandes que se tornou o último presidente da entidade, não havendo outro jeito que criar a atual CBF.
Bem, foi a um dirigente com todo este “currículo esportivo” é que se escolheu dar o nome do torneio realizado entre abril e maio de 1984. Isso dá pra ver o puxa-saquismo, quero dizer o reconhecimento, dos nossos dirigentes esportivos. Imaginem que estávamos em plena campanha das Diretas Já, quando queríamos eleger diretamente o presidente do Brasil e foram buscar este personagem autoritário da era Geisel para dar o nome do torneio.    
Mas vamos ver porque o torneio foi criado. No início dos anos 80 a recém-criada CBF fazia todo tipo de artimanha política para contentar os grandes clubes do Rio e São Paulo que não aceitavam o cipoal que havia se transformado o Campeonato Brasileiro na era Heleno Nunes. Durante o governo Figueiredo se conseguiu reduzir mais da metade dos clubes do certame. No entanto, o costume do cachimbo tinha feito à boca ficar torta, tendo que fazer uma série de concessões políticas para acomodar os interesses.

Em 1984, ano que inventaram esse torneio, o regulamento era uma confusão só. Vejam se consegue acompanhar! Havia uma primeira fase, com oito grupos, que classificava 24 clubes. Os quartos colocados dos grupos disputavam uma “repescagem” para voltar ao campeonato! Tinha também uma segunda fase, com mais oito grupos que classificava dois clubes.

Está conseguindo acompanhar? Então vamos lá! Depois desta frase sobraram 16 clubes sem fazer nada! E os outros 16 disputariam uma “fase final” (que de final não tinha nada). Então, se disputava as “quartas de final”, as “semifinais”, e, somente aí, a final. Ufa! 

O “Torneio” Heleno Nunes não foi nada mais que um “caça-níquel” criado para livrar a cara dos clubes que foram eliminados na segunda fase. Desta vez não pude reclamar que o EC Vitória não foi incluído. Meu clube tinha sido rebaixado em 1982 e iria ficar de fora do campeonato por três anos, só voltando em 1986. No entanto, participaram do torneio muita gente boa. Tinha Atlético Mineiro, Botafogo, Cruzeiro, Guarani, Internacional, Palmeiras, São Paulo, Sport, Santa Cruz e o Bahia. O público, porém percebeu que o torneio era um “cala boca” a esses clubes e praticamente ignorou o certame.

Para se ter uma ideia a grande maioria dos jogos tiveram entre mil e seis mil pagantes. Só houve, efetivamente, dois jogos com presença substancial, o clássico Palmeiras 1 X 0 Corinthians, com 55.000 pessoas, e Inter 1 X 1 Palmeiras, com 19 mil. Na própria Fonte Nova, dos torcedores que adoram o futebol, a presença foi insignificante. Para se ter uma ideia do desprestigio de tal torneio basta lembrar que a média de público na Fonte Nova naquele campeonato havia sido de 22.000 pagantes.

O primeiro jogo do Bahia, em 15 de abril, dia do aniversário do meu irmão “Toínho”, foi assistido por dois mil e seiscentos pagantes. Pra você ter uma ideia agente lá em casa nem ligou o rádio ocupados em comer os petiscos que minha mãe havia preparado. Na oportunidade, porém, o tricolor colheria uma expressiva vitória de dois a um, contra o bom time do Internacional que seria o campeão. 

Mas durou pouco a alegria da torcida tricolor, pois, dois dias depois, o time “meteria os pés pelas mãos” perdendo para o Sport na Fonte Nova para um público ainda menor. O pior foi tomar dois gols nos últimos minutos, o que viraria praxe neste torneio. Logo no dia do meu aniversário é que o tricolor acharia de retomar o caminho da vitória, ganhando do Guarani pelo mesmo escore. Desculpem não poder falar nada do jogo, pois completava 36 anos naquele dia. Ah que saudade! Sei, porém, que o público diminuía cada vez mais. Se o Bahia estivesse pior imaginava-se o dia em que não houvesse mais ninguém nas arquibancadas. O povo mostrava que não queria nada com o almirante! 

Cinco dias depois mais o grande público de quatro mil pagantes veria o empate sem gols entre Bahia e Botafogo. O esquadrão de aço depois viajaria para Belo Horizonte onde enfrentaria o Atlético Mineiro no Dia do Trabalhador. Eu estava organizando a manifestação no Campo Grande quando soube do gol de Robson que asseguraria a vitória sensacional do tricolor pelo escore mínimo. O resultado impressionou os tricolores que compareceram em massa… de cinco mil torcedores para ver o clube empatar com o Palmeiras, novamente sem gols. O próximo adversário seria o São Paulo e o resultado seria outro empate, com o gol paulista feito por Paulo Cesar ao apagar das luzes. 

Até então o Bahia estava “pau a pau” com o Inter. E o jogo contra o Cruzeiro tinha praticamente o caráter de decisão. Esse eu assisti pelo rádio! O primeiro tempo foi muito disputado e, embora o Bahia pressionasse, terminou sem gols. Logo no início do segundo tempo, porém, Tostão inauguraria o placar pra nossa satisfação. No entanto Osny empataria quase imediatamente e, aos gritos de quatro mil torcedores, o tricolor chegaria a “virada” com Carlinhos, apenas seis minutos depois. O time então passou a administrar o jogo tentando garantir o resultado, mas tomaria um gol de Ademar no último minuto. Enquanto o Bahia empatava o Inter dava de quatro no Sport, e em Recife!

O torneio agora estava nas mãos do Santa Cruz que enfrentaria os dois clubes melhores colocados em sequencia. Mas o Inter nem daria trela pro Bahia derrotando o tricolor do Arruda e transformando o jogo seguinte na Fonte Nova em partida para “marcar tabela”. Carlinhos marcaria para o Bahia e, no segundo tempo, o Santa empataria. Foi assim que o Bahia deu adeus ao torneio do almirante. As partidas que o tricolor deixaria empatar no final acabariam por lhe tirar um título ganho pelos colorados.

A classificação final deu Inter em primeiro com onze pontos e Bahia em segundo com nove. O resto dos times empataria nos oito e nos sete pontos, sendo que o Sport seguraria a lanterna pela pior campanha. Nesse ano o clube foi tetracampeão gaúcho, e ganhou também o Torneio de Glasgow e a Copa Kirin em Tóquio. O time gaúcho fez uma campanha impecável. Foram ao todo quatro vitórias, quatro empates e uma derrota, aqui na Fonte Nova. Fez quinze gols e tomou sete. 

Lembro-me de alguns de seus jogadores, o goleiro Mano, o zagueiro Mauro Galvão, o volante Dunga, o atacante Silvinho, e o inesquecível Mário Sérgio, campeão como jogador e como técnico do EC Vitória. Foi um torneio nacional, que embora com um nome lúgubre, poderia ter entrado na cota dos baianos.  

• Agradeço as informações de Monique Cardone e Euclides Couto, dos sites do Internacional, Bola na área, Wikipédia, Futipédia. globo, das revistas de História da Biblioteca Nacional e de História do esporte, e dos blogs cartanamanga. blogspot.com e RSSSF Brasil.

O Benfica na Bahia

* Comemoração aos cinquenta anos da presença esportiva portuguesa no Brasil

Portugal tem uma relação secular com o Brasil. Mas nem tudo foram flores entre os dois territórios, particularmente com a conquista e a integração no império português. A Bahia foi peça central nesta relação. Foi a ela que se dirigiram as primeiras expedições lusitanas. Onde se estabeleceu em 1549 a sede política, administrativa e religiosa do império no que seria o continente americano. Seria ali o local escolhido, pelo então príncipe Dom João, para aportar a sua comitiva quando da transmigração ao país em 1808, e pela revolução liberal portuguesa para a eleição de deputados quando da Assembleia Constituinte do império.

Quis o destino que no solo da Bahia se travasse a maior de todas as guerras entre os dois países, que iria consolidar a sua separação orgânica em 1822/1823. Durariam ainda, porém, mais de seis décadas os monarcas portugueses em solo brasileiro. As relações entre os dois países continuaram no regime republicano, nos campos econômico, científico e sócio – cultural, mas se estenderam a novas direções, entre as quais o esporte.

A descoberta do futebol guarda diferenças substanciais entre os dois países. Embora o esporte chegasse a ambos por intermédio dos ingleses, os protagonistas no Brasil foram estudantes, trabalhadores e moradores de bairros populares, enquanto em Portugal foram os colégios. O Brasil chegou primeiro a experimentar certa organicidade e popularidade no esporte, enquanto Portugal só consolidaria a federação portuguesa em 1926. No entanto, aquele organizaria muito cedo as suas divisões. Enquanto isto, mesmo possuindo a CBD desde idos tempos, a falta de centralização nacional e a politicagem fariam com que só se organizassem campeonatos brasileiros nos anos 70. Quanto às divisões apareceram muito mais tarde, até hoje se constituindo um “Deus nos acuda” quando um clube grande é ameaçado de rebaixamento.

O futebol português e brasileiro tem outra diferença fulcral. Enquanto no primeiro há três clubes de expressão mundial (Benfica, Sporting e Porto) que dividem grande parte dos títulos portugueses, no segundo há equilíbrio entre os grandes clubes onde o “papa títulos” é o São Paulo, com apenas seis campeonatos brasileiros. O intercâmbio futebolístico entre os dois países em todo este tempo foi praticamente nulo, sendo difícil descobrir jogos entre clubes portugueses e brasileiros nas primeiras cinco décadas do “século do futebol”.

Os anos 60, porém, iriam terminar com este isolamento. Já desde a década anterior haveriam confrontos esparsos em excursões de clubes brasileiros pelo solo europeu. Em 1960 o Sport Lisboa e Benfica faz uma excursão histórica ao Brasil e, por fim, dois anos depois, o mundo seria contemplado com a inédita decisão de um título mundial entre Santos FC e SL Benfica em 1962. Abria-se uma nova era nas relações desportivas entre os dois países, que, com o fim das ditaduras (da salazarista e da dos generais brasileiros), haveria de se consolidar em outros terrenos.

O Sport Lisboa e Benfica, é honra e glória do futebol português. A equipe encarnada ocupa o nono lugar entre os clubes de todo o mundo pelo levantamento do IFFHS. Tem 32 campeonatos, 24 taças, e 4 supertaças em Portugal, além de dois títulos de campeão europeu, um deles do próprio ano em que esteve no Brasil, quando bateria o Barcelona por 3 X 2.
Assim, o clube esteve na Bahia no auge de seu prestígio, inclusive como campeão português. Desde que se soube da sua excursão ao Brasil o próprio presidente da antiga Federação Baiana de Desportos Terrestres – FBDT intercedeu nas negociações.

Foram ao todo oito jogos cumpridos pelo elenco português. Jogou no Rio de janeiro, contra Flamengo e América, empatando em ambas as ocasiões. Em São Paulo perderia do Santos FC e derrotaria de forma convincente o Palmeiras (3 X 0). Só então aportaria na Bahia. Eu ainda tinha doze anos e meu pai não me levaria a nenhum dos dois jogos.

Na presença do Benfica havia só um problema a considerar. Haviam sido acertados jogos contra o EC Bahia e o EC Vitória. Mas, no entanto, o primeiro, que tinha previsto chegar nesse período de excursão á Europa, não conseguiu chegar para a estreia do escrete lusitano em 28 de julho de 1960. Assim, o tricolor teve que colocar o que o Diário de Notícias da época chamou de um time “misto”, onde se dizia que empregaria alguns profissionais que haviam ficado completando o time com juvenis.

No entanto, não foi bem assim que as coisas aconteceram. É certo que os titulares do EC Bahia estavam na Europa. No entanto, o clube havia se preparado para esta situação deixando em Salvador um segundo time com o qual colheu expressivas vitórias no campeonato local e até em amistosos importantes. Mais tarde, com o retorno da Europa, o Bahia aproveitou vários daqueles que formavam o “misto”, inclusive, todo o ataque. Parece-me ter contribuído para esta atitude do jornal, integrante da cadeia dos Diários Associados de Assis Chateaubriand, uma combinação de decepção (em função do time tricolor não ter chegado a tempo do jogo) com o receio   de que o segundo time tomasse uma goleada. 

O Juiz da partida foi José Cavalcanti Brito, tendo como auxiliares José Tosta e Willer Costa. O Diário de Notícias divulgou a renda de 600.250 cruzeiros, alertando inclusive para o fato de que os preços tinham “afugentado muito os torcedores”. Se compararmos com o recente BA-VI (605.485 cruzeiros), onde o Vitória ganharia o primeiro turno, a renda foi mesmo sensacional, atestando a expectativa na Bahia com a presença portuguesa.

O público que foi a Fonte Nova não viu só qualidade, mas também quantidade. Houve duas preliminares (!), a primeira começando às 12h00min, e a segunda às 14h00min, envolvendo aspirantes e profissionais de Fluminense de Feira de Santana e Galícia pelo primeiro turno do Campeonato Baiano.  �

Os times do jogo principal entraram em campo ás 16h00min. O Benfica com Bastos (Costa Pereira), Calado (Zezinho) e Arthur (Calado); Pegado, Alfredo e Ângelo; Palmiro, Coluna, Águas, Calado (Salvador) e Cavém. Já o Bahia peleou com Cavezali, Calmon e Chagas; Bombeiro, Marivaldo e Florisvaldo; Biriba (Frader), Aduce, Rui Tanus (Evandro), Careca e Olício (Carlito).
Águas (Benfica) abriu o marcador logo aos cinco minutos, acentuando o receio dos Diários Associados. No entanto, Aduce empataria pouco depois e, Careca, “viraria” o jogo antes do fim do primeiro tempo.

O intervalo foi de muita alegria para os baianos, que cresceria quando o EC Bahia, aproveitando a ofensividade dos portugueses desde o início, amplia com Rui Tanus. De nada adiantaram as pressões benfiquistas, a sorte estava neste dia com o tricolor, que ainda “fecharia o caixão” da goleada com Biriba aos 19 minutos. Naquele dia, que olhasse para o placar do Dique não acreditaria no que estava vendo: Bahia 4 X 1 Benfica. Ficou nisto até o fim.
O Diário de Notícias fez um escarcéu, dando amplo destaque para a vitória do “misto” tricolor contra o esquadrão benfiquista.

A maior derrota de sua excursão pôs em polvorosa os portugueses, que passaram a dar muito mais atenção ao segundo jogo, que seria realizado dois dias depois. Mas aí aconteceu a surpresa, com a chegada da delegação do Bahia da Europa. A torcida e a imprensa não cabiam de contentes. Se com o “misto” tinha dado de quatro, imaginem o que ocorreria com o Benfica quando o tricolor usasse o titular? Nesse dia acredito que todos por aqui se sentiam como o filme que passava no Cine Guarany estrelado por Gene Kelly, Dançando nas nuvens. 

Os dois clubes entraram em campo para a revanche no dia 30 de julho com o mesmo juiz e bandeirinhas. A renda “não foi fornecida”, sendo calculada pelo Diário de Notícias em 700.000 cruzeiros. O Benfica fez algumas modificações na defesa e o Bahia manteve alguns jogadores do “misto”. Os portugueses entraram com Costa Pereira, Zezinho (Calado), Artur e Alfredo; Pegado e Ângelo; Palmiro, Coluna, Águas, Calado e Cavém. Já o Bahia jogou com Jair, Bacamarte (Rui) (Joca) e Henrique; Jota Alves, Vicente e Florisvaldo; Frader (Biriba), Wassil, Carlito, Otoney e Isaltino (Olício).

Mas desta vez o Benfica não daria chance ao Bahia! Logo no primeiro tempo já estava dois a zero, com gols de Águas e Cavém. No segundo tempo preferiu administrar o resultado, dando margem as pressões do Bahia que chegaria a diminuir com o ponta Biriba. No outro dia o patriótico Diário de Notícias daria pouco destaque ao resultado. Quanto ao Benfica cumpriria o resto da sua excursão mais animado, aonde iria ainda a Fortaleza e a Belém, e depois, aos Estados Unidos. Até o fim de nosso querido estádio, cinquenta anos depois, nunca mais veríamos a classe de Coluna e Aguas, e o garbo de Costa Pereira.

Um novo encontro entre baianos e portugueses estava marcada para alguns meses depois, quando o EC Bahia, desfrutando sua condição de campeão da I Taça Brasil, voltaria a Europa, passando por Portugal. Mas aí as coisas seriam bem diferentes. O adversário foi o Sporting que não teria perdão, enfiando cinco a um.

O Diário de Notícias local (26/10) porém atacou de novo. O árbitro teria sido “fraco”, truncando faltas e “prejudicando o Bahia”. Lembrou que Léo tinha aberto o placar no primeiro tempo e que só após a expulsão de Alencar, ainda no primeiro tempo, é que as coisas começaram a mudar com um gol de Seminário. Este repete a dose no início do segundo tempo quando o juiz teria anulado um gol de Biriba por impedimento. Mesmo assim, o jogo só teria se resolvido nos onze minutos finais, quando foram anotados mais três gols pelo time sportinguista.

Agora, porém, foi à vez do Bahia querer revanche, conseguindo novo jogo no encerramento da excursão á Europa. Na oportunidade o dirigente Osório Vilas Boas se notabilizou pela diplomacia, comparecendo, por exemplo, ao Conselho Municipal de Lisboa para entregar uma moção da Bahia aos portugueses. Não conseguiria recuperou o tricolor baiano da goleada mas, pelo menos, o empate de dois a dois causaria melhor impressão aos portugueses.

Esta história só acaba em setembro/outubro de 1962 quando da disputa da Copa Intercontinental, que no Brasil se chama Mundial de Clubes. Acompanhei pelo rádio cada momento dos dois jogos Santos X Benfica, e foi aí que conheci Euzébio. O primeiro era o clube que meu pai torcia em São Paulo. Naquele tempo era assim. Tendo em vista o papel secundário que o esporte do estado tinha no país, os baianos costumavam ter “três times”, um na Bahia, um no Rio e outro em São Paulo. Meu pai era Vitória, Botafogo e Santos, e seus filhos, naturalmente, também.

A crise política brasileira se ampliava e eu só pensava em futebol. Me lembro como hoje do emocionante jogo do Maracanã, com grande atuação dos dois clubes. Naquele 19 de setembro Pelé e Cia enfrentavam alguns dos jogadores que tiveram na Bahia dois anos antes. O primeiro tempo se encerraria com a vantagem santista mediante gol de Pelé. No segundo tempo o meia atacante Santana empataria, mas logo Coutinho, em admirável tabelinha, faria voltarmos novamente á frente. O jogo só seria decidido nos últimos minutos com dois gols seguidos, de Pelé e Santana, fechando o escore em três a dois para o Santos.

Mas os acontecimentos mais notáveis estavam guardados para o Estádio da Luz na noite de onze de outubro. A equipe benfiquista precisava ganhar e, por isso, desenvolveu um jogo ofensivo desde o início da partida. Não tomou cuidados especiais com o ataque do Santos que esteve iluminado, particularmente Pelé, que marcou três gols entre eles um, que se inscreve nos anais da história, em que driblou toda a defesa portuguesa. Quando os encarnados acordaram já estava cinco a zero, descontando apenas no final. Lá em casa não podíamos acreditar no que tinha ocorrido, 5 X 2, em pleno Estádio da Luz. Acho que foi o maior jogo da história. Pelo menos, de todos os que assisti pelo rádio.

• Agradeço ao Setor de Publicações Raras da Biblioteca Central do Estado – BCE pela Coleção dos jornais Diário de Notícias e Estado da Bahia e ao site www.sobre.com.pt.

Faltou luz na decisão do campeonato!

O ex-governador da Bahia e presidente da UDN Octávio Mangabeira tinha razão. Acho que foi por causa da Fonte Nova que ele disse:

– Pense num absurdo. Na Bahia tem precedente!

Pois é. No estádio que leva o seu nome já aconteceu de tudo. Esta história é sobre um caso que deve ser único: faltar luz em decisão de campeonato. E foi a apenas vinte anos atrás.

Estávamos no último ano da década de 80, e este começaria com expectativas com o governo Collor. Esse, antes de assumir, viajava pela Europa pedindo apoio para as (péssimas) mudanças que faria no Brasil. Na época nos encheu de alegria a libertação de Nelson Mandela na África do Sul. Logo começam a ser feitos os contatos que o trariam a Salvador.

Foi neste cenário que começou o “campeonato relâmpago” de 1990. É que, em funções do calendário nacional, onde havia desde o ano anterior a Copa Brasil seguido do Campeonato Brasileiro, a FBF inventou um campeonato baiano de quatro meses. Penso que isto deu o golpe de morte em clubes tradicionais que ainda restavam na capital do estado.

Começou logo em janeiro, menos de três meses da decisão do anterior. Desta vez teve só dois turnos e acabaram com este negócio de ir pra final com “ponto zero”. O vencedor de cada turno levava dois pontos e o vice um ponto. O Vitória caiu no grupo “A”, junto com o Galícia, a Catuense, o Serrano e a Jacuipense, esta última promovida da segunda divisão. O custo de vida de Salvador alcança os 100% e o Vitória começa o ano na maior sonolência só se agigantando nas finais do campeonato.

Imaginem que por duas vezes o clube ficou em segundo lugar em seu grupo, fazendo campanhas fracas e deixando a liderança para o Galícia. No primeiro turno só conseguiu ganhar da novata Jacuipense (1 X 0), empatando os jogos contra Galícia (1 X 1), Catuense ((0 X 0) e Serrano (1 X 1)). No segundo turno, perderia logo de saída para o Fluminense (3 X 1) ganharia de Leônico (4 X 0) e, fora, do Itabuna (3 X 0), e empataria com o Atlético (1 X 1). Por causa desta colocação (2º lugar) pegaria “de cara” na semifinal do primeiro turno o Bahia, que levaria o título, sendo eliminado após dois jogos (0 X 0 e 0 X 2).

A posse de Collor é antecedida por uma onda de remarcações que afetam mais tarde a fixação dos índices salários de seu plano prejudicando ainda mais os trabalhadores. Seu governo editaria aquilo que ficou conhecido como o Plano Collor I(Plano de Estabilização Brasil Novo) que estabiliza o cruzeiro, congela preços, depósitos bancários e os saques das cadernetas de poupança. Para isto fecha os bancos por três dias (sem contar o fim de semana) ocasionando uma verdadeira corrida aos caixas eletrônicos. A economia entra em recessão, aos gritos de combate á hiperinflação e ajustes na economia que visariam à modernização do país. As medidas, entretanto, levaram a oposição á defensiva.

Enquanto isto já estava no segundo turno, onde ainda bem que o tricolor também ficou em segundo no seu grupo, ganho pelo Fluminense de Feira de Santana. Mas nas semifinais não deu outra coisa! O Vitória ainda conseguiu eliminar o Fluminense, empatando os dois jogos a zero. O gol só saiu na prorrogação. Foi uma suadeira! Um dia depois de meu aniversário começou a decisão do segundo turno.

Eu só queria este presente, mas não deu, tomamos de novo dois à zero. Quatro dias depois um empate a zero liquidava praticamente nossas esperanças no “bi”. Até os escores se repetiram. Parecia tudo liquidado e o “bi” do Vitória seria mais uma vez adiado. Mas neste ano o EC Bahia faria a façanha de perder o campeonato com dois turnos na mão.

Nesse período, eu estava no meio da mobilização dos órgãos federais atingidos pelas privatizações, assim como dos funcionários demitidos pelo governo do estado. Havia 140.000 servidores julgados “disponíveis”, e só na Rede Ferroviária eram 16.000. Na Bahia eram mais de mil os incluídos na lista. Lembro-me do concorrido ato dos servidores na Praça da Piedade em abril de 1990.

Nesta época ocorre o “racha” da Frente Brasil Popular na Bahia com o fracasso dos entendimentos com a oposição para uma alternativa ao lançamento de ACM nas eleições para governador. O PT ficou com José Sérgio Gabrielli, o PMDB com o ex-governador biônico Roberto Santos, e o PCB, PCdoB e PSB com a “chapa das mulheres” Lídice da Mata, Salete Silva e Bete Wagner, respectivamente para governadora, vice e senadora.

Em maio realizávamos mais um Dia Internacional dos Trabalhadores, que continuava no Campo Grande, sendo feito para os militantes de sempre e das categorias em greve. No outro dia é realizada a passeata conjunta das entidades de educação, que denunciam a situação do ensino também no Dia de Luta pela escola pública na Assembleia Legislativa, seguida de concentração na governadoria.

Foi nesta conjuntura que começou a fase final, em 3 de maio. Imaginem que o Bahia começava com quatro pontos, enquanto o Galícia e o Vitória tinham apenas um. Tinha radialista que fazia a conta que o tricolor só precisaria empatar seis vezes pra levar o caneco. Mas as coisas não ocorreriam bem assim! Eu ainda compareceria á Plenária Nacional da CUT em São Paulo.

O BA-VI foi logo na primeira rodada e se perdêssemos daríamos adeus ao título. Mas o Vitória ganhou pela primeira vez neste ano, por um a zero, não me lembrando de quem foi o gol, pois tive que assisti-lo pelo rádio. No outro jogo o Fluminense detonou as esperanças do Galícia aplicando-lhe 2 X 1 em Feira de Santana. O Galícia, porém “empenaria” a nossa vida empatando a zero no segundo jogo enquanto o Bahia pedia de novo, agora em Feira por 2 X 1. Estava tudo empatado, só o Galícia estava com dois pontos e os outros com quatro. Qual Fênix havíamos voltado das cinzas.

O Bahia, entretanto, decidiu reagir, voltando á liderar sozinho com uma vitória sobre o Galícia por um a zero, enquanto conseguíamos um bom empate a zero em Feira de Santana. Dobraríamos o segundo turno das finais, entretanto, com outra fenomenal vitória contra o tricolor, novamente por um a zero, enquanto os “touros do sertão” ganhavam novamente o Galícia, pelo mesmo placar.

Estava desenhada a nossa disputa contra o Fluminense. E isto se consolidaria na penúltima rodada ao ganharmos o Galícia por um à zero enquanto em Feira os dois tricolores empataram por um a um. O nosso arquirrival assim, estava afastado da disputa do título. Estávamos com nove pontos e o Fluminense com oito, e jogaríamos contra este na Fonte Nova pra decidir o título.

A decisão foi no dia 27 de maio e eu havia me desvencilhado de todos os compromissos políticos pra ir. Foi um jogo “de estudos”, sem que ninguém se arriscasse no primeiro tempo. O Fluminense bem que tentou ir á frente, mas o Vitória administrava bem a vantagem. O primeiro tempo teve poucos lances de gol. As jogadas que pareciam mais perigosas foram bem neutralizadas pelas defesas. A torcida do Vitória neste dia era quase o estádio todo, 62.000 pessoas, e contava o tempo pro jogo acabar pra que pudéssemos obter o sonhado “bi”.

No entanto, uma grande surpresa estava reservada para todos no segundo tempo. Apagaram-se as luzes com o estádio ficando as escuras por vários minutos. Aí o inusitado aconteceu. O Fluminense de Feira resolveu “dar uma de esperto” e abandonou o campo esperando tirar vantagem no “tapetão”.

O estádio estava muito belo com isqueiros, fogueiras e lanternas acesas. Até a luz voltar agente não sabia do estratagema feirense. Nesta hora passamos por momentos de tensão e hilariedade. Acho que a torcida vaiava e xingava o pessoal do Fluminense(chamando-os de fujões) porque não tinha certeza do que ia ocorrer. O campo encheu de radialistas, dirigentes e policiais.

Isso se arrastou até que o juiz paulista Edmundo Lima Filho, passou a contar os quinze minutos regulamentares esperando o Fluminense voltar a campo pra continuar o jogo. Aí a torcida contou o tempo junto. O juiz, no fim da contagem, encerrou o jogo e fez constar na súmula o abandono.

O Vitória conquistava o seu segundo “bi” na Fonte Nova, um quarto de século depois do início do golpe de 64. Entre os novos campeões havia o goleiro Ronaldo, o meia Hugo, e os atacantes André Carpes e Roberto Gaúcho.

Até aquele tempo ainda se permitia a comemoração de alguns torcedores dentro do campo. Lembro-me da vibração com a “volta olímpica” dos jogadores, mas nunca pensei que aquela seria a última vez que vibraria com um título na Fonte Nova. Naquele tempo já havíamos começado a comparecer ao Barradão. Anos antes este tinha sido inaugurado num jogo contra um time estrangeiro, e recentemente um jogo contra o Santos inaugurou a iluminação. No ano que vem começaríamos a fazer alguns jogos do campeonato ali embora demorasse mais algum tempo pra lá ser o nosso mando de campo.

Quanto a mim logo depois da decisão já me inseria nos preparativos da Greve Nacional das categorias em luta, que reunia a CUT, a CGT e a recém-fundada Central Geral dos Trabalhadores. Mas isso é assunto pra outro dia!

A trágica inauguração do anel superior da Fonte Nova

A TRÁGICA INAUGURAÇÃO DO ANEL SUPERIOR DA FONTE NOVA

No início dos anos 70, em plenos anos sombrios do endurecimento da ditadura militar prosperava a pornochanchada. Nesta, assistíamos a ex-miss Vera Fischer, Jardel Filho, Nuno Leal Maia, Milton Morais e outros. Na época morrem a inesquecível cantora Dalva de Oliveira e o poeta tropicalista Torquato Neto põe fim a sua inquietação criadora.
Começava a chegar a público as atrocidades cometidas pela quadrilha do policial Manoel Quadros, versão baiana do esquadrão da morte e a toda hora apareciam mais corpos.

O carnaval de Salvador era patrocinado pelas cervejarias CIBEB e Carlberg que se concentravam nos grandes trios elétricos. Já se podia brincar o carnaval na sede do Vitória que ficava então em Amaralina. Nas ruas se via o bloco carnavalesco Os internacionais e ainda dava pra levar a família pra Avenida Sete. Chegávamos pela manhã e levávamos nossas cadeiras amarrando-as ás que lá haviam. Quando chegávamos á noitinha para o desfile ainda estavam lá, acreditem se quiserem, ninguém roubava!

Nessa época é que ocorreu a inauguração do anel superior da Fonte Nova. Meu pai, desde os anos 50 vinha tendo atuação constante no mercado da engenharia civil do estado. Pra saber das obras e agilizar o pagamento dos serviços contava com conhecidos na máquina governamental. Durante vários anos, entre 1955 e 1973, trabalhou no antigo Departamento de Energia, sob a chefia de Lídio, inclusive quando Tarcísio Vieira de Melo “mandava” no setor onde meu pai varou dezenas de municípios para levar energia elétrica. Durante o primeiro governo ACM era com Barbosa Romeu, da Casa Civil, com quem procurava agilizar o empenho de suas notas.

Em 1969 meu pai, e seu irmão José Carvalho, criariam uma nova firma, a EMBACIL, em função das obras de iluminação da ampliação do Estádio da Fonte Nova. Desta forma, ao fim do primeiro governo de ACM lidei com a minha primeira greve, só que do lado patronal, o da empresa dos irmãos Carvalho. Era fim de semana, quando os operários costumavam receber, e o banco estava muito cheio. Assim, meu tio acabou atrasando o horário do pagamento do pessoal.

Foi um sufoco para meu pai. Eu e meu irmão tivemos de ir ajudar. Os operários foram para o escritório, que funcionava no próprio estádio, e fizeram um escarcéu, exigindo o pagamento. Ajudei a colocar um balcão pra separar a administração do pessoal em fúria. Nunca tinha visto aquilo! Tentamos contemporizar e pedimos para aguardar. Naquele tempo não tinha celular então não podíamos saber quanto tempo ia demorar meu tio no banco. Quando o dinheiro chegou foi um alívio. Nunca mais a EMBACIL foi buscar o dinheiro na hora. Meu tio passou a ser um dos primeiros a chegar ao Banco de Crédito Real que ficava ali no Relógio de São Pedro.

Depois a empresa levou meses pra receber. Como a obra foi encomendada pelo governador Luiz Viana Filho a empresa teve que fazer um acordo com o governador ACM sendo obrigado a dar 25% de desconto. Até hoje meu pai fala nisso! Acho que os outros empreiteiros, como Norberto Odebrecht e Nilton Simas, passaram pela mesma chantagem!

As obras acrescentaram um anel superior ao primeiro lance de arquibancadas que existia desde os anos 50. Sua capacidade aumentava de 40.000 para mais de 90.000 pessoas. Os jogos inaugurais ocorreram no dia 4 de março de 1971. Nesse dia estava “socado” de gente. Depois divulgaram um público de 94.000 pessoas, mas acredito que havia mais de 120.000, inclusive por terem mandado abrir as portas.

Havia ficado aborrecido na preliminar, quando nosso arquirrival ganhou do Flamengo por dois a um e, na partida principal, já estávamos tomando um a zero do Grêmio. Estávamos sentados na parte de cima da torcida do Vitória quando vimos o mundo vir abaixo no segundo tempo.

Não sabíamos quem e como havia começado, apenas víamos um mar de gente correndo e caindo do segundo para o primeiro nível das arquibancadas. Parecia leite derramando! Na torcida do Vitória todo mundo corria não se sabendo bem pra onde, pois o estádio “balançava” provocando uma verdadeira histeria coletiva parecendo mesmo que ia cair.

Nesse dia eu passei vergonha, pois morri de medo! Abandonei o meu irmão menor e saí correndo me pendurando na grade que separava a arquibancada do setor das cadeiras. Enquanto isto já via gente se jogando no fosso e adentrando o campo que já abrigava milhares de pessoas. Mesmo lotada a torcida do Vitória esvaziou em poucos minutos. Depois de algum tempo pendurado, e com a redução dos tremores, me dei conta do ridículo da minha atitude. Ora, se o estádio fosse cair mesmo, pouco iria adiantar estar pendurado na grade!

Só aí me lembrei de meu querido irmão, procurando ver onde estava. O descobri então um pouco atrás, pendurado como muitos na mesma grade. É que vários imitaram o meu gesto desesperado! Olhamos então o estrago à nossa volta. Vimos dezenas de milhares de pessoas andando a esmo. Outros milhares estavam no campo, muitos estirados imóveis, outros sendo socorridos, e ainda outros sendo levados por ambulâncias.

Imaginamos então o que nossos pais deviam estar pensando e então subimos a Ladeira da Fonte Nova de volta pra casa. Debitei á censura reinante os números divulgados pela imprensa, de dois mortos e dois mil feridos! Até hoje se divulga esta versão esquecendo que estávamos numa ditadura. Acho sim, que foi esta a maior tragédia da história da Fonte Nova e do Brasil e nunca a esquecerei.

Circularam na imprensa várias versões sobre o que teria ocorrido. Uma delas afirmava que uma lâmpada havia explodido outra que teria havido uma briga envolvendo várias pessoas. Independente do motivo em minha opinião o que pesou mesmo no incidente foi o inconsciente coletivo. É que durante as semanas anteriores os meios de comunicação deram ampla cobertura a uma discussão sobre a segurança do estádio com alguns especialistas levantando dúvidas. Um deles foi o radialista França Teixeira.

A política não poderia ficar de fora. Nas proximidades do estádio vi uma pichação contra o governo militar, que soube muito tempo depois tratar-se de uma iniciativa da Ação Popular-AP, pois a inauguração teve a presença do general-presidente Garrastazu Médici.

O ano que o Vitória passou o Ypiranga em títulos

Quando éramos jovens, eu meu irmão “Toinho” subíamos muitas vezes a Ladeira da Fonte Nova de “cabeça inchada”. Morávamos ali perto e economizávamos o dinheiro do transporte. Ao chegar a casa dizíamos de má vontade o resultado a nosso pai. Sempre tivemos vontade de lhe perguntar por que tinha nos feito torcer pro EC Vitória. Mas nunca tivemos coragem!

Hoje dá gosto ver o nosso estádio, o Barradão, os dezenas de campeonatos baianos e do Nordeste que o rubro negro conquistou as participações gloriosas em certames nacionais, e a sua grande e exigente torcida que cresce a cada dia. Naquele tempo, porém, era dose! Quando me entendi como gente o Vitória era o “leão da Barra”, mas não tinha este nome porque “papava” títulos. E sim por motivo de um barco do clube ido do Porto da Barra aos Tainheiros no início do século passado, e depois fazer de sua sede o histórico bairro aonde chegaram e saíram os portugueses, em 1549 pra fundar a cidade, e em 1823 no nosso Dois de julho.

Durante 80 anos, o meu rubro negro não era mais que um clube que só ganhava no bairro de Nazaré, em torno do qual se localizaram o antigo campo da Pólvora e a Fonte Nova. No primeiro ganhou um Bicampeonato, em 1908/1909. Quando o certame passou a ser disputado no Rio Vermelho e, mais tarde, na Graça, o Vitória sumiu. Detém o Record negativo de passar 44 anos sem ser campeão. Nem o Corinthians conseguiu isto! È claro que estou falando aqui da raiva que sentia naquelas ocasiões. Só muito depois é que fui saber que o clube saiu por duas vezes do campeonato e que durante muito tempo não aceitou de verdade o profissionalismo.

Mas voltando as minhas decepções. Meu pai casou e me teve sem ver seu clube do coração ser campeão. Só os espíritos explicam como ele foi parar no Vitória, onde praticou remo, basquete e jogou futebol! Tem muito rubro negro que diz que a Fonte Nova é “a casa do Bahia”, mas não sabe que foi quando esta surgiu que o clube acabou seu jejum de títulos. Na era de Martins Catharino organizaria um “timaço”, onde pontificavam Quarentinha, Teotônio, Pinguela, Nadinho e outros, que nos dariam o título por três vezes alternadas, em 1953, 1955 e 1957. Mas isso não me consolava na época, pois tinha ocorrido quando eu era criança, mesmo que meu pai me levasse pra entrar com o time em campo!

Embora eu e meu irmão fôssemos ao estádio desde 1961 só íamos acompanhados do “velho”. Só três anos depois é que iriamos sós, naturalmente com o patrocínio de “painho”. Quando este estava viajando minha saudosa mãe Helena tirava dinheiro da despesa pra gente poder ir aos jogos. E não é que o Vitória escolheu exatamente o ano do golpe pra ser campeão repetindo o feito no ano seguinte!

Naquele tempo éramos como “seu sete”, passando pelo menos sete anos para colocar a mão na taça. Depois de 1957, e do “bi” em 1964/1965, a próxima só ocorreria em 1972 e, daí, esperamos 1980. As coisas só mudariam na nova década. Pra quem entrou na ditadura militar ganhando, foi exatamente o fim desta que permitiu o alavancamento do Vitória. Voltamos a ganhar o título no mesmo ano em que os generais se despediram. Chegamos então a nossa história de hoje, o nosso título de 1989. Até aquela época o EC Vitória só tinha dez títulos de campeão baiano estando empatado com o Ypiranga em segundo lugar.

Eu naquele tempo era militante político “de carteirinha” e levava uma vida muito atribulada. Além disto, a esquerda da época tinha muitos preconceitos contra o futebol, reputando-lhe como “ópio do povo”. Assim, eu tinha muitas brigas para evitar certas reuniões e ir aos jogos. 1989 foi um dos anos mais importante para o Brasil. Eu o considero o “nosso 68”. Ali aconteceu de tudo. Entre outras coisas, os brasileiros iriam voltar a votar para presidente após 29 anos, o muro de Berlim cairia, e Waldir Pires renunciaria ao governo da Bahia.

O ano começou com os jogos finais da Copa União do ano anterior. O EC Bahia tinha chegado ás finais para a histórica decisão onde ganhou aqui (2 X 1) e empatou em Porto Alegre a zero com o Internacional. Após o certame, porém, o tricolor foi perdendo peças importantes atraídos pela dinheirama do Sul. Bobô, por exemplo, iria para o São Paulo, naquela época vendida por algo em torno de um milhão de dólares.
No carnaval já pudemos sentir o interesse pelas eleições, e eu já me engajava na de Luís Inácio da Silva, o “Lula”. Neste ano foi organizado o bloco carnavalesco do Partido dos Trabalhadores – PT, iniciativa que, mesmo que tenha perdurado apenas por alguns anos, permitiu estender a ação do partido a nossa maior festa ao tempo em que promovia a divulgação dos nossos signos e do agora candidato a presidente.

Depois da nossa maior festa começou o campeonato, onde eu, apesar dos compromissos políticos, acompanhava com atenção os jogos, seja pelos jornais, seja pela rádio. O certame tinha nesta época um regulamento complicadíssimo. Era pra ninguém entender mesmo! Além disto, se arrastaria por quase todo o ano em função do novo calendário, onde havia agora dois torneios nacionais, a Copa Brasil (iniciada este ano) e o Brasileiro. Além disto, o EC Bahia iria disputar a Taça Libertadores. Os clubes tiveram de participar de quatro turnos e ainda houve “jogos finais”, onde participaram o(s) campeão (ões) dos turnos (que ficavam com apenas um ponto). Inventaram que os dois clubes melhores colocados no computo geral deveriam ir para estas finais, mesmo sem pontos! Cada time jogava dois turnos dentro de seus grupos e dois com os adversários do outro grupo. O Vitória caiu inicialmente no grupo “B”.

Nesse ano estávamos muito preocupados com o EC Bahia. Se havia sido campeão nacional imagine o que faria no campeonato baiano! De qualquer forma o tricolor começou o campeonato baiano perdendo logo “de cara” pro Galícia por uma zero. O resultado nos animaria se não houvéssemos também perdido em Feira de Santana para o Fluminense (0 X 2).

Depois, porém, o rubro negro engrenou. Ganhamos do Botafogo (3 X 0), do Serrano fora de casa (1 X 0), e do próprio Bahia (2 X 1). O Fluminense ganhou o outro grupo. Mas também se classificaram os clubes que ficaram em segundo lugar. O quadrangular final foi muito difícil. O Vitória só ganhou da catuense (1 X 0), empatando com o Bahia (1 X 1) e o Fluminense (0 X 0). Teve, assim, que decidir o turno numa disputa extra com este último onde ganhou pelo escore mínimo. Nesse turno eu assisti no máximo uns dois jogos, e me lembro de ter ido á decisão, embora só tenha lembranças políticas na ocasião. Lembro-me que nosso rival ficou em último no quadrangular.

O segundo turno começou em maio. Eu apresentei o tradicional ato do Dia dos Trabalhadores, que foi realizado no Campo Grande promovido pela CUT e CSC e que reuniu umas mil pessoas. O PT comemorou dez anos na ocasião. Dois dias depois, quando começava o novo turno, repete-se o ocorrido do ano anterior. Nilo Coelho, substituindo o governador Waldir Pires, assinaria o decreto 2392, verdadeiro “presente de grego” para os servidores estaduais, rescindindo todos os contratos assinados após cinco de outubro de 1983. Duas semanas depois meu primo Waldir renunciaria ao governo da Bahia decepcionando milhões de eleitores. Na mesma época eu perderia meu colega de orquestra, o compositor, regente e instrumentista Lindemberg Cardoso.

Mas voltemos pra confusão do nosso futebol. No segundo turno o Vitória passou pro grupo “A”. Durma-se com um barulho destes! Mas seria de novo o primeiro no grupo. Para isto ganharia do Galícia (2 X 1) e do Itabuna (2 X 0), não dando sorte apenas com os times de Alagoinhas, empatando com o Atlético (2 X 2) e perdendo pra Catuense (0 X 2). O outro grupo quem ganharia seria o Bahia. Serrano e Galícia vieram, na condição de vices, disputar o quadrangular final.

Em maio estava no maior sufoco da militância, não havendo desculpa que “colasse” para ir ao estádio. Mas, pra escândalo dos meus companheiros, eu levava um “radinho” (o pior é que não era pequeno) pras reuniões. Não ficava ligado, mas toda hora eu “ia ao sanitário” pra ver como estava o jogo. Eu esperava o mesmo comportamento do Vitória no primeiro turno, mas fomos um desastre! Ficamos em último lugar, perdendo pra Serrano (0 X 1) e Bahia (0 x 2), só conseguindo um empate, a duras penas, com o Galícia (3 X 3). Pra piorar a situação nosso arquirrival campeão brasileiro ficaria com o turno.

O jeito era esperar o terceiro turno. Estávamos em época de São João. As demissões de servidores estaduais continuavam, e milhares de colegas eram incluídos nas listas. Ao mesmo tempo Luiz Arthur de Carvalho era convidado para voltar a Secretaria de Segurança na cota do grupo robertista. Ele trazia tristes lembranças pra mim, que fui preso duas vezes quando ele ocupou este cargo. Nilo Coelho havia se reaproximado de ACM e do governo Sarney, quando este último aproveitou pra alterar a sua posição de má vontade para com a Bahia. Salvador batia o Record de carestia no Brasil. Eu ficaria muito sentido com a morte de três grandes músicos, Luiz Gonzaga, Herbert Von Karajan e Raul Seixas, grandiosos interpretes dos universos sertanejos e bethoveniano e da rebeldia da minha juventude.

Enquanto isto acontecia o Vitória voltava pro grupo “A” e continuava dando vexame! Começou ganhando do Galícia (2 X 1), mas depois teve duas incríveis derrotas, caindo de 3 X 1 para o Bahia e de 5 X 3(!) para a Catuense. Quando ouvi esta última pelo rádio mal acreditei no que acontecia. Até o pessoal da militância fez gozações com a minha cara! Parecia que estávamos nos despedindo do campeonato, onde mais uma vez o Vitória começava bem e acabava mal. O time depois reagiu, surpreendentemente, ganhando fora de casa do Itabuna (4 X 0) e do Atlético (1 X 0), mas não se classificou para o quadrangular decisivo. E, neste, houve mais uma vitória do Bahia. Agora o tricolor levava dois pontos e nós apenas um para as finais.

Mas havia turnos á vontade num campeonato que se arrastou durante sete meses. No quarto turno (vão contando) o Vitória ficaria só em segundo na sua chave, sendo superado por um Leônico que subia de produção. O rubro negro ganhou três, Serrano (2 X 0), Fluminense (3 X 1) e Botafogo (1 X 0), mas sentimos um suor frio lembrando-se da perda do “tri” em 1966 quando perdemos para o time grená por um a zero. O Bahia, em boa fase, ganhava o seu grupo.

Neste período tive que viajar ao 6º Encontro Nacional do PT, ocorrido num colégio de São Paulo, de maneira que não assisti nenhum jogo da fase classificatória. Mas a reunião era importante. Nela a campanha da Frente Brasil Popular dava a arrancada final, e aprovaria as diretrizes para o programa e o plano de ação do nosso “futuro governo”. No entanto, havia verificado que tínhamos formulações ambíguas. Eu mesmo fiz críticas a certas teses dos economistas do partido. A reunião acabou convocando um Encontro Nacional Extraordinário para discutir a tática do partido para o 2º turno, onde poucos esperavam estarmos presentes.

Bem, mas vamos voltar para o decisivo quarto turno. O Bahia não podia ganhar de forma nenhuma. Senão levaria três pontos para as finais! O quadrangular ocorreu em agosto, quando esquentava a campanha presidencial. Fernando Collor estava disparado e Brizola e Lula disputavam palmo a palmo quem iria pro segundo turno. Quem saiu na frente foi o Galícia, ao vencer o Leônico por um a zero, enquanto Bahia e Vitória empatavam (1 X 1) com a minha presença no estádio.

Depois desta partida o rubro negro ignoraria os demais adversários, vencendo bem o Leônico (3 X 1) e o Galícia (2 X 0). Acompanhei as duas partidas pelo rádio e vibrei com o resultado. Agora estava tudo empatado! Mas, para quem se preparava pra decidir com o Bahia, o regulamento era uma bruta tapeação. Lembro-me que tive de explicar para várias pessoas como funcionava. Imagine que depois de darem duro pra ganhar dois turnos cada um o Bahia e o Vitória disputariam as finais com apenas dois pontos, enquanto a Catuense e o Leônico entravam “de mão beijada” por terem ficado “no computo geral” em terceiro e quarto lugares!
Esta incoerência logo seria cobrada, pois a Catuense se agigantou nas finais enquanto o Leônico não deu nem “pra melar”. Na primeira rodada o Bahia passou fácil pelo “moleque travesso” (3 X 0) enquanto o Vitória sofreria para enfiar um a zero na “laranja mecânica”. Esta, entretanto, só perderia este jogo. Logo arrancaria um empate a zero com o tricolor enquanto penávamos de novo, agora pra ganhar do Leônico, novamente pelo escore mínimo. O primeiro turno da fase final (conseguiram entender?) se completaria com um empata a zero no BA-VI, ao qual eu compareci a muque, enquanto a Catuense ganha do Leônico com folga por 3 X 1. O Vitória dobrava na liderança com 5 pontos, enquanto o Bahia tinha quatro e a Catuense três. Já o Leônico havia perdido todas.

Enquanto ocorriam as finais a política estava muito agitada. Havia mais uma tentativa de Sarney de promover um pacto social ao tempo em que anuncia o enxugamento da máquina administrativa. Chega a falar-se em antecipação da posse do novo presidente para frear a inflação. O movimento da Praça da Paz Celestial na China é pesadamente reprimido e se aprofunda o debacle dos regimes burocráticos do Leste Europeu em meio a grande alarde da mídia.
Desde o primeiro turno todo tipo de boato era divulgado para buscar aumentar a rejeição de Lula e Brizola junto á população. Era evidente a atuação das elites do país para domesticar um provável segundo turno. De última hora ainda surgiu à candidatura do animador Silvio Santos que acabou cassada porque iria desmoralizar inteiramente o processo político. Às vésperas da eleição a mídia deu grande destaque a atos de saque e depredação.
Em Salvador, os estudantes secundaristas realizam enorme protesto de dois dias. Vinha de taxi neste dia e quando o carro entrou na Avenida Joana Angélica fiquei emocionado! Milhares de jovens das escolas dos bairros de Nazaré e Barbalho vinham em direção á Praça da Piedade. Não dava pra passar, e nem eu queria passar! Saltei então e segui, inebriado, a passeata que lotou a praça e seus arredores, e, após certo tempo, se dirigiu para a Praça Municipal. Mas só quando cheguei em casa é que soube da pesada repressão da polícia. A repercussão negativa deu lugar um novo ato no dia posterior com os estudantes desta vez tomando contra da praça.

Bem, mas voltemos a “fase final das finais”, que começou apertando tudo! O Bahia ganhou novamente do Leônico (1 X 0) enquanto Vitória e Catuense empatavam (1 X 1). Agora a dupla BA-VI tinha 6 pontos e o time de Alagoinhas apertava os seus calcanhares. Mas de grão em grão o Vitória “encheria o papo”. Seis dias após a data comemorativa da independência do país o rubro negro ganharia de novo do Leônico por um a zero enquanto o Bahia caía de quatro a dois para a Catuense! Nesse dia fui umas vinte vezes no sanitário pra ouvir o andamento do jogo! Agora só bastava um empate, e o próximo jogo era contra o Bahia. Não havia motivo que pudesse me tirar desse jogo, mesmo o fato de ocorrer a apenas duas semanas do primeiro turno das eleições.

Lembro que levei uns panfletos e fiquei sozinho panfletando na Ladeira da Fonte Nova. Mas, como o estádio estava enchendo rapidamente, não fiquei muito tempo nesta tarefa, indo logo pro meu lugar no lado esquerdo das cabines de rádio. Arranjei lugar com dificuldade, pois estava cheio. Tive que sentar nos degraus. Lembro-me que foi um jogo muito preso. O Bahia não se arriscou muito no primeiro tempo. Parecia que ambos os times estavam com medo do outro. Mas o Vitória “administrava”. Promoveu alguns ataques pelas pontas. Marcou bem o bom meio de campo do tricolor. Ao final, foi só chutar bolas pra todos os lados pra garantir o resultado. Nesse dia demorei pra sair da Fonte Nova em meio á comemoração.

Uma semana depois Collor e Lula realizam comícios em Salvador, o primeiro no Farol da Barra e o segundo na Praça Castro Alves. Eu ainda estava comemorando o título e queria comemorar também a eleição de Lula. O ato reuniu, como o de Collor, em torno de 50.000 pessoas, e contou com a presença do vice José Bisol (senador do PSB), assim como os presidentes nacionais dos partidos da Frente Brasil Popular, diversos parlamentares, e artistas como Sivuca, Roberto Mendes, Bereba e Jorge Portugal.

Três dias depois foi à vez de Ulysses Guimarães fazer comício no Largo do Tanque. Estiveram presentes Waldir, Roberto Santos, a chapa majoritária, Nilo Coelho, prefeitos e secretários. No mesmo dia Roberto Freire, candidato do PCB, faz comício no Largo da Mariquita. No outro dia o Instituto Data Folha apresenta a última pesquisa eleitoral, que dá 27% de intenções de voto para Collor, 15% pra Lula, 14% pra Brizola, 11% para Covas, 9% pra Maluf, 5,5% pra Afif, 4% pra Ulysses e 2% para Roberto Freire.
Pronto! Eu tinha tido duas alegrias este ano, ver o Vitória voltar a ser campeão e ir ao segundo turno pra disputar a presidência da república! Mas depois foi só decepção. Perdemos a eleição pra Collor e o Vitória (mas também o Bahia) me enganaria. Ficaria em 17º lugar no Campeonato Brasileiro tendo que participar do Torneio “da morte” para ver quem desceria para a segunda divisão, só conseguindo escapar graças aos gols salvadores de Hugo. Mas aí é outra história. .