Arquivo do Autor: Ramssés Silva

Sobre Ramssés Silva

Meus assuntos de interesse são as histórias referentes aos clubes de futebol, em especial do Maranhão; hinos, escudos, curiosidades, origens e qualquer outro assunto relacionado.

Fausto dos Santos, a “Maravilha Negra”

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Sempre que tem oportunidade de participar de encontros envolvendo o futebol brasileiro, o radialista Haroldo Silva, com uma larga folha de serviços prestados a esse esporte, inicia sua participação da seguinte forma:

– “Senhores e senhoras, sintam-se à vontade na terra onde nasceram Fausto dos Santos e Canhoteiro.” Isto, se o evento envolver convidados de outros estados, e acontecer em São Luís.

Quando o evento acontece em outro Estado, Haroldo Silva tem o hábito de se pronunciar da seguinte forma:

– “Senhores e senhoras, permitam-me dizer, inicialmente, que estamos vindo da terra de Fausto e Canhoteiro.”

Com isso, o renomado radialista, com a experiência de ter participado das transmissões de três copas do mundo de futebol, demonstra o respeito e, principalmente, a importância que esses dois nomes têm para o futebol maranhense e brasileiro. Já abordamos, aqui, o ídolo Canhoteiro. Hoje é o dia de Fausto dos Santos, ou simplesmente, Fausto, cognominado de “Maravilha Negra” que, se vivo fosse, completaria em 28 de janeiro de 2008, exatos 103 anos.

Por algum motivo que desconhecemos – e Haroldo Silva qualquer dia desses vai abordar o assunto, e talvez consiga explicar no livro que está escrevendo sobre a exuberância participativa do negro no futebol – os historiadores e pesquisadores do futebol brasileiro nunca revelaram os nomes dos pais de Fausto dos Santos. Permitem, isso sim, imaginar, que Fausto, por ser apenas “dos Santos”, seria filho de mãe solteira. Mas isto não vem ao caso. Pois, Fausto dos Santos nasceu no dia 28 de janeiro de 1905, no município maranhense de Codó.

Afirma o jornalista Dejard Ramos Martins, no seu livro “ESPORTE – Um mergulho no tempo”, editado em 1989, que: “Fausto dos Santos deixou sua terra natal, a então pacata cidade maranhense de Codó, ainda criança. Era filho de pais pobres. No entanto ele seria um predestinado para maravilhar o mundo esportivo. A família arrumou a bagagem e mudou-se. Foi fixar residência no Rio de Janeiro. Na adolescência deu seus primeiros passos no manejo da bola. Aos poucos passou a ser observado pelos olheiros e cobiçado por quase todos os clubes cariocas. Desde os 12 anos chamava a atenção do bairro. Quando chegou à adolescência vieram os elogios da crítica carioca. Na juventude era um craque perfeito. Preto, alto, muito magro, mas muito futebol. Lamentavelmente enveredou por falsos caminhos e tornou-se um boêmio inveterado. A fama subiu-lhe à cabeça. Não estava preparado para ser tão cobiçado. Não soube dosar a consagração.”

Fausto, com absoluta certeza, e por conta do depoimento de muitos que viram a exuberância do seu futebol, foi um dos mais brilhantes meio-campistas de todos os tempos. Convocado para a seleção brasileira na Copa do Mundo de 1930, conseguiu escapar do fracasso do time nacional e chegou a ganhar da imprensa uruguaia o apelido de “A Maravilha Negra”, pela excelência de sua técnica e a firme liderança que exercia em campo.

“Quando Fausto começou a jogar futebol, em 1926, no Bangu, era meia-esquerda. Transferiu-se para o Vasco da Gama em 1928 e passou a jogar como médio volante. Os analistas consideravam-no o mais perfeito marcador da sua época, o homem dos passes mais preciosos de quantos viveram no seu tempo. Sagrou-se campeão carioca em 1929, pelo Vasco da Gama.” (Esporte – um mergulho no tempo – Dejard Martins).

No dia 14 de julho de 1930, a seleção brasileira perdeu para a Iugoslávia por 2 a 1, em jogo realizado no Parque Central, em Montevidéu, no Uruguai, jogo da Copa do Mundo. No jogo em que foi registrada a presença de 5.000 torcedores e que teve a arbitragem de Aníbal Tejada, do Uruguai, a seleção brasileira entrou em campo com: Joel; Brilhante e Itália; Hermógenes, Fausto e Fernando Giudicelli; Poly, Nilo, Araken, Preguinho e Theóphilo. O Técnico foi Píndaro de Carvalho Rodrigues. O gol brasileiro foi marcado por Preguinho (filho do escritor maranhense Coelho Netto, aos 16 minutos do segundo tempo, quando o placar era 2 a 0 para a Iugoslávia. Fausto e Preguinho, este pelo gol, foram os únicos do selecionado brasileiro a receber elogios.

Na mesma Copa do Mundo de 1930, o Brasil enfrentaria em seguida o selecionado da Bolívia, vencendo por 4 a 0, com gols de Moderato (2) e Preguinho (2). Píndaro de Carvalho Rodrigues mandaria campo a seguinte formação brasileira: Velloso; Zé Luiz e Itália; Hermógenes, Fausto e Fernando Giudicelli; Benedito, Russinho, Carvalho Leite, Preguinho e Moderato.

Depois de começar carreira profissionalmente no Bangu Atlético Clube, em 1926, Fausto dos Santos se transferiu para o Clube de Regatas Vasco da Gama, onde permaneceu, de 1928 até 1930. Ali foi convocado para a seleção brasileira. Renomado, famoso, transferiu-se para o Barcelona da Espanha, em 1931. Jogou na Europa numa época de muita discriminação racial. A boemia acabou afetando o seu estado físico.

“Entretanto, já famoso no Brasil, Fausto dos Santos só conseguiu se projetar internacional em virtude das boas atuações na Copa do Mundo de 1930, em Montevidéu, no Uruguai. Depois disso, o zagueiro se transferiria para o Barcelona, da Espanha. A tuberculose já acometera Fausto dos Santos, que aproveitou para fazer um tratamento especializado na Suíça, em 1932, atuando também pelo Young Fellows.” (Esporte – um mergulho no tempo – Dejard Martins).

Voltou ao Brasil e ao Rio de Janeiro em 1933, seis quilos mais magro. Eram os sintomas da tuberculose. Entretanto, em 1934, aparentemente recuperado, Fausto voltaria a defender o Vasco da Gama, de onde se transferiria, novamente, em 1935, para o Nacional do Uruguai.

De volta mais uma vez ao Rio de Janeiro, Fausto dos Santos foi contratado pelo Flamengo, onde encontrou o técnico húngaro Dori Krusch que resolveu escalá-lo na zaga, entendo que isso seria menos desgastante para o jogador. Fausto não aceitou a decisão e levou o clube à Justiça, mas perdeu a causa.

Depois de longa internação no Hospital São Sebastião, no Rio de Janeiro, foi transferido para o Sanatório Municipal de Santos Dumont/MG, onde faleceu no dia 28 de março de 1939, aos 34 anos de idade.

Fausto, maranhense de Codó, conseguiu apenas dois títulos nacionais: campeão carioca em 1929 e 1934, ambos pelo Clube de Regatas Vasco da Gama.

FONTE:

http://www.jornalpequeno.com.br/blog/oliveiraramos/?p=98

Grandes Goleadas – Sampaio Corrêa FC x Brasil Fora de Série (reportagem SporTV)

imagesCASJ6VU2Tricolor de São Pantaleão, Bolívia Querida de Maior Torcida, Time de Escol ou, simplesmente SAMPAIO!

Conheça um pouco dos quase 90 anos de história de um dos clubes mais tradicionais do Maranhão e do Nordeste, através de acontecimentos pitorescos, tendo como pano de fundo o Campeonato Brasileiro da Série D, de 2010 e o massacre do 1º jogo das Oitavas de Final, onde o Sampaio venceu o CSA de Alagoas por 5×0 no Estádio Municipal Nhozinho Santos, na capital maranhense:

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FONTE:

Canal faraooh – Youtube

O Hino do FAC (Foot-ball Athletic Club) de São Luís em 1916

O hino do FAC, clube de futebol pioneiro em São Luís, (antigo Fabril Athletic Club, resurgido em 1916 como Foot-ball Athletic Club), intitulado “Canto da Vitória”, revelava a força que o clube atribuía a si, fato aliás comum a todos os hinos:

“Aléguap – Aléguap. | Hipp – Hurrah.

Canto:

Ao campo, à luta | A vós se escuta | De uma vitória,

Vamos, gigantes, | E confiantes. | De ter a glória

Lutar, lutar.| Sem descansar | Um só momento;

Para vencer,| Tudo fazer,| Sem desalento!

(coro estribilho)

Lutemos todos pela vitória,| Guardando a glória|

Que ela nos dê:

Voltando grande, puro e eloqüente| Somos ardente|

Ao F.A.C.| Mostremos que na nossa camisa,| Uma divisa| Nobre se lê

Por juventude forte e viril!| Pelo Brasil!| Pelo F.A.C.

(canto)

E tremular| Com honra e valor,| Sempre a bandeira

Linda, altaneira,| Do tricolor.| Que cada um,

Dizê-lo possa,| Forte e potente| E altivamente:|

Aquela é nossa!!!

(coro estribilho)

Lutemos pela vitória,| Guardando a glória| Etc., etc., etc.”

O FAC dominou o cenário futebolístico local durante muito tempo, ficando conhecido, inclusive, fora do Estado através de seus intercâmbios e parcerias mas, a partir de 1918, ganhou um adversário de peso na capital maranhense, o SC Luso Brasileiro, com o qual teve confrontos memoráveis, surgindo, daí, grande rivalidade. Isso tudo antes do surgimento de Sampaio Corrêa, Moto Club e Maranhão Atlético Clube ou seja, antes de 1923, mas essa já é uma outra história…

FONTE:

Claunísio Amorim Carvalho

“Terra, grama e paralelepípedos (os primeiros tempos do futebol em São Luís: 1906-1930)”

Ed. Café & Lápis, São Luís, 2009.

Nota na imprensa sobre a reinauguração do FAC (Football Athletic Club) de São Luís, em 1916

O F. A. Clube

“Decorreu animadíssimo o baile á fantasia realisado na noite de ante-ontem, pelo F. A. Clube, na sua séde á rua Grande, para comemorar a sua inauguração oficial.

O confortável edifício apresenta garrida ornamentação, quer externa, quer internamente, a par da mais profusa iluminação.

Os seus vastos salões, artisticamente engalanados, realçavam esplendidamente com a bonita ornamentação que ostentavam, com as cores do clube ‘White’, ‘Black’ e ‘Red’, o que lhes emprestava tons verdadeiramente lindos e de grande efeito.

Ás vinte e uma horas era já grande o numero de sócios e convidados, quando se realisou a cerimônia inaugural da sociedade. Á meza, presidida pelo sr. Joaquim R. Lopes da Silva, presidente da assembléa geral, ladeado pelos secretários srs. Joaquim Belchior e Horacio Aranha, tomaram assento os srs. Tenente Bessa Cunha, representante do sr. governador do Estado, e coronel Joaquim M. Alves dos Santos, presidente da diretoria, proferindo o presidente da assembléa rápida alocução alusiva á solenidade, declarando oficialmente inaugurado o F. A. Club.

Minutos após, quando os vastos salões da simpática sociedade já regurjitavam de convidados, tiveram inicio as danças, que se prolongaram até as 3 horas da madrugada, no meio da mais alegre animação.

Foi indubitavelmente uma festa brilhante, a que acorreu o que a nossa sociedade tem de mais seleto, e que marcará, estamos certos, época na vida do Clube, deixando tambem saudosa recordação em quantos lá estiveram, por isso que os distintos moços do Clube não pouparam esforços para o realce que a sua festa obteve, cumulando a todos das mais significativas provas de gentileza e atenções.

Ainda em complemento ao inolvidável baile de antehontem, quizeram novamente os diretores do clube reunir hontem, em volta do ‘ground’ de ‘foot-ball’, a mesma sociedade de escol que sabado freqüentava os seus salões. Deu começo á festa esportiva o 1.º concurso grotesco (maçãs em água salgada), do qual foi vencedor Travassos; em seguida realisaram-se mais quatro concursos (boxe com olho vendado, sem resultado), quebrar botes cheios dagua com olhos vendados, saindo vencedor – Nova; (Place-kick), que ficou tambem prejudicado; luta de tração, entre os ‘teams’ ‘Black’ e ‘Red’, sendo vencedor ‘Red’.

Poucos minutos depois, teve começo o ‘match’ de ‘foot-ball’, entre os ‘teams’ ‘Black’ e ‘White’ e ‘Red’ e ‘White’. Era este o numero do programa que maior interesse despertava entre os jogadores e a assistencia. No primeiro ‘half-time’, os do ‘Black’ lograram vazar, por duas vezes, a área do ‘goal’ dos ‘Red’ e os do ‘Red’ conseguiram marcar um ponto para o seu ‘team’.

No segundo ‘half-time’, porem, os do ‘Red’ conseguiram marcar mais dois ‘goals’ para o seu partido, dando em resultado 3 ‘goals’ do ‘team’ ‘Red’ contra 2 do ‘team’ ‘Black’, sendo portanto o ‘Red’ o vencedor na esplendida festa de hontem, que a simpática sociedade ofereceu á sociedade maranhense.

Estiverem presentes as demoiseles: Virjinia Fernandes, Zezé Jorge, Ana Fonseca, Maria Camões, Amelia Pereira, Herminia Assis, Zila Godinho, Viviva Aranha, Maria da Gloria Aranha, Maria J. Matos, Zulina Aranha, Cecilia e Maria Aranha de Moura, Maria Luiza Braga, Adele Belo, Maria José Belo, Vitoria Gandra, Rosita Castro, Marieta Castro, Maria Galas, Edit e Esmeralda Fernandes, Emilia Andrade, Alix e Esmeralda Estela, Anicota Morais Rego, Suzel Carvalho, Joana Borel, Maria J. C. Castro, Neuza e Amelia C. Cunha, Maria L. Sá, Antoninha Souza, Maria da Gloria Belo, Carmelita Belo, Silvia e Edit Ribeiro, Herminia Veiga, Neide Viana Santos, Santoca Santos, Dora Oliveira, Mundiquinha Blhun, Anabela Fernandes, Zenaide, Carmem e Marieta Lopes, Maria Conceição Machado, Maira Augusta, Anicota e Fracy Godinho, Aldenora Peregrino, e muitas outras.

Madames – Edmundo Fernandes, Henrique Gandra, Horacio Aranha, Almir Valente, José Francisco Jorge, João da Silva Gomes, José de Souza Belo, João Raimundo Pereira, Raul Merys, Albiano Moreira, Jaime Nunes, Carlos O. Morais Rego, Manoel de Carvalho, Artur Meireles, José Lopes da Cunha, Domingos Mendes, Joaquim Pinto Franco de Sá, Artur Belo, Francisco Guimarães de Oliveira, Bernhard Blhum, Manoel G. Moreira Lima, Ezequiel Parada, Francisco Galas, Emilio José Lisboa, Zuleika Beleza, tenente João Duarte, Manoel Pecegueiro, Alfredo Teixeira e outras.

Cavalhairos – entre muitos vimos os srs. dr. Clodomir Cardoso, intendente municipal; dr. Antonio Boas, secretario do intendente; dr. Raul Pereira, oficinete do gabinete do governador e o seu ajudante de ordens, tenente Bessa Cunha, capitão-tenente Artur Lima Meireles, comandante da Escola de Aprendizes Marinheiros, tenente João Duarte, capitão do porto, dr. Alberto Correia Lima, secretario da fazenda, Manoel Gomes de Castro e Licurgo Chagas, representando o Central Caixeiral; coronel Manoel Vieira Nina, Joaquim Ribeiro Lopes da Silva, Joaquim Freitas Belchior e Horacio C. Aranha. Joaquim M. A. Santos, Charles E. Clissold, Humberto Fonseca, Saturnino Belo, Edmundo Fernandes, José da Cunha Santos Guimarães, Charles V. Reade, N. T. Scarniam, W. J. MacDonald, Antonio Alves dos Santos, José Mariano Travassos, João Freitas Jorge, José Alves Santos, Acrisio Lobão, José M. Prado Junior, José Francisco Jorge, Antonio Martins, Nelson Oliveira, Inacio Jansen Ferreira, Afonso Gandra, Henrique Gandra, Antonio Wall, João Marcos Almeida, Edgard Nogueira, Julio Gallas, Francisco Furiatti, Bento Labre, José Nova Alves, Pedro Mendes, José Lopes da Cunha, Almir Valente, Carlos O. Morais Rego, João B. Morais Rego Junior, José Camões, Francisco Souza, Vitor R. Viana, Fran Pacheco, Franklin C. Ferreira, Joaquim M. Gomes de Castro, dr. Joaquim Pinto Franco de Sá, Carlos Alberto Ribeiro, Albino Moreira, João Raimundo Pereira, Artur Belo, tenente Osmundo Anequim, dr. Nelson Jansen, Humberto Jansen Ferreira, tenente Olavo Machado, José de Melo, João Viana da Silva, Clarindo Santiago, Manoel de Carvalho, Cleomenes Costa, Manoel G. Moreira Nina, Domingos Mendes, João Teles de Miranda, Ezequiel Parada, Paulino Lopes de Souza, dr. João Silva Almeida, dr. José Barreto C. Rodrigues, Carlos Rodrigues e Alfredo Teixeira.”

FONTE:

Jornal A Pacotilha, 31 de janeiro de 1916, pág. 4.

Sampaio Corrêa – a eterna indecisão na base

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José de Oliveira Ramos (adaptação: Ramssés de Souza Silva)
Contra a importação de “craques”
O soccer maranhense tinha progredido, lamentando-se apenas a mania que tomava vulto da importação desenfreada de “craques” de outros centros, em detrimento dos nossos jogadores. Isso era um desestímulo ao processo de preparação de bons valores, um desprezo à “safra”. Luso e F.A.C. cada dia mais se reforçavam com as importações, trazendo atletas do Amazonas, Pará e outros centros mais desenvolvidos. A importação, como ainda hoje acontece, não obedecia a uma necessidade premente, dentro de uma programação cuidadosamente feita. Era o mesmo ímpeto de hoje: contratar sempre. Pouco havia a preocupação de entremear-se o atleta importado com os nossos nativos.

(ESPORTE – Um mergulho no tempo – Página 463 – Dejard Ramos Martins – Livro editado em 1989)
Fundado no dia 25 de março de 1923 – 86 anos completados – o Sampaio Corrêa Futebol Clube era o representante maranhense no Campeonato Brasileiro da Série C em 2008, programado para ser iniciado no dia 24 de maio, diante do Paysandu, no estádio Mangueirão (ou seria na Curuzu?) em Belém.
Isto, no aspecto chamado profissional, onde o time vivia às turras para conquistar o primeiro turno do Estadual- tarefa nada fácil, como foi demonstrada, haja vista que, dos 9 pontos disputados o time conquistou apenas 4.
O site oficial do clube divulgava o planejamento traçado, acreditava-se na gestão, onde estava destacado o interesse na ascendência para a Série B do Campeonato Brasileiro no ano de 2009. A pouco mais de um mês para a estréia na competição nacional, percebia-se que ainda existe uma nuvem escura “demorando a passar” sobre as hostes do Tricolor de São Pantaleão. O time estava sem treinador. Isto se considerarmos que Arlindo Azevedo foi contratado para comandar a parte física e atlética do clube.
Pela formação que entrou em campo já sob o comando interino de Arlindo (Rodrigo Ramos; Ricardo Feltre, Robinho, Johildo e Almir; Tica, Cristiano, Marcinho e Juninho; Tico Mineiro e Tiago Miracema) e principalmente em função do resultado obtido (1 a 1) o Sampaio Corrêa teria fatalmente muitas dificuldades para ascender à Série B. Dessa formação, o zagueiro Robinho não “era mais” titular. Essa posição pertencia a Leandro.
Quem observar bem vê que, Rodrigo Ramos, Leandro, Almir, Cristiano, Tico Mineiro e Tiago Miracema não são maranhenses. São seis jogadores “oriundi” e esse número foi ainda aumentado para as disputas da competição nacional. E é neste ponto que pretendíamos chegar. Abordar o assunto da formação do elenco profissional, quase sempre com jogadores provenientes de outros estados. Desse elenco quase não fez parte algum jogador maranhense. E por quê? Porque nenhum é trabalhado de forma adequada, como exige o atual futebol.
O Sampaio Corrêa sempre foi assim. É cultural. Quem lembra da formação do time campeão brasileiro de 1972 e de 1997? Pois aí vai. Depois de empate em 1 a 1 no tempo normal diante do Campinense da Paraíba, o tricolor conquistou a vitória por 5 a 4 na cobrança de penalidades, através do zagueiro Neguinho (frise-se, zagueiro “maranhense”). O time realizou 17 jogos, conquistou 8 vitórias, 4 empates e sofreu 5 derrotas. Conquistou 22 pontos. Marcou 19 gols e sofreu 8. Pelezinho foi o artilheiro do time com 8 gols marcados. O time: Jurandir; Célio Rodrigues, Neguinho, Nivaldo e Valdecir Lima; Gojoba, Djalma Campos e Edmilson Leite; Lima, Pelezinho e Jaldemir. Desses, eram maranhenses Célio Rodrigues, Neguinho, Gojoba, Djalma Campos e Pelezinho.
Em 1997 não foi diferente. Com um time comandado pelo técnico Pinho formando com Geraldo; Erly, Gelásio, Ney e Lélis; Luís Almeida, Renato Carioca, Ricardo (Edmilson) e Adãozinho; Jô (Cal) e Marcelo Baron. No time titular não havia sequer um jogador nascido no Maranhão. Foi campeão invicto. O que ficou para o patrimônio? Só a conquista e, certamente, os prejuízos financeiros.
Mas esse último detalhe só serve para confirmar a cultura “boliviana” de não dar o devido e necessário valor ao jogador nativo. É bem verdade que, em 1972, entre os cinco maranhenses do time (Célio Rodrigues, Neguinho, Gojoba, Djalma Campos e Pelezinho), Gojoba e Pelezinho já estavam na curva descendente, depois de alcançarem sucesso no Sport Recife e na seleção brasileira. Célio Rodrigues, Neguinho e Djalma Campos não eram mais tão jovens.
Atualmente, entretanto, em que pese constar do planejamento (e, pelo visto, isto consta apenas do planejamento mesmo e fica muito distante da prática) no seu item 2 (Gestão Futebol Profissional) que prevê “Valorizar os atletas maranhenses (Prata da Casa), adotando políticas de investimento, oferecendo condições de trabalho, para que no futuro o clube possa contar com o seu patrimônio (atleta) e contar com um elenco de atletas genuinamente maranhenses e com o retorno do investimento garantido.” Ou ainda no item 3 (Categoria de Base) que pretende ” – Aprimorar as instalações do CT com criação de alojamentos e vestiários; – Criar o Departamento de Capacitação de Talentos; – Criar Núcleo/Escolinhas na Grande São Luís em áreas adequadas e Pólos em Municípios do Estado, em regime de parcerias, visando também o social com incremento ainda mais as atividades esportivas; – Criar a Escolinha de Futebol Feminino, investindo nessa categoria, objetivando o fortalecimento dessa equipe para disputas de torneios e competições oficiais, haja vista a projeção nacional que essa modalidade tem proporcionado; – Fomentar a participação das Equipes de Base em torneios nacionais e internacionais dando mais experiência aos futuros craques; – Intensificar a política de investir em treinadores e jovens atletas para fortalecer o clube como um todo; – Mantendo o trabalho ascendente em todas as categorias promovendo ações junto aos atletas de base, preparando-os para chegarem ao time profissional prontos para atuar.” – o certo é que o Sampaio Corrêa não consegue sair do papel. Não sai do planejamento e, tanto isso é verdade que, tão logo conclui-se o primeiro turno do campeonato estadual, dirigentes e funcionários do clube viajam procurando contratar reforços para as disputas do Campeonato Brasileiro.
Estranho de tudo isso é que, oficialmente, ninguém sabe do fim ou da continuidade da parceria com o CEFAMA. Até onde se sabe – em que pese constar do Planejamento a construção de espaços e estrutura para o Trabalho de Base, o Sampaio Corrêa continua usando as dependências do CEFAMA, na Maiobinha em que pese a existência de uma área absurdamente grande no Turu. Não existe nenhuma “capacitação de profissionais” para o tal Departamento de Capacitação de Talentos e ninguém sabe da criação de “Núcleos” em São Luís ou em qualquer município do interior do Estado.
O que se sabe, entretanto, é que, num passado que não está muito distante, sem qualquer condição de trabalho e vivendo exclusivamente do empirismo, o ex-funcionário (???) Gil Babaçu – literalmente carregando um saco de material nas costas -, sem qualquer tipo de formação científica e sem um milímetro de apoio, fez surgir Wamberto (embora esse tenha sido adquirido junto ao extinto Ferroviário), William, Toninho, Izaías, Douglas, Donizete, Ronilson, Raí, Roy, Rubenilson, Hamilton Gomes e pelo menos mais de cinco dezenas de jogadores que, apesar das deficiências e da ausência de trabalho qualificado, andaram defendendo a camisa do Sampaio Corrêa com muita garra.
Era o “encarnado” que valorizava as cores da camisa tricolor.
Afirma-se, portanto, que é cultural em qualquer dirigente do Sampaio Corrêa, o “ato de contratar” e contratar sempre e sem qualquer justificativa, como disse na janela na abertura desta matéria, o falecido “boliviano” Dejard Ramos Martins. Parece que formar a base para, a partir daí formar também patrimônio, não é preocupação “boliviana” que exista além do papel e do Planejamento.
Djalma Campos, Rosclin, Luís Carlos, Ivanildo, Paulo Lifor, Bimbinha, Izaías, Ronilson sempre foram mais jogadores do que Fernando Carlos, Lima, Roberto Barra Limpa, Sabará, Dadá, Massaude, Marcelo Baron. Sabem por que? Porque lhes corre nas veias o sangue maranhense.

FONTE:
Sampaio Corrêa – eterna indecisão na base (José de Oliveira Ramos – Jornal Pequeno on line, 8 de abril de 2009)
http://www.jornalpequeno.com.br/2009/4/8/Pagina104249.htm

A padronização na escalação dos jogadores nos primórdios do futebol no Maranhão

O futebol no Maranhão, assim como em outros lugares do país, teve seu início vinculado às elites locais e, portanto, de acesso restrito e segregador. Um esporte de cunho tão nobre quanto este, praticado por homens considerados verdadeiros cavalheiros, exigia certo padrão nos nomes dos atletas, e esta influência é notadamente estrangeira, nos quais se sobressaíam os sobrenomes, mas não estranha aos brasileiros, já que este também foi um legado de nossa colonização portuguesa, a exemplo dos nomes dos intelectuais e políticos a seguir: Gonçalves Dias, Gonçalves de Magalhães, Castro Alves, Deodoro da Fonseca, Machado de Assis, Nina Rodrigues, Campos Sales, Rodrigues Alves, Coelho Netto, Paula Ney, Lima Barreto, Medeiros e Albuquerque, Cruz e Souza, Araújo Porto Alegre, Barbosa de Godóis, Gomes de Sousa, Monteiro Lobato, Veiga Miranda, Oliveira Lima, entre outros. No futebol local isto ocorria, mas a forma como eram nominados os atletas deixa clara a forte influência britânica. Basta ver algumas das interessantes escalações dos primeiros tempos, como as destas equipes do FAC (Fabril Athletic Club) e do Maranhense FC (1910):

TEAM “A”
J. Mário, F. Machado, A. Gandra, F. Campos, A. Santos, J. Gomes, A. Faria, T. Downey, C. Reade, A. Figueiredo.
Capitain – J. Gomes.

TEAM “B”
A. Lima, B. Queiroz, M. A. Santos, A. Vieira, José Ferreira, D. Rodrigues, J. Santos, sobrinho, L. Mello, J. S. Soldatt e C. E. Clissold.
Capitain – C. E. Clissold.

Também na composição de times pequenos, como o União S. Club, a tônica ainda predominava: “J. Marinho, J. Meireles, Bilio, Hilton, Francisco, Custodio, F. Guimarães, Edgar, C. Martins, Carlos B. e J. Gomes. Rezervas: A. Valente e H. Gomes” [sic].
O FAC, o mais influente clube de futebol da época, foi o responsável por uma mudança de iniciativa na padronização das escalações, modificando essa desnecessária rigidez e permitindo o uso de nomes mais simples (Reinaldo, Cláudio, Euclides, Quincas) e até apelidos (Totó, Cutuba, Coroca), e isto deve ser datado a partir de 1916, como nestas escalações dos times internos do clube:

Os teams estão organizados da seguinte forma: – Black & White – Tavares (goal-keeper); Leite e Totó (full backs); Reinaldo, Claudio e Ferreira (half backs); Schloback, Fritz, Lebre, Anequim e Euclides (forwards). – Red & White – Avefar (goal-keeper); Cutuba e Lisboa (full backs); Borjes, Paiva e Quincas (half backs); Novas, Galas, Coroca, Bessa e Travasso (forwards) [sic].

Uma semana depois da partida citada, no jogo interno do FAC, já entre os teams White x Blue, a escalação do primeiro foi a seguinte: Torquatinho, Moleiro, Bananinha, Girafa, Cabo Zé, Camorim, Paraguai, Acari, Coutinho, Sepetiba e Terereca. Daí em diante, a nomenclatura dos atletas não mais se modificou, prevalecendo a utilização dos prenomes e apelidos.
Curiosamente, as funções dos jogadores, os lances da partida, a terminologia do campo, as bolas, os gols, tudo ainda continuava sendo expresso à inglesa, rigorosamente, criando um ambiente que relembrava as origens modernas do foot-ball. E isso perdurou ainda por muito tempo nos gramados do Maranhão.
De 1907 a 1930, o que se via nos jornais, não apenas na Pacotilha (uma das maiores referências jornalísticas do início do futebol maranhense), é um desfilar de palavras em inglês. Até durante as partidas, carinhosamente chamadas de matchs, era possível ouvir as pessoas gritando “hip, hip, hurrah!”, e outras expressões, como no jogo FAC 3×4 Tiradentes (navio), quando a torcida não parou de gritar no velho e bom idioma bretão, como relatam os periódicos da época.
Como é de se imaginar, isso tudo devia soar muito estranhamente aos ouvidos dos que integravam as camadas mais populares, assim como o próprio futebol em si, então um esporte novo, mas de acesso restrito aos cavalheiros de “boa estirpe”, caso também estivessem em dia com suas mensalidades nos clubes onde eram sócios…

FONTE:
Claunísio Amorim Carvalho
“Terra, grama e paralelepípedos (os primeiros tempos do futebol em São Luís: 1906-1930)”, Ed. Café & Lápis, São Luís, 2009.