Fausto dos Santos, a “Maravilha Negra”

fausto

Sempre que tem oportunidade de participar de encontros envolvendo o futebol brasileiro, o radialista Haroldo Silva, com uma larga folha de serviços prestados a esse esporte, inicia sua participação da seguinte forma:

– “Senhores e senhoras, sintam-se à vontade na terra onde nasceram Fausto dos Santos e Canhoteiro.” Isto, se o evento envolver convidados de outros estados, e acontecer em São Luís.

Quando o evento acontece em outro Estado, Haroldo Silva tem o hábito de se pronunciar da seguinte forma:

– “Senhores e senhoras, permitam-me dizer, inicialmente, que estamos vindo da terra de Fausto e Canhoteiro.”

Com isso, o renomado radialista, com a experiência de ter participado das transmissões de três copas do mundo de futebol, demonstra o respeito e, principalmente, a importância que esses dois nomes têm para o futebol maranhense e brasileiro. Já abordamos, aqui, o ídolo Canhoteiro. Hoje é o dia de Fausto dos Santos, ou simplesmente, Fausto, cognominado de “Maravilha Negra” que, se vivo fosse, completaria em 28 de janeiro de 2008, exatos 103 anos.

Por algum motivo que desconhecemos – e Haroldo Silva qualquer dia desses vai abordar o assunto, e talvez consiga explicar no livro que está escrevendo sobre a exuberância participativa do negro no futebol – os historiadores e pesquisadores do futebol brasileiro nunca revelaram os nomes dos pais de Fausto dos Santos. Permitem, isso sim, imaginar, que Fausto, por ser apenas “dos Santos”, seria filho de mãe solteira. Mas isto não vem ao caso. Pois, Fausto dos Santos nasceu no dia 28 de janeiro de 1905, no município maranhense de Codó.

Afirma o jornalista Dejard Ramos Martins, no seu livro “ESPORTE – Um mergulho no tempo”, editado em 1989, que: “Fausto dos Santos deixou sua terra natal, a então pacata cidade maranhense de Codó, ainda criança. Era filho de pais pobres. No entanto ele seria um predestinado para maravilhar o mundo esportivo. A família arrumou a bagagem e mudou-se. Foi fixar residência no Rio de Janeiro. Na adolescência deu seus primeiros passos no manejo da bola. Aos poucos passou a ser observado pelos olheiros e cobiçado por quase todos os clubes cariocas. Desde os 12 anos chamava a atenção do bairro. Quando chegou à adolescência vieram os elogios da crítica carioca. Na juventude era um craque perfeito. Preto, alto, muito magro, mas muito futebol. Lamentavelmente enveredou por falsos caminhos e tornou-se um boêmio inveterado. A fama subiu-lhe à cabeça. Não estava preparado para ser tão cobiçado. Não soube dosar a consagração.”

Fausto, com absoluta certeza, e por conta do depoimento de muitos que viram a exuberância do seu futebol, foi um dos mais brilhantes meio-campistas de todos os tempos. Convocado para a seleção brasileira na Copa do Mundo de 1930, conseguiu escapar do fracasso do time nacional e chegou a ganhar da imprensa uruguaia o apelido de “A Maravilha Negra”, pela excelência de sua técnica e a firme liderança que exercia em campo.

“Quando Fausto começou a jogar futebol, em 1926, no Bangu, era meia-esquerda. Transferiu-se para o Vasco da Gama em 1928 e passou a jogar como médio volante. Os analistas consideravam-no o mais perfeito marcador da sua época, o homem dos passes mais preciosos de quantos viveram no seu tempo. Sagrou-se campeão carioca em 1929, pelo Vasco da Gama.” (Esporte – um mergulho no tempo – Dejard Martins).

No dia 14 de julho de 1930, a seleção brasileira perdeu para a Iugoslávia por 2 a 1, em jogo realizado no Parque Central, em Montevidéu, no Uruguai, jogo da Copa do Mundo. No jogo em que foi registrada a presença de 5.000 torcedores e que teve a arbitragem de Aníbal Tejada, do Uruguai, a seleção brasileira entrou em campo com: Joel; Brilhante e Itália; Hermógenes, Fausto e Fernando Giudicelli; Poly, Nilo, Araken, Preguinho e Theóphilo. O Técnico foi Píndaro de Carvalho Rodrigues. O gol brasileiro foi marcado por Preguinho (filho do escritor maranhense Coelho Netto, aos 16 minutos do segundo tempo, quando o placar era 2 a 0 para a Iugoslávia. Fausto e Preguinho, este pelo gol, foram os únicos do selecionado brasileiro a receber elogios.

Na mesma Copa do Mundo de 1930, o Brasil enfrentaria em seguida o selecionado da Bolívia, vencendo por 4 a 0, com gols de Moderato (2) e Preguinho (2). Píndaro de Carvalho Rodrigues mandaria campo a seguinte formação brasileira: Velloso; Zé Luiz e Itália; Hermógenes, Fausto e Fernando Giudicelli; Benedito, Russinho, Carvalho Leite, Preguinho e Moderato.

Depois de começar carreira profissionalmente no Bangu Atlético Clube, em 1926, Fausto dos Santos se transferiu para o Clube de Regatas Vasco da Gama, onde permaneceu, de 1928 até 1930. Ali foi convocado para a seleção brasileira. Renomado, famoso, transferiu-se para o Barcelona da Espanha, em 1931. Jogou na Europa numa época de muita discriminação racial. A boemia acabou afetando o seu estado físico.

“Entretanto, já famoso no Brasil, Fausto dos Santos só conseguiu se projetar internacional em virtude das boas atuações na Copa do Mundo de 1930, em Montevidéu, no Uruguai. Depois disso, o zagueiro se transferiria para o Barcelona, da Espanha. A tuberculose já acometera Fausto dos Santos, que aproveitou para fazer um tratamento especializado na Suíça, em 1932, atuando também pelo Young Fellows.” (Esporte – um mergulho no tempo – Dejard Martins).

Voltou ao Brasil e ao Rio de Janeiro em 1933, seis quilos mais magro. Eram os sintomas da tuberculose. Entretanto, em 1934, aparentemente recuperado, Fausto voltaria a defender o Vasco da Gama, de onde se transferiria, novamente, em 1935, para o Nacional do Uruguai.

De volta mais uma vez ao Rio de Janeiro, Fausto dos Santos foi contratado pelo Flamengo, onde encontrou o técnico húngaro Dori Krusch que resolveu escalá-lo na zaga, entendo que isso seria menos desgastante para o jogador. Fausto não aceitou a decisão e levou o clube à Justiça, mas perdeu a causa.

Depois de longa internação no Hospital São Sebastião, no Rio de Janeiro, foi transferido para o Sanatório Municipal de Santos Dumont/MG, onde faleceu no dia 28 de março de 1939, aos 34 anos de idade.

Fausto, maranhense de Codó, conseguiu apenas dois títulos nacionais: campeão carioca em 1929 e 1934, ambos pelo Clube de Regatas Vasco da Gama.

FONTE:

http://www.jornalpequeno.com.br/blog/oliveiraramos/?p=98

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