Sampaio Corrêa – a eterna indecisão na base

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José de Oliveira Ramos (adaptação: Ramssés de Souza Silva)
Contra a importação de “craques”
O soccer maranhense tinha progredido, lamentando-se apenas a mania que tomava vulto da importação desenfreada de “craques” de outros centros, em detrimento dos nossos jogadores. Isso era um desestímulo ao processo de preparação de bons valores, um desprezo à “safra”. Luso e F.A.C. cada dia mais se reforçavam com as importações, trazendo atletas do Amazonas, Pará e outros centros mais desenvolvidos. A importação, como ainda hoje acontece, não obedecia a uma necessidade premente, dentro de uma programação cuidadosamente feita. Era o mesmo ímpeto de hoje: contratar sempre. Pouco havia a preocupação de entremear-se o atleta importado com os nossos nativos.

(ESPORTE – Um mergulho no tempo – Página 463 – Dejard Ramos Martins – Livro editado em 1989)
Fundado no dia 25 de março de 1923 – 86 anos completados – o Sampaio Corrêa Futebol Clube era o representante maranhense no Campeonato Brasileiro da Série C em 2008, programado para ser iniciado no dia 24 de maio, diante do Paysandu, no estádio Mangueirão (ou seria na Curuzu?) em Belém.
Isto, no aspecto chamado profissional, onde o time vivia às turras para conquistar o primeiro turno do Estadual- tarefa nada fácil, como foi demonstrada, haja vista que, dos 9 pontos disputados o time conquistou apenas 4.
O site oficial do clube divulgava o planejamento traçado, acreditava-se na gestão, onde estava destacado o interesse na ascendência para a Série B do Campeonato Brasileiro no ano de 2009. A pouco mais de um mês para a estréia na competição nacional, percebia-se que ainda existe uma nuvem escura “demorando a passar” sobre as hostes do Tricolor de São Pantaleão. O time estava sem treinador. Isto se considerarmos que Arlindo Azevedo foi contratado para comandar a parte física e atlética do clube.
Pela formação que entrou em campo já sob o comando interino de Arlindo (Rodrigo Ramos; Ricardo Feltre, Robinho, Johildo e Almir; Tica, Cristiano, Marcinho e Juninho; Tico Mineiro e Tiago Miracema) e principalmente em função do resultado obtido (1 a 1) o Sampaio Corrêa teria fatalmente muitas dificuldades para ascender à Série B. Dessa formação, o zagueiro Robinho não “era mais” titular. Essa posição pertencia a Leandro.
Quem observar bem vê que, Rodrigo Ramos, Leandro, Almir, Cristiano, Tico Mineiro e Tiago Miracema não são maranhenses. São seis jogadores “oriundi” e esse número foi ainda aumentado para as disputas da competição nacional. E é neste ponto que pretendíamos chegar. Abordar o assunto da formação do elenco profissional, quase sempre com jogadores provenientes de outros estados. Desse elenco quase não fez parte algum jogador maranhense. E por quê? Porque nenhum é trabalhado de forma adequada, como exige o atual futebol.
O Sampaio Corrêa sempre foi assim. É cultural. Quem lembra da formação do time campeão brasileiro de 1972 e de 1997? Pois aí vai. Depois de empate em 1 a 1 no tempo normal diante do Campinense da Paraíba, o tricolor conquistou a vitória por 5 a 4 na cobrança de penalidades, através do zagueiro Neguinho (frise-se, zagueiro “maranhense”). O time realizou 17 jogos, conquistou 8 vitórias, 4 empates e sofreu 5 derrotas. Conquistou 22 pontos. Marcou 19 gols e sofreu 8. Pelezinho foi o artilheiro do time com 8 gols marcados. O time: Jurandir; Célio Rodrigues, Neguinho, Nivaldo e Valdecir Lima; Gojoba, Djalma Campos e Edmilson Leite; Lima, Pelezinho e Jaldemir. Desses, eram maranhenses Célio Rodrigues, Neguinho, Gojoba, Djalma Campos e Pelezinho.
Em 1997 não foi diferente. Com um time comandado pelo técnico Pinho formando com Geraldo; Erly, Gelásio, Ney e Lélis; Luís Almeida, Renato Carioca, Ricardo (Edmilson) e Adãozinho; Jô (Cal) e Marcelo Baron. No time titular não havia sequer um jogador nascido no Maranhão. Foi campeão invicto. O que ficou para o patrimônio? Só a conquista e, certamente, os prejuízos financeiros.
Mas esse último detalhe só serve para confirmar a cultura “boliviana” de não dar o devido e necessário valor ao jogador nativo. É bem verdade que, em 1972, entre os cinco maranhenses do time (Célio Rodrigues, Neguinho, Gojoba, Djalma Campos e Pelezinho), Gojoba e Pelezinho já estavam na curva descendente, depois de alcançarem sucesso no Sport Recife e na seleção brasileira. Célio Rodrigues, Neguinho e Djalma Campos não eram mais tão jovens.
Atualmente, entretanto, em que pese constar do planejamento (e, pelo visto, isto consta apenas do planejamento mesmo e fica muito distante da prática) no seu item 2 (Gestão Futebol Profissional) que prevê “Valorizar os atletas maranhenses (Prata da Casa), adotando políticas de investimento, oferecendo condições de trabalho, para que no futuro o clube possa contar com o seu patrimônio (atleta) e contar com um elenco de atletas genuinamente maranhenses e com o retorno do investimento garantido.” Ou ainda no item 3 (Categoria de Base) que pretende ” – Aprimorar as instalações do CT com criação de alojamentos e vestiários; – Criar o Departamento de Capacitação de Talentos; – Criar Núcleo/Escolinhas na Grande São Luís em áreas adequadas e Pólos em Municípios do Estado, em regime de parcerias, visando também o social com incremento ainda mais as atividades esportivas; – Criar a Escolinha de Futebol Feminino, investindo nessa categoria, objetivando o fortalecimento dessa equipe para disputas de torneios e competições oficiais, haja vista a projeção nacional que essa modalidade tem proporcionado; – Fomentar a participação das Equipes de Base em torneios nacionais e internacionais dando mais experiência aos futuros craques; – Intensificar a política de investir em treinadores e jovens atletas para fortalecer o clube como um todo; – Mantendo o trabalho ascendente em todas as categorias promovendo ações junto aos atletas de base, preparando-os para chegarem ao time profissional prontos para atuar.” – o certo é que o Sampaio Corrêa não consegue sair do papel. Não sai do planejamento e, tanto isso é verdade que, tão logo conclui-se o primeiro turno do campeonato estadual, dirigentes e funcionários do clube viajam procurando contratar reforços para as disputas do Campeonato Brasileiro.
Estranho de tudo isso é que, oficialmente, ninguém sabe do fim ou da continuidade da parceria com o CEFAMA. Até onde se sabe – em que pese constar do Planejamento a construção de espaços e estrutura para o Trabalho de Base, o Sampaio Corrêa continua usando as dependências do CEFAMA, na Maiobinha em que pese a existência de uma área absurdamente grande no Turu. Não existe nenhuma “capacitação de profissionais” para o tal Departamento de Capacitação de Talentos e ninguém sabe da criação de “Núcleos” em São Luís ou em qualquer município do interior do Estado.
O que se sabe, entretanto, é que, num passado que não está muito distante, sem qualquer condição de trabalho e vivendo exclusivamente do empirismo, o ex-funcionário (???) Gil Babaçu – literalmente carregando um saco de material nas costas -, sem qualquer tipo de formação científica e sem um milímetro de apoio, fez surgir Wamberto (embora esse tenha sido adquirido junto ao extinto Ferroviário), William, Toninho, Izaías, Douglas, Donizete, Ronilson, Raí, Roy, Rubenilson, Hamilton Gomes e pelo menos mais de cinco dezenas de jogadores que, apesar das deficiências e da ausência de trabalho qualificado, andaram defendendo a camisa do Sampaio Corrêa com muita garra.
Era o “encarnado” que valorizava as cores da camisa tricolor.
Afirma-se, portanto, que é cultural em qualquer dirigente do Sampaio Corrêa, o “ato de contratar” e contratar sempre e sem qualquer justificativa, como disse na janela na abertura desta matéria, o falecido “boliviano” Dejard Ramos Martins. Parece que formar a base para, a partir daí formar também patrimônio, não é preocupação “boliviana” que exista além do papel e do Planejamento.
Djalma Campos, Rosclin, Luís Carlos, Ivanildo, Paulo Lifor, Bimbinha, Izaías, Ronilson sempre foram mais jogadores do que Fernando Carlos, Lima, Roberto Barra Limpa, Sabará, Dadá, Massaude, Marcelo Baron. Sabem por que? Porque lhes corre nas veias o sangue maranhense.

FONTE:
Sampaio Corrêa – eterna indecisão na base (José de Oliveira Ramos – Jornal Pequeno on line, 8 de abril de 2009)
http://www.jornalpequeno.com.br/2009/4/8/Pagina104249.htm

2 pensou em “Sampaio Corrêa – a eterna indecisão na base

  1. Ramsses Silva Autor do post

    Amigo Ricardo, esse sempre foi um problema crônico do Sampaio Corrêa; montam-se bons times quando em vez porém, sempre se utiliza muito pouco das divisões de base.
    Quando os jogadores trocam de clube, ficam só os prejuízos, já que nem sempre o investimento é recompensado com retorno financeiro.

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