Quem caminha habitualmente pelas ruas centrais da cidade de Campina Grande, cidade distante 128km de João Pessoa, capital da Paraíba, geralmente se depara com um senhor de cabelos grisalhos e bengala na mão, com um forte sotaque que relembra bastante aquele idioma alemão fajuto, que, humoristicamente, costumamos falar. Trata-se do húngaro Janus Wathy Tatray, carinhosamente apelidado pelos desportistas de “gringo velho” ou simplesmente “o gringo”.
Atualmente, aos 85 anos, Tatray colecionou uma trajetória que ele mesmo definiu ser de muita sorte. Nascido na pequena cidade de Veszprém (Vesprim, em escolvaco), a 110km de Budapeste, capital da Hungria. O gringo teve uma infância marcada pelo catolicismo fervoroso do condado, na época, formado por uma população de simples agricultores e vivenciou seus melhores dias entre a função de coroinha na igreja e os passeios com os pais ao rio Séd.
Tatray relembrou que a sua família, mesmo sendo de agricultores, tinha uma forte veia musical, citando que seu pai era músico e líder rural em Veszprém e que alguns de seus parentes chegaram a compor a orquestra sinfônica do país. Na adolescência, dedicou-se aos estudos e aos 15 anos ingressou na Academia Comercial húngara, uma entidade de formação judia que tinha um excelente estudo. Na adolescência, dedicou-se aos estudos e aos 15 anos ingressou na Academia Comercial húngara, uma entidade de formação judia que tinha um excelente estudo.
Trabalhou vendendo livros e, nos momentos de lazer, jogava futebol e assistia a rivalidade entre o Veszprém F.C e o Veszprém Move, os principais clubes da cidade. Aos 17 anos, a sua vida pacata sofreu uma grande mudança com a entrada da Hungria na II Guerra Mundial.
O cotidiano do povo mudou à medida que a guerra avançava, até que, em 1943, foi obrigado junto com todos os homens do condado a ingressar nas forças armadas húngaras passando a integrar as forças da Alemanha nazista no combate ao exército da União Soviética. Passado os horrores da guerra, Janus imigrou para a América Latina,
trabalhando na Argentina e no Paraguai, antes de vir definitivamente para o Brasil. Em terras brasileiras reencontrou amigos e modificou definitivamente a sua história. Casou, teve filhos e passou de um vendedor de bijuteria a um dos maiores treinadores de futebol do Norte-Nordeste.
No seu currículo de treinador, Tatray colecionou participação em vários clubes no Brasil,principalmente na Paraíba, Venezuela e Portugal. Comandou os selecionados do Haiti e do estado Ceará e conquistou títulos importantes como o tri-campeonato cearense de futebol pelo Ceará Sporting, no início da década de 60. Por onde passou escreveu uma história que mesclou fatos inusitados no futebol brasileiro e sucesso profissional.
Por Júlio César
Agora Esportes Especial