Estes não deixaram saudades, PARTE 4

SANTOS

Agnaldo
Tricampeão paulista (69), vencedor do Torneio Roberto Gomes Pedrosa (68), dono das Recopas Sul-americana e Mundial (68/69), o Santos do final dos anos 60 era um senhor time. Poucos adversários eram capazes de neutralizar a equipe de Carlos Alberto, Joel, Ramos Delgado, Clodoaldo, Lima, Pelé, Edu e cia. O goleiro Agnaldo, no entanto, alcançou esse feito sozinho, diversas vezes, depois que substituiu o titular Cláudio, vítima de grave lesão. Por mais gols que a “linha” marcasse, Agnaldo punha tudo a perder, literalmente. Sua atuação “inesquecível” foi em 4 de novembro de 1969, quando aceitou, entre as pernas, uma cobrança de falta de Rivellino – o segundo dos quatro gols do Corinthians naquela noite. Depois de pendurar as chuteiras, Agnaldo se tornou um respeitado treinador de goleiros. Tinha muito a ensinar – especialmente o que não fazer sob as traves.

Fernando
Jogava no miolo da zaga, mas atuou como lateral-direito na despedida de Pelé, em Nova York, no ano de 1977. Com um nariz inversamente proporcional ao seu futebol, chegou a ser eleito o melhor em campo num clássico contra o Palmeiras, no mesmo ano. Quando notou o repórter se aproximando, com o Motorádio nas mãos, o valente Fernando, certo de que não era com ele, olhou para trás, tentando adivinhar quem era o premiado. Tinha autocrítica, não há como negar.

Camilo
Com a altura, categoria e a agilidade de um poste, formou uma bela dupla de ataque com Bebeto em partida no Maracanã, pelo Brasileirão de 1992. O detalhe é que Bebeto jogava no adversário Vasco. Apesar dos passes de Camilo, que garantiram três gols ao atacante baiano, o Santos arrancou um empate em 3 a 3.

Murias
Esquentava o banco no time que dividiu o título paulista de 73 com a Lusa. Cria da Vila, o lateral ganhou alguns segundos de notoriedade por ter sido o pivô, num “amistoso” entre Santos e São Paulo, de uma das várias trocas de gentilezas entre Carlos Alberto Torres e Paraná. O capitão do Tri desferiu uma sonora cabeçada no velho desafeto, que pouco antes dera um sopapo no jovem Murias. Naquela noite, muitos santistas se solidarizaram com o ponta tricolor – não pelo golpe eu recebera de Carlos Alberto, mas por ter dado a Murias o que ele merecia.

Nélson Borges
Em 1977, o Santos pagou uma fábula ao Noroeste de Bauru pelo armador, que nunca se firmou no time. Gordo e lento, chegou a participar de alguns jogos do Campeonato Paulista de 78, vencido pelo Peixe, mas foi logo descartado pelo técnico Chico Formiga. O desastroso investimento marcou o fim da gestão de Modesto Roma. Só por isso, Nélson merecia uma estátua na Vila Belmiro.

Evilásio
Evilásio foi o pior camisa 10 da história recente do Santos, talvez dos 93 anos de existência do clube. Há poucos registros sobre a sua obscura passagem pela Vila Belmiro, em meados da década de 70, mas sabe-se que atuou apenas uma vez, num Campeonato Paulista. Escalado como titular, acabou substituído durante o intervalo. Precisou de apenas 45 minutos para mostrar o seu futebol, ou melhor, a total ausência deste.

Serginho Fraldinha
Trocas ruinosas sempre foram uma especialidade do Santos – vide, adiante, a transação envolvendo Carlos Alberto Torres e três botafoguenses. No início dos anos 90, contudo, os cartolas da Vila capricharam: entregaram César Sampaio ao Palmeiras, recebendo meros US$ 450 mil e os passes de Ranielli e… Serginho Fraldinha. Franzino e imberbe, o pontinha nunca conseguiu se firmar como titular num time que estava aquém de mediano. Pelo apelido e o futebol, faria uma dupla perfeita com um centroavante trombador da década de 40, Odair Titica.

Reinaldo
Quando garoto, o valente nordestino ouvia dizer que centroavante arretado tinha que ser rompedor. Decididamente, ele não entendeu nada, pois o máximo que conseguiu no Santos foi romper o estômago num choque com o goleiro paraguaio Aguillera, em jogo contra o Botafogo de Ribeirão Preto, no ano de 77. Reinaldo se recuperou e, por incrível que pareça, fez dupla de área com Zico, no Flamengo. Apesar da desfeita, o Galinho de Quintino não abandonou o clube da Gávea.

Roberto Biônico
Tinha porte de atleta – de lutador de sumô, não de jogador de futebol. O roliço atacante foi revelado pelo XV de Jaú e chegou à Vila em 1981, para substituir Aluísio, mas não cumpriu a missão, que nada tinha de complexa. Assim como Steve Austin, personagem de Lee Majors na famosa série de TV dos anos 70, Roberto Biônico valia 6 milhões,mas com certeza não de dólares.

Totonho
Atacante troncudo e grosso, tinha hábitos pra lá de estranhos. Numa entrevista à Placar, em meados da década de 70, o mineiro Totonho revelou que se alimentava com uma mistura de Coca-Cola e leite condensado.

Bozó
Era provocador e invocadinho como ele só. Futebol, que é o que interessa, nem sombra. Só fez a alegria da torcida santista quando, já atuando pelo Guarani, em 1979, conseguiu ser expulso minutos após ter entrado num jogo em que o Peixe enfiou 4 a 1 no Bugre

País
Em 1977, a CBF divulgou uma extensa lista de jogadores que, por estarem sendo observados pelo técnico Cláudio Coutinho, não poderiam ser vendidos ao exterior. Um deles era o arqueiro País, do América carioca, que apesar do porte avantajado estava longe de ser um goleirão. O crédulo Peixe contratou o jogador dois anos depois, para o delírio de muitos torcedores – especialmente os do Palmeiras, que comemoraram a atuação de País num 5 a 1 imposto ao Santos. A galera peixeira só vibrou com o cidadão no início da década seguinte, quando, atuando pelo Sport, ele perseguiu alucinadamente Aluísio Guerreiro, então no Santa Cruz, durante um clássico pernambucano. Se tivesse colocado as mãos no sucessor de Juari, País por certo gozaria de um conceito muito melhor junto aos alvinegros.

Tuca
Formado na Portuguesa Santista, o lateral foi um dos símbolos daquele que é considerado por muitos o pior time da história do Santos, o do Brasileirão de 1975. Eliminado da competição, o Peixe foi à Bahia disputar o Torneio da Fome, com outros grandes em desgraça, levando um reforço acima de qualquer juízo ou comentário: Pelé, que atuou 45 minutos em um dos jogos. Apesar da curta participação do Rei e da longa titularidade de Tuca, o Santos conquistou a taça.

Nei
O Peixe chegou ao fundo do poço no primeiro semestre de 1976 – menos de dois anos após a despedida oficial de Pelé. Alijado do Paulistão, promoveu alguns amistosos na Vila Belmiro. Em um deles, o zagueiro Nei acertou uma bomba de fora da área, no ângulo, indefensável. Seria um golaço, não estivesse ele tentando atrasar a bola para o goleiro – o do seu time, claro. O Santos perdeu por 1 a 0, mas engana-se quem imagina que a carreira do becão terminou ali. Nei jogou um bom tempo no São Paulo, e chegou até a defender a Seleção Paulista.

Terezo
A Seleção Olímpica de 1972 tinha, entre outros, Falcão, Dirceu, Carlos Alberto Pintinho e o zagueirão Abel. O Santos, no entanto, resolveu contratar justamente o lateral-direito daquele time, aqui escalado na esquerda porque, todos sabem, perna-de-pau é como craque: joga nas 11. O futebol de Terezo era tão sinistro que o Peixe, rapidinho, trouxe Nelsinho Baptista (e Gilberto Sorriso) do São Paulo.

Anderson
Na final do Paulistão 2000, cometeu as duas faltas frontais à área que resultaram nos gols do São Paulo. O jogo terminou empatado em 2 a 2, e o Tricolor ficou com o título estadual. À época, muitos são-paulinos criticaram a diretoria do clube por não ter entregue a faixa de campeão e pago o “bicho” ao brucutu Anderson.

César FERREIRA
Vice-campeão mundial na França, em 1998, César Sampaio carrega o sobrenome nas escalações devido a um atrapalhado xará, com quem atuou no fim dos anos 80, defendendo o Peixe. Sampaio não foi o único craque a tentar tabelar com César Ferreira. Sócrates viveu o mesmo drama. Há até quem diga que o Santos contratou o Magrão, já em final de carreira, só para obrigá-lo a jogar ao lado de Ferreira e Aluísio Guerreiro, como vingança pelos muitos gols que havia anotado no time de Urbano Caldeira quando atuava no Botafogo e no Corinthians.

Babá
Volta e meia, em noites de tempestade, o lance surge nos pesadelos dos santistas que foram ao estádio Urbano Caldeira naquela melancólica tarde de 1975. O ponta-direita coloca a bola perto da bandeirinha, toma distância, corre, escorrega, cai sentado e, sem querer, toca na bola, que sai rolando pela linha de fundo. Tiro de meta. O vexame foi tão grande que a torcida fiou muda, perplexa, anestesiada. Nesse dia, o pontinha Babá saiu de campo com um novo apelido: Baba.

Aluísio Guerreiro
Chegou à Vila em 1980, para substituir Juari, vendido ao futebol mexicano. Falastrão, fez incluir no contrato uma cláusula prevendo um aumento substancial de salário assim que fosse convocado para a Seleção Brasileira. Por sorte, não vinculou seus vencimentos aos gols marcados, pois teria morrido de inanição.

Luizão
Negro, alto e forte, lembrava o ex-campeão mundial dos pesos pesados Sonny Liston. Até aí, tudo bem. O problema era que Liston, se resolvesse trocar as luvas pelas chuteiras, certamente jogaria mais, muito mais que Luizão. O centroavante foi contratado por empréstimo ao Bangu, em 1981, pelo cartola Rubens Marino, que queria reforçar o seu time do coração – o Corinthians, provavelmente.

Ferretti
O Botafogo fez, em 1971, a mais vantajosa troca de que se tem notícia no futebol brasileiro. O clube carioca recebeu por empréstimo Carlos Alberto Torres – ele mesmo, o capitão que meses antes erguera a taça Jules Rimet, no México –, cedendo ao Santos o lateral Moreira, o ponta Rogério e o centroavante Ferretti. Perseguido à época pela torcida e a Imprensa, Ferretti é hoje reconhecido como um dos maiores atacantes da história do Peixe. Tinha 1,90 metro e 85 quilos.

Ferreira
Estreou contra o Vasco, no último jogo do Peixe pelo Brasileirão de 1971. Teve ótima atuação na goleada por 4 a 0, mas o seu futebol terminou ali. Três anos depois, devido a uma contusão de Edu, ganhou um posto entre os titulares, tornando-se então muito popular nos cultos de quimbanda e vodu realizados na Baixada Santista. Ferreira encerrou sua trajetória no Santos numa partida pelo Paulistão de 1974, na Vila Belmiro. O Peixe deu a saída, e a bola foi tocada rapidamente para o ponta-esquerda, que, apesar do esforço, a deixou sair pela lateral. Com segundos de jogo, Ferreira virou uma ruidosa unanimidade na torcida.

Autor:Dario Palhares

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