Estes não deixaram saudades,PARTE 3


SÃO PAULO

Alencar
Era sinônimo de redes balançando. Pena que fosse goleiro, não atacante. Segundo o “Almanaque do São Paulo”, de Alexandre da Costa, Alencar jogou cinco vezes pelo São Paulo, entre 2000 e 2001, levando nada menos do que 18 gols, uma espantosa média de 3,6 por partida. Seu recorde foi registrado em um jogo contra o Vasco, pelo Brasileirão de 2001. Depois de substituir Rogério Ceni, expulso no primeiro tempo, ele foi buscar a bola sete vezes no fundo da rede. Goleado por 7 a 1 naquela tarde, o Tricolor disse adeus ao homem-peneira.

Cláudio Deodato
No final dos anos 60, o São Paulo tinha defensores de categoria. A meta ficava aos cuidados de Picasso, que viera do Palmeiras e depois jogaria no Grêmio. No miolo da zaga, Jurandir, campeão mundial no Chile, em 1962, e Roberto Dias, um dos maiores ídolos da história do clube. Todos grandes jogadores, todos titulares da Seleção Brasileira de Aymoré Moreira, todos impotentes para consertar as infindas lambanças de Cláudio Deodato. O lateral-direito era o ponto de desequilíbrio da defesa tricolor, um convite permanente para os atacantes adversários e a quem quer que se aventurasse pela faixa de campo onde atuava.

Marião
Rubens Minelli, como todo grande técnico, tinha lá suas idiossincrasias. Gostava, por exemplo, de zagueiros imensos, viris, intimidadores, pouco importando se conseguiam fazer duas “embaixadas” seguidas, ou andar e mascar chicletes ao mesmo tempo. Sorte do rombudo Marião, que o treinador foi buscar no Operário do Mato Grosso do Sul, quando ainda dirigia o Internacional gaúcho, e depois levou para o Morumbi. Sorte ainda maior do santista Juari, o lépido centroavante dos Meninos da Vila, que deitava e rolava em cima do becão inventado por Minelli.

Fonseca
O dublê de zagueiro e lateral andou pelo Morumbi em meados dos anos 80. Alto, magro e desengonçado, parecia um espantalho. Apesar da estampa, era um chamariz irresistível, sedutor, para todos que queriam arruinar a seara são-paulina. Fonseca só conseguia assustar, de verdade, a torcida tricolor.

Élvio
Depois de conquistar o Campeonato Paulista de 1980, em cima do Santos, o São Paulo saiu às compras, de olho no Brasileirão do ano seguinte, que seria disputado no primeiro semestre. Um dos reforços foi o volante Élvio, revelado pela Internacional de Limeira, que os cartolas e a comissão técnica do Tricolor julgavam muito superior ao dedicado Almir. Foi um grande negócio, mas somente para Almir, que ganhou prestígio e logo recuperou a posição. Élvio virou o bode na sala são-paulina – quando era sacado do time, a torcida e os colegas de equipe respiravam aliviados. O jogador teve passagem meteórica pelo Morumbi.

Fefeu
Assim como Minelli inventou Marião, Feola criou, do nada, Fefeu. O delito do saudoso treinador, contudo, foi muito mais grave, pois ele chegou a testar o obscuro meia do Tricolor na Seleção Brasileira, pouco antes da Copa de 66. Deu no que deu: o Brasil quebrou a cara na Inglaterra e o São Paulo amargou a presença de Fefeu em seu elenco por mais dois anos, período em que o clube tentou, sem sucesso, descobrir que virtudes Feola vira no atleta. Como jogador de futebol, Fefeu era apenas uma excelente rima para a torcida adversária.

Walter Zumzum
Todos sabem que o São Paulo, na maior parte da década de 60, investiu em cimento, não em craques. A escolha rendeu-lhe o estádio do Morumbi e o mais longo jejum de títulos da sua história. O onomatopaico apelido do ponta Walter dá uma boa pista sobre a qualidade do futebol apresentado pelo Tricolor à época.

Mickey
O futebol paulista vivia uma crise de talentos em 1975. Pelé e Rivellino já haviam se despedido do Santos e do Corinthians, respectivamente. No Palmeiras, que acabara de vender Luís Pereira e Leivinha para o Atlético de Madri, Ademir da Guia estava a um passo da aposentadoria – caminho que não tardaria a ser seguido por Pedro Rocha, do São Paulo. Para piorar, os clubes cometeram graves equívocos quando saíram em busca de reforços. O Tricolor, por exemplo, trouxe Mickey, que tivera brilho fugaz, cinco anos antes, na conquista da Taça de Prata pelo Fluminense. Depois das primeiras atuações do centroavante, gaiatos começaram a espalhar que o time do São Paulo tinha um Mickey e 10 Patetas.

Müller I
Luís Antônio Corrêa da Costa, o Müller, é uma das glórias do São Paulo, e o maior colecionador de títulos da história do Morumbi. Foram 13, com destaque para duas Taças Libertadores da América e dois Campeonatos Mundiais, em 92 e 93. O que poucos sabem é que o craque herdou o apelido do irmão mais velho, eterno reserva do clube nos anos 70. Este, por sua vez, foi assim batizado no mundo da bola por alguém que viu semelhanças entre o seu futebol e o do matador alemão Gerd Müller, artilheiro da Copa de 70, no México, e autor de 14 gols em Mundiais, até hoje um recorde. Das duas uma: o tal palpiteiro era um tremendo gozador, ou tinha a mesma visão de jogo que o inofensivo Müller I – o do Tricolor, claro.

Téia
No apagar das luzes de 1967, quando já amargava longa fila, o São Paulo deixou escapar o título paulista nos últimos segundos. Inconformados com o destino, os cartolas do clube resolveram abrir as burras alguns meses depois, contratando o centroavante Téia, da Ferroviária, artilheiro do Paulistão de 1968, com 20 gols. Reforçado, sonhavam os dirigentes, o time brilharia no torneio Roberto Gomes Pedrosa daquela temporada. Deu tudo errado: o Tricolor se viu em palpos de aranha, terminando em 10º, entre 17 times. Téia começou como titular e passou em branco nos oito jogos em que atuou. Em 1969, com a chegada de Toninho Guerreiro ao Morumbi, a ex-revelação da Ferroviária foi de vez para o banco.

Jésum
O ponta-esquerda era um tormento – para a torcida do São Paulo, não para os adversários. Em meados da década de 70, deu com os costados no Bahia, onde virou ídolo, celebridade esportiva. A torcida do Tricolor da Boa Terra e a Imprensa de Salvador fizeram um sem-número de despachos contra o técnico Cláudio Coutinho, por não ter convocado o atacante para a Copa de 78. Melhor assim. Com Gil e Jésum no ataque, a Seleção Brasileira não teria voltado da Argentina com o “título” de “campeã moral”, e sim acusada de grave atentado contra esta.

Por Dario Palhares

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