Arquivo da categoria: Amazonas

Cambebas: Índios Amazonenses foram os Primeiros a jogar um esporte precursor do Futebol no Brasil

Índio Cambeba (século XVII)

O futebol moderno, como todos sabem, foi criado e desenvolvido pelos ingleses. Foram eles que, em 1863, organizaram e definiram as regras oficiais do jogo, como também foi na Inglaterra que surgiu, em 1857, o Sheffield, o primeiro clube de futebol do mundo e que ainda está em atividade.

Mas, como se sabe,ao longo da história, o hábito de se chutar uma bola em uma alegre diversão já era uma prática comum entre vários povos do mundo. Na China antiga se praticava o Tsutchu. O Epyskiros era praticado na Grécia antiga, o Kemari no Japão, o Harpastum em Roma antiga e o Soule na Gália (França).

Também povos nativos davam seus chutes na bola.Os aborígenes da Austrália jogavam,no século XVI o “marngrook“. Nos Estados Unidos, os índios de Massachussetts praticavam, por volta de 1620, um esporte próximo ao futebol. Os Maias também jogavam o seu”pok-tai-pok“e os Astecas disputavam o “ullamalitzi“.

E no território que hoje é o Brasil? Em qual local e quem foi o primeiro povo que teve a iniciativa de criar um esporte que hoje pode ser considerado ancestral do futebol? Essa primazia coube aos índios Cambebas, habitantes de um território que hoje corresponde ao Estado do Amazonas.

Os Cambebas (também conhecidos como Omáguas) habitavam (e ainda habitam) a região do alto e médio rio Solimões.Eram uma das diversas etnias que dominavam a Amazônia colonial.Dedicavam-se á caça, pesca e agricultura. Foram considerados,por muitos viajantes europeus, um povo possuidor de uma cultura desenvolvida.

Em suas horas vagas,os Cambebas praticavam um curioso esporte que era bem próximo,em suas regras e maneira de disputa,com o futebol moderno. Só foi possível sabermos hoje da prática desse esporte criado pelos cambebas, devido ao importante depoimento deixado,no século XVII, pelo cientista e naturalista francês La Condamine.

Charles Marie de La Condamine foi um explorador e cientista que realizou viagens de exploração no norte da áfrica, oriente médio e América do sul.Ele nasceu na França em 1701. Realizou seus estudos preparatórios em humanidades e matemática em Paris.Logo depois alistou-se no exército onde deu baixa no ano de 1719.

Charles Marie de La Condamine

Começou a ter contato com muitos intelectuais da época passando a estudar também astronomia e geodésia. Charles de La Condamine foi encarregado de realizar uma expedição ao Peru (que na época pertencia a Espanha) a serviço da academia de ciências de Paris, para determinar com precisão os meridianos e assim demonstrar que a terra era achatada nos pólos.

A expedição partiu da cidade de La Rochele em 16 de maio de 1735. Quase um ano depois, em13 de março de 1736, chegava a Guayaquil, no Vice-reino do Peru. Mas, é somente em maio de 1743, que a expedição de La Condamine parte da cidade de Quito (hoje capital do Equador), rumo ás cabeceiras do Rio Amazonas. Na verdade,o explorador francês foi o primeiro cientista a descer todo o Rio Amazonas.

Após deixar Quito, a expedição chegou ao Rio Napo (Ainda no Peru) e depois,ao Rio Marañon. Receberam então autorização do rei de Portugal para adentrar nos domínios portugueses na amazônia. Penetraram então no Rio Solimões. Naquele ano de 1743, a região amazônica era uma colônia de Portugal, chamada de Estado do Grão-Pará e Maranhão, com a capital em Belém.

Condamine registrou a exuberância da região,sua flora e fauna, os povos indígenas e seu modo de vida e também o que lhe interessava: os recursos naturais que poderiam ser aproveitados economicamente. Em um determinado dia, a expedição resolveu fazer uma parada na Vila de Ega (atual cidade de Tefé).

E foi ali que, pela primeira vez, um europeu mencionaria,com riqueza de detalhes, a utilização da borracha pelos índios e também um desconhecido e rudimentar esporte que os nativos praticavam. La Condamine menciona que,numa tarde, surpreendeu os Cambebas praticando uma diversão que o deixou intrigado e curioso.

Em um grande terreiro da aldeia,os índios fincavam, nos dois lados extremos, dois par de varas há uma certa distância uma da outra. Depois,organizavam dois times que, aos chutes, corriam atrás de uma bola feita de borracha que saltava de lado a lado. A finalidade era passar a bola entre as duas varas para assim conquistar a vitória.

La Condamine não se importou tanto com o jogo,mas sim com a bola que,segundo ele, pulava e quicava,contrariando assim a lei da gravidade da terra.Maravilhado,perguntou aos Cambebas de onde tiravam o material para fazer a bola. Os índios o levaram a uma árvore chamada seringueira e mostraram o líquido branco que saia dela na qual a seiva era solidificada com fumaça ,tornando-se assim elástica e impermeável.

A seiva era o látex,que foi chamada por ele de caucho. Depois dessa importante descoberta, La Condamine e a expedição deixavam a pequena Vila de Ega, embarcando e seguindo viagem Rio Amazonas abaixo. E,finalmente,chegavam em Belém no dia 19 de setembro de 1743. Após passar alguns meses na capital da Amazônia Portuguesa, La Condamine deixava Belém rumo á Guiana Francesa, onde chegou em Caiena no dia 26 de fevereiro de 1745.

Finalmente,aportava em Paris em 26 de fevereiro de 1745. Em solo europeu, publicou um relato de sua viagem pela Amazônia nas Mémories de L`academie de Sciences (1745), onde foi o primeiro a fazer uma descrição detalhada da borracha,produto desconhecido na Europa. Mas, além do importante registro que fez do látex, da flora e fauna,não se pode deixar de comentar o interessante jogo que o francês presenciou entre os Cambebas.

Devido aos ricos detalhes que Condamine escreveu daquela prática, pode-se afirmar que o jogo dos Cambebas era incrivelmente quase semelhante ao futebol moderno em suas regras. Havia um grande campo (terreiro), dois grupos distintos organizados(times), uma bola que pulava e que só podia ser impulsionada com os pés, uma disputa, e o mais interessante: havia um par de duas traves(varas) nos dois extremos do campo, na qual a vitória era conquistada pelo time que empurrasse a bola com os pés, entre as duas traves.

Exatamente como seria definido,mais de 100 anos depois, o ponto da vitória (que também seria com a bola passando entre as duas traves) nas regras do futebol elaborado pelos ingleses em 1863. A única coisa que faltou os Cambebas criarem foi a figura do goleiro. Infelizmente, La Condamine não registrou o nome que os índios deram a aquele esporte.

Somente 150 anos depois é que um estudante chamado Charles Miller aportava em São Paulo, trazendo e difundindo no Brasil um esporte em que também se chutava uma bola.Mas,agora tratava-se do “Foot-ball”, desenvolvido pelos ingleses,com regras próprias e que iria se popularizar em pouco tempo no país.

Mas, foi no Amazonas que se registrou e praticou no Brasil, pela primeira vez, um esporte ancestral do futebol moderno e, que muita semelhança tinha com o próprio. E, se Charles Miller foi o introdutor oficial do futebol de regra inglesa em terras tupiniquins, foram os índios Cambebas, lá nas selvas do Amazonas, que deram o ponta-pé inicial de se chutar uma bola em uma alegre disputa.

 

FONTE: Professor e Pesquisador do Futebol Amazonense, Gaspar Vieira Neto 

Os Primórdios do Futebol em Itacoatiara (AM)

Itacoatiara é hoje um dos mais importantes municípios do Amazonas. Com uma população de 100 mil habitantes, a cidade se situa ás margens do rio Amazonas, e é conhecida também pelo nome de velha Serpa. No início do século XX, o município tinha uma população de 12 mil habitantes e era,depois de Manaus,a segunda maior cidade do estado.

Mas, Itacoatiara foi o segundo lugar do Amazonas onde o futebol foi introduzido (o primeiro,como se sabe,foi Manaus). É no ano de 1908 que surge em Itacoatiara uma agremiação chamada “Club Athletic” que ensinava, através de um inglês chamado Hans Pedersen, a prática do futebol aos jovens associados.

Em 1910 existia na cidade um clube chamado Amazonas Football Club, que costumava realizar jogos entre seus sócios na praça 13 de Maio. O 13 de Maio Sport Club foi Fundado no mesmo dia e mês que deu nome ao clube, em 1912. Em 11 de julho de 1912, alunos do Colégio Atheneu deram origem ao Atheneu Football Club.

Mas, é no dia 11 de maio de 1913 que surgia a primeira grande equipe do futebol itacoatiarense: o Sport Club. A agremiação foi fundada por Alfredo Bastos e sua sede localizava-se na Rua Ruy Barbosa.

Seu campo oficial era na Praça 13 de Maio e seu uniforme era todo na cor branca.O Sport Club revelou os jogadores Parimé e Pequenino,que fariam parte do Nacional de Manaus.

Ainda no ano de 1913, no dia 1º de dezembro, membros da colônia portuguesa da cidade fundavam o Luso Brasileiro,que seria o primeiro grande rival do Sport Club. Entre seus fundadores estavam Osório Fonseca, Alfredo Ribeiro, Antonio Gomes e Pedro Botelho.

O futebol já estava consolidado no coração da sociedade itacoatiarense, incentivando que mais jovens dessem origem a outras equipes. E foi assim que um outro grupo de rapazes fundava, no dia 13 de maio de 1915, o Aliança Football Club. Suas cores eram o vermelho e branco e seu campo era na Praça Marechal Deodoro.

Já em 1916,um outro grupo de portugueses fundava o Grêmio Sportivo Português, que costumava realizar seus treinos e jogos na praça 5 de outubro. Em 1917 surgia o Ypiranga Football Club, cujas cores eram o azul e branco.

Devido ao grande interesse que a população local já tinha pelo futebol,era fundada, em junho de 1918, a Liga Desportiva Itacoatiarense, que realizou naquele ano o primeiro campeonato de futebol do município, com a participação de 4 clubes: Sport Club, Aliança,Ypiranga e Grêmio Português. Em 21 de abril de 1924, surgia um dos principais times de Itacoatiara: o Botafogo Football Club.

Botafogo Football Club, de Itacoatiara (1928)

SPORT CLUB X LUSO BRASILEIRO

Durante o ano de 1914, Sport Club e Luso deram origem á primeira grande rivalidade do município em disputados confrontos que ocorriam na Praça 13 de Maio. O primeiro jogo entre ambos aconteceu no dia 13 de maio de 1914 e terminou com uma vitória do Sport Club por 3 a 0. Por terem os melhores jogadores da cidade, Sport Club e Luso Brasileiro formaram um combinado itacoatiarense que, naquele ano, enfrentou os times de Manaus que visitaram o município.

SPORT CLUB X ALIANÇA

Com o aparecimento,em 1915,do Aliança,Itacoatiara viu surgir uma nova rivalidade local. Aliança e Sport Club protagonizaram,de 1915 a 1918, o maior clássico dos primórdios do futebol da velha Serpa. O primeiro jogo entre ambos, aconteceu no dia 13 de maio de 1915 e o Aliança estreou com uma vitória de 2 a 1 frente ao Sport Club. Ainda em 1915, os dois rivais se enfrentaram mais três vezes: duas vitórias do Sport Club por 3 a 0, e um empate em 1 a 1.

Já no início de 1916 se registrou um jogo na praça Marechal Deodoro, entre os times reservas dos dois adversários e terminou com uma vitória do Aliança por 2 a 1. Em 1917 houve o registro de outros três jogos:no primeiro,um empate de 1×1.No segundo,uma vitória do Aliança por 2 a 0. E no terceiro,vitória do Sport Club por 3 a 2.Todas essas partidas aconteceram na praça 13 de maio.

CONFRONTOS COM OS CLUBES DE MANAUS

Itacoatiara era o lugar do interior preferido em que os clubes de Manaus escolhiam para jogar pois,sabiam os manauenses que aquela localidade interiorana possuía clubes competitivos e bons jogadores. A primeira vez em que um time da capital jogou em Itacoatiara foi no dia 7 de setembro de 1914, quando um combinado manauense perdeu para o combinado itacoatiarense por 3 a 0.

Em novembro do mesmo ano,é a vez do Manáos Sporting chegar na cidade e ganhar do combinado por 2 a 0. Em 1916, o Nacional, campeão Amazonense, jogava pela primeira vez contra o escrete local e empatava em 1 a 1. Também em 1916,o Rio Negro aportava pela primeira vez na velha Serpa e ganhava do escrete por 1 a 0. Ainda no mesmo ano, Luso e União Sportiva jogavam com o time da casa. O Luso triunfava por 2 a 0 e a União por 3 a 0.

Em 1917, em outro confronto o Rio Negro bateu o Combinado Itacoatiarense duas vezes: 4 a 0 e 3 a 2. Já o Manáos Sporting realizou uma série de três jogos amistosos com duas vitórias (2 a 0 e 8 a 0) e um empate (2 a 2). Fechando, o América Football Club também realizou uma partida, mas acabou sendo goleado pelo Combinado Itacoatiarense pelo placar de 4 a 0.

O ano de 1918 assinala a visita (novamente) da União Sportiva, que ganhou  dos locais por 1 a 0. Já uma outra pequena equipe manauara, o Funambulesco, também se aventurou pelo município e ganhou por 2 a 1. Em 1919, pela primeira vez, os itacoatiarenses vinham jogar em Manaus. A partida realizou-se no Parque Amazonense e o combinado de Itacoatiara foi goleado pelo Rio Negro por 5×1.

Em 1922 é a vez do Brasil Sport ir á Itacoatiara e jogar duas vezes com o combinado. Acabou perdendo por 4 a 0 e 3 a 1. E, em 1926, o Botafogo Football Club vem pela 1ª vez a Manaus, perdendo para o Nacional por 4 a 1 e para o Rio Negro por 2 a 0. Ainda nesse ano,é a vez de outra equipe, o Amazonas, vir á Manaus e perder para o Rio Negro por 3 a 0, no Parque Amazonense.

FONTE: Professor e Pesquisador do Futebol Amazonense, Gaspar Vieira Neto 

Entre 1912 a 1920, mais de uma dezena de clubes de origem portuguesa, surgem no Amazonas

A presença portuguesa na Amazônia se iniciou em 1616 quando o capitão Francisco Caldeira Castelo Branco ergueu o forte do Presépio, que daria origem á cidade de Belém. Com o propósito de consolidar a presença lusa na região,os portugueses adentraram o grande vale amazônico entrando em confronto com índios e expulsando ingleses,holandeses e franceses.

Penetrando cada vez mais no oeste amazônico, acabaram colonizando o local onde futuramente seria o estado do Amazonas. Em 1669, o capitão Francisco da Mota Falcão erguia o forte de São José da Barra do Rio Negro, embrião da cidade de Manaus. Desta forma, mais e mais portugueses chegavam á região: militares, religiosos, aventureiros, funcionários da coroa, comerciantes e outros.

Mas, é com o início  do período áureo da borracha que uma nova leva de imigrantes portugueses chegam ao Amazonas. A maioria se fixou em Manaus onde se dedicaram ao comércio. Haviam várias firmas de origem lusa na cidade como J.G. Araújo,J.S.Amorim, Marques e companhia, entre outras.

Havia na primeira década do século XX, em Manaus, cerca de 5 mil portugueses. A colônia portuguesa de Manaus era a maior colônia de estrangeiros que existia no estado e,assim como outros imigrantes,eles também fundaram seus clubes e associações.

 

Luso Football Club, em 1913

SURGE O LUSO FOOTBALL CLUB

Os jovens portugueses também apreciavam o futebol pois, aquele era o esporte preferido de sua terra natal, e começaram a fundar seus primeiros clubes. O Luso Football Club foi o primeiro clube de futebol a surgir em Manaus. Foi Fundado em 1º de Maio de 1912, por onze jovens portugueses de origem humilde que só queriam, em suas horas vagas, praticar o esporte que tanto apreciavam.

O clube foi fundado na residência do sócio Francisco Gomes Rodrigues, na Rua Monsenhor Coutinho, no Centro de Manaus, e, durante um tempo, foi a 1ª Sede do Luso. O seu 1º presidente foi Augusto Ornelas, que depois transferiu a sede do Luso para a sua residência, na Rua Ruy Barbosa, no Centro da cidade.

PRIMEIROS JOGOS

Os seus primeiros jogadores foram Melita, Carvalinho, Fantomas, Acadêmico, entre outros. O primeiro jogo oficial do Luso aconteceu no dia 5 de outubro de 1913 quando empataram em 1 a 1 com o Manáos Sporting, no Bosque.

Logo depois, Luso e Manáos Sporting voltavam a se enfrentar (no dia 9 de novembro daquele ano) no Bosque. Dessa vez o Luso sofria uma derrota de goleada do Sporting por 7 a 0. O jogo foi marcado por uma briga entre Cabral (Luso) e Sylla (Manáos Sporting).

ESTREIA NO ESTADUAL  DE 1914

O Luso debutou no Campeonato Amazonense da 2ª Divisão de 1914. No ano seguinte chegou na Elite Amazonense, enquanto os reservas disputaram a Segundona de 1915. Em 1916 o Luso joga pela primeira vez no interior onde, em Itacoatiara, ganha da seleção local por 2 a 0.

 

OUTRO QUE SURGE: ONZE PORTUGUÊS

O outro clube de futebol de origem lusa que surgiu em Manaus foi o Onze Português. O clube alvinegro foi Fundado em Setembro de 1913. A estreia do Onze ocorreu no dia 26 de outubro, com o time reserva do Nacional, no Bosque.

No dia 30 de dezembro, o Onze Português realizava, no Bosque, um amistoso com seus patrícios do Vasco da Gama, no qual foram goleados pelos vascaínos por 5 a 1.

O Onze Português participa do Campeonato Amazonense da 2ª Divisão, em 1914 e 1915, quando se fundiu, em 18 de agosto de 1918, com o Vasco, para dar origem á União Sportiva Portuguesa. Time-base de 1914-15: Souza; Henrique e Jayme; Rocha, Cabral e Gavinho; Cangalhas, Dias, Raul, Figueiredo e Mattos.

 

Vasco da Gama, em 1914

UM MÊS DEPOIS NASCE O VASCO DA GAMA

No dia 11 de outubro de 1913, um outro grupo de jovens portugueses fundavam o Club Vasco da Gama que tinha como principal prática o futebol.As cores do clube eram o preto e branco.

O Vasco participou de das duas divisões dos campeonatos amazonenses de 1914 e 1915. Teve como principais jogadores Soeiro, Carneiro, Borges, Argentino e Lulu. Em 18 de agosto de 1918, o Vasco desaparecia para dar origem a União Sportiva.

 

DA FUSÃO, SURGE UNIÃO SPORTIVA

A União Sportiva foi a mais competitiva de todas  as equipes daquele período. O clube adotou as cores preto e branco e disputou sua primeira edição do campeonato amazonense em 1918. Foi bicampeão em 1934 e 1935.

 

OUTROS LUSITANOS QUE SURGIRAM

Além desses clubes, os portugueses deram origem á outras agremiações futebolísticas menos badaladas que as demais: em novembro de 1914 era fundado o Grupo Sportivo Português, na qual José Almeida foi seu primeiro presidente. Ainda em 1914 surgia o Luzitano Operário, que tinha seu campo numa praça próximo ao cemitério de São João.

Em 1916 era fundado o Leixões Football Club. Já em 1918 surgia o Luzíadas Football Club, cuja sede localizava-se na Rua da Instalação. Em 1919 era fundado o Portuense Football Club e ,em 1920, o Sport Club Portugal. Mas também era comum os portugueses de Manaus formarem um escrete local, que tinha como finalidade enfrentar os melhores times da cidade. Também acrescentando… O Benfica (Fundado em 1915) e o Bragança Sporting Club  (Fundado em 1919).

Já no interior, a colônia portuguesa de Itacoatiara deu origem,em 1913, Luso Brasileiro (que foi um dos principais times do município). Três anos depois, em 1916 era também Fundado o Grêmio Sportivo Português.

Lega versus Sportivo: Confronto Italiano, em Manaus (AM)

Manaus teve o privilégio de ser a única cidade do norte em que teve um confronto entre times italianos, gerando uma pequena rivalidade. Lega Football Club e Club Sportivo Italiano era o pequeno clássico que agitava a colônia italiana amazonense.

Os dois times se enfrentaram algumas vezes. Um dos principais jogos aconteceu no dia 6 de abril de 1919, no campo da Floresta (que pertencia ao Nacional). A torcida, composta a maioria de italianos, acompanhou com atenção os dois clubes que entraram em campo com a seguinte formação:

LEGA FC: Larocca; Bruno e Danto; Elia, Michele e Croccia; Raffaele, Bello, Giuseppe, Virgilio e Manfredi.

SPORTIVO ITALIANO: Angelo; Amadeu e Antonio; Paleo, Cantisano e Manoelito; Umberto, Arturo, Pasquali, Ianibelli e Rafaelito.

LEGADO

A despeito de terem perdurado poucos anos, Lega e Sportivo Italiano deixaram seu nome na história local por serem os únicos clubes, de tal nacionalidade, a surgir no Amazonas, mostrando que isso era uma particularidade do sul e sudeste do Brasil. Infelizmente, os dois clubes não participaram de nenhuma edição do campeonato amazonense daqueles anos, como também não há registros se chegaram a enfrentar as duas principais forças do futebol local: Nacional e Rio Negro.

 

FONTE: Professor e Pesquisador do Futebol Amazonense, Gaspar Vieira Neto 

Lega F.C. e Sportivo Italiano: Os Pioneiros e únicos clubes de futebol italianos em Manaus (AM)

A maioria dos imigrantes italianos que vieram para o Brasil, no final do século XIX, se estabeleceram nos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Mas, o que talvez muitos não saibam é que uma parte desses italianos imigraram para a Amazônia, atraídos pela grande circulação de capital na região, proporcionado pela exportação da borracha.A maioria se fixou nas duas capitais:Belém e Manaus.

No Amazonas,os italianos começaram a chegar no início do século XX e a maioria vinha das regiões da Basilicata, Campânia e Calábria. Em Manaus, os italianos trabalhavam como sapateiros, ferreiros, carpinteiros e jornaleiros. Outros trabalhavam como carregadores de móveis e estivadores no porto.

Mas, boa parte desses imigrantes se dedicou á atividades comerciais. Haviam, em Manaus, vários estabelecimentos comerciais de italianos: Hotel Cassina, Tinturaria ítalo-amazonense, Joalheria Roberti e Pelosi, Lattoneria Italiana, etc. Em 1915, membros influentes da comunidade, fundavam a Lega Coloniale Italiana, sociedade de auxílio mútuo que realizava várias atividades e agregava todos os ítalo-manauaras.

Segundo o censo de 1907, residiam em Manaus cerca de 1.200 italianos.  Mas como membros de outras comunidades, os italianos costumavam, em suas horas vagas, praticar o esporte preferido de sua pátria; o futebol. E foi pensando nisso que os”bambinos” fundaram os dois primeiros e únicos clubes de futebol italianos de Manaus. É bom lembrar que membros das colônias italianas de outros estados também fundavam seus clubes.

Como exemplo o Palmeiras e Juventus em São Paulo; Cruzeiro em Minas Gerais, o Palestra Itália em Curitiba; e outros clubes menores espalhados principalmente no sul do Brasil.

LEGA FOOTBALL CLUB

O Lega Football Club foi Fundado em agosto de 1918 por membros da Lega Coloniale Italiana.O seu  uniforme consistia em camisa verde e calção branco. O campo oficial do Lega era na praça General Carneiro, no bairro da Cachoeirinha. Entre seus fundadores,estava Lauria Zaccaria, que foi escolhido como capitão do time titular do clube.

A primeira notícia de um jogo do Lega ocorreu no dia 14 de setembro de 1918, que se realizou na sua casa (praça General Carneiro) contra um time chamado Vitória. Para esse jogo, o Lega entrou em campo com a seguinte escalação: Giordano, Bruno e Croccio; Mafredo, Zaccaria e Larona; Marchesano, D’elia, Giuseppe, Lauria e Conte.

No dia 10 de agosto de 1919, se tem registro de um jogo do Lega com o time do Força Policial Sport Club. O jogo realizou-se na praça Floriano Peixoto e terminou com a vitória dos militares por 4 a 0. Já no dia 21 de setembro de 1919, num domingo, foi organizada uma comemoração no campo do Lega em alusão á data comemorativa da unificação da Itália.

Devido a isso, foi organizada uma partida festiva entre os times titular e reserva que entraram em campo com a seguinte escalação:

TITULARES: Bruno; Guerra e Zaccaria; Camardello, D’elia e Cento; Novellino, Larocca, Conte, Domenico e Manfredi.

RESERVAS: Sinecca; Paolo e Crecio; Parruele, Martine e Corbine; Giordano, Giuseppe, D’ante, Bello e Adamo.

Três anos depois, o Lega Football Club encerraria suas atividades para sempre, no ano de 1921.

Recorte sobre a Fundação das duas agremiações italianas de Manaus

SPORTIVO ITALIANO

O Club Sportivo Italiano foi também Fundado em agosto de 1918, e, assim como o Lega, só aceitava atletas de origem italiana em seu plantel. Seus fundadores foram Giuseppe Vulcani, Giordano Guidacci, Raffaele Donadio, entre outros.

O Sportivo Italiano não tinha um campo próprio e costumava jogar no campo Coronel Ramalho. A primeira noticia de um jogo do Sportivo Italiano foi no dia 22 de setembro de 1918, contra a Associação Desportiva,no campo do Bosque Municipal, do qual não se sabe o resultado final.

Mas é no dia 29 de março de 1919 que se registrou um dos vários jogos do Sportivo Italiano. Naquele dia, os italianos enfrentaram, no campo Coronel Ramalho, o time do Luso, que ganhou dos italianos por 2 a 0. O Club Sportivo Italiano extinguiu-se ainda no ano de 1919. O seu time base era: Fábio; Giordano e Marino; Paolo, Giuseppe e Sabando; De Franco, Gaetano, Cantisani, Guglielino e Chevola.

 

FONTES: Professor e Pesquisador do Futebol Amazonense, Gaspar Vieira Neto  –  Jornal O Imparcial (03 de Setembro de 1918)      

Manáos Sporting Club – Manaus (AM): Primeiro Escudo

Numa casualidade, encontrei mais um escudo. Vendo uma foto do time posado do Nacional de Manaus, reparei que entre os jogadores posados, um era diferente. Tanto no uniforme quanto no escudo. Ao consultar o professor e pesquisador Gaspar Vieira, descobri que se tratava do 1º escudo do Manáos Sporting Club da cidade de Manaus (Fundado no dia 02 de Julho de 1913, pelo cirurgião-dentista Fábio Loureiro).

Nessa  foto (acima), parece o Nacional de 1913, o jogador com o uniforme e escudo diferente dos demais é o atleta Loureiro do Manáos Sporting, que atuou como árbitro. Ele está com a camisa vermelha do Manáos Sporting onde é possível ver o primeiro escudo do clube que era um circulo branco com as iniciais MSC em vermelho.

 

FONTE & FOTO: Professor e Pesquisador do Futebol Amazonense, Gaspar Vieira Neto 

Primeiro jogo entre Rio Negro x Nacional, em 1914: O Clássico mais Antigo do Norte do Brasil

Na maioria dos Estados brasileiros há os grandes clássicos como: Inter e Grêmio (RS); Atlético e Cruzeiro (MG); Bahia e Vitória (BA); Paysandu e Club do Remo (PA); Moto Club e Sampaio Correa (MA) e por aí vai. No Amazonas, a maior rivalidade futebolística da história é entre Nacional e Rio Negro.

Um clássico centenário, ambos o clubes nasceram no mesmo ano: 1913, com uma diferença de 10 meses de um para outro. Antes do surgimento dos dois clubes, as principais rivalidades em Manaus eram entre as equipes do Racing, Brasil e Manáos Athletic. Com o desaparecimento desses clubes,o caminho ficou aberto para nacionalinos e rio-negrinos se consolidarem e se perpetuarem na hegemonia do futebol amazonense até os dias atuais.

 

CONFRONTOS                                                                                               

Nacional e Rio Negro se enfrentaram mais de 250 vezes e os nacionalinos ainda tem uma boa vantagem sobre seu rival no número de vitórias. Os dois clubes chegaram a colocar mais de 40 mil pessoas no Estádio Vivaldão em dia de clássico.

No dia de um”Rio-Nal“a cidade de Manaus praticamente parava. O clássico baré viveu seu auge nas décadas de 60, 70 e 80, quando os dois times estavam na 1ª Divisão do Brasileiro e contavam com excelentes jogadores. Entre eles, Campos e Gilmar Popoca (que jogaram na seleção brasileira).

 

Time do Nacional de 1913

DA ASCENSÃO A DECADÊNCIA

Hoje, as novas gerações de amazonenses desconhecem essa rivalidade e não fazem ideia do que esse duelo representou para a história esportiva do Amazonas. Devido á situação de decadência que ainda perdura em nosso futebol, o “Rio-Nal” hoje não ultrapassa um público de 2 mil pessoas.

No passado, tanto Rio Negro e Nacional como Paysandu e Remo, eram os maiores clássicos do norte do Brasil. A rivalidade era tanta que o Rio Negro passou o período de 1945 a 1960 afastado do futebol, em protesto contra o Nacional que era acusado pelos rivais de armarem um complô entre a Federação Amazonense e o Tribunal de Justiça, para prejudicar o Rio Negro.

 

2º CLÁSSICO MAIS ANTIGO DO NORTE E NORDESTE

O tradicional “Rio-Nal” é o clássico de futebol mais antigo do norte do  Brasil e o segundo mais antigo de todo o norte e nordeste, só perdendo para o duelo entre Sport e Náutico de Pernambuco.

Equipe do Rio Negro de 1918

 

PRIMEIRO JOGO DO CLÁSSICO ‘RIO-NAL’

O primeiro jogo entre os aguerridos rivais aconteceu no ano de 1914. A partida foi válida pelo Campeonato Amazonense daquele ano. O Nacional já era uma equipe calejada e experiente com bons atletas como o goleiro Craveiro, Paiva, Cícero Costa, Cazuza e outros. Já o Rio Negro ainda contava com jogadores inexperientes, mas aguerridos e esforçados, uma vez que ainda eram em sua maioria adolescentes. Os principais destaques eram Pudico, Anízio e Lobão.

O Nacional vinha de uma vitória de 2 a 1, na estreia, frente ao seu maior rival, o Manáos Athletic. Já o Rio Negro vinha de uma derrota para o Manáos Sporting. Ambas as equipes buscavam a vitória para superar ou igualar-se aos perigosos ingleses. O jogo foi marcado para o dia 1º de março de 1914, com arbitragem do inglês Burnett. Os dois times compareceram no Bosque, naquela tarde de domingo, com a seguinte escalação:

NACIONAL: Craveiro; Silva e Adail;  Authberto, Laiza e Cyriaco; Santos Linhares, Paulo Mello, Cícero Costa, Cazuza e Paiva.

RIO NEGRO: Ércio; Marinho e Washington; Basílio, Mendes e Lobão; Pudico, Anízio, Peres, Cyrillo e Oliveira.

 

É bom lembrar que naquele ano ainda não havia acendido a chama da rivalidade entre Nacional e Rio Negro, devido ao fato dos rio-negrinos ainda ser uma equipe nova e pouco competitiva. Na verdade, o  clube ainda se encontrava á sombra do principal clássico daquele período: Nacional e Manáos Athletic.

Eram 16 e 15 da tarde quando nacionalinos e rio-negrinos começaram a peleja. O clima estava bem frio e as arquibancadas do Bosque estavam lotadas. O Nacional com seu uniforme branco, com a estrela azul estampada do lado esquerdo do peito. O Rio Negro com seu uniforme todo preto. Logo aos 12 minutos Cícero, com um violento chute, abre a contagem para o Nacional. Um pouco depois,é a vez de Paulo Mello, também com um forte chute, marcar o segundo gol nacionalino.

O Nacional pressiona, mas a zaga rio-negrina consegue rebater diversas vezes o ataque inimigo. Até que, altando 5 minutos para findar a etapa inicial, Cícero novamente assinala, marcando o terceiro gol.  E assim terminou o 1º tempo com o placar de 3 a 0 favorável ao Nacional. Tem inicio o 2º tempo. Logo aos 5 minutos, Cícero marca o quarto gol de sua equipe. Depois, é a vez de Paulo Mello assinalar o quinto e sexto gols. Cícero (2 vezes) e Cazuza, davam pontos finais ao jogo que terminou ás 17 e 40 da tarde com o placar final: NACIONAL 9 X 0 RIO NEGRO {gols de Cicero Costa(cinco vezes), Paulo Mello (três) e Cazuza uma vez}.

O JOGO DO RETURNO: NOVO MASSACRE

Era chegado o momento das duas equipes se reencontrarem em partida do returno do campeonato. O Rio Negro vinha de uma  vitória contra o Vasco pretendia vencer o Nacional para melhorar sua colocação na tabela e, quem sabe, entrar na disputa pelo título.

Já para os nacionalinos só a vitória interessava para assim se distanciar do Athletic que estava na sua cola. Muitos já previam que o Nacional ganharia novamente de goleada. O jogo realizou-se no dia 19 de abril de 1914 e teve como juiz o inglês George Fenton. Os times foram os seguintes.

RIO NEGRO: Arthur; Peres e Joca; Oliveira, Marinho e Campos; Azevedo,Gonzaga, Cyrillo, Pudico e Anízio.

NACIONAL: Craveiro; Ernesto e Adail;  Hermes, Laiza e Authberto; Santos Linhares, Paulo Mello, Cícero Costa, Cazuza e Paiva.

 

CURIOSIDADE

Apesar de estar escalado, Pudico não participou do jogo (não se sabe o motivo), o que enfraqueceu mais ainda o Rio Negro pois ele era o principal jogador de sua equipe e artilheiro. Definido os times,um inesperado problema complicou ainda mais o Rio Negro. A equipe apresentou-se em campo com apenas 9 jogadores, pois os outros dois haviam desaparecido.

Mesmo assim, o jogo teve início. O Rio Negro jogou o 1º tempo heroicamente. Mesmo em desvantagem numérica, conseguiu resistir ás investidas do arrasador ataque nacionalino por 30 minutos. Mas, já próximo do final do 1º tempo, Linhares enfiava a bola na rede do Rio Negro, abrindo o placar para o Nacional.

Esse gol acabou desmotivando os rio-negrinos, o que fez com que Linhares novamente marcasse pela segunda vez. E assim terminou a etapa inicial com o seguinte placar:Nacional 2 a 0 Rio Negro. No 2º tempo,o Rio Negro completou seu time,colocando Joca e Alencastro nas vagas em aberto. Com o time completo se pensava que os rio-negrinos melhorariam, mas, ao contrário, piorou.

O Nacional não tomou conhecimento de seu adversário e marcou mais 10 gols. Apesar dos esforços do goleiro Artur (que fez excelentes defesas, evitando que o placar fosse ainda mais dilatado), de Marinho e Anízio, não foi possível parar o bombardeio dos nacionalinos, que colocaram os rapazes adversários dentro da roda. Placar final: NACIONAL 12 X 0 RIO NEGRO {gols de Cicero Costa (cinco), Linhares (três), Cazuza (três) e Paiva(um)}.

Até hoje essa é a maior goleada, na história, que o Nacional infringiu ao seu tradicional rival. Estava iniciado, há 101 anos atrás, aquele que viria a ser o maior duelo de futebol da terra de Ajuricaba e que hoje está adormecido. Ficamos na torcida para que um dia o honroso “Rio-Nalressurja das cinzas com toda sua história, emoção, fanatismo, paixão e tradição.

 

FONTES & FOTOS: Professor e Pesquisador do Futebol Amazonense, Gaspar Vieira Neto