Arquivo do Autor: Gilberto Maluf

Independiente – Rei de Copas

Certo vez fui á Vila Belmiro, quarta-feira à noite, ver Santos x Independiente pela Recopa. Creio que foi em 1996. O Edinho jogava no gol do Santos. Acontece que ganhei uma aposta de um amigo torcedor do Santos, que era ir ver um jogo na baixada e comer um peixe frito. Tudo por conta do perdedor. E ele veio querer pagar a aposta exatamente no jogo em referência. Falei: Começa às 22h, acaba meia-noite se não for para os pênaltis ( e foi ), temos que voltar para São Paulo e de manhã , 07h30min estar no trabalho. E ainda tem mais, o Independiente não é nem sombra do que foi. Vamos deixar para outra vez.
Sabe como o meu amigo me convenceu? Foi muito forte. Ele falou: Gilberto, você vai ver a camisa…esta camisa tem tradição, é de um time copeiro.
Sequer repliquei. Fui!
Não poderia deixar de relembrar o outro Independiente, o dos anos 70 :

Santoro, Comisso, Sá, López e Pavoni; Galván, Raimondo, Semenewicz e Balbuena; Bertoni e Bochini. Esses são alguns dos nomes responsáveis pelo esquadrão que dominou o futebol sul-americano nos anos 70. Com esses jogadores, o Independiente acabou com a hegemonia do Estudiantes e iniciou a sua própria “Era de Oro”.
Em 1968 a equipe de La Plata foi campeã depois de bater o Palmeiras no jogo-desempate, em Montevidéu, por 2 a 0. E em 1969, conquistou o bi vencendo o Nacional, do Uruguai, duas vezes: 1 a 0 no estádio Centenário, em Montevidéu e 2 a 0 no jogo de volta, em La Plata.
Na primeira edição dos anos 70, o Estudiantes enfrentou na decisão o Peñarol – até então único time a conquistar a competição três vezes – e não só igualou o clube uruguaio como se tornou o primeiro tricampeão de fato, com a conquista dos títulos em anos consecutivos.
Os argentinos ainda chegaram em sua quarta final seguida, em 71, mas acabaram derrotados pelo Nacional, do Uruguai. Foi o único título não-argentino de 1967 (quando o Racing foi campeão) até 1975, ano do sexto título do Independiente.
O começo desta Era Independiente na Libertadores impediu, inclusive, o sucesso na competição de um dos melhores times que o São Paulo já teve, com craques como Valdir Peres, Forlan e Pedro Rocha.
A equipe argentina até então bicampeã (64 e 65), conquistou o terceiro título em 1972 e, já nesta campanha, foi responsável pela eliminação do Tricolor Paulista, que terminou com o segundo lugar do grupo 2 da fase semifinal e assim não se classificou para a decisão.
Na grande final, o Independiente o Universitário, do Peru, que se classificou para a decisão graças ao saldo de gol, em um grupo que contava ainda com os uruguaios do Nacional e do Peñarol. Um empate por 0 a 0 em Lima e uma vitória por 2 a 1 em Avellaneda garantiram o título.
No ano seguinte, com o status de atual campeão, o Independiente entrou direto na fase semifinal, quando eliminou o San Lorenzo, também argentino e o Millonarios, da Colômbia, classificando-se para a decisão contra o Colo Colo, do Chile. Após dois empates nos jogos de ida e volta, o título foi decidido em Montevidéu e os argentinos conquistaram seu segundo bicampeonato com uma vitória por 2 a 1.
Em 1974, mais uma vez o time argentino começa nas semifinais e se garante facilmente na decisão. Sua campanha antes da decisão só não é melhor que a do São Paulo, que consegue 3 vitórias e 1 empate no grupo 2 da fase semifinal.
O Tricolor saiu na frente na decisão ao vencer por 2 a 1 no Pacaembu, mas no jogo de volta perdeu por 2 a 0 em Avellaneda. No jogo-desempate, em Santiago, no Chile, uma vitória por 1 a 0, com gol de Pavoni, bastou para que o Independiente alcançasse seu 5º título.
Em 1975, a vítima na decisão foi o Unión Espanhola, do Chile, que no jogo-desempate perdeu por 2 a 0 em Assunção, no Paraguai. Com isso o Independiente chegou ao tetracampeonato, marca até hoje não igualada e ao sexto título.
Coube a um time brasileiro acabar com esse domínio argentino, em 1976. O Independiente caiu na semifinal, eliminado pelo rival River Plate e, na decisão, o Cruzeiro se tornou campeão ao bater o time de Buenos Aires por 3 a 2 no jogo-desempate, no Chile, depois de vitória por 4 a 1 no Mineirão e derrota por 2 a 1 no Estádio Monumental.

“O Craque” – Filme de 1953

Poucos carros circulam pelas ruas de São Paulo, namorados passeiam de barco pelas águas cristalinas do Tietê e apreciam as margens floridas. O estádio do Pacaembu, em uma vizinhança de raros prédios, recebe damas com belos vestidos e cavalheiros de terno, enquanto jogadores lendários do Corinthians posam para uma foto em frente à concha acústica.

O retrato dessa cidade bucólica da década de 50 e de um futebol ainda romântico, quase amador, corre o risco de virar pó, literalmente, em um depósito da Cinemateca Brasileira do Estado de São Paulo. Os negativos de “O Craque”, de 1953, o mais antigo longa-metragem nacional com o futebol como pano de fundo que não se perdeu com o tempo, estão em “estágio de deterioração muito avançada, provavelmente com partes irrecuperáveis”, segundo laudo expedido pela Cinemateca no final de 2007. Não há nenhuma cópia em bom estado, só trechos em VHS, assistidos pela Folha.

O material está com a publicitária Patrícia Civelli, 57, filha de Mário Civelli (1923-93), produtor de “O Craque” e de outros filmes dos anos 1950 e 1960. Desde a morte do pai, ela tenta restaurar sua obra. Com apoio da Petrobras, acaba de recuperar o documentário “O Gigante” (1969), censurado na ditadura militar. A cópia restaurada será exibida em abril no festival É Tudo Verdade. Ela busca patrocínio para “O Craque”, cuja restauração, calcula, levaria cerca de um ano e custaria R$ 1,8 milhão.

Corinthians x Uruguai

“O Craque” é protagonizado por Eva Wilma, Carlos Alberto (1925-2007) e Herval Rossano (1933-2007). Mostra um jogo real entre Corinthians e o Olímpia, do Paraguai, que na história é um temido time uruguaio. “O Corinthians encara nesta tarde, desportistas amigos, o Carrasco de Montevidéu, o campeão do Uruguai”, narra Blota Júnior (1920-1999). O time que aparece no filme foi um dos mais importantes da história alvinegra ao conquistar o título do Quarto Centenário de São Paulo (1954). Era formado por craques como o goleiro Gilmar e os atacantes Baltazar, Cláudio e Carbone. O longa acaba com a vitória corintiana de virada, uma revanche fictícia à amarga derrota da seleção brasileira na final da Copa de 50, no Maracanã.

O universo futebolístico, com cenas da partida, de treinos, vestiários e do Parque São Jorge, entre outras, serve como pano de fundo para o romance de Elisa (Eva Wilma) e Julinho “Joelho de Vidro” (Carlos Alberto), que tinha o apelido em razão de uma queda sofrida na infância. Rico industrial, o pai da mocinha não aceita o namoro da filha com um jogador em busca do sucesso e a pressiona a ficar noiva do jovem médico Mário (Herval Rossano).

Em um final feliz, Julinho, com o joelho recuperado, se consagra ao substituir Carbone, no papel dele mesmo, fazer o gol da vitória corintiana e beijar a mocinha. “Ele ficou com todos os meus gols”, lembra Carbone, hoje com 80 anos, que no filme teve de deixar a partida em uma maca, com crise de apendicite. Quase 60 anos após as filmagens, poucas testemunhas restam. Além de Carlos Alberto e Rossano, já morreram quase todos os jogadores do Corinthians, o diretor do filme, José Carlos Burle, o produtor Mário Civelli e dois dos roteiristas.

O terceiro é o jornalista Alberto Dines, 76, que guarda fotos das filmagens e originais do roteiro em amarelados papéis datilografados. “Lembro que chegamos a pensar em algo dramático, inspirado no cinema americano de beisebol e boxe, mas o Civelli queria uma comédia romântica comercial”, conta Dines, contratado aos 21 anos pelo produtor após fazer uma entrevista com ele para a revista “Visão”, na qual era repórter e crítico de cinema. Eva Wilma, que hoje interpreta a vilã da novela das seis da Globo, “Desejo Proibido”, lamenta a situação do filme, um dos três de seu primeiro ano no cinema. “É triste, angustiante. É não só um registro da história do cinema, como dos costumes e de São Paulo. Eu me lembro da cena em que conversava com o Carlos Alberto na margem do Tietê.”

Os negativos originais de “O Craque” foram entregues por Mário Civelli à Cinemateca em 1989, segundo Patricia de Filippi, diretora da instituição e coordenadora do laboratório de restauração. Ela afirma que um laudo de 1993 atestou que o material apresentava “evidentes sinais de deterioração”. “Os negativos devem ter sido armazenados em condições não ideais por 40 anos. Estamos em um país tropical, quente e úmido, exatamente o contrário do que exige a preservação”, diz. E a Cinemateca só passou a ter câmaras climatizadas em 2000. Hoje, segundo ela, as oito latas com negativos de imagens do filme e outras oito com negativos do som ficam a 10º e 35% de umidade relativa do ar. Apesar disso, a obra corre o risco de desaparecer.

Fonte: Folha de S. Paulo –

A história maravilhosa da Copa do Mundo – por Jules Rimet

O trágico jogo final é conhecido como maracanaço. O silêncio tomou conta do Maracanã às 16 horas e 50 minutos do dia 16 de julho. O Brasil precisava de um empate. Saiu ganhando e perdeu por 2 a 1. Desolados, os quase 200 mil torcedores demoraram mais de meia hora para deixar o estádio. O time brasileiro fez trinta lances a gol (dezessete no primeiro tempo e treze no segundo). Os jogadores cometeram quase o dobro de faltas, um total de 21, contra apenas onze do Uruguai.

O presidente da FIFA, Jules Rimet, conta um caso curioso no seu livro La historie merveilleuse de la Cope du Monde:”Ao término do jogo, eu deveria entregar a Copa ao capitão do time vencedor. Uma vistosa guarda de honra se formaria desde a entrada do campo até o centro do gramado, onde estaria me esperando, alinhada, a equipe vencedora (naturalmente, a do Brasil). Depois que o público houvesse cantado o hino nacional, eu teria procedido a solene entrega do troféu. Faltando poucos minutos para terminar a partida (estava 1 a 1 e ao Brasil bastava apenas o empate), deixei meu lugar na tribuna de honra e, já preparando os microfones, me dirigi aos vestiários, ensurdecido com a gritaria da multidão”.

Aconselhado a descer devagar a escada até o vestiário, Jules Rimet ia acompanhado por delegados da FIFA, dirigentes brasileiros e guardas armados com a missão de proteger a taça de ouro.

“Eu seguia pelo túnel, em direção ao campo. A saída do túnel, um silêncio desolador havia tomado o lugar de todo aquele júbilo. Não havia guarda de honra, nem hino nacional, nem entrega solene. Achei-me sozinho, no meio da multidão, empurrado para todos os lados, com a Copa debaixo do braço”

Jules Rimet não conseguiu entregar a taça e decidiu se retirar. Mas logo depois voltou e Obdulio Varela recebeu a taça. Rimet disse: “Estou feliz pela vitória que vocês acabam de conquistar. Cheia de mérito, sobretudo por ter sido inesperada. Com minhas felicitações”.

Na tentativa de encontrar um culpado para a derrota do Brasil, os superticiosos de plantão culparam a troca do local de concentração na véspera da final. O Brasil trocou a concentração de Joá pelo estádio do Vasco da Gama em São Januário. Outros culpam Flávio Costa pelas 2 horas de missa na manhã do jogo impostas pelo treinador aos jogadores, que rezaram de pé.

Protagonistas da tragédia

Barbosa- Ghiggia diz que só ele, o Papa e Frank Sinatra calaram o Maracanã. Eu também fiz o Brasil calar, fiz o Brasil chorar: não é só ele que tem esse privilégio não.

Augusto- A cena já estava toda pronta, na minha imaginação. O jogo terminava. O Brasil, absoluto, ganhava fácil do Uruguai. A gente se perfilava no gramado, em frente à tribuna de honra do Maracanã. Depois de cantar o Hino, a gente veria chegar o velhinho Jules Rimet com taça na mão. Eu pegaria a da taça das mãos dele. Todo feliz, ergueria a taça lá para o alto.

Juvenal- Eu me sentia um soldado defendendo o país. Não é só numa guerra que se defende o país: é nas disputas esportivas também. Então, perder aquele jogo para o Uruguai foi como perder uma guerra. A gente não falava em dinheiro. Os jogadores não pediram prêmio, nada, nada, nada. Nós, ali, éramos como militares.

Bauer- Vim para o Rio para ser campeão do mundo. Voltei a São Paulo no chão do trem.

Danilo- Como a Copa de 50 marcou a inauguração do Maracanã, a derrota do Brasil ficou gravada para a eternidade. O próprio time do Vasco, base da Seleção Brasileira, derrotou o Peñarol, base da Seleção Uruguaia, em Montevidéu, logo depois. Mas os uruguaios diziam: “A gente não queria ganhar essa aqui em Montevidéu, não. Queríamos ganhar aquela, no Maracanã”.

Bigode- Deve ter morrido gente de enfarte. Se o Brasil fosse campeão, morreria muito mais gente. O povo é exagerado. O Maracanã ia vir abaixo. Iam quebrar tudo nos bailes. O futebol é um fenômeno que ninguém explica. Futebol incomoda mais que problema de família…

Friaça- Fiz 1 x 0 na final da Copa. Ali nós já éramos deuses.

Zizinho- Meu sonho era assim: a gente ainda iria jogar contra o Uruguai. Aquilo que aconteceu era mentira.

Ademir- Depois do jogo com a Espanha – que vencemos por 6 x 1 – apareceu um senhor num automóvel gritando: “Quero falar com Ademir”. Ele entrou e foi falar direto com Flávio Costa. Daí Flávio me chamou num canto: “Vá ao hospital com o médico da seleção, veja a situação e volte”. Quando cheguei ao hospital, vi que era um garoto meu admirador. O menino vei, me beijou e disse: “Doutor, pode operar”. De volta à concentração, não consegui dormir. Fiquei pensando: “O que é que eu sou? Um santo? Um deus?”.

Jair -Sempre antes de dormir, eu pensava no gol que não fiz, aos 45 do segundo tempo. Eu sonhava assim: o Brasil com um time daqueles não ganhou a Copa do Mundo? A derrota é que tinha sido um sonho. Acordava espantado, olhava ao redor – e o Maracanã estava ali, na minha frente.

Chico -Tive um pressentimento estranho. Quando o Brasil entrou em campo, a derrota já estava escrita.

Rio, 16 de julho de 1950 – A noite triste de um campeão

…… Na noite de 16 de julho de 50, o velho capitão não quis comemorar com o resto do time. Convidou o massagista da Celeste Olímpica a sair com ele. Os dois deixaram o hotel sem destino certo. O Rio era um vasto cemitério. Nem alma do outro mundo se via pelas ruas da cidade.

Obdulio e o massagista entram num bar da Avenida Copacabana. O dono do bar é um velho conhecido de outras passagens da seleção uruguaia pelo Brasil. Obdulio, que já saíra do hotel um tanto calibrado, quer tomar chope. Está sem um tostão no bolso. Pergunta se tem crédito. O próprio dono traz duas canecas, espumando. Obdulio, ainda em pé, bebe de um só fôlego a primeira caneca.
Já sentado, Obdulio vê entrar no salão um rapaz. Um rapaz que é a própria máscara da desolação. Nas raras mesas ocupadas, as pessoas ouvem, desconsoladas as lamúrias do moço. Ressoa pela sala a tristeza cósmica do povo brasileiro.
– O Obdulio derrotou o Brasil – dizia, em prantos, o torcedor.
O desabafo bateu de mal jeito no coração de Obdulio Varela. De repente, ele se sente o carrasco de um povo. O próprio Obdulio narra, na primeira pessoa, o drama que passaria a viver naquela noite sombria do futebol brasileiro.
“Eu olhava aquele rapaz sofrido. Foi me dando um mal-estar. O povo desse país tinha preparado o maior carnaval do mundo e nós arruinamos tudo. De repente, eu estava tão amargurado quanto ele. Teria sido bonito ver uma noite de carnaval dos brasileiros. Teria sido emocionante ver a multidão delirando com uma coisa tão simples, tão singela. Nós tínhamos estragado a festa e, a bem da verdade, não tínhamos ganhado nada. Conquistamos um título, muito bem. Mas, que seria isso comparado com a tristeza imensa de uma gente tão simpática? Pensei no Uruguai. Certamente, o povo lá estaria muito feliz. Mas, eu, Obdulio, eu estava no Rio, no meio de uma profunda decepção nacional. Me lembrei da raiva que tive quando os brasileiros nos fizeram o gol. E, no entanto, a bronca que dei no campo iria doer em mim também”.
O dono do bar foi à mesa do campeão, levando pelo braço o rapaz, ainda choroso.
– Sabe quem é este? Este é o Obdulio Varela. – E apresentou um ao outro.
– Tive a súbita sensação de que aquele rapaz podia me matar – confessa Obdulio – e, se me matasse, talvez merecesse absolvição.
– Por favor, Obdulio – disse, reverente, o rapaz -, você quer tomar um chope comigo?
Obdulio aceitou. Mudou de mesa. “Se tiver de morrer aqui, não pode existir noite mais apropriada”, pensou.
À noite do triunfo, Obdulio Varela passou-a, inteirinha, esvaziando canecas e consolando aquela alma penada que acabara de conhecer. Um pobre coração destroçado. E a quem, lá pelas tantas da madrugada, talvez tivesse confessado, como confessaria, mais tarde, ao escritor Oswaldo Soriano:
– Se tivesse de jogar, de novo, aquela final do Maracanã, não se assombre com o que eu vou lhe dizer: eu faria um gol contra. Um gol contra, sim senhor!…
(Nogueira, Armando – A triste noite de um campeão)

“Eu tenho dois olhos, não 20 câmeras.” Pierluigi Collina, árbitro italiano

A TV evita que assaltos a apito armado sejam cometidos em campo, como se fazia nas Libertadores da América dos anos 60 e início dos anos 70. A transmissão de futebol pela TV democratiza. Fiscaliza. É cidadã no esporte, como deveria ser em outros aspectos de nossa vida. Mas a imagem da televisão não pode ter o controle remoto do futebol. Os botinudos têm de ser punidos pelos safanões e sacanagens que cometem em campo, como bem fez o STJD em 2003, como mal se tocou no ano que passou. A imagem da TV pegou e mostrou o que o árbitro não viu no campo? O tribunal pega o vídeo e pune.

Como poderia ter pego Pelé, na Copa de 70. Sua majestade deu uma cotovelada criminosa no uruguaio Fuentes. O árbitro não viu a ação de Pelé e só marcou a falta. Mas o uruguaio já deveria ter sido expulso pelo conjunto da obra, e pela ficha corrida de infrações na partida, válida pela semifinal do Mundial no México).

A Fifa só foi dar um pau nos que baixam a paulada na Copa de 94, quando meteu um gancho no lateral italiano Tassotti, que deixou um cotovelo no rosto do atacante espanhol Luis Enrique. Pênalti que o juiz não viu, mas o planeta enxergou.

Passados dez anos, apenas no ano retrasado o nosso STJD velho de guerra hasteou a bandeira branca e deixou as punições brandas no passado. Nossa justiça tardou, mas não falhou. Não é mais cega ao que a televisão mostra de violência em campo e na arquibancada.

“MUDERNOS” – Só não podem os analistas fashion invadirem o campo botando a televisão em campo como se fosse uma instalação artística, um videowall. Todas as questões do jogo não podem ser decididas pela televisão e pelo videocassete. A imagem não pode marcar pênalti – que é interpretativo, logo, subjetivo, individual. O computador não pode contar os centímetros de um impedimento. O dedo do homem não pode se meter como se fosse a mão de Deus. Como Diego, na Copa de 86, no México. Ele meteu a mão na Inglaterra, e o árbitro não viu o que o planeta inteiro observou pelo replay.

Um lance claro, cristalino. Mas para quem está na poltrona, no bem-bom, na frente da TV.

INTERPRETAÇÃO – A regra é assim. Cada um tem a sua opinião. Muitas vezes, nenhuma conclusão, depois de minutos de discussão, e de observação de um mesmo lance várias vezes, por vários ângulos.

O famoso terceiro gol da Inglaterra, na Copa-66, na decisão contra a Alemanha, em Wembley. Eu ainda não havia nascido e até hoje se discute se a bola entrou. Vendo e revendo, é difícil ter a convicção que o assistente Tofik Bahrmarov teve no lance – gol. “Gol” que não foi, diga-se, vendo muitas vezes o lance.

Imagine se a regra permitisse o uso do vídeo? E aí: meia-hora ou 40 anos discutindo o lance? Você gostaria de esperar o árbitro apertando o rewind do vídeo na lateral do campo?

Se a arbitragem errou, azar. O goleiro da Seleção franga. O artilheiro perde gol feito. Por que não pode o árbitro errar? Só ele não tem esse direito. Por mais que possa ser desumano um erro de apito, o juiz ainda é humano. Ele erra, e muito. Como eu. Como você. Como a sua televisão.

Que, convenhamos, tem errado mais do que deveria.

Mauro Beting

Campeões de Futebol nas Olimpíadas

1900 – Grã-Bretanha
1904 – Canadá
1908 – Grã-Bretanha
1912 – Grã-Bretanha
1920 – Bélgica
1924 – Uruguai
1928 – Uruguai
1936 – Itália
1948 – Suécia
1952 – Hungria
1956 – União Soviética
1960 – Iugoslávia
1964 – Hungria
1968 – Hungria
1972 – Polônia
1976 – Alemanha Oriental
1980 – Techecoslováquia
1984 – França
1988 – União Soviética
1992 – Espanha
1996 – Nigéria
2000 – Camarões
2004 – Argentina

América – O primeiro campeão do Estado da Guanabara .

Em 1960, o América de muitos cobras, conquistou o primeiro titulo de campeão do Estado da Guanabara. – Ary. Jorge. Djalma Dias. Amaro. Wilson Santos. Ivã. Calazans. Antoninho. Quarentinha. João Carlos e Nilo, foram os campeões que derrotaram o Fluminense por 2×1.

A Revista Placar do dia 20 dezembro de 1974 relembra em reportagem de José Trajano um pouco da história daquele jogo e que faziam naquele ano de 1974, 14 anos depois, os campeões do América.

Naquele dia 18 de dezembro de 1960, o movimento começou cedo no casarão da rua Gonçalves Crespo, ali pertinho da sede de Campos Sales. Os jogadores, um a um, vão acordando e seguindo para a cozinha. Bolos de goiaba e banana acompanham o café da manhã, enquanto o zagueiro Ivã é cumprimentado pelo seu 23º aniversário. Na porta da casa, uma multidão tenta acompanhar, na ponta dos pés, o movimento dos jogadores lá dentro.

Mais ou menos às dez horas, cinco caixas de champanha vão para a sala, carregadas por Pompéia e Ari. Enquanto o almoço não é servido, o médico Luciano de Oliveira toma a pressão de todos os jogadores e faz recomendações a Antoninho, contundido no tornozelo direito. Mais tarde, depois de almoçarem canja, purê de batata, arroz, bife e goiabada, os jogadores ficaram fazendo hora e, em grupos, vão até a esquina de voltam. Os cinco táxis, encomendados de véspera, emcostam em frente á casa rosa, os jogadores entram e seguem para o maracanã, onde exatamente ás 16 horas e 44 minutos começavam a disputa da final do primeiro campeonato do Estado da Guanabara.

O Fluminense ganha o toss, escolhe o lado e Quarentinha dá a saída para o América. Aos 25 minutos, Wilson Santos põe a mão na bola dentro da área. Pinheiro bate o pênalti, Ari rebate e, na volta, Pinheiro faz Fluminense 1×0. Como o empata dava o titulo ao tricolor, o América parte para cima no segundo tempo. Logo aos três minutos, Nilo empata. E aos 31 minutos Castilho rebate uma bola chutada pelo zagueiro Jorge, que mesmo sob o protesto de todos os companheiros, por ter avançado, emenda e dá a vitória ao América. E quando o juiz Wilson Lopes de Souza encerra a partida, Ari. Jorge. Djalma Dias. Wilson Santos. Amaro. Ivã. Calazans. Atoninho. Quarentinha. João Carlos. Nilo e mais os reservas Pompéia. Décio. Leônidas. Valença. Fontoura. Sérgio Babá e Enilson eram os primeiros campeões do novo Estado da Guanabara. A comemoração foi geral.

Mas toda festa acaba. E depois dela, a dura realidade. Amaro foi vendido para o futebol italiano. Djalma Dias se transferiu para o Palmeiras. Ivã saiu para o Botafogo. Calazans e Quarentinha para o Fluminense e acabou o time campeão de 1960. A carreira que terminou mais cedo foi a de Ivã, que chegou a ser convocado para a seleção brasileira de 1962 e foi cortado de última hora: morreu afogado aos 25 anos. Ari e Pompéia se revezavam no gol. Depois de passar pelo Flamengo, encerrou sua carreira no interior de Minas. Não deu certo como técnico e terminou como funcionário da Secretaria de Segurança. Pompéia chegou a fazer nome na Venezuela, onde voltou as manchetes dos jornais por seu estilo acrobático. Mas, num jogo contra o Real Madri, Di Stéfano foi chutar a bola e acertou seu olho. Operado, Pompéia ficou com uma vista só. Voltou ao Brasil, chegou a ser treinador de goleiros no Bonsucesso sem muito sucesso. Já faleceu. Jorge também convocado para a seleção brasileira de 1962 e também cortado, teve um fim melancólico. Jogando em outra seleção brasileira, a que foi disputar o sul-americano, ganho pela Bolívia, fraturou a perna e nunca mais foi o mesmo. De reserva do Fluminense passou por times pequenos até parar por conta de um emprego de fiscal do IBC no cais do porto. Djalma Dias foi o último a parar. Jogou até 1973 com 35 anos. Depois do Palmeiras jogou no Botafogo. Estava bem de vida e tinha vários apartamentos. Wilson Santos é o técnico dos juvenis do América e já passou algumas vezes pelo time de cima. Também é responsável pelo lançamento de Edu, irmão de Zico, em 1965. Amaro sempre foi a grande alegria do América. Foi convocado para a seleção de 1962, negociado com o futebol italiano. Com o dinheiro do seu passe (60 milhões antigos), o América comprou o Estádio do Andaraí. Em 1974, Amaro é professor de Educação Física e tem duas lojas de material esportivo no subúrbio do Rio.

João Carlos era o mais velho na campanha de 1960, tinha 30 anos. Encerrou sua carreira na Colômbia, em 1965, e hoje (1974) quem quiser encontrá-lo tem que ir ao Guarda-Móveis Pinto, na rua General Polidoro, em Botafogo, perto do Cemitério São João Batista. Calazans, quando chegou ao América, levava um grande cartaz, pois tinha jogado numa linha de cobras do Bangu e ao lado de Zizinho. Quando saiu para o Fluminense tinha uma mágoa do América – “Nem faixa de campeão de deram. A única que tenho é uma azul e branco dada pela Radio Guanabara”. Hoje, aos 40 anos, trabalha na Secretaria de Segurança e joga no time da repartição dirigida pelo ex-goleiro Ari. Antoninho era América desde dos juvenis, mas sempre morou em Niterói. Foi o artilheiro em 1960 e, por isso, não se conformou quando foi substituído na final e saiu chorando. Trabalha na Companhia de Navegação de Niterói. Quarentinha foi contratado em 1960 e foi aí que começou a fazer seu grande nome. Hoje é responsável pela sauna do Monte Líbano, clube os melhores da Zona Sul. Nilo, que fez o gol do empate na decisão de 1960 continua solteiro e jamais dispensa um papo regado à cerveja. Trabalha de madrugada no Jornal do Brasil, na distribuição de jornais. Dos reservas, Décio é o que se encontra com o pessoal e, às vezes, organiza festas em sua casa. Fontoura está bem na Bahia. Valença ainda joga nos times de Niterói. Sergio Babá aparece de vez em quando no barzinho onde costumam se reunir. Leônidas é técnico. Jailton é supervisor de um time em Goiás e de Enilson ninguém soube mais nada.

Transmisão primitiva de São Paulo x Palmeiras de 1951

Mário Lopomo, marcante rádio-escuta de Plantão Esportivo nos tempos anteriores ao satélite e à internet, foi o autor desta narração. Dava respaldo aos locutores Alexandre Santos, João Zanforlim, e Tony Lourenço e depois ao Paulo Edson.

Narração:
Senhores ouvintes da rádio Pan Americana, boa tarde. Estamos aqui no Pacaembu, neste domingo 28 de janeiro de 1951, para transmitir o jogo que vai apontar quem será o campeão paulista de 1950.
O próprio da municipalidade paulistana, apesar da chuva forte que assolou a cidade de São Paulo, está lotado, imaginamos que estejam 65.000 espectadores, espremidos por todas as dependências das sociais e populares, para assistir o choque rei do futebol paulista, Palmeiras x São Paulo.
Mesmo com a intempérie mandando chuva a “cântaros”, na cidade de Piratininga, torcedores, tricolores e esmeraldinos vieram em peso ao estádio.
O gramado assaz escorregadio, deverá ser um pesadelo para o Golkiper que não tiver muita atenção para o detalhe da bola escorregadia.
Mesmo porque onde eles atuam, não tem grama e tem poças d’água, formando um lamaçal.
– Alô, Mário Franquera Junior, a chuva pára ou continua?
– Olha Pedro, o instituto de metereologia diz que a chuva vai parar.
– Obrigado Franquera… esperemos que sim.

Neste momento os alto falantes do Pacaembu anuncia as escalações das equipes.

O posto de serviços Esso, de Francisco Zambrana Informa: Escalações das equipes.

São Paulo:
Mario, Saverio e Mauro: Bauer Ruy e Noronha. Dido, Friaça, Leopoldo, Remo e Teixeirinha.
Palmeiras:
Oberdã, Turcão e Palante. Valdemar Fiume, Luiz Villa e Sarno:
Lima, Canhotinho, Aquiles, Jair e Rodrigues.

O árbitro da partida será o inglês Mister Bradley. Que já está entrando em campo sob os apupos e xingamentos da torcida que superlota o estádio.

– Alô Pedro…
– Fala Ansaldo…
– Daqui de trás do gol da concha acústica, diviso um torcedor sentado nos ombros da estatua de Davi. E muitos outros em cima da concha acústica.
– É verdade Ansaldo, daqui também eu vejo…
A sorte fica com spiker, que tem o privilégio de estar dentro de uma cabine indevassável, protegido da chuva, que cai em menor intensidade agora.
Neste momento os litigantes desta pugna esportiva, adentram o gramado, com alguns mascotes à frente, para o início de uma partida que poderá ser muito significativa para o esporte bretão.
O lyslemam da partida e os capitães estão no centro do gramado para tirar o toss, e ver quem dará o pontapé inicial desta contenda.
O Golkiper Oberdã time de parque antártica, defenderá o arco dos portões monumentais e o kiper Mário, do tricolor do canindé, ficará no arco da concha acústica.
São 16 horas. Hora do Rio de Janeiro.

O balão de couro está no círculo central.

E quem vai dar o ponta pé inicial, é o center fours do tricolor Leopoldo.
Este rola para Friaça que atrasa para o center half Bauer, este deriva para o aza média esquerda Noronha. Quando este vislumbra uma brecha da defesa esmeraldina, vê o couro ser interceptado pelo beque central Palante da esquadra de parque antártica. Este por sua vez da linha fronteiriça da grande área chuta para frente sem destino, sendo que o center half Rui de cabeça mandar para a ponta esquerda à Teixeirinha, que entra livre a frente do golkiper Oberdã, mas o bandeirinha aciona seu instrumento, indicando off-sider, invalidando um tento que seria do São Paulo.
O cronômetro marca 45 minutos de jogo da primeira etapa e o Lylesman Bradley apita o fim do tempo inicial.
Esta é a rádio pan americana, a emissora dos esportes, em sua jornada esportiva dominical, sob os auspícios de Lonas Locomotiva.
Lavrador, para maior segurança de sua carga. Use lonas, locomotiva, um produto Alpargatas, produtora do brim Coringa. Que vai de, sol a sol, que fabrica as famosas calças rancheiro.

– Alô São Paulo.
– Fala Rio!
– Pedro, começa no maior do mundo o Flá – Flú.
– Obrigado. Narciso.
E agora vamos para os comentários de Mário Moraes.
Senhores ouvintes da pan. Tivemos neste primeiro tempo um jogo morno, com as duas esquadras com medo uma da outra, fazendo uma peleja retrancada e sem motivação. Se por um lado o antrener esmeraldino colocava seu time mais na retaguarda, mesmo porque o empate o beneficia.
O treinador São Paulo fazia o mesmo, deixando por muitas vezes o círculo central sem jogadores. Por isso tivemos um primeiro tempo sem a marcação de tentos.
O único lance que despertou maior emoção foi um córner, chutado pelo ponteiro Rodrigues, que quase entrou direto no arco sampaulino, defendido pelo guarda valas Mário. Saindo a pelota pela linha de fundo, a tiro de meta.
– Como é que você viu esse lance, Raul Tabajara.
– Com muita preocupação, Mário.
Quase que a redonda entra, onde a coruja faz o ninho.
– Os litigantes dessa porfia, voltam depois do descanso regulamentar, e volta com vocês, Pedro Luiz.
– vai começar a Segunda etapa.
Tudo pronto para o reinício da peleja, o placar é de zero a zero.
O center fours Aquiles do palmeiras movimenta do círculo central, para o ataque e a bola chega às mãos do guarda valas tricolor.
Mário lança a pelota para a ponta esquerda e Teixeirinha recebe toca para Remo que devolve a Teixeira que entra na área e chuta para gooool.
Aberta a contagem no Pacaembu. Numa tabela fantástica entre Teixeirinha e Remo que culminou com chute final do ponteiro para as redes defendidas pelo guarda valas Oberdã.

– Vai ser dada a nova saída Nelson Spinelli.

– Pedro, foi uma jogada fulminante, do ataque tricolor, a tabela Remo e Teixeirinha foi sensacional culminando com a bola indo as redes de Oberdã.
Um tento a zero, para o tricolor do canindé.
Já foi dada a nova saída, quem recebe é Jair, domina a redonda, mas quando Jajá da barra mansa tenta lançar é desarmado por Mauro. Mas a bola retorna ao ataque esmeraldino e Jair lança Aquiles que invade a área, chuta pra gooool …. Empatada a contenda em Pacaembu.
Um tento a um.

Depois de dada a nova saída Savério atinge o ponteiro Rodrigues com violência, Spinelli.

Sem dúvida Pedro, a contusão é seria tendo o craque esmeraldino que está sendo levado a um mozocômio mais próximo do estádio.
O São Paulo tenta de todas formas empatar a partida e vai todo para o ataque. Dido na direita vê Friaça, mas este é interceptado por Luiz Villa que entrega a Valdemar Fiume, que foge de Dido, e atrasa pra Turcão. Este entrega a Jair da Rosa Pinto, quando o craque de Barra mansa domina o couro ganhando tempo o árbitro inglês, mister Bradley, finaliza a peleja.

Com o placar de 1 x 1, dando ao Palmeiras o título de campeão paulista de 1950. Que pela segunda vez tira o tri campeonato do tricolor do Canindé.
– Pedro…
– Fala Otavio Munis. Os jogadores do Palmeiras nesse momento dão a volta olímpica pela pista de atletismo de Pacaembu. Oberdã visivelmente emocionado não conseguiu, dizer uma só palavra.

Texto de Mário Lopomo
GLOSSARIO Denominações usadas pêlos locutores esportivos da época.

Arco…Trave
Aza media esquerda…aquele que joga na lateral esquerda.
Balão, pelota, redonda e couro…A bola.
Córner…Escanteio
Chove a cântaros…Muita chuva
Center half…centro médio
Center fours…centro avante
Cotejo, contenda, pugna e peleja…o jogo em si.
Esquadra…time de futebol
Antrener…Treinador
Golkiper ou kiper…goleiro
Guarda valas…goleiro
Litigantes…jogadores
Tento…gol
Spiker…locutor
Off Sider…impedimento
Onde a coruja faz o ninho…Ângulos da trave.
Lylesmam…árbitro da partida.
Vislumbra…Vê
Tricolor do canindé…porque naquela época o campo do São Paulo ficava no bairro do Canindé Maior do mundo…estádio do maracanã Mozocomio…hospital Esporte bretão…denominação inglesa do futebol