Em 1960, o América de muitos cobras, conquistou o primeiro titulo de campeão do Estado da Guanabara. – Ary. Jorge. Djalma Dias. Amaro. Wilson Santos. Ivã. Calazans. Antoninho. Quarentinha. João Carlos e Nilo, foram os campeões que derrotaram o Fluminense por 2×1.
A Revista Placar do dia 20 dezembro de 1974 relembra em reportagem de José Trajano um pouco da história daquele jogo e que faziam naquele ano de 1974, 14 anos depois, os campeões do América.
Naquele dia 18 de dezembro de 1960, o movimento começou cedo no casarão da rua Gonçalves Crespo, ali pertinho da sede de Campos Sales. Os jogadores, um a um, vão acordando e seguindo para a cozinha. Bolos de goiaba e banana acompanham o café da manhã, enquanto o zagueiro Ivã é cumprimentado pelo seu 23º aniversário. Na porta da casa, uma multidão tenta acompanhar, na ponta dos pés, o movimento dos jogadores lá dentro.
Mais ou menos às dez horas, cinco caixas de champanha vão para a sala, carregadas por Pompéia e Ari. Enquanto o almoço não é servido, o médico Luciano de Oliveira toma a pressão de todos os jogadores e faz recomendações a Antoninho, contundido no tornozelo direito. Mais tarde, depois de almoçarem canja, purê de batata, arroz, bife e goiabada, os jogadores ficaram fazendo hora e, em grupos, vão até a esquina de voltam. Os cinco táxis, encomendados de véspera, emcostam em frente á casa rosa, os jogadores entram e seguem para o maracanã, onde exatamente ás 16 horas e 44 minutos começavam a disputa da final do primeiro campeonato do Estado da Guanabara.
O Fluminense ganha o toss, escolhe o lado e Quarentinha dá a saída para o América. Aos 25 minutos, Wilson Santos põe a mão na bola dentro da área. Pinheiro bate o pênalti, Ari rebate e, na volta, Pinheiro faz Fluminense 1×0. Como o empata dava o titulo ao tricolor, o América parte para cima no segundo tempo. Logo aos três minutos, Nilo empata. E aos 31 minutos Castilho rebate uma bola chutada pelo zagueiro Jorge, que mesmo sob o protesto de todos os companheiros, por ter avançado, emenda e dá a vitória ao América. E quando o juiz Wilson Lopes de Souza encerra a partida, Ari. Jorge. Djalma Dias. Wilson Santos. Amaro. Ivã. Calazans. Atoninho. Quarentinha. João Carlos. Nilo e mais os reservas Pompéia. Décio. Leônidas. Valença. Fontoura. Sérgio Babá e Enilson eram os primeiros campeões do novo Estado da Guanabara. A comemoração foi geral.
Mas toda festa acaba. E depois dela, a dura realidade. Amaro foi vendido para o futebol italiano. Djalma Dias se transferiu para o Palmeiras. Ivã saiu para o Botafogo. Calazans e Quarentinha para o Fluminense e acabou o time campeão de 1960. A carreira que terminou mais cedo foi a de Ivã, que chegou a ser convocado para a seleção brasileira de 1962 e foi cortado de última hora: morreu afogado aos 25 anos. Ari e Pompéia se revezavam no gol. Depois de passar pelo Flamengo, encerrou sua carreira no interior de Minas. Não deu certo como técnico e terminou como funcionário da Secretaria de Segurança. Pompéia chegou a fazer nome na Venezuela, onde voltou as manchetes dos jornais por seu estilo acrobático. Mas, num jogo contra o Real Madri, Di Stéfano foi chutar a bola e acertou seu olho. Operado, Pompéia ficou com uma vista só. Voltou ao Brasil, chegou a ser treinador de goleiros no Bonsucesso sem muito sucesso. Já faleceu. Jorge também convocado para a seleção brasileira de 1962 e também cortado, teve um fim melancólico. Jogando em outra seleção brasileira, a que foi disputar o sul-americano, ganho pela Bolívia, fraturou a perna e nunca mais foi o mesmo. De reserva do Fluminense passou por times pequenos até parar por conta de um emprego de fiscal do IBC no cais do porto. Djalma Dias foi o último a parar. Jogou até 1973 com 35 anos. Depois do Palmeiras jogou no Botafogo. Estava bem de vida e tinha vários apartamentos. Wilson Santos é o técnico dos juvenis do América e já passou algumas vezes pelo time de cima. Também é responsável pelo lançamento de Edu, irmão de Zico, em 1965. Amaro sempre foi a grande alegria do América. Foi convocado para a seleção de 1962, negociado com o futebol italiano. Com o dinheiro do seu passe (60 milhões antigos), o América comprou o Estádio do Andaraí. Em 1974, Amaro é professor de Educação Física e tem duas lojas de material esportivo no subúrbio do Rio.
João Carlos era o mais velho na campanha de 1960, tinha 30 anos. Encerrou sua carreira na Colômbia, em 1965, e hoje (1974) quem quiser encontrá-lo tem que ir ao Guarda-Móveis Pinto, na rua General Polidoro, em Botafogo, perto do Cemitério São João Batista. Calazans, quando chegou ao América, levava um grande cartaz, pois tinha jogado numa linha de cobras do Bangu e ao lado de Zizinho. Quando saiu para o Fluminense tinha uma mágoa do América – “Nem faixa de campeão de deram. A única que tenho é uma azul e branco dada pela Radio Guanabara”. Hoje, aos 40 anos, trabalha na Secretaria de Segurança e joga no time da repartição dirigida pelo ex-goleiro Ari. Antoninho era América desde dos juvenis, mas sempre morou em Niterói. Foi o artilheiro em 1960 e, por isso, não se conformou quando foi substituído na final e saiu chorando. Trabalha na Companhia de Navegação de Niterói. Quarentinha foi contratado em 1960 e foi aí que começou a fazer seu grande nome. Hoje é responsável pela sauna do Monte Líbano, clube os melhores da Zona Sul. Nilo, que fez o gol do empate na decisão de 1960 continua solteiro e jamais dispensa um papo regado à cerveja. Trabalha de madrugada no Jornal do Brasil, na distribuição de jornais. Dos reservas, Décio é o que se encontra com o pessoal e, às vezes, organiza festas em sua casa. Fontoura está bem na Bahia. Valença ainda joga nos times de Niterói. Sergio Babá aparece de vez em quando no barzinho onde costumam se reunir. Leônidas é técnico. Jailton é supervisor de um time em Goiás e de Enilson ninguém soube mais nada.
Assisti o segundo tempo do último jogo do América, acho que foi contra o Mesquita. O time perdeu uns 4 gols feitos. E tomou o empate no final do jogo. É duro torcer para o América nos dias de hoje.
E QUE DEUS SALVE O AMÉRICA ESTE FINAL DE SEMANA.