Transmisão primitiva de São Paulo x Palmeiras de 1951

Mário Lopomo, marcante rádio-escuta de Plantão Esportivo nos tempos anteriores ao satélite e à internet, foi o autor desta narração. Dava respaldo aos locutores Alexandre Santos, João Zanforlim, e Tony Lourenço e depois ao Paulo Edson.

Narração:
Senhores ouvintes da rádio Pan Americana, boa tarde. Estamos aqui no Pacaembu, neste domingo 28 de janeiro de 1951, para transmitir o jogo que vai apontar quem será o campeão paulista de 1950.
O próprio da municipalidade paulistana, apesar da chuva forte que assolou a cidade de São Paulo, está lotado, imaginamos que estejam 65.000 espectadores, espremidos por todas as dependências das sociais e populares, para assistir o choque rei do futebol paulista, Palmeiras x São Paulo.
Mesmo com a intempérie mandando chuva a “cântaros”, na cidade de Piratininga, torcedores, tricolores e esmeraldinos vieram em peso ao estádio.
O gramado assaz escorregadio, deverá ser um pesadelo para o Golkiper que não tiver muita atenção para o detalhe da bola escorregadia.
Mesmo porque onde eles atuam, não tem grama e tem poças d’água, formando um lamaçal.
– Alô, Mário Franquera Junior, a chuva pára ou continua?
– Olha Pedro, o instituto de metereologia diz que a chuva vai parar.
– Obrigado Franquera… esperemos que sim.

Neste momento os alto falantes do Pacaembu anuncia as escalações das equipes.

O posto de serviços Esso, de Francisco Zambrana Informa: Escalações das equipes.

São Paulo:
Mario, Saverio e Mauro: Bauer Ruy e Noronha. Dido, Friaça, Leopoldo, Remo e Teixeirinha.
Palmeiras:
Oberdã, Turcão e Palante. Valdemar Fiume, Luiz Villa e Sarno:
Lima, Canhotinho, Aquiles, Jair e Rodrigues.

O árbitro da partida será o inglês Mister Bradley. Que já está entrando em campo sob os apupos e xingamentos da torcida que superlota o estádio.

– Alô Pedro…
– Fala Ansaldo…
– Daqui de trás do gol da concha acústica, diviso um torcedor sentado nos ombros da estatua de Davi. E muitos outros em cima da concha acústica.
– É verdade Ansaldo, daqui também eu vejo…
A sorte fica com spiker, que tem o privilégio de estar dentro de uma cabine indevassável, protegido da chuva, que cai em menor intensidade agora.
Neste momento os litigantes desta pugna esportiva, adentram o gramado, com alguns mascotes à frente, para o início de uma partida que poderá ser muito significativa para o esporte bretão.
O lyslemam da partida e os capitães estão no centro do gramado para tirar o toss, e ver quem dará o pontapé inicial desta contenda.
O Golkiper Oberdã time de parque antártica, defenderá o arco dos portões monumentais e o kiper Mário, do tricolor do canindé, ficará no arco da concha acústica.
São 16 horas. Hora do Rio de Janeiro.

O balão de couro está no círculo central.

E quem vai dar o ponta pé inicial, é o center fours do tricolor Leopoldo.
Este rola para Friaça que atrasa para o center half Bauer, este deriva para o aza média esquerda Noronha. Quando este vislumbra uma brecha da defesa esmeraldina, vê o couro ser interceptado pelo beque central Palante da esquadra de parque antártica. Este por sua vez da linha fronteiriça da grande área chuta para frente sem destino, sendo que o center half Rui de cabeça mandar para a ponta esquerda à Teixeirinha, que entra livre a frente do golkiper Oberdã, mas o bandeirinha aciona seu instrumento, indicando off-sider, invalidando um tento que seria do São Paulo.
O cronômetro marca 45 minutos de jogo da primeira etapa e o Lylesman Bradley apita o fim do tempo inicial.
Esta é a rádio pan americana, a emissora dos esportes, em sua jornada esportiva dominical, sob os auspícios de Lonas Locomotiva.
Lavrador, para maior segurança de sua carga. Use lonas, locomotiva, um produto Alpargatas, produtora do brim Coringa. Que vai de, sol a sol, que fabrica as famosas calças rancheiro.

– Alô São Paulo.
– Fala Rio!
– Pedro, começa no maior do mundo o Flá – Flú.
– Obrigado. Narciso.
E agora vamos para os comentários de Mário Moraes.
Senhores ouvintes da pan. Tivemos neste primeiro tempo um jogo morno, com as duas esquadras com medo uma da outra, fazendo uma peleja retrancada e sem motivação. Se por um lado o antrener esmeraldino colocava seu time mais na retaguarda, mesmo porque o empate o beneficia.
O treinador São Paulo fazia o mesmo, deixando por muitas vezes o círculo central sem jogadores. Por isso tivemos um primeiro tempo sem a marcação de tentos.
O único lance que despertou maior emoção foi um córner, chutado pelo ponteiro Rodrigues, que quase entrou direto no arco sampaulino, defendido pelo guarda valas Mário. Saindo a pelota pela linha de fundo, a tiro de meta.
– Como é que você viu esse lance, Raul Tabajara.
– Com muita preocupação, Mário.
Quase que a redonda entra, onde a coruja faz o ninho.
– Os litigantes dessa porfia, voltam depois do descanso regulamentar, e volta com vocês, Pedro Luiz.
– vai começar a Segunda etapa.
Tudo pronto para o reinício da peleja, o placar é de zero a zero.
O center fours Aquiles do palmeiras movimenta do círculo central, para o ataque e a bola chega às mãos do guarda valas tricolor.
Mário lança a pelota para a ponta esquerda e Teixeirinha recebe toca para Remo que devolve a Teixeira que entra na área e chuta para gooool.
Aberta a contagem no Pacaembu. Numa tabela fantástica entre Teixeirinha e Remo que culminou com chute final do ponteiro para as redes defendidas pelo guarda valas Oberdã.

– Vai ser dada a nova saída Nelson Spinelli.

– Pedro, foi uma jogada fulminante, do ataque tricolor, a tabela Remo e Teixeirinha foi sensacional culminando com a bola indo as redes de Oberdã.
Um tento a zero, para o tricolor do canindé.
Já foi dada a nova saída, quem recebe é Jair, domina a redonda, mas quando Jajá da barra mansa tenta lançar é desarmado por Mauro. Mas a bola retorna ao ataque esmeraldino e Jair lança Aquiles que invade a área, chuta pra gooool …. Empatada a contenda em Pacaembu.
Um tento a um.

Depois de dada a nova saída Savério atinge o ponteiro Rodrigues com violência, Spinelli.

Sem dúvida Pedro, a contusão é seria tendo o craque esmeraldino que está sendo levado a um mozocômio mais próximo do estádio.
O São Paulo tenta de todas formas empatar a partida e vai todo para o ataque. Dido na direita vê Friaça, mas este é interceptado por Luiz Villa que entrega a Valdemar Fiume, que foge de Dido, e atrasa pra Turcão. Este entrega a Jair da Rosa Pinto, quando o craque de Barra mansa domina o couro ganhando tempo o árbitro inglês, mister Bradley, finaliza a peleja.

Com o placar de 1 x 1, dando ao Palmeiras o título de campeão paulista de 1950. Que pela segunda vez tira o tri campeonato do tricolor do Canindé.
– Pedro…
– Fala Otavio Munis. Os jogadores do Palmeiras nesse momento dão a volta olímpica pela pista de atletismo de Pacaembu. Oberdã visivelmente emocionado não conseguiu, dizer uma só palavra.

Texto de Mário Lopomo
GLOSSARIO Denominações usadas pêlos locutores esportivos da época.

Arco…Trave
Aza media esquerda…aquele que joga na lateral esquerda.
Balão, pelota, redonda e couro…A bola.
Córner…Escanteio
Chove a cântaros…Muita chuva
Center half…centro médio
Center fours…centro avante
Cotejo, contenda, pugna e peleja…o jogo em si.
Esquadra…time de futebol
Antrener…Treinador
Golkiper ou kiper…goleiro
Guarda valas…goleiro
Litigantes…jogadores
Tento…gol
Spiker…locutor
Off Sider…impedimento
Onde a coruja faz o ninho…Ângulos da trave.
Lylesmam…árbitro da partida.
Vislumbra…Vê
Tricolor do canindé…porque naquela época o campo do São Paulo ficava no bairro do Canindé Maior do mundo…estádio do maracanã Mozocomio…hospital Esporte bretão…denominação inglesa do futebol

3 pensou em “Transmisão primitiva de São Paulo x Palmeiras de 1951

  1. Gilberto Maluf

    Alexandre,eu peguei um pouco das antigas transmissões esportivas. Em 1958 eu lembro que com 7 anos de idade ouvia a música que dava início às transmissões esportivas do domingo. Esta música me transmitia um misto de alegria e um pouco de melancolia. Quanto aos mais jovens, eles são da época de televisão, entendem de certa forma a magia do rádio com as imaginações que se faziam. Esta mesma música depois foi utilizada para abrir as transmissões ao vivo pela TV Record na época do Raul Tabajara.

  2. Alexandre Martins

    GILBERTO UM TEXTO QUE ME FAZ VIVER O TEMPO DA DÉCADA DE 1950.AS DENOMINAÇÕES DAS PALAVRAS SÃO COMPLETAMENTES DIFERENTES DAS USADAS ATUALMENTE.
    ESSE FOI O CHOQUE- REI DE NÚMERO 46.
    VALEU GILBERTO.

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