Clubes pioneiros na inserção do jogador negro no futebol brasileiro

 

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Vasco e Bangu, que reivindicam o pioneirismo na inserção do negro no futebol brasileiro, são retratados sem jogadores de cor
Miguel do Carmo

 

O primeiro clube que se tem notícia fundado com a participação de um negro no Brasil foi a Ponte Preta, de Campinas-SP, em 1900, que teve entre seus fundadores Miguel do Carmo, um dos primeiros jogadores da equipe.

Miguel do Carmo também pode ser considerado o primeiro jogador negro do país. O próprio nome do time que é conhecido como “Ponte” traz a insígnia “Preta”, como se já desde os seus primórdios fosse destinada a ser um baluarte na luta pela integração racial. A Ponte Preta também é chamada de “Macaca”, um apelido pejorativo que acabou caindo no gosto dos torcedores.

Em 1907 foi fundado no Rio Grande do Sul, o Riograndense, que teve entre seus fundadores o negro Francisco Rodrigues, pai de Lupcínio Rodrigues, autor de um dos hinos mais belos do futebol brasileiro, o do Grêmio, que é conhecido por ter entre seus torcedores uma facção neo-nazista, que discrimina negros. Em 1910, foi fundado por negros em São Paulo, a Associação Atlética São Geraldo, que veio a ser campeã em 1922 do campeonato do centenário da Independência do Brasil. O São Geraldo, assim como o Campos Atlético Associação, de Campos dos Goytacazes-RJ, em 1912, tem como característica o fato de ser fundado por e para os negros.

 

 

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Campos Campeão de 1918

O Campos, fundado com as cores roxa, preta e branca, simbolizando a união das raças com o roxo representando o mulato, veio a ser campeão do Campeonato Campista de 1918, um ano antes da Seleção Brasileira campeã do Sul-Americano de 1919 e que tinha entre seus quadros Friedenheich, um dos primeiros ídolos do futebol brasileiro e que era mulato.

 

 

 

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Bangu Campeão da 2ª Divisão do Carioca em 1911

 

Mario Filho em sua obra clássica “O Negro no Futebol Brasileiro” diz que foi a Seleção Brasileira o primeiro escrete a ser campeão com jogadores negros. O que já vimos que não procede, pois o Campos, um ano antes já havia conquistado um título e não só com um jogador negro ou mulato, mas com a maioria da equipe formada por negros. Mas o primeiro clube mesmo a ser campeão com jogadores negros foi o Bangu Atlético Clube da segunda divisão do carioca em 1911, uma década antes do Vasco, que saiu da terceira divisão para ser campeão da segunda divisão em 1922 e depois da primeira divisão em 1923. Em 1907, a Liga Metropolitana havia proibido a inscrição de jogadores negros nos clubes filiados. O Bangu repudiou a proibição e abandonou a Liga.

 

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Cândido José de Araújo

 

O mesmo aconteceu com o Vasco. Fluminense, Flamengo, Botafogo e América deixaram a Liga em 1924 em represália ao Vasco e fundaram a Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (AMEA), a qual barrou a filiação do Vasco sob o argumento de que o clube não possuía estádio próprio. Na verdade, a AMEA havia proposto ao Vasco a exclusão de 12 de seus jogadores, por coincidência os negros e os operários, em troca de sua entrada na entidade. Mas o Vasco não foi o primeiro clube campeão com jogadores negros e, sim, o Bangu. O Vasco foi sim o primeiro clube a ter um presidente negro, Cândido José de Araújo, em 1905, mesmo ano em que o Bangu, um ano após a sua fundação em 1904, já aceitou um jogador negro, Francisco Carregal. Depois, o Bangu colocaria outro jogador negro no time, o goleiro Manoel Maia. O que marcou o Vasco foi o fato do time, que veio da 3ª Divisão, conquistar o título da 1ª Divisão do Carioca em 1923, um campeonato mais importante, com jogadores negros.

 

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Time do Vasco Campeão da 1ª Divisão do Carioca em 1923

 

O Vasco foi campeão da 1ª divisão em 1923, surpreendendo a todos, o que causou esta confusão, com os outros times fundando uma outra entidade e excluindo o Vasco, que respondeu com uma carta, a famosa “Resposta Histórica”, na qual defende seus jogadores e mostra sua disposição em lutar contra o racismo.

Na segunda década do século XX no estado do Rio Grande do Sul, mais especificamente em Porto Alegre, foi realizada a Liga da Canela Preta. Em Pelotas-RS, esta liga que reunia times com jogadores negros, se chamou Liga “José do Patrocínio”, em homenagem ao jornalista abolicionista.

A Liga José do Patrocínio reuniu times de negros como o S. C. Juvenil, fundado em 1908; S. C. Aliança dos Operários, S. C. América do Sul, S. C. Universal, G. S. Vencedor, G. S. União Democrata, G. S. Lusitano e S. C. Monteiro Lopes . No Rio Grande-RS também existiu outro campeonato de times formado por negros, a Liga Rio Branco.

Nas décadas de 20 e 30 do século passado foram realizados em São Paulo anualmente os jogos Pretos vs Brancos, que reuniam jogadores exclusivamente destas raças em lados opostos. Hoje, brancos e negros convivem no mesmo ambiente, mesmo que haja ainda muitos casos de racismo.

 

FONTE: Wesley Machado (Jornalista com Especialização em Literatura, Memória Cultural e Sociedade)

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Sobre Sérgio Mello

Sou jornalista, desde 2000, formado pela FACHA. Trabalhei na Rádio Record; Jornal O Fluminense (Niterói-RJ) e Jornal dos Sports (JS), no Rio de Janeiro-RJ. No JS cobri o esporte amador, passando pelo futebol de base, Campeonatos da Terceira e Segunda Divisões, chegando a ser o setorista do América, dos quatro grandes do Rio, Seleção Brasileira. Cobri os Jogos Pan-Americanos do Rio 2007, Eliminatórias, entre outros. Também fui colunista no JS, tinha um Blog no JS. Sou Benemérito do Bonsucesso Futebol Clube. Também sou vetorizador, pesquisador e historiador do futebol brasileiro! E-mail para contato: sergiomellojornalismo@msn.com Facebook: https://www.facebook.com/SergioMello.RJ

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