Graças à instalação da ferrovia, Divinópolis teve oportunidade de crescer e se tornar pólo regional. O desenvolvimento e a modernidade trazidos pelo trilho deram novos ares à pacata cidade do Centro-oeste Mineiro. Além das oportunidades de trabalho, comércio e infraestrutura, a ferrovia fez despontar o Ferroviário Atlético Clube.
A história do primeiro clube de futebol do bairro Esplanada, e também representante do futebol divinopolitano. Fundado no dia 06 de Maio de 1934, por funcionários da rede mineira de viação, que possuía escritório na cidade de Divinópolis. As suas cores oficiais foram o verde e branco. Disputou durante vários anos, o campeonato amador da cidade, rivalizando principalmente com o Guarani.
Em 1962 resolveu disputar o Campeonato Mineiro da 2ª Divisão, mas os custos de manutenção do futebol profissional, fizeram que a equipe tivesse um campanha fraca e resolvesse ao futebol amador.
No final da década de 70 e início dos anos 80, o clube já não possuía um grande número de sócios e vivia uma fase de extinção por depender só do futebol. Em 1984 foi considerado de utilidade pública pela prefeitura mineira e resolveu investir em outros esportes amadores, conseguindo sobreviver até os dias de hoje.
O Ferroviário conquistou 5 Campeonatos em 10 títulos disputados na Categoria Sênior, mas hoje não há mais o time de futebol, mas o Estádio Benjamin de Oliveira, palco de grandes clássicos, depende da ação voluntária dos moradores do bairro para não se tornar apenas memória.
A Matéria Especial mostra a real situação que a população do bairro Esplanada enfrenta para não deixar que o estádio se torne um espaço ocioso e nicho para pessoas de má fé.
Situação
Em 1934, os ferroviários que trabalhavam na RMV – Rede Mineira de Viação-, tiveram a ideia de criar um clube de futebol como uma opção de recreação para os operários. Cada funcionário tinha descontado em sua folha de pagamento uma pequena taxa para investir no clube que surgia.
A ideia foi promissora e logo fez sucesso entre os operários da Rede. O clube cresceu de forma organizada e disputou vários campeonatos em diversas categorias, tornando-se o maior clube de futebol da região.
Graças ao desempenho e a aceitação do Ferroviário Atlético Clube, seus administradores adquiriram o terreno ao lado do estádio e construíram, em 1984, uma sede social com o objetivo de oferecer mais lazer e recreação às famílias dos trabalhadores.
O “Ferro”, como era chamado, teve um grande parque aquático, com toboáguas, escorregadores, salão de festas, quadra de esportes, sauna, área para churrasco, etc. Porém, em 2004 a instituição passou por dificuldades financeiras e devido à má administração foi fechada com muitas dívidas trabalhistas.
Em 2009, a Justiça determinou que parte do clube social deveria ser levada a leilão para saldar as dívidas com seus funcionários e fornecedores. Ficou acordado ainda que fosse montada uma comissão para que em 365 dias fizesse um levantamento e equacionasse os problemas do estádio.
De acordo com José Neves, morador do bairro e membro do Conselho Fiscal desta comissão, o estádio estava sendo usado em benefício do próprio do presidente da comissão.
“No andar da carruagem o presidente da comissão rompeu com o grupo, ele achou melhor buscar apoio político que buscar apoio da comunidade. No frigir dos ovos ele ficou sozinho e não conseguiu administrar. Vencido o prazo que a Justiça nos deu, 365 dias, eu e os demais membros desta comissão resolvemos fazer a cessão do espaço em uma assembléia. O ex-presidente não gostou desta proposta e tentou ceder o clube para uma outra ONG que não pertence a comunidade. E o estatuto do clube rezava que ele não poderia ceder a outra instituição que não fosse representante da comunidade do nosso bairro. Nós entendemos, que em última instância, a associação defende o interesse da própria comunidade. Então, entendemos que cedemos o espaço para a comunidade.”, explicou José Neves.
Diante do imbróglio, os membros responsáveis pelo Estádio Benjamin de Oliveira propuseram uma assembléia soberana com todas as partes envolvidas. A reunião aconteceu no último dia 13 e, depois de apresentada todas as propostas da Associação dos Moradores de Bairro e do GEEC – o outro grupo que estava na disputa -, ficou decidido por unanimidade que a Associação de Bairro é a nova responsável pelo local.
Novos Projetos
A nova luta da Associação de Moradores do Bairro Esplanada agora é para dar seguimento aos projetos criados pela socióloga e assistente social Adriane Elias da Fonseca.
“Agora que conseguimos por direito a administração do Estádio do Ferroviário, pretendemos fechar parcerias para desenvolver os projetos que pensamos para o local. Inicialmente iremos abrir uma escolinha de futebol para crianças e adolescentes, assim acreditamos que os jovens disciplinados dentro de uma escolinha de futebol com boa organização, deixam de ser alvos fáceis de violência, como quando estão nas ruas”, explica a assistente social.
Além da escolinha de futebol, que será para meninos e também para meninas, o presidente da associação, Paulo Roberto Eugênio, nos adiantou que outros projetos deverão ser desenvolvidos para outros públicos. A intenção é firmar parcerias com outras iniciativas para manter dento do clube psicólogos, fisioterapeutas, enfermeiros para trabalhar com idosos.
E ainda parcerias com entidades públicas para dar palestras, orientações, etc. A intenção é criar um local de referência em assistência para os moradores do bairro e região.
Paulo Roberto Eugênio fez um apelo aos comerciantes do bairro para colaborarem com a nova empreitada: “nós contamos com os comerciantes daqui para nos ajudar fazendo doações de qualquer espécie que possa nos ser útil. É um investimento no próprio bairro e conseqüentemente um retorno ao comércio local”, afirmou.
A escolinha de futebol manterá vivas as cores verde e branca do antigo uniforme do Ferroviário Atlético Clube. Hoje mais de 60 crianças já estão cadastras para jogar bola recreativamente, enquanto a escolinha não se inicia.
Além do esforço empreendido pelos membros da associação, os próprios moradores se dedicaram voluntariamente para fazer a limpeza no local.
“No primeiro dia que começamos a limpar aqui era um mar de folhas e o mato estava com mais de um metro de altura. Rapidamente quando abrimos as portas e começamos a limpar, as pessoas foram aparecendo, cada um ajudando com aquilo que podia. Uns trouxeram água, outros ferramentas e outros ajudaram na mão-de-obra. Isso mostra que a comunidade está envolvida e aprova nosso projeto aqui dentro”, concluiu o presidente da associação.
Infraestrutura
Como foi mostrado pela Gazeta do Oeste, no final de 2012, momentos antes do mutirão voluntário, o estádio estava em situação extremamente precária. O mato que tinha mais de um metro de altura impedia o acesso ao campo. Entulhos e folhas secas estavam espalhados por todo o estádio.
Graças ao trabalho voluntário dos moradores, hoje o campo já está em condições de receber crianças para jogar bola no final da tarde. Mas ainda falta muito para que ele esteja em condições ideais. Os vestiários e o banco dos reservas estão depredados e pichados. O alambrado do campo, que deverá ser o próximo a receber melhorias, está quase todo jogado no chão ou furado.
Tradição
O Estádio Benjamin de Oliveira já foi palco de grandes eventos. O mais lembrado pelos boleiros do bairro foi o jogo entre Ferroviário e Atlético Mineiro, em 1977. Na ocasião o time da capital saiu vitorioso.
Além do futebol, o Campo do Ferroviário recebeu grandes shows musicais. No ano de 1988 o cantor Lobão iria se apresentar no bairro Esplanada, se não fosse um princípio de overdose que o cantor teve momentos antes de entrar no palco.
A banda mineira Skank subiu aos palcos do Ferroviário em 1996, quando o vocalista Samuel Rosa entrou com a camisa do time da Portuguesa.
Vários clássicos com casa lotada, entre Ferroviário e Guarani, já aconteceram ali.
Na boa brincadeira entre os boleiros, conta-se que a rivalidade entre os dois clubes era muito grande e qualquer investimento em dos estádios da cidade era feito com o intuito de fazer frente à torcida rival.
FONTE: Gazeta do Oeste