É no ano de 1918 que acontece em Manaus um grande evento esportivo que praticamente parou a cidade: a inauguração de uma nova praça esportiva para o futebol local, o Estádio Parque Amazonense. Na verdade o antigo parque existia desde 1906 e era inicialmente um hipódromo pois as corridas de cavalo eram, até então, a principal modalidade esportiva da sociedade manauense. Com o passar dos anos, com o crescimento e importância que o futebol adquiriu em Manaus, foi preciso procurar um outro local que acomodasse maior número de público.
O local escolhido foi o antigo hipódromo. Para abrilhantar a inauguração do novo palco, a federação local convidou um Combinado Paraense que prontamente aceitou o convite. O selecionado paraense foi formado melhores jogadores do Paysandu, Remo e Brasil Sport.
Os atletas convocados foram os seguintes: Carlito, Formigão, Cícero Costa, Suíço, Arthur Moraes, Zito, Flávio, Joãozinho, Aranha, Mamede, Barata e Saracura. Como chefe da delegação foi escolhido o senhor Edgard Proença.
Feito os devidos ajustes, os paraenses deixavam Belém e embarcavam no vapor São Luiz, rumo á capital amazonense. Naquela época havia uma forte rivalidade entre os clubes de futebol dos dois estados.
Os Paraenses foram recebidos, em sua chegada no porto de Manaus, por uma multidão de curiosos que queriam ver de perto jogadores como o atacante Suíço, considerado na época o melhor jogador de futebol do norte do Brasil. Após desfilarem em carro aberto pelas principais ruas da cidade ,os atletas belemenses se instalaram no Grande Hotel, na Rua Municipal (atual 7 de setembro).
JOGO INAUGURAL
O primeiro jogo foi marcado no domingo, do dia 19 de maio de 1918. O parque ficou completamente lotado com a banda da polícia militar entretendo a todos. Também se fizeram presentes todos os representantes dos clubes de Manaus como também o pioneiro cineasta Silvino Santos, que filmou o jogo.
Em campo, o Combinado Paraense enfrentava o Combinado Português, que era formado por jogadores de dois clubes portugueses de Manaus: Luso e União Sportiva. O juiz escolhido para o jogo foi Raymundo Chaves. Foi posta a Taça Miranda Correa, a ser entregue para o time vencedor. O senhor Hamilton Leão representou o governador.
No 1º tempo, os portugueses dominaram o jogo que terminou em 0 a 0. O goleiro Arnaldo (que jogava no Luso) fez excelentes defesas, evitando que os visitantes abrissem o placar. Carneiro perdeu muitos gols para os luso-amazonenses. A torcida começou a insultar os paraenses.
No 2º tempo os portugueses relaxaram e Arthur Moraes, de pênalti, abre a contagem para o Combinado Paraense. Logo depois, Joãozinho e Cícero Costa ampliavam para os visitantes, terminando o jogo com o seguinte resultado: COMBINADO PORTUGUÊS 0 X 3 COMBINADO PARAENSE.
Combinado Português: Arnaldo; Marques e Cly; Valentim, Amadeu, Joãozinho, Silva, Affonso, Mattos, Tico-Tico e Carneiro.
Combinado Paraense: Ovídio; Mamede e Carlito; Formigão, Suíço e Saracura; Zito, Joãozinho, Cícero Costa, Barata e Arthur Moraes.
SEGUNDA PARTIDA
O jogo seguinte, na sexta-feira, no dia 24 de maio, entre o Combinado Paraense (Foto acima, a equipe com camisa listrada nas cores em vermelho e branco; calção branco e meiões pretos) versus o Combinado Amazonense, formado pelos melhores jogadores do Nacional, Rio Negro e Manáos Sporting. Para que a população pudesse assistir o jogo, foi dado ponto facultativo a partir do meio dia e todas as casa comerciais da cidade fecharam as portas.
Para esse novo jogo, foi posta a Taça Estado do Amazonas que seria entregue ao combinado vencedor. O juiz escalado para o combate foi Raul Antony.
Começado o jogo, a partida foi bem disputada de lado a lado sendo que os amazonenses possuíam bons jogadores como Dantas, Pequenino e Hermínio. O primeiro gol dos paraenses foi marcado por Arthur Moraes, de pênalti, após Fidoca colocar a mão na bola. E assim terminou o 1º tempo.
Na segunda etapa é a vez de Barata, de cabeça, assinalar pela segunda vez, fechando a contagem e o resultado final: COMBINADO AMAZONENSE 0 X 2 COMBINADO PARAENSE.
Combinado Amazonense: Nery; Fidoca e Mário; Pequenino, Raul e Aurélio; Luiz, Hermínio, Paulo Mello, Kardec e Dantas.
Combinado Paraense: Ovídio; Mamede e Carlito; Formigão, Suíço e Saracura; Zito, Joãozinho, Cícero Costa, Barata e Arthur Moraes.
ÚLTIMO JOGO
O último compromisso dos paraenses seria com o Nacional, Tricampeão Amazonense, e foi realizada no domingo, do dia 26 de maio. Novamente se ofereceu um prêmio ao time vencedor, a Taça Municipalidade.
Inicia-se o jogo. Os Paraenses começam a jogar com extrema violência, o que gerou protestos da torcida. Apesar das faltas graves do time do Pará, o árbitro nada fazia. Começam a pipocar confusões na arquibancada. A violência continua e o juiz se encontra perdido em campo.
As Arrancadas se proliferam de lado a lado, até que, numa rebatida do goleiro nacionalino Nery, a bola cai nos pés de Cícero Costa que só tem o trabalho de empurrar a esfera para as redes, marcando o primeiro gol dos visitantes. No final do 1° tempo, o juiz não marca um pênalti legítimo em favor do Nacional.
É iniciado o 2° tempo. O nacional, após muito pressionar, consegue o seu intento. Paulo Mello, em cobrança de pênalti, empata para o clube amazonense. A torcida comemora em delírio. E assim perdurou o placar com o seguinte resultado: NACIONAL 1 X 1 COMBINADO PARAENSE.
Nacional: Nery; Fidoca e Rodolpho; Pequenino, Bastos e Fernandes; Aureliano, Azevedo, Paulo Mello, Pará e Dantas.
Combinado Paraense: Ovídio; Formigão e Carlito; Suíço, Saracura e Joãozinho; Zito, Cícero Costa, Aranha, Barata e Arthur Moraes.
NOTA TRISTE
Um fato trágico e curioso que aconteceu durante esse jogo foi que um fanático torcedor nacionalino, chamado Cajuí, que se encontrava no Parque, morreu de infarto após comemorar, emocionado, o gol de empate de seu clube. Nesse último jogo, o Nacional lavou a honra dos Amazonenses evitando que os visitantes saíssem de Manaus com três vitórias.
FOTO ACIMA: Chegada dos jogadores paraenses no porto de Manaus,a bordo do vapor São Luiz, onde foram recebidos por uma multidão
FESTEJOS E O RETORNO
Após o jogo final, jogadores e delegação Paraense foram convidados para festividades na Sede do Rio Negro (Rua Monsenhor Coutinho), no cinema Polytheama e na cervejaria Miranda Correa. Agradecendo a hospitalidade que receberam em Manaus, os Paraenses embarcavam no vapor “Olinda” e voltavam para sua capital.
FONTES & FOTOS: Professor e Pesquisador do Futebol Amazonense, Gaspar Vieira Neto – Jornal A Capital – Site Baú Velho – Mercado Livre