CARRASCO ETERNIZADO.

Ghiggia faz parte agora da calçada da fama do Maracanã. Com um leve sorriso e pose de quem fez ali a maior travessura nos 59 anos de história do estádio, um senhor de andar vagaroso aguçou a curiosidade de dezenas de turistas ao deixar a marca de seus pés na calçada da fama do Maracanã. Foi tudo muito rápido e a cerimônia emocionou Alcides Ghiggia, de 83 anos. Até hoje, o ex-atacante ainda guarda na memória detalhes do jogo e do gol que selou a vitória do Uruguai sobre o Brasil por 2 a 1, de virada, na final da Copa do Mundo de 1950. “Foi o maior momento da minha vida, de muito choro de pura alegria”. Calar 200 mil torcedores em poucos segundos rendeu ao ex-jogador a alcunha de maior carrasco do futebol brasileiro. Ele sempre rejeitou o rótulo. Bem, diplomático, agradeceu as autoridades do Estado pela homenagem. Ghiggia passou a ser o centésimo jogador da galeria de craques da calçada e o sétimo estrangeiro, juntando-se ao português Eusébio, ao sérvio Petkovic e aos alemães Beckenbauer e Alex (ex-zagueiro do América). Romerito, do Paraguai, e Figueroa, do Chile, completam essa relação. “Nunca pensei que receberia homenagem no Maracanã. Estou emocionado, feliz com o que esta acontecendo. Muito obrigado. Viva o Brasil”. Ghiggia calçava tênis branco, vestia calça jeans e uma camisa verde. Sua passagem pelo Maracanã estava programada havia mais de um mês: veio ao Rio de Janeiro conceder entrevista a uma emissora de TV da Alemanha. A Secretaria de Esporte do Estado aproveitou a oportunidade e fez o convite ao único jogador vivo entre os titulares daquele time uruguaio. Em meio a turistas, muitos dos quais adolescentes, Ghiggia sentou-se numa cadeira no hall de entrada do Maracanã para que funcionários do estádio pudesse tirar o molde de seus pés. As pessoas em geral não sabiam de quem se tratava. Com a revelação, prevaleceu um sentimento de indiferença no local, pelo menos entre os jovens. Os mais velhos aplaudiram Ghiggia, embora sem muito entusiasmo. Ele agradeceu com acenos. Parecia querer se desculpar de alguma coisa. Ninguém exigiu isso. Nem poderia. O Uruguai venceu o Brasil por méritos próprios. Venceu porque tinha Ghiggia.

Fonte: JT.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *