1958 – A história começaria a mudar

Recebi este relato do historiador Mario Lopomo, através do Blog http://mlopomo.zip.net
Apenas substituí algumas fotos por problemas de cópia.

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Em 1958, a historia começaria a mudar. O recém eleito presidente da CBD (Confederação Brasileira de Futebol) João Havelange, que assumiu no lugar de Silvio Pacheco, chamou Paulo Machado de Carvalho para organizar os trabalhos para formar uma seleção a altura de bem representar o futebol brasileiro.
Paulo Machado de Carvalho, que já tinha feito parte das delegações anteriores sabia muito bem qual era o defeito dos brasileiros quando estavam em grupo e em outros paises. Falta de educação, fugas do hotel, para participar de noitadas em boates ou casas suspeitas, coisa que logo que chegavam a um local queriam saber logo onde tinha. Outro detalhe. A falta de compostura nos hotéis chamava a atenção de quem tinha estado nesses locais. Muitos jogadores faziam suas necessidades fisiológicas nos lavatórios reservado a lavar o rosto.
Primeiro detalhe que Paulo de Carvalho impôs: Primeiro vamos convocar homens de caráter e educação. A seguir os jogadores capacitados a jogar.
Uma comissão foi formada para coordenar os trabalhos. E essa comissão era formada por representantes da imprensa, Paulo Planet Buarque, Flavio Iazetti, Álvaro Paes Leme e Ari Silva, que tinham a missão de formar uma comissão técnica. Os componentes da Delegação foram: Dr. Paulo Machado de Carvalho (Chefe), Vicente Feola (Técnico), Carlos Nascimento (supervisor), José de Almeida Filho (Assessor Técnico), Dr. Hilton Gosling (Médico), Mario Trigo Loureiro (Dentista), Adolpho Ribeiro Marques (Tesoureiro), Professor João Carvalhais (Psicotécnico), Paulo Amaral (Preparador Físico), Mario Américo (Massagista), Francisco Assis Santos (Roupeiro). Jogadores: Castilho, Dino Sani, Djalma Santos, Pelé, Dida, Vavá, Gilmar, Bellini, Joel, Zito, Pepê, Garrincha, Zagallo, Mauro, Moacir, De Sordi, Nilton Santos, Orlando, Oréco, Mazzola, Zózimo e Didi.
Depois da convocação dos jogadores, que não teve muita critica, pois os melhores jogadores haviam sido escolhidos. Para não dizer que todos os cronistas estavam a favor. Wilson Brasil da Radio Nacional em seu programa bate bola, todas as tardes às 18 horas, que apresentava juntamente com Jaime Moreira Filho, Geraldo Tassinari, Edson França, e Hélio Prioli, criticava duramente o técnico Vicente Feola, por não ter convocado o jogador Luisinho do Corinthians. Já Mário Moraes da Rádio Bandeirantes e Geraldo Bretas da Rádio Tupi eram totalmente contra a presença de Vicente Feola como técnico. Pedro Luiz, apesar das rusgas com Paulo Machado de Carvalho, não fazia muitas criticas a comissão técnica em seu comentário diário depois da Voz do Brasil, o mais ouvido do rádio paulista.

Já o comentarista Mário Moraes, achava que Feola estava mais para vendedor de pipocas do que para técnico de futebol. Geraldo Bretas na Rádio Tupi fazia criticas pesadas contra o técnico Vicente Feola. Já na Rádio Record e na Rádio Pan americana (a emissora dos esportes) tudo estava na mais prefeita ordem. Braga Júnior, e Geraldo José de Almeida, defendiam o técnico e toda a comissão.
Os treinos começavam, vinham os amistosos e as críticas começavam a aparecer, muitos achavam que a seleção era composta de muitos jovens e que o Brasil, estava na iminência de fazer outro papel feio. Wilson Brasil insistia na convocação de Luisinho. Passou quase todo tempo de treinos insistindo na convocação do meia direita do Corinthians. No penúltimo amistoso do Brasil contra o Paraguai no Pacaembu o selecionado brasileiro não passou de um empate de 0 x 0. E saiu do estádio sob estrondosa vaia do público paulista. Antes de a seleção viajar para a Itália, onde faria dois amistosos antes do primeiro jogo da copa, arrumaram um amistoso contra o Corinthians. Acho que queriam mostrar para o Wilson Brasil, que a seleção não precisava de Luisinho, o jogo foi numa quarta feira à noite, havia muita expectativa do que o endiabrado Luisinho seria capaz de fazer. O centro médio da seleção, Orlando Peçanha, preocupado com os dribles que poderia tomar, logo foi dizendo, se esse cara vier com graça pro meu lado, vou “meter a bota”, se for preciso acima da medalha! No dia do jogo nada de mal aconteceu para a seleção, Luisinho foi figura apagada no jogo, e a seleção goleou o Corinthians por 5 x 0 e ainda teve um pênalti perdido por Didi, que o goleiro Aldo defendeu. A nota triste do jogo foi à entrada dura do lateral esquerdo Ari Clemente no Pelé, que quase o tirou da copa.
Mesmo machucado, Pele viajou com a delegação, o Dr. Paulo Machado de Carvalho apostou na sua recuperação mesmo que ela acontecesse depois da copa já iniciada, tal era a fé que ele tinha no jogador. No primeiro jogo o Brasil pegou a Áustria vencendo por 3 x 0 com dois gols de Mazzola e outro de Nilton Santos. Naquela época ao laterais não tinham ordem para avançar. Nilton Santos, desobedeceu, e mesmo com os gritos de Feola para não ir muito a frente, Nilton Santos foi, e marcou o segundo gol brasileiro.

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Depois o Brasil empatou com a Inglaterra em 0 x 0, com o goleiro inglês Mac Donald pegando tudo o que tinha direito. No domingo o Brasil jogaria com a Rússia (União Soviética), um time misterioso e que ninguém conhecia, por isso Didi driblou a segurança russa e, foi assistir o treino deles enrustido. Antes desse jogo aconteceu um problema, logo solucionado pelo chefe da delegação Paulo Machado de Carvalho. O centro avante Mazzola estava em tratativas com um empresário para ir jogar na Itália, logo que o fato chegou ao conhecimento do Dr. Paulo. Mazzola foi afastado não jogaria mais na copa, sendo substituído por Vavá. Brasil e Rússia, (que na verdade, era União Soviética) estavam prontos para o início do jogo, o Brasil tinha duas novidades, Pelé e Garrincha iriam estrear na seleção. O Brasil começou o jogo de forma avassaladora, logo aos dois minutos Vavá abria o placar escorando um centro de Garrincha, que estava entortando os russos (soviéticos). Não tinha cinco minutos de jogo ainda e o goleiro russo Yashim estava mais suado do que carregador de saco de arroz da Cantareira.
O Brasil se classificou para as quartas de final, e ia pegar pela frente o País de Gales. Por estar machucado, Vavá foi substituido por Mazzola, tendo inclusive marcado um gol de bicicleta, que foi anulado pelo árbitro, julgando jogo perigoso.
A única preocupação para nosso time era o centro avante deles que tinha quase dois metros de altura, um jogo que todos os brasileiros tinham como barbada, e que acabou sendo o mais difícil, o 0 x 0 teimava em ficar no placar, Geraldo José de Almeida, gritava a todos os pulmões pela Rádio Pan americana, numa transmissão entrecortada, VAMOS MINHA GENTE! Já na Rádio Bandeirantes com som local, Pedro Luís e Edson Leite se revezavam numa transmissão mais discreta, esperando o momento exato para gritar o gol que estava maduro. Quase no fim do jogo Pelé faz uma jogada magistral e marca um gol antológico, e o Brasil acabou ganhando com aquele magro 1 x 0.
Na semifinal o Brasil jogaria com a França. Era o dia 24 de junho, dia de São João. Seria o melhor ataque que era o da França, com Just Fontaine, Raimundo Kopa e Piantoni, contra a defesa menos vazada com Gilmar, Djalma Santos, Bellini, Orlando, Zito e Nilton Santos. Mais uma vez, o Brasil começou arrasador marcando logo no início da partida com Vavá, mas a França empatou logo a seguir. Não demorou muito, o Brasil passou a frente no marcador, com um gol “folha seca”. Ainda no primeiro tempo, o árbitro não tinha validado dois gols do Brasil. Um de Zagallo, que a bola bateu na parte de baixo do travessão e caiu uns 50 cm dentro do gol, voltando para o campo de jogo, por causa do efeito, e anulou outro do Garrincha alegando impedimento. Geraldo José de Almeida voltava a berrar, na Pan Americana, ESTAMOS SENDO ROUBADOS!!! No intervalo do jogo saboreando o maravilhoso som da Rádio Bandeirantes ouvíamos o comentarista Mário Moraes, num gesto de grandeza, retirar as palavras ásperas contra o técnico Vicente Feola, que ele proferira antes da seleção viajar.
No segundo tempo o Brasil continuou mandando no jogo, acabando por fazer um placar histórico de 5-2.
Ai veio o jogo final contra a Suécia. Era um domingo, dia 29 de junho, dia de São Pedro. Os donos da casa, que também tinham camisas amarelas, havia ganhado o sorteio para usá-las, não abria mão delas, nem como bons anfitriões.
Na ultima hora compraram camisas azuis, que Paulo Machado de Carvalho, que já estava tendo sérios problemas com jogadores por causa de saudades dos familiares, principalmente o goleiro Gilmar, que era o mais saudoso, mas tinham o doutor Paulo como um autêntico pai. Outro problema que tinha que dizer aos jogadores, era a cor da camisa, já que todos os jogos anteriores foram usadas a camisa amarela, e ela ia ser usada pelos suécos.
Para não deixar os jogadores se influenciarem com esse detalhe, o Doutor Paulo disse aos jogadores: Meus filhos, vocês vão jogar com a camisa azul, a cor do manto sagrado de Nossa Senhora Aparecida. E vamos ser campeões. A ansiedade aqui no Brasil era muito grande. Só se falava no jogo final. Muitas promessas de presentes eram anunciados nos jornais pelas empresas fosse qualquer o resultado da partida, pois achavam que o Brasil já tinha ido bem longe. Quando todo mundo pensava que o time seria aquele que vinha jogando, surge uma substituição de ultima hora, Djalma Santos ia entrar no lugar de De Sordi. Jogando apenas uma partida Djalma Santos foi considerado o melhor lateral direito do campeonato mundial.
No dia do jogo chovia a cântaros, como diziam os cronistas esportivos da época. E os suécos mesmo sabendo que o campo pesado favorecia a eles, cobriram o gramado com lona retirando minutos antes da partida.
O jogo começou, com os suécos marcando logo de cara, mestre Didi foi até o fundo da rede pegou a bola e calmamente dirigiu-se ao meio de campo, imitando Obdulio Varela em 1950. Pelé com seus 17 anos erguia os braços como dizer a defesa brasileira ter calma.
Não demorou muito, para que o Brasil empatasse o jogo, Vavá recebendo de Garrincha, só teve o trabalho de empurrar para as redes. Dez minutos depois veio à repetição do lance do primeiro gol, Garrincha centra e Vavá completa para o gol, o Brasil já estava ganhando. No segundo tempo os suécos praticamente assistiam o show de bola brasileiro. Ai surgiu Pelé para fazer todo mundo ficar de queixo caído.
Deu chapéus em dois suécos antes de marcar o terceiro gol brasileiro. Geraldo José de Almeida, já estava mais do que emocionado na transmissão, QUE BOLA, BOLA. OLHA LÁ, OLHA LÁ, OLHA LÁ, NO PLACAR!
Já na Rádio Bandeirantes Edson Leite classificava o gol, COMO GOL COPA DO MUDO. 3 A 1, O BRASIL VENCE.
Depois Zagallo fez a lição de casa marcando o quarto gol, de bico. Quando parecia que os 4-2 seria o placar final, a bola bateu na cabeça do Pelé e foi para o fundo das redes, marcando o quinto gol brasileiro. Finalmente o Brasil era o campeão do mundo. Agora sim podíamos dizer que éramos os melhores do mundo, pois até então era só na conversa de botequim. Quando o jogo terminou, Edson Leite dizia que; o Maracanã se repete na Suécia, dando a entender que a Suécia repetia o Brasil em 1950, perdendo a copa em casa. A Rádio Pan Americana, de propriedade de Paulo Machado de Carvalho ficou a tarde toda transmitindo a festa direto da Suécia com entrevistas de todo lado. Já a Bandeirantes, com menos bala para gastar, encerrava a transmissão logo após o fim dos jogos.
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inserido por Gilberto Maluf

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