João Abujamra – JORNAL DA DIVISA – 1967 – 1970 : “Ourinhos e sua história”
“Se nós pudéssemos construir a máquina do tempo e recuar por volta de 1914 olhando a praça Melo Peixoto veríamos uma cena engraçada e singela, coisa própria de um lugarejo que nascia. Veríamos um campo de futebol onde os moços daquela época faziam as suas peladas se divertin-do e passando o tempo praticando o esporte favorito do povo.
O campo era aberto e os jogadores em dia de jogo, envergavam um uniforme garboso: calção abaixo do joelho, camisa de manga comprida, com colarinho onde uma gravata borboleta compri-dinha despontava.
Do lado de baixo da praça, em frente ao Banco Bradesco, a casa do sr. João Neder; na esqui-na, a padaria do sr. Lourdino de Jácomo. Em frente a casa comercial do sr. Cury ficava a residen-cia do sr Felisbino Vieira.
Esse era o panorama da atual praça por volta de 1914. Em volta do campinho de futebol, algu-mas casas de madeira.
Conta o sr. Leontino Ferreira que jogavam nesse quadro Miguel Petronile, Toninho Moraes, João Albano e João Petronile.
Depois que o lugarejo foi elevado à categoria de cidade, a prefeitura foi desapropriando as casas existentes para a construção de uma praça.
Desapareceu assim o campinho das peladas fabulosas, dos gols sensacionais e hoje ele existe nas lembranças de bem poucos ourinhenses.
Mas, o espírito esportivo dos moços daquela época não se apagou. Trataram de fazer outro campo de futebol no fim da rua São Paulo, onde hoje se localiza uma serraria.
Formaram um timão e astros autênticos da envergadura de Miguel Cury, Manuel Teixeira, Tenente Raul, Vasco Grilo e Miguel Sapateiro deliciavam os espectadores com jogadas admira-veis.
Contou-me o sr. Manuel Teixeira que o time possuía diretoria e chamava-se E. C. Oriente.
Em 1920 é fundado o Esporte Clube Operário, o clube do povo, que não sei por qual motivo desapareceu.
O primeiro campo de futebol do Esporte Clube Operário foi feito no local onde se acha insta-lada a firma Dias Martins.
Afonso Salgueiro, Francisco Negrão e José Abujanra jogaram e eram diretores desse clube.
Em 1922 desaparecendo o Esporte Clube Oriente foi fundado o Ourinhos Futebol Clube, na vila Margarida, nas imendiações da casa do Prof. Dalton.
Jogavam nesse quadro Domingos Grilo, Antonio Mori, Lazinho, Nico Mori e outros. O sr. Miguel Cury fazia parte da diretoria.
Em 1924 o Ourinhos Futebol Clube desaparece e sómente em 1930, com a vinda do conheci-do esportista Antonio Ferraz surge o Clube Atlético Ourinhense.
Miguel Cury, Ítalo Ferrari e Julio Mori doaram ao clube um terreno na rua Duque de Caxias onde foi construído um novo campo de futebol.
Nessas alturas o Esporte Clube Operário já estava com seu campo também na rua Duque de Caxias no local onde o sr. Beibe possue salões de aluguéis. Sómente mais tarde chegou o clube a comprar o atual terreno de seu campo de futebol.
Esse é o resumo da vida esportiva da cidade naqueles tempos em relação ao futebol.”
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Wilsom Monteiro foi o autor da descoberta desse documento
Notas: de acordo com o Jornal do Povo – fundado em 1927, o Operário comprou um campo que já existia pertencente a outro clube não mencionado, o Aurora Futebol Clube. A compra foi realizada em 1933 e o dinheiro foi arrecadado através de empréstimos dos simpatizantes. O mentor do negócio foi o sr. Joaquim Luis da Costa. O campo no final da rua São Paulo foi também o campo de outro time chamado Serraria e ficava em terras da família Sá antes do surgi-mento da vila inglesa A vila Margarida só surgiria no final dos anos 30.
O primeiro campo do Aurora ficava na av. da saudade, hoje av. Jacinto Sá.
F
Fotografia do Esporte Clube Operário: Norival Vieira da Silva.
Texto e fotos encaminhadas por Carlos Lopes Baia