Mal foi postada a trajetória do Americano, recebi uma enxurrada de e-mails dos amigos campistas torcedores do Goytacaz cobrando o mesmo espaço do Azulão, que atualmente possui a 5ª maior torcida do Rio. Contando mais uma vez com os conhecimentos de Paulo Ourives, falaremos agora da entrada o Goyta, no Campeonato Brasileiro.
A projeção alcançada pelo Americano, com a sua inclusão no Campeonato Brasileiro de 1975, não apenas contrariou a torcida do Alvianil, que jamais admitiu o eterno rival em plano superior, como pôs a cúpula do Goytacaz em estado de alerta, já que uma guerra de repercussão nacional havia sido iniciada, com o adversário levando vantagem.
Era preciso, portanto, fazer alguma coisa, justamente num ano em que o Americano, movido por um desejo de cada vez mais dominar o noticiário, se popularizar e ganhar foros de único clube de fato do lugar, pouco deixando para o seu adversário.
Mesmo assim, numa demonstração de força fora do comum, de muito amor, Conselho e Diretoria arregaçaram as mangas e partiram para uma luta sem tréguas, aproveitando todas as suas reservas e a paixão incontida de uma torcida que só esperava por uma chance para mostrar até onde poderia chegar o Goytacaz.
“O Americano entrou no Brasileiro de 1975 por causa da fusão. Ano que vem a vez será do Goytacaz e aí eles vão ver a diferença”, comentou Zé Gordo, estudante de Filosofia que, em 1976, viria a se tornar o primeiro grande líder da torcida Alvianil quando da inclusão desse clube no então Campeonato Carioca.
Desse desejo de atingir horizontes maiores ninguém escapou na Rua do Gás, conforme anunciava o Domingo Esportivo, edição de 10 de agosto 1975, ao publicar matéria na qual se lia que “em reunião realizada ontem à tarde, na sede social do clube, o Conselho Deliberativo do Goytacaz atendeu pedido formulado pelo Presidente Roberto Krunfly, autorizando a emissão de mil títulos de sócios-proprietários com valor individual a ser conhecido dia 25 deste mês, ocasião em que também a comissão nomeada ontem completará a primeira parte do seu trabalho, que é o de arranjar meios para que o Alvianil parta para a ampliação de suas arquibancadas, construção de outros dois vestiários, banheiros populares e até lojas comerciais em torno do Estádio Ari de Oliveira e Souza. Ficou decidido entre outras coisas que os associados passarão a pagar (os que puderem) 20 cruzeiros por mês e que uma comissão constituída dos Srs. Roberto Krunfly, José Carlos Maciel, Hervê Salgado Rodrigues, Fued Koury, Nílson Cardoso de Souza, José Gabriel, Ramiro Alves Pessanha Filho e Augusto Tinoco Faria se reunirá nesta terça-feira. Também a Diretoria do Alvianil, a partir de agora, estará reunida nas noites de segundas e quintas-feiras“.
No dia 14 de setembro de 1975, o Momento Esportivo publicava que “o Goytacaz está com um pé no Campeonato Estadual do ano que vem, juntamente com o Americano, segundo deixou entender ontem o Presidente Otávio Pinto Guimarães, da Federação Carioca de Futebol. Ele chegou, foi ao gabinete do Prefeito José Carlos Vieira Barbosa, diplomou os novos juízes da LCD e foi homenageado com um banquete no Automóvel Clube Fluminense. Foi lá que falou a Jacinto Simões, José Gabriel, Benedito Chagas e Augusto Machado Viana Faria, todos do Alvianil, que esse clube e o Americano entrarão no Estadual de 76. Hoje, Otávio Pinto Guimarães, que se fez acompanhar de Murilo Portugal e Eduardo Augusto Viana da Silva, visita os campos do Goytacaz, Rio Branco e Campos, vai a São João da Barra, almoça na usina Sapucaia, assiste ao jogo Americano x Santa Cruz e depois será recebido pelo empresário Antônio Carlos Chebabe.
No meio da semana, os Srs. Augusto Tinoco Faria, Jacinto Simões e Benedito Chagas, acompanhados dos Srs. Alair Ferreira e Danilo Knifis, estiveram no oitavo andar da CBD. Lá conversaram com o Presidente Heleno Nunes e com o Comandante Jovino Pavan.
De volta a Campos, os três dirigentes disseram que tiveram uma boa impressão e que sentiam que o Goytacaz poderia esperar algum benefício da CBD, pois o próprio Presidente Heleno Nunes passou uma borracha nos mal-entendidos.
Os três dirigentes também ouviram o Comandante Jovino Pavan, que falou que a CBD tem o maior interesse em atender as necessidades dos seus filiados, bastando, para serem atendidos, que todos trabalhem e peçam“.
Dia 5 de outubro de 1975, o mesmo semanário escrevia que “a Diretoria e a comissão criada pelo Conselho do Goytacaz vão se reunir hoje, a partir das 9 horas, na sede social do clube, no Estádio Ari de Oliveira e Souza, para traçarem os novos rumos do Alvianil em relação ao seu crescimento patrimonial.
O encontro deverá ser dos mais concorridos, dele podendo fazer parte todos os conselheiros, conforme anunciou ontem o Presidente Roberto Krunfly. É possível que amanhã mesmo sejam iniciadas as obras na praça de esportes do Goytacaz, na Rua do Gás“.
No meio da semana, membros da comissão criada pelo Conselho estiveram com o Prefeito José Carlos Vieira Barbosa, ocasião em que essa autoridade conheceu o plano de obras elaborado pelo pessoal técnico da Fundenor para o Estádio Ari de Oliveira e Souza.
Durante o encontro, que foi dos mais proveitosos para o clube da Rua do Gás, o Chefe do Executivo se prontificou a colaborar com máquinas e homens para as obras pretendidas pelo clube e ainda declarou que as obras deveriam começar o quanto antes.
Da mesma matéria faziam parte outros parágrafos, nos quais se liam que, “paralelamente, figuras respeitáveis do Goytacaz começaram a tratar dos detalhes sobre a realização das obras, para as quais o clube necessitará da ajuda de todos em Campos. Uma campanha popular será feita, possivelmente a partir do meio da semana.
O importante é que a cúpula do Goytacaz, sabedora de que o clube participará do Estadual do ano que vem, juntamente com o Americano e um clube de Volta Redonda, além dos 12 do Rio de Janeiro, não está querendo perder tempo e disso está dando provas.
A ampliação das acomodações no Estádio Ari de Oliveira e Souza é uma necessidade, como deixaram entender os Srs. Heleno Nunes, Presidente da CBD, e Otávio Pinto Guimarães, Presidente da FCF. E essa ampliação terá que estar concluída em março de 76.
Pelo comissão criada pelo Conselho estarão presentes à reunião os Srs. Hélson de Souza, Nílson Cardoso de Souza, Hervê Salgado Rodrigues, José Carlos Maciel, Benedito Chagas e Ramiro Alves Pessanha Filho“.
No dia 12 de outubro de 1975, o Domingo Esportivo relatava outro episódio alvi-anil com esta matéria: “O Sr. Roberto Krunfly, Presidente do Goytacaz, disse ontem que as obras para ampliação do Estádio Ari de Oliveira e Souza não se encontram em compasso de espera e sim sendo trabalhadas por fora para que, uma vez iniciadas, possam de fato ir adiante, como é desejo de toda a enorme torcida da Rua do Gás.
Falou também que o Goytacaz não vai ficar apenas nas obras que pretende realizar, mas também aumentar o poderio técnico do time, contratando os jogadores que de fato possuem qualidades. Um deles e que poderá ter a sua situação definida é o zagueiro Marcolino, que está se desligando do Rio Branco, da Avenida 7.
O Sr. Roberto Krunfly anunciou que os Srs. Jacinto Simões e José Gabriel são os coordenadores de uma campanha financeira popular que já está sendo movimentada através dos conselheiros do clube e que deverá render o suficiente para que o Alvianil inicie as obras pretendidas.
Com relação à aquisição de bois para o leilão durante a Semana do Cavalo, disse que esta parte está mais com o conselheiro Floriano Pessanha, que já declarou para quem quisesse ouvir que a receita será para melhorar o sistema de iluminação elétrica do estádio“.
É bom lembrar – e desse fato a imprensa campista não se deu conta que no dia 15 de setembro de 1975, por iniciativa do Almirante Heleno Nunes, realizou-se uma reunião no gabinete do presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, Plínio Catanhede, da qual participaram, além do presidente mencionado, os Prefeitos de Campos e Volta Redonda (José Carlos Vieira Barbosa e Nélson Santos Gonçalves), Hildo Nejar, Almir de Almeida, Murilo Portugal, Otávio Pinto Guimarães, Eduardo Augusto Viana da Silva, Agathirno da Silva Gomes, Hélio Maurício, Wilson Carvalhal, André Richer e Guanair de Souza, para resolver sobre a participação, por convite, do Americano e de um clube de Volta Redonda, no Campeonato Carioca de 1976.
No meio das discussões foi aventada a possibilidade da participação do Sapucaia, na época campeão estadual. Nesse momento, fazendo-se valer de todo um conhecimento de causa. Eduardo Augusto Viana da Silva levantou a hipótese da participação do Goytacaz, alegando ser um clube tão tradicional quanto o Americano, com o mesmo peso social e desportivo, que “não poderia ficar de fora de um campeonato do qual estivesse, por exemplo, São Cristóvão, Madureira, etc., de muito menos expressão que o próprio Goytacaz“. Heleno Nunes fitou demoradamente Eduardo Augusto Viana da Silva e, em meio ao silêncio que se verificou no gabinete de Plínio Catanhede, acabou aceitando a idéia. Depois, sorridente, virou-se para o grupo e declarou, textualmente:
“A melhor idéia é a do Eduardo Viana“.
No dia 16 de setembro de 1975, portanto, um dia após a tal reunião no gabinete de Plínio Catanhede, a coluna Câmera, do Jornal dos Sports, publicava esta nota:
“Dirigentes do Goytacaz revelaram ontem ter recebido promessa do presidente Otávio Pinto Guimarães, de que o clube será incluído no próximo Campeonato do Estado do Rio de Janeiro, em 1976. Diante disso, marcaram uma reunião do Conselho Deliberativo para a noite de quinta-feira, quando será discutido o plano de obras, visando a dar ao Estádio Ari de Oliveira e Souza a capacidade mínima de 25 mil espectadores. Em princípio a obra está orçada em 4 milhões de cruzeiros. Segundo o presidente Roberto Krunfly, o plano para ampliação do estádio foi elaborado pelo corpo técnico da Fundenor e prevê a construção de um pavilhão social com o comprimento do campo, de frente para a Rua do Gás, onde serão construídas 12 lojas para serem alugadas. As arquibancadas crescerão por trás das duas metas, sendo que a do lado da Rua Formosa terá também em sua face externa lojas para serem alugadas. A remodelação do sistema de iluminação e outros melhoramentos fazem parte do plano que deverá ser colocado em execução o mais rapidamente possível. Alguns conselheiros defendem, no entanto, a compra de uma outra área, onde seria erguido um novo estádio, em local mais distante do centro da cidade. Ao mesmo tempo, o Prefeito José Carlos Vieira Barbosa afirmou que a Prefeitura auxiliará o Goytacaz em tudo que for possível, para que o clube possa entrar no campeonato do Estado, juntamente com o Americano“.
No dia 10 de outubro de 1975, o Jornal dos Sports citava que “o Goytacaz, por causa do pedido feito pelo Presidente Heleno Nunes, da CBD, e Otávio Pinto Guimarães, da FCF, para que amplie as acomodações do Estádio Ari de Oliveira e Souza, vive momentos de intensa agitação. Todos, conselheiros, diretores, associados e torcedores, trabalham em várias campanhas, objetivando conseguir recursos para que as obras possam ser iniciadas o quanto antes“.
Toda essa atividade da gente Alvianil, foi acompanhada de perto pelo Jornal dos Sports que, na edição de 19 de novembro de 1975, anunciava a chegada de técnicos de uma firma em construção metálica para esse dia. Segundo a matéria, os tais técnicos fariam o levantamento da área disponível para construir as arquibancadas do Estádio Ari de Oliveira e Souza. Roberto Krunfly dizia, então, que a firma completaria sua tarefa em 60 dias. Os tais técnicos acabaram não aparecendo, o tempo foi ficando curto e o Goytacaz, dono de ambições que não tinham mais tamanho, mas sem condições de realizar aquilo que mais desejava, passou a cuidar da política interna.
E o mesmo Jornal dos Sports de 12 de dezembro de 1975 publicava o seguinte: “O Sr. Jorge Fernandes de Sousa declarou ontem que não retira sua candidatura à presidência do Goytacaz, embora saiba que alguns conselheiros estejam procurando outro nome para concorrer com ele no pleito da próxima segunda-feira, dia 15. A eleição presidencial no Goytacaz é assunto tão importante para o setor esportivo da cidade que até em estabelecimentos bancários ou casas comerciais, ela vem sendo ventilada a todo o instante. Para Jorge Fernandes de Sousa, que concorre pela segunda vez, isto é sinal de grandeza do seu clube”.
Depois os jornais campistas boa parte de suas páginas esportivas ao pleito dedicaram nas suas semanas seguintes. Fonte oficial do Conselho dizia ontem, no Bulevar Francisco de Paula Carneiro, que a eleição do Sr. Jorge Fernandes de Sousa é praticamente certa, mesmo porque os demais nomes cogitados por aquele órgão não aceitaram.
“Minha candidatura é para valer e não a retirarei. Que apareçam outros candidatos, mas que concorram comigo. Eu, só em ser candidato, sinto-me honrado, porque a presidência do Goytacaz não é cargo para qualquer um. Agora, que façam o jogo aberto e franco e não o que fizeram ano passado”, disse Jorge Fernandes de Sousa.
Jorge Fernandes de Sousa foi eleito o novo presidente do Goytacaz e, segundo os jornais locais e até o Jornal dos Sports do dia 18 de dezembro de 1975, ele assumiria o cargo, que estava sendo ocupada por Roberto Krunfly, no dia 29, ocasião em que o Conselho Deliberativo se reuniria solenemente. A chapa perdedora tinha Amaro Escovedo como candidato, que acabou ficando vice na vencedora.
Jornal dos Sports de 7 de janeiro de 1976: “na presença de dezenas de figuras ligadas ao esporte local e associados e conselheiros do clube, o Sr. Jorge Fernandes de Sousa foi empossado na presidência do Goytacaz. Da programação constaram a sessão solene do Conselho, durante a qual tomou posse toda a nova Diretoria, e um coquetel dos mais concorridos. O novo presidente declarou que o clube conseguirá nas próximas horas empréstimo bancário para iniciar as obras do Estádio Ari de Oliveira e Souza, enquanto os diretores que saíram homenagearam o ex-presidente Roberto Krunfly, inaugurando um pôster na galeria dos presidentes, além de presenteá-lo com uma placa de prata“.
No dia 14 de janeiro de 1976, o Jornal dos Sports publicava matéria que é, de novo, aqui transcrita, porque, mais uma vez, faz parte da história do futebol do lugar: “Surpreendentemente, o Goytacaz, através do Presidente Jorge Fernandes de Sousa e do Diretor de Futebol Ronaldo Simões, contratou, ontem, durante um almoço, o treinador Paulo Henrique, que havia pedido licença de 20 dias ao Campos, clube com o qual possuía contrato verbal.
Desde a véspera, à noite, quando da reunião normal da Diretoria, a contratação do novo treinador estava prevista. O assunto chegou a gerar alguma discussão, com determinados diretores achando que não era a hora de mudar a direção técnica do elenco, em poder de Ualdo Pessanha“.
No dia 20 de janeiro de 1976, o Jornal dos Sports publicava o seguinte texto:
“Depois de uma reunião de quase cinco horas, na qual a grande dificuldade foi vencer a resistência do Presidente Francisco Horta, firme na disposição de vetar a presença dos clubes do interior, os clubes cariocas aceitaram, finalmente, a fórmula de disputa do Campeonato Carioca de 1976. O convite ao Americano e Goytacaz, de Campos, e ao Volta Redonda, foi ratificado, estabelecendo-se, apenas, duas exigências (formuladas pelo presidente do Fluminense) para a sua participação. O campeonato será disputado em três turnos: o primeiro com 15 clubes e os outros dois com 8. O turno decisivo terá os três campeões dos turnos anteriores, além do vencedor do turno de reclassificação“.
No dia 22 de janeiro de 1976, a coluna Câmera, do mesmo Jornal dos Sports, publicava que “o Americano e Goytacaz, de Campos, além do Volta Redonda, da cidade do mesmo nome, serão oficialmente convidados para disputar o Campeonato Carioca. O encontro entre o presidente da Federação Carioca de Futebol e os dirigentes daqueles clubes será na próxima quarta-feira, na sede da entidade. Na oportunidade, serão também inteirados das exigências que os seus clubes terão de cumprir para que possam participar do certame. Nos primeiros dias de fevereiro, Americano, Goytacaz e Volta Redonda receberão a visita dos presidentes dos clubes cariocas. Será, antes de tudo, uma autêntica vistoria, em que os dirigentes verificarão as condições dos novos filiados em termos de estádio e organização. Pelo que se sabe, o Americano possui um estádio razoável, que permitiu que disputasse o Campeonato Brasileiro. Sobre o Goytacaz, não existe nenhuma informação concreta. Já o Volta Redonda, que disputará o campeonato no estádio da Siderúrgica, está ampliando a sua capacidade graças ao apoio do prefeito da cidade“.
Só no dia 13 de fevereiro de 1976 foi que o campista, particularmente o torcedor Alvianil, teve certeza da inclusão do Goytacaz no Campeonato Carioca. É que, nesse dia, o Jornal dos Sports, em sua última página, publicava, a tabela aprovada na véspera e na qual se via, como novos integrantes da competição, Goytacaz, Americano e Volta Redonda, que se juntaram aos 12 clubes do Rio de Janeiro.
Fonte: Domingo Esportivo / Momento Esportivo / Jornal dos Sports