O empate do dia 2 de junho de 1962 com a Tchecoslováquia teve uma grande preocupação para o povo brasileiro: Pelé, o grande astro de um time de craques, sofreu uma contusão muscular e ficou de fora do restante da competição. A partir daí ficou uma indagação: será que o Brasil conseguiria chegar ao bi sem o Rei?
Ainda no primeiro tempo, ao dar um chute para o gol, o camisa 10 brasileiro sentiu a lesão. Daí em diante, como na época não eram permitidas substituições durante a partida, Pelé ficou em campo mesmo contundido.
A lesão do camisa 10 abriu espaço para que outro craque brilhasse naquela Copa do Mundo: Garrincha. Com suas pernas tortas e dribles desconcertantes, o ponta-direita foi o destaque daquela Seleção, que voltou para o Brasil com o bicampeonato na bagagem.
Amarildo herda o trono e vira o Herói-Rei contra a Espanha
Quatro dias depois, há exatos 50 anos, no dia 6 de junho de 1962, a Seleção Brasileira enfrentou a Espanha, sem Pelé. O treinador Aymoré Moreira chegou a pensar em colocar Jair da Costa na ponta direita e deslocando Garrincha para meia.
Tudo porque o temperamental Amarildo era inexperiente em jogos internacionais. Mas, mesmo assim, o técnico decidiu que Amarildo deveria ser o substituto imediato de Pelé. Paulo Amaral e Nilton Santos conversaram muito com Amarildo para que ele não revidasse as provocações dos espanhóis.
Nos primeiros minutos do jogo, Didi não conseguia comandar suas pernas. Ele queria se vingar dos maus momentos que teve no futebol espanhol. Essa preocupação não lhe fazia bem. Zózimo estava inseguro. Zito indeciso nas antecipações e Amarildo, sem tremer, sentia claramente o peso da responsabilidade. Os espanhóis souberam se aproveitar da situação e, aos 35 minutos do primeiro tempo, Adelardo fez 1×0.
Logo depois Adelardo foi derrubado na área por Nilton Santos e o juiz preferiu marcar uma falta fora da área. Gilmar ainda faria uma defesa maravilhosa e, novamente o juiz chileno Sergio Bustamante, anulou um gol de Peiró aparentemente legítimo. Foi um alivio quando terminou o primeiro tempo. Todos eram unânimes em afirmam que poderia ter sido pior. Os espanhóis estavam certo que ganhariam o jogo.
No vestiário dos brasileiros, Amarildo soluçava num banco de madeira. Paulo Amaral o levou para o banheiro e quase aos gritos, não parava de sacudi-lo, dizendo a ele que os espanhóis não eram mais homens de que os brasileiros e que poderíamos vencer no segundo tempo.
Paulo Amaral passou a mão nos ombros de Amarildo, deu um cálice de conhaque e o mandou para o campo. Ele voltou para o segundo tempo transformado. Os outros jogadores também. E aos 27 minutos, Zito roubou a bola de Puskas e soltou rápido para Zagalo, que foi a linha de fundo e centrou.
Amarildo entrou rápido entre os zagueiros espanhóis enfiando o bico da chuteira na bola e empatando o jogo. Uma pirâmide amarela ia crescendo em cima dele.
Agora Amarildo já não se importava com mais nada e Didi se esqueceu da vingança. Foi com a precisão de um mestre, que Didi lançou Garrincha num passe de trivela. Com os espanhóis a sua frente, Garrincha foi driblando um a um os zagueiros que apareciam e centro alto para a área.
Amarildo subiu e jogou sua testa de encontro a bola: Brasil 2×1 aos 41 minutos do segundo tempo. Estávamos classificados. Foi uma vitória que jamais os brasileiros esquecerão.
BRASIL 2 X 1 ESPANHA
Competição: Copa do Mundo do Chile, em 1962
Local: Estádio de Sausalito em Vinã Del Mar
Árbitro: Sergio Bustamante (CHILE)
Público: 18.715 pagantes
BRASIL: Gilmar, Djalma Santos, Mauro(Capitão), Zózimo e Nilton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Vává, Amarildo e Zagalo. Técnico: Aymoré Moreira
ESPANHA: Araquistan, Rodri, Echeverria, Garcia e Pachim; Vergas, Collar (Capitão), Adelardo, Puskas, Peiró e Gento. Técnico: Helenio Herrera
Gols: Adelardo aos 35 minutos do 1º tempo; Amarildo aos 27 e 41 minutos do 2º tempo
Fonte: CBF
Fotos: Fatos e Fotos / CBF
Link no Youtube sobre a história dessa partida: http://www.youtube.com/watch?v=4ezybCKehjU