100 ANOS DO BUGRE A FESTA SEM PRESENTE.

Guarani completa 100 anos atolado em dividas, único time do interior a ganhar o Campeonato Brasileiro, faz 100 anos abalado por denuncias e vexames. No dia em que completa 100 anos, o Guarani não tem o que comemorar. O time de Campinas, único do interior a conquistar um Brasileiro, em 1978, coleciona vexames o ultimo feito do clube responsável por revelar, entre outros talentos, o atacante Careca e o meia Neto, aconteceu em 1994, quando chegou às semifinais do Nacional. Depois disso, foram 17 anos convivendo com rebaixamentos – um total de sete – e com denuncias de corrupção e de má gestão. Em fevereiro deste ano, a Justiça condenou o ex-presidente José Luiz Lourencetti, à frente do Guarani de 1999 a 2006, a indenizá-lo em R$ 3 milhões por danos morais. Se nos bastidores o clima é tenso, o time montado para o centenário em nada ajuda a confortar os torcedores. O estádio do Guarani, é motivo para o clima de disputa política. A diretoria vê a venda do Brinco de Ouro como solução para reerguer o clube. O presidente do Guarani, Leonel Almeida Martins de Oliveira, viajou a Portugal em 2010 com passagens pagas por um advogado intermediava a negociação com um grupo europeu interessada na compra da arena. A justificativa é a de que o dirigente foi até a cidade do Porto para conhecer as instalações do Estádio do Dragão, construído com a participação do grupo que pretendia adquirir o Brinco de Ouro.

Curiosamente, é Lourencetti, opositor da atual gestão, quem avaliza as passagens que levaram Leonel e sua mulher a Portugal, de acordo com os documentos a que a Folha teve acesso.

Segundo o antigo mandatário, uma infeliz coincidência, já que a agencia em que foram comprados os bilhetes pertence a um parente dele. Leonel Oliveira passou 22 dias em Portugal, entre junho e julho do ano passado. Procurado pela reportagem, o presidente bugrino se recusou a responder às perguntas. Mas, em carta endereçada aos torcedores do time, admitiu que, na viagem, uniu “trabalho em prol do Guarani e merecido lazer”.

As passagens no valo de R$ 13.467,51, foram pagas pelo advogado Ledo Garrido Lopes Júnior, que não crê em conflito de interesses ao bancar a viagem do cartola. “Não posso onerá-lo (Leonel) para ver algo que quero que ele conheça”, afirmo Lopes Júnior. Segundo ele, a empresa que representa não negocia mais com o clube.

VENDA DA ARENA É VISTA COMO ÚNICA SALVAÇÃO.

A venda do estádio Brinco de Ouro está próxima de ser efetuada, segundo dirigentes do Guarani. “É a única forma de salvar o clube”, afirma o vice Jurandir Assis. “Estamos sempre com problemas. Tudo está penhorado, nosso patrimônio, nossas receitas”, diz. O negocio é uma permuta e, em troca do Brinco de Ouro – que ocupa uma área de 90 m2 na porção mais valorizada de Campinas – o Guarani quer um novo estádio, um centro de treinamento e um clube social, além da quitação de todas as dividas, hoje em R$ 120 milhões.

GUARANIS, OS ÍNDIOS, NUNCA TIVERAM CONTATO COM O CLUBE.

Os índios guaranis que vivem em São Paulo jogarão seu futebol alheiros à data que este celebra o centenário da equipe campineira de mesmo nome. Segundo a FUNAI, há cerca de 1.500 índios dessa etnia no Estado. Eles, como os brancos, adoram futebol. E, mesmo próximos fisicamente, estão distantes do clube. A influencia guarani no nome do time é indireta. Em 1911, jovens campineiros fundaram o clube e, para homenagear o maestro Carlos Gomes, que nasceu lá, batizaram o time com o nome da principal composição do músico, a ópera “O Guarany”, baseada em romance de José de Alencar. Em São Paulo, há quatro aldeias guaranis no extremo sul da cidade. Nos campos improvisados de futebol, os índios jogam entre si. Duelos contra a comunidade externa são mais raros.

“Não temos muita habilidade”, admite Olívio Jekupe, presidente da associação que representa a aldeia. “Mas, se o jogo tivesse quatro horas, sempre ganharíamos. Temos mais fôlego.” No futebol profissional, uma iniciativa sem precedentes fundou o clube Gavião Kyikatejê, formado exclusivamente por jogadores e comissão técnica indígenas. Ele chegou a disputar a segunda divisão do Paranaense. “Em todas as aldeias por onde passei do Rio Grande do Sul ao Pará, sempre havia uma bola”, diz o doutorado e em antropologia Almires Machado, que é guarani. Entre os guaranis paulistanos, o futebol se transformou no principal meio de lazer. Na aldeia, sempre é relembrado o feito mais importante da equipe: vencer o time de juvenis do São Paulo – o clube do Morumbi faz ações sociais com os índios. Olívio Jekepe conta que, em 2007, os tricolores jogaram um amistoso contra a seleção local e perderam por 4 a 1. Quando se apresenta, a equipe guarani usa uniforme do São Paulo, presente dos amigos brancos. Já o Guarani de Campinas não tem noticia de qualquer apresentação com os guaranis. Sobre convidá-los para os festejos do centenário, o clube considerou ser apenas

“uma ótima idéia.”

Fonte: Folha de São Paulo de 2011.

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