Por: Rodrigo Fernandes
Num domingo, do dia 12 de janeiro de 1930, surgiu Clube Atlético Ferroviário, graças à cisão do Britânia Sport Club. O clube ficava na cidade de Curitiba, no estado do Paraná. Num primeiro momento, o Ferroviário surgiu para congregar os funcionários e os operários da Rede, disputando apenas campeonatos amadores.
Ao levar para as suas fileiras os principais jogadores do Britânia, o Clube Atlético Ferroviário começou a decolar como time competitivo e, sobretudo, como força popular do futebol da capital paranaense.
Tornou-se oito vezes campeão de profissionais, construiu o mais moderno estádio do Paraná na década de 1940 (Estádio Durival Britto e Silva), revelou grandes craques, lotou estádios por onde passou e desenvolveu admirável intercâmbio nacional e internacional. Apelidado de “Boca-Negra”, nome de um grupo indígena descoberto na selva brasileira na década de 1930, popularizou-se ainda mais.
Em 1967 foi o primeiro representante paranaense no Torneio Roberto Gomes Pedrosa. No dia 29 de junho de 1971 após a fusão com o Britânia S.C. e com o Palestra Itália F.C., surgiu o Colorado Esporte Clube. Então em 1989 o Colorado uniu-se com o EC Pinheiros, e dessa fusão surgiu o Paraná Clube, que existe até os dias de hoje.
A história do time que surgiu dessa união é um caso à parte. Ainda existe muita gente com saudades daquela camisa vermelha pródiga em histórias bizarras. Os fãs do Colorado, diga-se, orgulham-se daquela mística azarada – uma espécie de analogia à vida sem golpes de sorte, típica do brasileiro comum.
Eram pessoas felizes com a trajetória desgostosa do humilde boca-negra. Ainda hoje escuto discursos nostálgicos ressaltando “como era bom o tempo do coloradinho”. Enfim, o motivo desse texto é lembrar-se do Ferroviário – a vítima maior do Colorado.
O falecido gigante foi campeão paranaense em 1937 e 38, também em 44 e 48. Levantou a taça ainda em 53. Voltou a ser bicampeão em 65-66. Foi o primeiro representante do estado no Roberto Gomes Pedrosa, o Brasileiro da época. E jaz!
Certa vez, fui cobrir um treino do Paraná – o espólio do CAF – e o radialista Manoel Fernandes disse que lamentava o fato de o Tricolor não ter resgatado o emblema da extinta agremiação. Achei a observação curiosa, pois não tinha observado ainda essa questão estética.
De fato, perdeu-se um desenho dos mais bonitos. A tese, salvo falha da minha memória, foi reforçada pelo publicitário Ernani Buchmann, ex-presidente paranista, quando o entrevistei sobre o livro Quando o Futebol Andava de Trem, de sua autoria, há nove anos.
O livro de Buchmann, diga-se, é obrigatório para quem gosta de história do futebol. Não sei se há exemplares à venda, mas a obra foi editada pela Imprensa Oficial do Paraná em setembro de 2002.
Na pesquisa literária, explica-se que sem o apoio da Rede Ferroviária, a equipe não teve como prosperar. Ainda hoje imagino como seria aquele time com uniforme pomposo, mas de torcida humilde, em ação.
É difícil encontrar uma definição, mas vou me arriscar para o desgosto de muitos amigos paranistas: se estivesse vivo até hoje, o Ferroviário seria o Paraná – com sua trajetória bipolar — carregando uma camisa de 100 kg. Seria um sonho para muitos.
TÍTULOS
Campeonato Paranaense: 8 vezes (1937, 1938, 1944, 1948, 1950, 1953, 1965 e 1966).
Vice-Campeonato Paranaense: 7 vezes (1942, 1946, 1947, 1949, 1955, 1957 e 1963).
Torneio Início: 7 vezes (1934, 1937, 1938, 1943, 1950, 1954 e 1960).
Foto: Arquivo pessoal