Apesar de o Serrano Football Club atravessar uma fase ruim, no Campeonato Carioca da Terceira Divisão, o clube fundado no dia 29 de junho de 1915, tem no currículo três participações na elite do futebol do Rio (1979,1980 e 1981).
Pelas andanças, buscando encontrar fatos interessantes, encontrei uma crônica escrita por Gabriel K. Fróes, que narra à história do nascimento do clube de maior prestígio no futebol de Petrópolis. O texto diz:
ESTRELA QUE BRILHA DESDE AQUELA NOITE TÃO LINDA!
O treino estava quase no fim. A noite, em junho (1913), chega mais cedo e o lusco-fusco já começava a tomar conta da Praça Jerusalém, na Terra Santa.
O pior era que o jogo continuava empatado e ninguém arredava pé do “campo”. A vitória seria do primeiro que marcasse goal.
De repente, o center-forward pega a bola a jeito, escapa velozmente, dribla o back e, frente a frente ao keeper, cerra os olhos e – bumba! – desfecha formidável kick contra o goal.
O pobre keeper, coitado, nem viu a cor da bola. Era a vitória do team de baixo, daquele que atuava contra o goal da igreja. Hip, hip, hurrah! Gritavam, berravam os vencedores.
Tal era o entusiasmo, que ninguém reparou que a bola, depois de vazar o imaginário goal – ali só havia duas pedras a sete metros uma da outra – fora espatifar uma vidraça da igreja.
E frei Gaspar, o capelão, com cara de poucos amigos, havia aparecido à porta. Dando com ele, os players, vencedores e vencidos, fugiram em desabalada carreira.
Com a pracinha vazia, o bom franciscano olhava, desolado, a vidraça partida, a décima, talvez, substituída depois que haviam inventado, no local, o tal de futebol…
Aquele goal, positivamente, tinha acabado com o Terra Santa Football Club. Sim, porque ninguém podia admitir que frei Gaspar, depois de tanta condescendência para com o clubinho do bairro, só exigindo, em troca, que a praça não servisse de campo de Football, viesse a desculpar mais aquela traquinada.
SERRANO FOOTBALL CLUB – 1915: Alberto Boller; Antonio Gomes de Carvalho, Antonio Lopes da Motta, Alfredo dos Santos Lemos, Guilherme Frederico, José Fernandes Vieira, José Maria de Mattos, Mário Caetano de Paiva, Newton Antonio de Mello, Carlos José Gomes, Antonio Marques, José Kozlowsky, Júlio Ernesto da Silva, Raymundo Vieira e Álvaro de Abreu.
Maldito goal!
O céu estava que era só balão na noite de São Pedro de 1915. As próprias estrelas refulgiam tanto, que mais pareciam balões soprados ao vento.
O frio não era de brincadeira, mas sempre havia uma ou outra família da bucólica Terra Santa, soltando fogos e balões nos jardins e quintais de suas casas.
Mais ao longe, sim, é que deveria ser grande a animação. Lá para os lados das ruas Montecaseros, 13 de Maio e 7 de Abril, onde espoucavam bombas e os foguetes sem cessar.
Os balões – coisa curiosa – soltos onde quer que fossem, teimavam em vir pairar sobre a Terra Santa. E como estava bonito o céu assim pintado de balõesinhos!
Alheios a tudo, achavam-se à porta do botequim do Melatti, à Rua Visconde de Itaboraí, alguns rapazolas. Algo os preocupava, porque permaneciam quietos, sem as brincadeiras habituais. Era a turma do Terra Santa Football Club – três ou quatro gatos pingados – que combinara uma reunião na rua Luiza para decidir o destino do clube. Sem campo e agora, com o estrilo de frei Gaspar, também sem sede, não era possível continuar.
O Estádio Atílio Maroti, definitivo em 1946, no Quarteirão
Às oito horas da noite, como não houvesse aparecido mais ninguém, o pessoal, mais com ar de enterro do que de outra coisa, subiu a ladeira, entrou na Rua Eliza e chegou à Rua Luiza. O local da reunião era um tosco barracão cedido, por favor.
Coisa estranha para os que lá chegavam: algumas pessoas já se encontravam lá, umas da Terra Santa, outras não. Eram, ao todo, quinze os presentes.
Aberta a sessão, delicioso sonho tomou conta da assembleia: a fundação de um clube que reunisse os moradores do bairro, que tivesse campo de esporte e sede-social; e que possuísse um team capaz de enfrentar o Internacional, o São Sebastião e até o Sport Petrópolis.
– Pois que se funde esse clube! disse, despertando do sonho, o Guilherme Frederico Kozlowski. O nome? SERRANO Football Club, em homenagem às serras altaneiras em que vivemos. As cores? o azul do céu e o branco das nuvens.
E o sonho logo tornar-se-ia realidade. Foi fundado o SERRANO Football Club, substituindo o Terra Santa Football Club. Agora, já ao ar livre, todos olhavam embevecidos o lindo céu da Terra Santa, mais do que nunca, pontilhado de balõesinhos.
E de estrelas também, entre as quais, naquele justo momento, começara a brilhar intensamente mais uma: a do SERRANO Football Club!
Fotos: Site do Serrano FC