América Futebol Clube – Fortaleza (CE): uma linda e rica história!

Por Sérgio Mello

O América Futebol Clube é uma agremiação da cidade de Fortaleza (CE). Fundado na quinta-feira, do dia 11 de Novembro de 1920, tem a sua Sede social localizada na Avenida Monsenhor Bruno, nº 1.341, no bairro da Aldeota, em Fortaleza (CE).

O Mecão se filiou à FCF (Federação Cearense de Futebol), em 1921 e ficou até 1927. Depois retornou em 1933 a 1935; voltou em 1938. Dois anos depois um novo retorno (1940/1942). Em 1948 teve o período mais longo, ficando até 2007. Voltou em 2009 a 2010 e por fim de 2012 a 2015.

Nesse período, as maiores conquistas do Mecão foram os títulos do Campeonato Cearense da 1ª Divisão de 1935 e 1966 (além de campeão de futebol, também levantou as taças de futsal, basquete e vôlei). Nos anos de 1933, 1934, 1940, 1943, 1948 e 1954 o América foi vice-campeão estadual.

Em 1967, com a conquista estadual no ano anterior, o América assegurou a sua participação na Taça Brasil (principal competição nacional daquela época). O América ficou no Grupo Norte da Zona Norte, vencendo as duas finais contra o Paysandu SC, de Belém (campeão do Pará), por 1 a 0.

Em outubro de 1967, diante de um público de 40 mil pessoas, o América acabou eliminado da competição, após uma derrota, em casa, diante o Náutico Capibaribe (PE), pelo placar de 1 a 0.

História contada pelos ex-jogadores: Anibal e Aloisio

Para o Campeonato Cearense da 1ª Divisão de 1920, a Liga contava com quatro clubes: Ceará, Fortaleza, Bangú e Guarany. Em novembro de 1920, era fundado por um pequeno grupo de rapazes, o América Futebol Clube, sem, entretanto, maiores ambições para com o futuro do pequeno grêmio.

O América, nascido em 20, projetou-se em 1921 na Liga Secundária, sagrando-se campeão da categoria. E nesse mesmo ano. 1921, estando as forças políticas do futebol em pé de igualdade, o Ceará ao lado do Bangu e o Fortaleza formando dupla com o Guarany, manobrou o Ceará, com êxito, no sentido de promover o campeão da Liga Secundária para a Primeira Divisão. E foi assim: que, quase sem o pretender, o América se viu na primeira linha do nosso futebol, em 1921. Por conta do Ceará Sporting.

O “VOVÔ” E SEUS “NETINHOS”

Em entrevista feita em 1970, os ex-jogadores contaram a história do clube. Data daí, pelo depoimento de Anibal Bonfim e Aloisio Ribeiro, o apelido de “Vovô” com que ainda hoje é conhecido e tratado carinhosamente o Ceará. Como surgiu o termo “Netinhos”?

– “Silvio Gentil, presidente do Ceará, ficou eufórico com a sua jogada política, elevando o América de categoria e ficando com mais um voto para impor suas decisões na Primeira Divisão. E tomou-se de simpatias pelo América, para que muito contribuía; também, Crisantho Moreira da Rocha, que, estudante de Medicina no Rio, era ardoroso torcedor do America carioca, sendo, por aqui, torcedor e diretor do Ceará Sporting…” 

– “Sempre que se encontrava com a turma americana Silvio Gentil, um notável desportista, costumava dizer: “como vão os meus meninos endiabrados, os meus netinhos?”

E foi daí, do fato de sermos chamados de NETINHOS pelo Presidente do Ceará, que nós do América começamos a chamar a Silvio Gentil de nosso “Vovô”, apelido que, com o tempo, se passou para o próprio clube, muito adequado, por sinal, por ser o Ceará o mais antigo grêmio do futebol cearense”.

OS FUNDADORES DO AMERICA

O Estatuto do América Futebol Clube, de 1952 pela então diretoria presidida por José Mario Mamede: O Art. 1. da “Carta Magnarubra diz textualmente:

Art. 1. – O AMERICA FOOT-BALL CLUB (A.F.C)

– Fundado nesta cidade de Fortaleza a 11 de novembro de 1920, por Aloisio Gondim Ribeiro, Juvenal Pompeu de Souza Magalhães, Acrísio Faria de Miranda, Miguel de Aguiar Picanço, Dagoberto Rodrigues, Benicio Carneiro Girão, Anibal Câmara Bonfim, José Lino da Silveira, Aécio de Borba Vasconcelos, Marcílio Braune, Lívio Correia Amaro, José de Borba, Vládine Pompeu, João Ramos de Carvalho, Cláudio Vilela Lima, Galba Gomes Gurgel, José Xerez, Herialdo Maia Cunha, José Chagas de Oliveira, Mileide Morais, Gianpaolo Damasceno, Alberto Damasceno e entre outros.

Com isso, formando uma sociedade desportiva e recreativa, constituída de número ilimitado de sócios, com personalidade Jurídica de duração indeterminada e se regerá por estes Estatutos.

PRIMEIRO TÍTULO

Fundado em 20, no ano seguinte, como já ficou dito, o América sagrou-se campeão da Liga Secundária. Em 1969, com quase meio século não houvesse decorrido de lá para cá, Aloisio Ribeiro, o extrema esquerda Lulú dos seus tempos, e Anibal Câmara Bonfim, o grande centerfoward, recordam, com absoluta clareza, o time que foi campeão de 21 na categoria secundária.

– “Era este, o time, dizem categóricos: Benicio Girão (que foi o primeiro goleiro do America e morreu recentemente em 1969, na cidade de Sobral, onde era comerciante); Acrísio Miranda (também falecido, este no Rio) e Gaminha; Antônio Siqueira, Godofredo Fernandes e Juvenal Pompeu; Moésia Rolim (que foi Oficial do Exército, líder revolucionário do “tenentismo” e famoso orador), Sátiro Rodrigues, Anibal Bonfim, Barcelos e Aloisio Ribeiro (o Lulú).

AS CAMISAS NEM SEMPRE FORAM RUBRAS

Mas, um ano depois, Crisantho Moreira da Rocha chegava do Rio, cada vez mais empolgado pelo America carioca (que foi campeão de 22 – anos do centenário da Independência – no campeonato carioca) e trouxe um jogo de camisas vermelhas, com o escudo branco contendo as inicias do clube, exatamente iguais ás dos seu homônimo do Rio de Janeiro.

O primeiro Jogo de camisas do América, presente de Crisantho Moreira da Rocha, custou-lhe a importância de 330 mil réis, que representariam 33 centavos em 1969.

AS LUVAS DO QUINDERÉ

Outra interessante curiosidade: o América não surgiu com suas tradicionais camisas rubras. Em 1921, na Liga Secundária, seu uniforme era azul e branco, em listras verticais.

Guindado à Primeira Divisão por conta de um “golpe” político do Ceará, o América não possuía, contudo, condições técnicas à altura dos dois maiorais de então, ο Ceará e o Fortaleza.

Lulú recorda, com o olhar perdido na saudade, um Jogo do América com o Fortaleza, al por volta de 1921. Vez por outra, Anibal interfere, relembra algum episódio, faz alguma objeção, tece outras considerações.

– “Humberto Ribeiro foi, sem dúvida alguma, o maior jogador do futebol cearense, e talvez do próprio futebol brasileiro, no passado e se jogasse hoje (1969), um fenômeno como Pelé, ou como Tostão, pois não era escurinho.

Era o deus do Fortaleza, o maior craque da cidade, um ídolo do seu clube, respeitado pelos demais. O Fortaleza ia enfrentar o pequenino América, que apenas começava na Primeira Divisão.

Jogo fácil, facílimo para o time tricolor, composto dos melhores azes do nosso futebol de então, contra os “netinhos“, a meninada endiabrada (e desde então o América ganhou também o apelido de “Diabo rubro”).

O jogo ofereceu uma novidade: o goleiro do Fortaleza, o Quinderé (dono da livraria que tinha seu nome), entrou de luvas, à moda europeia. Bola vai, bola vem, eu peguei um bom passe (quem fala é o Lulú), Investi e atirei com força e com sorte. Gol! Quase desmaiei de alegria.

Não queria acreditar no que estava vendo. Fizera um gol no Fortaleza! Humberto Ribeiro veio de lá, deu uma bronca tremenda no Quinderé e exigiu que tirasse as luvas…”. No final o vencedor foi: “O Fortaleza acabou ganhando. Ninguém aguentava um time que tinha o Humberto Ribeiro como centerfoward”…

OUTRO TÍTULO EM 1923

Depois de explicar o que era a imponência e a expressão do Torneio Inicio naqueles idos, com a maior frequência pública e torcidas organizadas de moças elegantes da sociedade, Anibal e Aloisio revelam que em 1923 o América conquistou a sua primeira grande glória.

Sagrou-se campeão do Torneio Início daquele ano, com uma equipe formada por Ubiratam Negreiros (Irmão da saudoso Ubirajara e hoje funcionário do Banco do Brasil no Rio de Janeiro), Acrísio Miranda e Antônio Bessa; Eduardo Martins (e às vezes Antônio Araripe), Pão Doce e Juvenal Pompeu (este era o capitão do time); Deó (Moesia Rolini já viajara para o sul, como militar), Gilberto, Abelardo, Anibal Bomfim e Lulú (Aloisio Ribeiro).

EM FAVOR DOS FLAGELADOS

Com algumas raras fotografias, que tratam com o maior cuidado e carinho, os dois amigos desportistas vão contando novos episódios da gloriosa trajetória do América Foot-Ball Club no cenário esportivo de nossa terra.

RECORDA ANIBAL:

– “Em 1932, uma seca terrível assolou o Ceará. Era Interventor o Capitão Carineiro de Mendonça, que tudo, fez para atende raos flagelados. Dentre multas medidas, programou e realizou um torneio de futebol de craques veteranos. O América formou sua equipe e eu o Lulù vestimos novamente a Jaqueta rubra.

E esse time tal…”

“E vão identificando um a um os jogadores. Um dos zagueiros, é o ex-Interventor do Estado e ex-Prefeito de Fortaleza, Acrísio Moreira da Rocha, irmão de Crisantho, um dos beneméritos do América, o goleiro ainda era Ubiratan Negreiros; Euclides Laurentino, o popular Tom Mix, doublé de craque e compositor popular, veterano funcionário da Policia Civil e figura obrigatória das missas na Igreja do Rosário; e industrial Chico Figueiredo, também de camisa de goleiro, embora como jogador (Informação dos seus contemporâneos) não fosse grande coisa; José Bonfim, irmão de Jorge e de Lúcio era médio muito vigoroso-esclarecem, Eduardo Martins, velho funcionário da Prefeitura; Anibal e Lulú, ainda no vigor da juventude, nessa fase Imprecisa do homem, entre os 30 e os 40 anos, em que ninguém a olha nu será capaz de observar um sinal de velhice e vários outros estão presentes na histórica fotografia, que vai enriquecer esta reportagem.

CAMPEÃO DE 35 E DE 66

O América voltou a ser campeão em 1935 e depois em 1966. Quero saber de Anibal Bonfim e de Aloisio Ribeiro como reagem as emoções de um jogo de hoje, principalmente nos jogos em que o América Intervém:

mais muito entusiasmo. Fui, depois de jogador, árbitro da Federação por muitos anos, nos tempos do Capitão Juremir. E acho que, tanto como jogador, quanto como Juiz, deixe meu nome.

Recordo um jogo Ceará x Fortaleza, duríssimo como sempre, decisiva como quase sempre, e que não tinha juiz que desejasse apitar. O velho campo do Prado cheio, uma assistência enorme e quase a hora do jogo começar e não havia ainda juiz.

Estava afastado da ADC (hoje FCD) por conta de uma história de “colégio de árbitros” que haviam criado e como que não concordavam. Eis que se aproximam de mim o Capitão Juremir e o sr. Pedro Riquet que era então o Presidente do Fortaleza. Entregam-se o apito, me exigem que eu seja o juiz. Fui e tudo correu muito bem, graças a Deus. No final, o Ceará venceu por 4 a 3, em um jogo emocionante”.

PRIMEIRO CAPITÃO

Anibal Bonfim fala menos, parece não gozar de uma memória tão privilegiada quanto a do companheiro, embora mais moço que ele. Mas recorda muita coisa, com bastante precisão nos detalhes.

“Fui o primeiro “capitão” do time do América. Depois de mim, foi que velo o Juvenal. Portanto, tenho uma afinidade muito grande com o América. Mas perdi quase por completo o contacto com o velho e querido clube. Outras gerações, outras áreas sociais ocuparam o comando do América. E a gente vai ficando esquecido… Sabe como é!

Mas ainda torce pelo América?

“Vou sempre ao estádio. E quando o Fortaleza não está jogando, torço pelo América, sempre… Divido o meu coração entre o tricolor e o meu América”.

O AMERICA DE 1921

Na foto, uma das formações de 1921

Na foto, uma das suas primeiras equipes, em 1921, onde Anibal Bonfim, que era o center-forward e Aloisio Ribeiro, ponta esquerda. O mais alto (o quarto da esquerda para a direita) era Ubiratan Negreiros, que foi Procurador Juridico da Prefeitura de Fortaleza.

OS VETERANOS RUBROS EM 1932

Na foto, uma das formações de 1932

Ano mau para o Ceará. O então interventor Carneiro de Mendonça promoveu um torneio entre os veteranos dos clubes da Primeira Divisão, com renda em favor dos flagelados. Eis aí a equipe do América que participou daquela jornada há 37 anos passados…

Agachados, com um sorriso próprio da juventude, o zagueiro Acrísio Moreira da Rocha, que depois foi Interventor do Estado (cargo correspondente a Governador, no período que antecedeu à redemocratização de 1945) e Prefeito eleito de Fortaleza para dois mandatos de quatro anos.

O goleiro, sentado, é Ubiratan Negreiros, Irmão do saudoso Dr. Ubirajara Negreiros, que foi um dos baluartes do América. Em pé, bancando o goleiro à direita o hoje industrial Chico Figueiredo, que não era senão reserva, pois não era bom de bola… Lulu (Aloisio Ribeiro) e Anibal Bonfim, nossos informantes para esta reportagem, estão na linha dianteira, onde aparece também o popular Tom Mix (Euclides Laurentino, o segundo da esquerda para a direita, em pé).

ARTE: desenhos dos escudos e uniformes – Sérgio Mello

Colaborou: Fabiano Batista

FOTOS: Jornal Unitário (CE)

FONTES: Federação Cearense de Futebol (FCF) – reportagem de Ronald Proença do Jornal Unitário (CE)

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Sobre Sérgio Mello

Sou jornalista, desde 2000, formado pela FACHA. Trabalhei na Rádio Record; Jornal O Fluminense (Niterói-RJ) e Jornal dos Sports (JS), no Rio de Janeiro-RJ. No JS cobri o esporte amador, passando pelo futebol de base, Campeonatos da Terceira e Segunda Divisões, chegando a ser o setorista do América, dos quatro grandes do Rio, Seleção Brasileira. Cobri os Jogos Pan-Americanos do Rio 2007, Eliminatórias, entre outros. Também fui colunista no JS, tinha um Blog no JS. Sou Benemérito do Bonsucesso Futebol Clube. Também sou vetorizador, pesquisador e historiador do futebol brasileiro! E-mail para contato: sergiomellojornalismo@msn.com Facebook: https://www.facebook.com/SergioMello.RJ

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