Já há algum tempo a FIFA vinha analisando idéias em relação ao país-sede da competição. Além da Holanda e da Suécia, falava-se na Áustria, projeto que contava com o apoio do famoso jogador Hugo Meisl, interlocutor com os franceses. Com a tergiversação da Associação Austríaca, vozes se levantaram em nome da Itália, proclamada como a terra do caldo, um dos tantos ancestrais do futebol moderno, idéia que, pelo menos naquele momento, não contava ainda com o entusiasmo necessário do governo fascista. Contrário às evidências mais pessimistas, Rimet, entretanto, parecia não desistir. E quando chegou às suas mãos uma proposta do Uruguai, bicampeão olímpico, o presidente da FIFA analisou com cuidado a questão, não dando ouvidos quando um assessor desdenhosamente referiu-se ao candidato como um ponto desprezível no mapa da América do Sul. Afinal, se a idéia era realizar a competição em 1930, a data coincidia exatamente com o centenário da independência do país, o que certamente representaria o respaldo governamental. No projeto uruguaio, aparecia a convidativa proposta de o anfitrião arcar com os gastos dos participantes. Diante de tais circunstâncias, as condições pareciam mais do que favoráveis, mesmo se considerando as distâncias de uma viagem transatlântica. Em 1929, em Barcelona, os dirigentes da FIFA bateram o martelo, aprovando o Uruguai como sede da Primeira Copa do Mundo.
Enquanto saía em campo em busca de adesões, a FIFA imediatamente idealizou a criação de um troféu que simbolizasse não só a grandiosidade do acontecimento, como também que fosse capaz de fascinar os homens por sua beleza e esplendor. Neste sentido, acreditava que o mesmo o reluzir eterno do ouro poderia expressar tal fascínio. Levanto sua idéia ao escultor Abel Lefleur, assistente do museu de Belas-Artes lê Rodez, Rimet viu seu sonho concebido em uma estatueta de 30 centímetros, esculpida em ouro maciço, sendo a Deusa da Vitória a perfeita projeção do desejo que o presidente da FIFA procurava despertar. Afinal, em meio a todas as dificuldades em que se organizava o Mundial do Uruguai, o prêmio maior do futebol precisava ser algo mais que um troféu. Haveria de ser uma conquista permanente. Desta forma, foi instituído o regulamento de que o país vencedor ficaria com a taça até a disputa dê um novo Mundial. A idéia em si podia não ser totalmente nova, mas, naquele contexto, não só exercitava a projeção de uma nova Copa, algo ainda duvidoso em 1930, como alimentava o espírito de que só poderia haver um vencedor, questão importante em meio a tantas dissidências no mundo do futebol. Durante a realização de um novo torneio, a taça passaria temporariamente à FIFA, a única capaz de entregá-la ao novo campeão. Em torno da estatueta, portanto, fundava-se uma tradição, aspecto crucial para a internacionalização de uma competição em um mundo tão dividido por ideologias e conflitos.
À medida que a organização do evento ia se transformando em ima verdadeira corrida de obstáculos, a FIFA ganhou terreno, deixando os dissidentes para trás. O tempo era curto demais para mais debates, pois envolvia os preparativos daqueles que arrumavam as malas para uma longa viagem e também do anfitrião, que começava uma série de obras especialmente para o Mundial. Na verdade, as ausências européias não eram nada desprezíveis: Alemanha, Hungria, Suíça e Thecoslováquia recusaram-se a participar de um certame realizado em terras tão distantes; quanto aos ingleses, estes já não estavam integrados à FIFA e ninguém acreditava que pudessem participar, mesmo que o campeonato fosse realizado na Europa. Neste meio tempo, enquanto setores da imprensa esportiva afirmavam que a Copa do Uruguai seria um torneio latino-americano, os dirigentes franceses confirmaram não só a presença da própria França, como as da Bélgica e Iugoslávia. Em busca de mais uma adesão, o próprio Rimet viajou até a Romênia tentando convencer Rei Carol da importância da competição. Segundo consta, recebeu a melhor das acolhidas por parte do Monarca, que lhe teria garantido que se encarregaria pessoalmente de formar a equipe nacional. Mesmo não sendo as principais representantes do futebol europeu, essas seleções significavam uma efetiva demonstração da capacidade diplomática da FIFA.
Paralelamente, confirmava-se também a presença dos Estados Unidos, onde o futebol vinha conseguindo entusiasmar alguns círculos esportistas na década de 1920. Ao todo, entre americanos e europeus, seriam treze equipes, divididas em quatro chaves. Os vencedores de cada chave fariam a semifinal.
Fonte:Gilberto Agostino