O início do football na América Latina

Apesar de, historicamente, em grande parte, terem sido colonizadas por portugueses e espanhóis, podemos observar nas sociedades latino-americanas a predominância, exceção feita a algumas nações caribenhas e à Venezuela, de uma prática esportiva implementada pelos ingleses na virada do século XIX para o XX. Estamos nos referindo ao futebol, que, de apenas mais um símbolo de dominação estrangeira passou em diversos países a se constituir num dos mais importantes elementos formadores de identidades nacionais.

Após a sua introdução, não tardou para que este esporte rompesse o círculo inicial representado pelos clubes ligados predominantemente à colônia britânica, ou então, aos membros da aristocracia local. Segundo Pereira (2000), o futebol aparecia naquela época como “uma celebração da identidade bretã”. A força com a qual essa modalidade se espalhou por boa parte do planeta deu-se de uma forma tão impressionante que, Mascarenhas (2002), afirma ser esse esporte “o mais duradouro, bem sucedido e disseminado produto de exportação da sisuda Inglaterra vitoriana”.

Na passagem do século XIX para o século XX, a Inglaterra ainda despontava como a principal potência marítima, colonial, comercial e industrial do planeta. A expansão da rede capitalista somada ao surto desenvolvimentista vivido por alguns países latino-americanos, especialmente Argentina e Uruguai, fez com que um intenso intercâmbio comercial, aliado a vultosos investimentos em obras de infra-estrutura e serviços públicos, notadamente na ampliação da malha ferroviária, atraíssem capitais e cidadãos ingleses (operários, professores, técnicos de ferrovias, comerciantes etc.) que passaram a funcionar como os grandes agentes disseminadores da modernidade, sendo o futebol um de seus mais importantes elementos.

As atividades relacionadas à exploração mineral e ao comércio despontavam entre aquelas que mais despertavam interesse dos capitais ingleses. Não por acaso, as cidades portuárias (Buenos Aires, Montevidéu, Valparaíso, Rio de Janeiro, Rio Grande etc.) e mineiras (Coquimbo, Iquique, Pachuca etc.) consolidaram-se como alguns dos mais importantes centros pioneiros do futebol na América Latina.
No Brasil, a data oficial de implantação do futebol remonta a 1894, por obra de Charles Miller. Entretanto, existem relatos de partidas realizadas por marinheiros ingleses na Praia do Russel, em 1874, e, em 1878, em frente à residência da Princesa Isabel.

Apesar da existência de divergências em relação à paternidade do futebol no nosso país, uma coisa é certa: após cada partida realizada, apesar de toda uma sensação inicial de estranheza em relação àquele curioso esporte trazido das Ilhas Britânicas, a prática do foot-ball rapidamente incorporava-se aos hábitos da nossa aristocracia, ávida por tudo aquilo que representasse a reprodução nos trópicos de um modo de vida moderno, refinado, europeu.
Entretanto, da mesma maneira que o novo esporte caiu no gosto da elite, ele também chamou a atenção das camadas menos favorecidas da nossa população. Era fato comum a presença nos barrancos localizados ao redor das primeiras canchas de uma pequena multidão de curiosos a assistir a exibição de um grupo de vinte e dois bem nascidos jovens, divididos em dois teams de onze, disputando a atenção de uma platéia composta por moças e rapazes, elegantemente trajados, das mais distintas famílias locais.
Logo o entusiasmo tomou conta das classes populares que rapidamente começaram a procurar os terrenos baldios, improvisando marcações, balizas e adaptando as regras do jogo às condições do terreno. Surgia dessa maneira uma das mais importantes instituições do futebol: a pelada, mais um reflexo da imensa capacidade de improvisação que caracteriza o povo brasileiro.

Fonte:http://www.efdeportes.com/ Revista Digital – Buenos Aires
Inserido por Edu Cacella

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