Em 1985, após quatro temporadas disputando competições amadoras, o Glória anunciou a reativação de seu Departamento Profissional. Depois de anos de licenciamento, teria que recomeçar disputando a pouco valorizada terceira divisão. Talvez por isso, havia a desconfiança de que a nova incursão no profissionalismo não se sustentaria, como em 1976 e 1979/1980. Desta vez, porém, o projeto era mais sólido e com um objetivo definido: levar o Glória até a disputa do Gauchão, ao convívio dos grandes.
Para atingir essa meta, os dirigentes executaram uma política prudente: a formação de uma boa equipe só poderia ocorrer se houvesse uma estrutura condizente. Assim, mesmo com o risco de não obter bons resultados em sua reestréia, o Glória optou por começar investindo na própria casa. E fez, à época, o que alguns clubes da primeira divisão até então não tinham feito: instalou um sistema de refletores no estádio Altos da Glória.
Um fato de tal importância não poderia resumir-se a ele próprio, e o Internacional foi convidado para o amistoso de inauguração. O adversário era o tetracampeão gaúcho, e muitos de seus jogadores haviam feito parte da Seleção medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984. Mais que uma festa, a vinda do Internacional para Vacaria significava que o projeto de alcançar a primeira divisão não era um blefe. E em 12 de junho de 1985, a cidade recepcionou, com grande festa, o escrete Colorado.
O amistoso foi assim noticiado pelo jornal Zero Hora:
“Um adversário fraco na teoria – o Glória participa da terceira divisão do futebol gaúcho – fez com que os jogadores do Inter se poupassem no início da partida. Mas o time local estava muito motivado e surpreendeu: aos sete minutos, a zaga do Inter parou, César chutou e Mauro concluiu para grande alegria dos torcedores presentes no estádio do Alto [sic] da Glória. Isso fez com que os jogadores do Inter […] se esforçassem mais. Daí, a virada veio ao natural: Rubén Paz (de pênalti) empatou aos 12 minutos e Kita ampliou aos 32. Mas o frio – fez cinco graus positivos em Vacaria – permitiu ao time do Glória mostrar um bom preparo físico e resistir bastante à base de muita correria.
“No segundo tempo, a temperatura baixou para os dois graus positivos e o Glória ainda lutou até os 15 minutos, quando César perdeu excelente oportunidade para empatar. Depois disso, no entanto, o Inter tomou conta do jogo e construiu a goleada: aos 19 minutos Jussiê fez o terceiro gol; aos 23 Kita marcou o quarto; aos 31 minutos, Verdum – na cobrança de um segundo pênalti – ele errou o primeiro, mas Itiberê Padilha ordenou novo chute – fez o quinto e o mesmo Verdum ampliou para seis aos 34 minutos.”
O resultado de 6 a 1 não deixou dúvidas sobre a diferença entre as duas equipes, apesar da bravura dos jogadores do “Leão”, no amistoso que foi o marco simbólico da arrancada do Glória rumo à primeira divisão. Em breve, todos sentiam, o Internacional voltaria a atuar na cidade, desta vez valendo pontos, e nunca mais uma derrota no Altos da Glória seria vendida facilmente. Naquela noite, os refletores iluminavam mais do que um simples amistoso: iluminavam o futuro de um clube e de toda uma comunidade rumo a uma era de vitórias.
Ficha Técnica
Glória: Didier (Aritana); Valdecir (Canhoto), Pedrinho, Rui e Osmar; Renatinho (Bido), Gilmar e Nilzo; Carlinhos (Mano), César “Vaquinha” e Mauro (Raul). Técnico: Renatinho.
Internacional: Mano (Zé Carlos); Luiz Carlos Winck, Aloísio, Mauro Galvão (Pinga) e André Luiz; Ademir Kaefer (Marquinhos), Ademir Alcântara (Silvinho) e Rubén Paz; Jussiê, Kita (Luís Freire) e Pedro Verdum. Técnico: Octacílio Gonçalves.
Arbitragem: Itiberê Padilha, com Celso Pastro e Enísio Matte.
Renda: Cr$ 28.000.000,00
Local: estádio Altos da Glória, em Vacaria.
Fonte: Jornal ZH e Site do Clube.