Argentina: Futebol e Guerra

Em 1976, foi instaurada uma ditadura militar de extrema-direita na Argentina. Os militares ficaram apenas sete anos (de março de 1976 a dezembro de 1983). Apesar de ter durado menos tempo, a ditadura portenha conseguiu ser muito mais violenta com a oposição.

O número de torturados, mortos e “desaparecidos” pelo regime argentino superou em muito o “nosso” regime militar, fazendo milhares de vítimas. Na América do Sul, a ditadura argentina só foi superada em violência e número de vítimas pelo regime ditatorial instaurado pelo general Augusto Pinochet no Chile, que governou o pais de 1973 a 1990.

Argentina vence a copa de 78 em casa

Em 1978, a seleção de futebol da Argentina venceu a Copa do Mundo em casa, a ditadura argentina aproveitou a conquista do título mundial para fazer propaganda e ganhar popularidade. Apesar de invicto, o time brasileiro perdeu a chance de disputar a final quando foi superado em saldo de gols pelo time da casa depois que a seleção da Argentina goleou a seleção do Peru (6×0).

A goleada atraiu suspeitas de fraude. Ainda hoje, muitos torcedores brasileiros suspeitam que houve “marmelada”. Segundo essa versão, o time peruano teria sido subornado para “entregar” o jogo. Até o fato de o goleiro da seleção peruana, Ramon Quiroga, ser um argentino que se naturalizou peruano, contribuiu para aumentar as suspeitas. De qualquer modo, com ou sem trapaça, a seleção argentina venceu a seleção holandesa na final.

A seleção brasileira teve que se conformar com o terceiro lugar e com o título de “campeão moral”. A Copa de 1978 também é lembrada pela partida que ficou conhecida como a “Batalha de Rosário”, na qual brasileiros e argentinos se enfrentaram num jogo que terminou empatado (0x0).
Argentina e Inglaterra: rivais na guerra e no futebol

Guerra das Malvinas

Em 2 de abril de 1982, para desviar a atenção da opinião pública dos problemas internos, o governo ditatorial argentino resolveu apelar novamente para o nacionalismo: iniciou uma guerra contra o Reino Unido pela posse das ilhas Falklands (a Guerra das Malvinas, com as ilhas são chamadas pelos argentinos).

O tiro saiu pela culatra: a guerra terminou com uma humilhante derrota para as forças armadas argentinas, cuja rendição se deu em 14 de junho do mesmo ano. Com a derrota militar para os britânicos, a opinião pública da Argentina se voltou contra o governo, que entrou em colapso. No ano seguinte, a ditadura chegava ao fim na Argentina. Curiosamente, a Guerra das Malvinas aumentou a rivalidade entre as seleções de futebol da Inglaterra e da Argentina (sem falar em briga de torcidas).

A rivalidade já existia antes da guerra e teria começado na Copa do Mundo de 1966, realizada na Inglaterra: numa das partidas, a seleção inglesa derrotou a seleção argentina por 1×0 num jogo marcado por uma arbitragem polêmica, que resultou na expulsão do então capitão do time argentino, Antonio Rattín, considerada injusta pela maioria dos torcedores argentinos.

Maradona e a “mão de Deus”

Na Copa de 1986, realizada no México, que acabou vencida pela Argentina, os argentinos viram num jogo contra a seleção inglesa, uma chance de se “vingarem” da derrota na guerra. Dessa vez, os argentinos saíram vitoriosos (2×1). Foram dois gols de Maradona, o segundo foi legítimo, mas o primeiro foi feito com a mão. O craque argentino afirmou cinicamente que esse gol foi de cabeça, a mão que se viu era “de Deus”.

Muita gente misturou política e futebol, seja para fazer propaganda, seja para difundir a discórdia e o preconceito. No entanto, também é verdade que o futebol-arte supera as diferenças políticas e ideológicas. Um exemplo disso ocorreu em 1969 , durante uma excursão na África, o Santos de Pelé jogou dois amistosos no antigo Congo Belga: o pais estava dividido por uma guerra civil, mas os dois lados fizeram uma trégua para ver o “Rei” jogar.

Fonte:Tulio Vilela

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