A derrota de 50 ainda estava atravessada na garganta do torcedor brasileiro, que exigia uma vingança
completa contra os uruguaios.
Ela tardou,mas veio afinal.
O futebol brasileiro jamais pôde se esquecer da tragédia de 16 de julho de 1950.
Passaram-se os anos, surgiram novos jogadores, velhos ídolos se retiraram da cena, torcedores nasceram e morreram, o Flamengo foi tricampeão no Rio, o Corinthians conquistou o título do IV Centenário de São Paulo, Getúlio Vargas matou-se com um tiro no peito, Marta Rocha de maiô arrancou suspiros do mundo, os primeiros carros nacionais saíram pela estrada afora, Brasília começou a ser construída, Pelé virou rei, Bellini ergueu a taça de ouro em Estocolmo e o país continuava esperando a vingança contra os uruguaios.
Houve, é certo, os 4 a 2 no Pan-Americano de Santiago, em 1952. Mas isto, aos olhos de todos, parecia pouco. O Brasil queria mais. Bem mais. Queria suor, lágrimas e sangue.
Foi preciso aguardar o Sul-Americano de 1959, em Buenos Aires. A vingança definitiva, que pôs fim a um padecimento que parecia eterno, começou na noite da Quinta-Feira Santa. Terminou na madrugada da Sexta-Feira da Paixão. Existiria no calendário do futebol (da vida?) data mais apropriada para se expiarem tantas culpas e pecados?
Brasil e Uruguai entraram em Nunez com o aparente objetivo de jogar bola.
A partida, porém, tinha implicações de maior profundidade. E elas afloraram quando, no final do primeiro tempo, o explosivo atacante Almir se desentendeu com o duro zagueiro Davoine.
Iniciava-se, ali, uma das grandes batalhas da história do futebol. Praticamente todos brigaram. Em certo momento, até o treinador uruguaio, Hector “Manco” Castro, de 60 anos, maneta, centroavante campeão do mundo em 1930, resolveu bater em quem via pela frente com o toco de seu braço esquerdo. Além de “Manco”, o Uruguai tinha respeitáveis peleadores: seu bravo capitão William Martinez, 1,82 m, 83 kg; Nestor Gonçalves, do alto de seu 1,85 m; o terrível Sasía, capaz de desferir os golpes mais traiçoeiros no inimigo; e o valente crioulo Escalada.
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No batalhão brasileiro, além dos jogadores que comprovaram ser notáveis brigadores Didi, Almir, Orlando, Bellini e outros,destacaram-se o peso-pesado Paulo Amaral e o antigo boxeador Mário Américo. Ninguém morreu, mas os feridos lotaram a enfermaria de Nunez: Castilho com os supercílios cortados, Orlando com os lábios abertos, Bellini, Didi, Almir, Gilmar e Pelé com escoriações generalizadas, Martinez com um dente a menos e carecendo de três pontos na cabeça, Sasía com o olho esquerdo sangrando, Roque Fernandez com profundas feridas nos ombros.
Depois de meia hora de conflito, 50 minutos de futebol. O Uruguai marcou o primeiro gol, graças a um chute violentíssimo de Escalada (e seria justo imaginar que ele o faria de outra?), mas o Brasil reagiu. Paulinho Valentim, centroavante que entrou no lugar do lateral Coronel a essa altura os times estavam reduzidos a nove jogadores, com duas expulsões de cada lado,revelou-se tão bom na bola como no braço. E fez três gois, dois deles em cima de Martinez.
Seria esta a noite da derradeira vingança não houvesse o encontro de Guadalajara, na Copa do México,11 anos mais tarde.
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CAMPEONATO SUL-AMERICANO BRASIL 3 X URUGUAI
Local: Monumental de Nunez – Buenos Aires. Juiz: Carlos Robles – Chile. Gols: Escalada, 42 do 7 .°; Paulinho Valentim, 17, 35 e 44 do 2.°. Expulsões: Almir, Orlando, Davoine e Gonçalves.
Brasil: Castilho (Gilmar), Djalma Santos, Bellini, Coronel (Paulinho Valentim), Formiga, Orlando, Garrincha (Dorval), Didi, Almir, Pelé e Chinesinho.
Uruguai: Leiva, Davoine, William Martinez, Silveira, Gonçalves, Mesías, Borges (Roque Fernandez), Demarco, Douksas, Sasía e Escalada (Aguilera).
Fonte:PLACAR
Ainda bem que este negócio da violência em campo com pancadaria praticamente acabou no futebol mundial. ficou restrito a várzea.
Hoje o perigo é a viol~encia dos zagueiros contra os jogadores de maior habilidade como no caso de Valdívia da brutalidade cometioda contra Eduardo Da Silva.
Marcos Falcon
Ouvi pelo rádio este jogo, morava na Vila Mariana. Lembro-me que os jornais diziam que os brasileiros foram heróis na bola e no pau. E realmente Paulinho Valentim foi o goleador. Muito boa a lembrança. Anos depois o Brasil com 9 contra o Uruguai virou o jogo em grande noite de Zico. A partir deste jogo Zico deixou de ser considrado jogador de Maracanã pela torcida paulista. Acho que foi em 1979.
Abs
Gilberto Maluf