DULCE ROSALINA:A APAIXONADA TORCEDORA

Semana passada faleceu aqui no Rio de Janeiro Dulce Rosalina,a primeira mulher a formar uma torcida organizada,T.O.V.(TORCIDA ORGANIZADA DO VASCO),inclusive será feita uma homenagem no estádio de São Januário com uma placa.

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Texto antigo 1968

Dulce Rosalina Ponce de León e Domingos do Espírito Santo Ramalho são, ao lado do “Cartola”, os mais populares torcedores do C. R. Vasco da Gama. Inseparáveis e intransigentes, devotam ao clube um amor que raia pela veneração. Assalta-os também a superstição, pois chegam a supor, tal como o Fontainha do América, que ausentar-se qualquer dêles de um jogo é influenciar negativamente o seu resultado. Têm a firme convicção de que se tornaram imprescindíveis desde o momento em que Martim Francisco lhes prometeu o campeonato se êles organizassem a torcida vascaína.

Cumpridas ambas as promessas, desde então êles fizeram daquilo um sério dever, e às vêzes vão às competições em estado de enfermidade. Ela, como chefe da torcida, e Ramalho, com seu talo de mamoeiro, são dos poucos aficionados a lidarem diretamente com a política do clube, porquanto têm empreendido campanhas presidenciais quase sempre triunfantes. Tratam, não só do incentivo à torcida, mas, por igual, de colocar na direção do grêmio pessoas que, a juízo dêles, possam dirigi-lo com o maior proveito.
A singular dupla parece pensar por uma só cabeça, já que convergem as opiniões sôbre os principais assuntos de interêsse comum. Falaram-me, por exemplo, de bons e sofríveis dirigentes, sempre em uníssono.Isso, para êles, “é sintomático em um homem de bem, de capacidade administrativa, grande devotamento ao clube e respeito à palavra empenhada”. Manuel Joaquim Lopes “encarna o dirigente ideal, atento aos problemas partidários e capaz de solucioná-los sempre em boa hora”.

Nasceu Dulce Rosalina nas proximidades da Ponte dos Marinheiros, mudando-se, depois, para a Av. Presidente Vargas. Seu pai, um português criado na Saúde e naturalizado brasileiro, freqüentador assíduo do rancho carnavalesco “Recreio das Flôres”, hoje “Recreio da Saúde”, pregava a igualdade sem restrições. Combatente acirrado do preconceito de côr, incutiu no espírito da filha, desde a mais tenra idade, aquêle princípio como um dos pontos cardeais da melhor maneira de conviver com os semelhantes. Era vascaíno por convicção. Transmitiu à sestrosa mulatinha seus pendores clubísticos, mas ela só se fixou definitivamente como vascaína, quando o então presidente Raul Campos declarou que o Vasco se sentia honrado mantendo em suas fileiras jogadores negros. Isso lhe pareceu extraordinário.O presidente comungava com as idéias paternas, e isso importava sobremodo. Demonstrava que êle, também, era homem de bem, acolhedor e transigente tal qual o genitor, por ela admirado com a maior intensidade.

Com sete anos ingressou no Colégio Anglo-Americano. Aos dez foi para o Regina Coeli, mas só completou o curso no Santa Terêsa de Jesus, no Largo da Segunda-Feira.
Em 1948 enamorou-se do atleta Ponte de León, então do São Paulo F.C., e com êle veio a casar-se um ano depois para se tornar viúva em meados de 1965.
Dulce Rosalina tem dois filhos, um dos quais já foi campeão pelo time praiano Alvorada. A menina, com inclinação para basquete, deverá ingressar no Botafogo, pois o Vasco, não se interessa muito por êsse esporte para môças.

Em uma entrevista ela diz:

“Pensei em trabalhar, desempenhando atividades no comércio ou na indústria; todavia, concluí que seria desperdiçar energia. Poderia ficar impossibilitada, por exemplo, de participar intensamente da vida do meu Vasco, como venho fazendo, e não sei se suportaria privar-me da maior alegria de minha vida, que é estar sempre à sua disposição.
Em 1961, o concurso sôbre o melhor torcedor do Brasil foi ganho por Dulce Posalina, que assim passou a ocupar o lugar de Cristiano Lacorte, o saudoso torcedor botafoguense, ficando Ramalho em segundo lugar. Ao Vasco ela deu o troféu com que foi agraciada e, até hoje, acha-se êle exposto no salão evocador das vitórias cruz-maltinas.
Atualmente, é a única mulher que comanda uma torcida de futebol. E o coração feminino torna-se desmedidamente grande na devoção. Oferece muito e, não raro, em troca de nada.
Dulce Rosalina confirma essa verdade. Sua paixão pelo Vasco da Gama encerra algo de belo, idolátrico, imorredouro.”

Vê-la nos instantes de arrebatamento esportivo ou quando vibra de emoção ao referir-se ao clube predileto é passar a crer nas virtudes de certos sêres.
Bendigamos-lhe o sentimento, a intensa e admirável veneração ao grêmio a que de todo se entregou.

Autêntica vascaína,
nossa Dulce Rosalina também teve a sua vez. Passou por grande fiasco, quando, por causa do Vasco, foi metida no xadrez. Seu amor é tão profundo, ao “maior clube- do mundo”,como costuma dizer,que,
creio, quando morrer, pela paixão incomum isto aos olhos logo salta,só resta ao Vasco uma cousa: colocar em sua lousa, em vez duma cruz comum, uma bela cruz-de-malta.(Mandico)

Fonte:Torcedores do Passado e do Presente,1968

2 pensou em “DULCE ROSALINA:A APAIXONADA TORCEDORA

  1. Gilberto Maluf

    Conheci Dulce Rosalina em 1965 no Pacaembu, num Corinthians x Vasco pelo Rio São Paulo. Como eu era muito “curioso” pelos estádios do Rio, perguntei para ela se a capacidade de São Januário era a mesma do Pacaembu.
    Ela, com uma amiga, falou que era quase do mesmo tamanho.
    Anos depois conheci São Janu.

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