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Foto rara, de 1955: Esporte Clube Taubaté – Taubaté (SP)

Campeonato paulista de 1954 – 2ª Divisão de Profissionais

E.C. Taubaté 9 x 2 A.E. Velo Clube Rioclarense (Rio Claro)

Partida realizada na data de 27 de fevereiro de 1955, na cidade de Taubaté

Juiz: Vladimir Alexsandrov

Gols: Berto (6) e Silvio (3) (T) e Tonhão e Araraquara (Velo)

Taubaté: Sérgio, Rubens e Porunga. Ananias, Zé Américo e Ivan. Taino, Durval, Berto, Benedito e Silvio.

Velo: Cabeção, Casonato e Salvador. Valdemar, Milton e China. Tito, Bera, Tonhão, Sampaio e Araraquara.

 

Fonte: Gazeta Esportiva

Década de 20 a 30: Tuffy, o goleiro que o futebol esqueceu

POR: Douglas Nascimento

Dizem que no futebol a posição mais ingrata é a de goleiro. Defender as metas de um time pode ser tão delicado quanto lidar com taxas de juros do banco central, qualquer descuido pode ser catastrófico. E ser goleiro significa ser um jogador de dois extremos. Uma sequência de defesas espetaculares pode fazer deste um herói, por outro lado se falhar feio uma única vez, cai em desgraça.

 

 

Tuffy (de branco) como goleiro da Seleção Paulista (clique para ampliar).
Tuffy (de branco) como goleiro da Seleção Paulista (clique para ampliar).

 

 

Esta tão instável categoria de jogador já revelou no passado inúmeros talentos, tanto ou mais que nos dias de hoje. Vimos pisar nos gramados homens como Gilmar dos Santos Neves, Oberdan Cattani, Manga, Félix e Caxambu, só para citar alguns nomes mais conhecidos. Hoje a geração de goleiros consagrados atende pelos nomes de Rogério Ceni, Marcos e Júlio César, entre outros.

Mas muito antes de todos estes goleiros do passado e do presente sequer pensarem em serem consagrados, um grande jogador de nome e personalidade forte, caráter irrepreensível, e de uma segurança invejável sob as metas já defendia o gol corintiano por aí. Seu nome, Tuffy.

O Histórico:

 

 

Tuffy em 1930 (clique para ampliar).
Tuffy em 1930 (clique para ampliar).

 

 

Tuffy Neujm (ou também Neugen ou Neujen) nasceu na cidade de Santos ainda no século 19, no ano de 1898. Apesar de santista não foi no alvinegro praiano que ele começou a jogar bola, mas na extinta Associação Atlética das Palmeiras, aos dezessete anos. Ele ainda passaria por Pelotas, Santos, Sírio-Libanês, Palestra Itália, novamente Santos até chegar em seu grande auge, no Corinthians entre 1928 e 1931.

Era apelidado pela imprensa e pelos seus adversários de Satanás, pelo seu uniforme negro, suas costeletas e por estar algumas vezes com a barba para fazer.

Tuffy:  amigo e irreverente

Hoje, com a facilidade de informação que temos a nossa disposição, é muito fácil sabermos de tudo que os atletas fazem. Ficamos sabendo de seus hobbies, escapadas amorosas, de suas baladas indevidas etc. Mas na época em que Tuffy disputava suas partidas isso era muito mais difícil. Fui atrás de alguns fatos curiosos sobre a vida de Tuffy que provavelmente não são conhecidos.

Em outubro de 1931, Tuffy publicou um anúncio de 1/4 de página no jornal “A Gazeta”, um feito bem incomum para um jogador de futebol. No seu anúncio, um apelo para que dirigentes e esportistas paulistas se unissem para auxiliar o jogador Tatu, que até pouco tempo antes deste anúncio, havia defendido a Portuguesa de Desportos e, gravemente doente, teve que abandonar definitivamente o futebol, chegando a passar muita necessidade.

 

 

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No anúncio Tuffy, com palavras emocionantes, conclamava seus colegas a contribuirem com 10$000 (10 contos de Réis) para ajudar Tatu (apelido do atacante Altino Marcondes). A ajuda, após o apelo, foi grande mas Tatu viria a falecer poucos meses depois, no início de 1932.

Consagrado como um dos grandes astros futebol brasileiro no final da década de 20 e início dos anos 30, o apelido de Satanás também fazia referência não apenas ao uniforme negro, mas também pela forte personalidade do atleta. Em 1927 por não concordar com os rumos do país, Tuffy juntamente com o jogador Feitiço insultou o então Presidente da República Washington Luís. O caso teve ampla repercussão e por alguns meses havia o boato que ambos seriam duramente punidos, mas acabaram absolvidos no início de 1928.

 

Ator e Empresário:No ano de 1931, quando estava no auge da carreira e ainda jogava pelo Corinthians, Tuffy, juntamente com outros grandes jogadores brasileiros daquela época, foi convidado a participar de um filme.

Campeão de Futebol

Juntamente com Friedenreich, Ministrinho e Formiga, Tuffy atuou neste filme de ficção que foi o primeiro filme brasileiro onde o esporte era o tema central da trama. O jogador gostou tanto da experiência que pouco tempo depois seria dono de uma sala de cinema.

 

 

Penha Teatro, que pertenceu alguns anos a Tuffy (clique para ampliar).
Penha Teatro, que pertenceu alguns anos a Tuffy (clique para ampliar).

 

 

Numa época que o futebol, diferente dos tempos atuais, não deixava nenhum jogador rico, Tuffy resolveu tornar-se um homem de negócios. Após encerrar sua carreira no Corinthians no final de 1931, foi proprietário do cinema Penha Teatro, vendendo depois por razão desconhecida a Antonio Rego Vieira.

O Fim:

Note de Falecimento

Em 1935, vitimado por uma pneumonia dupla, Tuffy viria a falecer. A nota acima, publicada no extinto jornal Correio Paulistano em 5 de dezembro daquele ano, dia posterior ao seu falecimento, mostra como ex-jogador era querido não só entre os seus familiares e amigos, mas por esportistas e imprensa.

Como era desejo seu, foi sepultado com a camisa de goleiro do Corinthians, clube onde teve seu auge e que era torcedor. Sua sepultura está em uma das belas quadras do Cemitério São Paulo, no bairro de Pinheiros.

O Esquecimento:

Seu túmulo já teve dias piores. Nas várias visitas que faço ao local desde 2008, já encontrei até lixo sobre a sepultura. Foi assim que o descobri naquele ano, após ir ao enterro de um conhecido, e notar que na foto tumular estava um homem com a camisa do Corinthians. Vendo mais de perto as duas placas colocadas sobre a sepultura descobri que tratava-se de Tuffy.

 

 

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Meu pai, já falecido, era corintiano e contava muitas histórias sobre Tuffy e outros ídolos da época como Grané e Del Debbio, então sempre soube de suas façanhas em campo, e ao me deparar com seu túmulo ali, sujo e esquecido, fiquei muito emocionado e aborrecido.

Projetado pelo escultor Eugênio Prati, autor de várias obras tumulares no Cemitério São Paulo, o túmulo está bastante deteriorado com alguns de seus adornos já roubados.

Sobre a sepultura, chama a atenção que há apenas duas homenagens: uma feita por sua esposa e a outra feita pelos veteranos do futebol uruguaio. Chama a atenção, para mim, o fato de não haver qualquer homenagem do Corinthians, clube que ele não só defendeu como torcia. Ainda há tempo de se reparar isto.

 

 

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Seu túmulo, como puderam ver, é bastante simples e aparentemente ele está enterrado ali sozinho. Entristece saber que quase ninguém se lembra mais deste grande ídolo do futebol brasileiro. Nós não reverenciamos nossos mortos, temos medo e preconceito de ir aos cemitérios, quando na verdade ali é um recinto de paz.

É inegável que este homem contribuiu para o futebol alvinegro tornar-se o gigante que é. Espero que mesmo tardiamente sua morada final receba uma homenagem e melhores cuidados.

Tuffy –  Mais que um goleiro, um grande homem.

Curiosidades:

  • Em sua época, os goleiros atuavam com as mãos desprotegidas. Tuffy foi um dos pioneiros no Brasil a jogar utilizando luvas.
  • Alguns textos na internet dizem que Tuffy foi bilheteiro de um cinema no centro. Esta informação está equivocada. Ao sair do Corinthians, em 1931, Tuffy usou suas economias para adquirir o Cine Penha Teatro. Não encontramos referências concretas de que em algum momento ele tenha sido bilheteiro de algum cinema no centro de São Paulo.
  • Outro fato curioso está estampado no jornal Correio Paulistano, na mesma data(!) em que o jornal reportou seu falecimento. Trata-se de um jogo treino entre a Portuguesa e o Clube Libanês. Na escalação do Libanês está o nome de Tuffy como o goleiro (veja imagem abaixo). Apesar de realmente ter atuado como goleiro neste clube após encerrar a carreira oficialmente, o atleta já estaria acamado alguns dias antes de falecer. 

Correio Paulistano 5/12/1935

FONTES: Site São Paulo Antiga (http://www.saopauloantiga.com.br/tuffy/) – Douglas Nascimento – A Tribuna (Santos) – Guilherme Nascimento