Lançamento da intermediária… Avança pela lateral… Invade a área…Limpa a jogada. Livre, livre! Ele e o goleiro. De cara pro gol… Agora!… Pra fora! Incrível! Desperdiça um lance importantíssimo para o seu time, colocando a bola para fora.”
Enquanto muitos lamentam a perda de um lance ou uma jogada mal feita e tantos outros dão graças a Deus pelo seu complemento errado, eles estão lá, fora de campo, correndo atrás da bola para, com a mão, colocá-la novamente em jogo: os gandulas. Durante uma partida de futebol, não são poucas as vezes que este ‘ritual’ se repete. Com a responsabilidade de, indiretamente, dar continuidade ao jogo, os gandulas quase nunca são lembrados na partida e, discretos, seguem atrás da redondinha.
GANDULA.
Nos anos 1950-60, não me lembro ver algum cidadão correndo por fora das linhas do campo de futebol atrás de uma bola. E tambem não tinha tantas bolas ao redor do campo para ser reposta em jogo. Naqueles anos o jogo de futebol tinha apenas duas bolas. Uma ficava dentro do campo sendo chutada pelos jogadores para tudo quanto era lado. A outra ficava debaixo da mesa do representante da federação, um cidadão que estava sempre de terno e gravata mesmo com um sol de rachar, se bem que acima da cabeça dele estava um guarda chuva do tipo de sorveteiro e muito surrado.
Quando a bola ia para fora das linhas do campo, eram os próprios jogadores que pegavam a bola.Um dia o Baltazar do Corinthians não concordando com um apito interrompendo sua arrancada, de raiva, chutou uma bola na concha acústica do Pacaembu e o arbitro, Mario Vianna, fez ele pular o alambrado e buscar a bola. Mas isso faz parte das lendas dos anos 50.
Em muitas ocasiões quando a bola estava saindo perto do bandeirinha, ele colocava o pé para não deixar a bola ir muito longe. Tinha também os repórteres atrás do gol que se incumbiam de pegar a bola e devolver ao goleiro. Lembro-me de fotógrafos que não tendo necessidade de tirar a foto, e estando agachado atrás do gol, se atirava na bola como se fosse um goleiro, para pega-la. Como dizia o Fiori Giglioti, eles gostavam da bola.
E foi no Pacaembu que vi pessoas correndo atrás da bola quando elas ia pra fora.
Eram adultos com roupas comuns, uns de sapatos e outros de tênis correndo fora das linhas laterais e outros na linha de fundo, pegando as bolas e devolvendo aos jogadores.
Depois, aqueles marmanjos foram substituídos por garotos com roupa de colegial, aquelas que tinham duas listas nas mangas do moletom, todos usando tênis bamba de cor azul lavado, pegando as bolas para os jogadores.
Mais tarde comecei a ouvir que aqueles garotos eram chamados de Gandulas. Ora porque o nome Gandula?
Bernardo Gandulla foi um jogador argentino que defendeu o Vasco da Gama em 1939. Dizem que nunca entrava nos jogos e ficava na beira do campo, buscando as bolas que saiam para fora. A torcida se acostumou a vê-lo nesta função , e com o tempo, todos os buscadores de bola passaram a ser conhecidos como gandulas.
O nome gandula encantou tanto o “mestre dos comentaristas” Wilson Brasil, que ele resolveu instituir o troféu Gandula, e ofertar aos melhores do futebol, não só jogadores, como cronistas esportivos. Alguns dos que se destacavam na carreira de cronistas esportivos, e todos que trabalhavam com ele na radio Gazeta, eram outorgados com aquele valioso troféu.
Mario Lopomo
Gilberto Maluf