Em Minas, a reabilitação
Do Rio, o Sport seguiu para Belo Horizonte, de trem, viagem que durou 12 horas. A imprensa mineira, apesar de o Sport não ter se apresentado bem, no Rio, tentou “levantar” o amistoso contra o América Mineiro. Zago e Ricardo Diez, que já tinham atuado no futebol das Alterosas, eram os mais procurados para as entrevistas, enquanto pelo lado do América os jornais faziam a promoção do jogo em torno de Camilo, que voltava ao time mineiro.
A 18 de dezembro, no estádio Otacílio Negrão de Lima, o Sport realizava sua primeira partida em Minas. Quem não foi ao campo, perdeu uma grande exibição do quadro pernambucano. Vencemos de 5×1. O primeiro tempo já havia terminado com a vantagem dos rubro-negros por 2×0, gols de Mágri, de cabeça, aos 10 minutos, e Pirombá, aos 12 minutos, com um chute de
longe. Na fase final, os visitantes elevaram o placar para 5, sen¬do os tentos conquistados por Ademir, o 3.°, aos 19 minutos; Pinhegas, o 4.°, aos 27, e Navamuel, o 5.°, aos 42 minutos. O único tento do América foi marcado por Carlos Alberto, aos 35 minutos.
Sport
Manuelzinho; Salvador e Zago; Pitota, Furlan e Bibi; Navamuel, Ademir, Pirombá, Mágri e Pinhegas.
América
Vavá; Lulu e Pescoço; Cabral, Tiago e Buzachi; Carlos Alberto,
Didico (Armandinho), Camilo (Curi), Gerson e Alfredinho.
Palmeira apitou o jogo e teve boa atuação, segundo a crônica mineira.
O segundo jogo foi contra o Palestra (atual Cruzeiro), A imprensa fez os maiores elogios ao time pernambucano. Um matutino disse: “O interesse por uma segunda exibição do S. C. Recife em nossa capital aumentou grandemente, observando-se mesmo nos círculos esportivos uma ansiedade indescritível em torno do prélio, que a cidade verá amanhã no “ground” da Av. Augusto de Lima”.
Na verdade, foi uma grande partida. Tanto o Palestra como o Sport brindaram o grande público com excelente partida de futebol, no dia 21 de dezembro. Houve um empate sem abertura de contagem, formando o Sport com a mesma equipe que estreou.
Exatamente a 25 de dezembro, dia de Natal, no campo do Atlético, onde há 22 anos só conhecera uma derrota, o Sport fazia sua mais estupenda partida durante a excursão. O numeroso público foi ao campo certo de que os cabeças chatas iriam perder e de feio. O Atlético quis “rebolar” e quando cuidou da vida perdia de 4×2, resultado que permaneceu até o final para tristeza da torcida atleticana. O escore foi aberto pelo Atlético. Euclides, querendo centrar a bola, terminou encaixando-a no gol de Manuelzinho.
Mas não tardou a reação vigorosa e desconcertante do Sport. Veio o empate, por intermédio de Ademir, de forma espetacular. Foi um gol de “bicicleta”. A bola foi apanhada no ar com rapidez, deixando o goleiro Cafunga completamente atônito. Novamente Ademir, chutando livre, de fora da área, marcou o 2.° gol. Já ao final do primeiro tempo, Furlan, de fora da área, num arremesso violento e feliz, surpreende mais uma vez a perícia de Cafunga. Na segunda fase o Atlético imprimiu grande reação, mas quem marcou de novo foi o Sport por intermédio de Mágri, botando água na fervura. Baiano diminuiu para 4×2.
Sport – Manuelzinho; Salvador e Zago; Pitota, Furlan e Bibi; Navamuel, Ademir, Pirombá, Mágri e Djalma.
Atlético – Cafunga; Ramos e Canhoto; Cafifa, Hemetério e Bigode; Bené (Edgar), Tião, Baiano (Bigode), Nicola (Euclides) e Rezende.
O juiz foi mais uma vez Palmeira, que expulsou Baiano por ter agredido o goleiro Manuelzinho.
Repercussão
Os expressivos resultados colhidos em Belo Horizonte atravessaram fronteiras. O Sport começava a ficar nacionalmente conhecido. Na ex-capital federal, que agora passava a receber regularmente notícias do Sport, enviadas pelo cronista Canor Simões Coelho, integrado à delegação, no Rio, o jornal “O Imparcial” fazia esta louvação ao time rubro-negro:
“Os pernambucanos do Sport Club do Recife aqui chegaram quase despercebidos. Estávamos em plena fase de decisão do campeonato brasileiro, preocupados demais com os jogos entre paulistas e cariocas para darmos melhor atenção ao conjunto invicto de Pernambuco. Assim seu jogo com o Flamengo não chegaria a despertar grande interesse. O Flamengo foi o vencedor, mas a imprensa foi unânime em conhecer a injustiça do
placard.
Não diremos que houve injustiça, pois a culpa do revés coube aos zagueiros um dos quais foi autor do terceiro gol do rubro-negro carioca, contra o próprio arco, no momento em que mais se acentuava a pressão dos pernambucanos. Os zagueiros eram os reservas do América, que foram emprestados ao Sport que não pôde lançar mão dos seus zagueiros efetivos.
“Daí por diante, o Sport passou a ser olhado com respeito. Foi a Belo Horizonte, colhendo na estréia ampla vitória sobre o América (5xl), o que levou o Palestra Itália a propor um jogo, que findou com um empate de zero a zero.
Cresceu o prestígio do campeão pernambucano. Então o Atlético se interessou também em enfrentá-lo. Várias negociações foram feitas. Realiza-se o jogo, na tarde de quinta-feira. E o Sport Club do Recife conseguiu também vencer, pelo escore de 4×2. Consagrou-se definitivamente como um quadro de alto valor.
“Julgava-se o Atlético capaz de baixar a “máscara” dos pernambucanos. Como é que um quadro do Norte vem à nossa terra, pensariam os mineiros, e consegue voltar sem derrota?
O Atlético sempre foi uma espécie de “bicho-papão”. E tratando-se então de quadros de fora, torna-se um verdadeiro degolador.Mas o quadro pernambucano o venceu. E alcançou um feito de ampla repercussão, ao reafirmar de modo inequívoco o seu valor, o Atlético, particularmente, venceu todos os quadros de fora que foram a Belo Horizonte, de maneira que o sucesso do Sport Club do Recife constituiu um fato inédito. Donde se conclui que no futebol tudo pode acontecer.
Os jornais mineiros, longe de justificarem a derrota dos times locais, exaltaram o feito do Sport.O “Diário de Minas”, numa crônica sobre o jogo com o Atlético, publicou em grande título esta frase impressionante: “Entramos em campo como mestres e salmos como discípulos”.
Fonte:A Historia do Futebol em PE