Sport eleva Pernambuco
Novembro de 1941. Os torcedores do Sport ainda comemoravam, ruidosamente, a conquista invicta do campeonato, terminado em outubro. A equipe rubro-negra era realmente muito boa. Estava de fato um “piano” como se dizia na época. Tanto que o titulo fora selado com uma histórica goleada de 8×1 sobre o Náutico. Mais o time era tão bom que nada menos de 9 jogadores – Manuelzinho, Mulatinho, Zago, Pitota, Furlan, Djalma,
Ademir, Pirombá e Clóvis, tinham sido convocados para a seleção pernambucana, que estava no Rio de Janeiro para as disputas do Campeonato Brasileiro.
Mas enquanto a torcida solenizava o grande acontecimento, na Ilha do Retiro os dirigentes traçavam planos, planejando de que maneira se poderia manter os salários dos jogadores,em dia, até março do ano seguinte, quando seriam iniciadas as atividades da temporada oficial. Havia duas opções: excursionar ou liberar os jogadores a exemplo do que fizera o Náutico,a fim de não sobrecarregar a tesouraria do clube durante o período de defazagem. O presidente rubro-negro, Luiz Oiticica, preferiu a primeira fórmula, até porque vinha ao encontro de um antigo desejo seu de levar o Sport ao sul do país. A inclusão de 9 jogadores do Sport no selecionado pernambucano, já no Rio, veio reforçar o plano tanto pelo engrandecimento do cartaz do clube, como pelo fator economia, de vez que as despesas de viagem seriam suavizadas sem o ônus das passagens desses jogadores de Recife ao Rio de Janeiro.
Embora intimamente houvesse uma confiança muito grande na equipe, para quem jamais foi além da Bahia, jogar no Rio de Janeiro, São Paulo, Minas, Paraná e Porto Alegre, como ficou projetada a excursão, era uma aventura audaciosa. Uma verdadeira loucura! Mas a viagem foi decidida e a partir daquele momento o Sport começava a escrever a mais bela página da sua história esportiva, até hoje!
Exatamente às 11 horas da manhã do dia 5 de dezembro,uma quinta-feira, a bordo do navio “Cantuária”, o Sport deixava o Recife. A delegação estava assim formada: presidente – Hibernon Wanderley; tesoureiro – José Augusto Nogueira; auxiliar – João Freire; secretário – Antonio Menezes (Muriçoca),
pai do jogador Ademir; árbitro – Mariano Carneiro Pessoa (Palmeira); técnico – Ricardo Diez; massagista – José Matias, e os seguintes jogadores – Navamuel, Magri, Bibi, Ciscador e Valfredo. 0 zagueiro Gambetá (Roberto Bruno) estava relacionado,mas de última hora desistiu, em virtude de provas de fim de ano na Faculdade de Medicina. Apesar das alarmantes notícias sobre a II Guerra Mundial, que já havia estourado, a viagem transcorreu sem anormalidades e cinco dias depois os pernambucanos chegavam ao Rio de Janeiro.
Do Porto, a delegação rumou para o Flamengo Hotel, onde já se encontrava o resto dos jogadores rubro-negros, que haviam participado do Campeonato Brasileiro. Incorporaram-se à embaixada: Ademir, Pirombá, Zago, Manuelzinho, Furlan, Pitota,Djalma, além de Pedrinho, Pinhegas, Castanheiras e Salvador.
Os três primeiros eram jogadores do América e o último do Náutico, cujas diretorias haviam concordado em cedê-los para reforçarem o Sport na excursão. Clóvis e Mulatinho, alegando motivos particulares, retornaram ao Recife.
Derrota na estréia
A chegada dos nortistas passou quase despercebida da crônica carioca, que espichava manchetes sobre a final do Brasileiro entre Rio e São Paulo. Um sobrinho do presidente do Sport, José Médices, que residia no Rio e o cronista Canor Simões Coelho, depois de muita luta, conseguiram arranjar o Flamengo para um amistoso. O time pernambucano não pôde, porém, estrear com todos os titulares. Salvador e Zago estavam contundidos e a solução encontrada foi arranjar dois zagueiros emprestados ao América em cujo campo o Sport iria jogar. Foram cedidos Aralton e Linton. Embora o Flamengo fosse fazer a estréia de três jogadores, Doutor, Peixe e Perácio, sua enorme torcida não prestigiou o amistoso, “talvez devido às chuvas que caíram durante à noite”, justificou no dia seguinte um matutino carioca.
O Sport foi um quadro inibido do começo ao fim e acabou perdendo de 3×1.
O primeiro tento do Flamengo foi marcado por Rubem, aos 10 minutos da fase inicial, depois de receber um passe de Perácio. 0 mesmo jogador assinalou o segundo gol, aos 17 minutos, terminando o primeiro tempo em 2×0 para o Flamengo.
Na etapa final, Magri fez o único gol do Sport, e finalmente Aralton, intervindo com infelicidade, marcou contra o terceiro e último gol do quadro carioca.
Sport – Manuelzinho; Aralton e Linton; Pitota, Furlan e
Bibi; Navamuel, Ademir, Pirombá, Magri e Valfredo.
Flamengo
– Doutor; Nilton e Barradas; Biguá, Jaime (Volante) e Artigas;
Peixe, Waldir, Rubem, Perácio (Nandinho) e Vevé.
O juiz foi Palmeira e a renda somou a importância de 13 contos, 310 mil réis.
Fonte:A Historia do Futebol PE