Arquivo do Autor: Gilberto Maluf

Foto de um jogo na caixa de lápis de cor

Recebi e-mail de um amigo relembrando os materiais escolares dos anos 50 e 60.

Reparei na caixa de lápis de cor e fiquei meditando na foto  de um jogo no Pacaembu, haja vista a Concha Acústica ao fundo.

Sem querer ser adivinho,  julguei ser um jogo da Portuguesa de Desportos, com uniforme rubro verde, de camisa vermelha e meia verde.

E por fim a foto mostra o goleiro se preparando para mandar a bola para frente. E acho mesmo que o goleiro é o Orlando, que jogou a partir de 1964 na Portuguesa. Seu apelido era Orlando Gato Preto por sua grande elasticidade e agilidade, além de ser da cor negra. Vêm à lembrança as grandes defesas que fazia contra os ataques paulistas, pois enfrentava Dorval, Mengálvio, Coutinho,  Pelé do grande Santos e Gildo Servílio, Vavá, Ademir e Rinaldo, da academia do Palmeiras.

Segue foto do Orlando do site canelada.com.br/portuguesa, para verificação. Afinal, na época os goleiros negros não eram tantos assim.

Postais e fotos antigas dos três maiores estádios brasileiros

Postal frente e verso do Maracanã

Quando eu via, aos 9 anos de idade, na Revista do Esporte a foto do Maracanã, para mim era uma possibilidade remotíssima de ver ao vivo.

Pelos anos 64/65, já com 13 para 14 anos de idade, jogaram SCCP x CRVG no Pacaembu e eu lá estava. Já tinha visto reportagens com a Dulce Rosalina uma espécie carioca da torcedora Elisa do Corinthians. Vi as duas se abraçando e esperei para depois falar com a vascaína.Como eu era muito curioso, perguntei à Dulce Rosalina que também estava com uma amiga-A senhora podia me falar se São Januário é do mesmo tamanho do Pacaembu? Ela olhou meio surpresa para mim, e falou com a do lado -É quase do mesmo tamanho, você não acha?

Gilberto Maluf

Postal antigo do Pacaembu

Já meu amigo Jairo Salles, carioca,  tinha  enorme curiosidade era em torno do místico e misterioso Pacaembu. Naquela altura da minha vida, também com uns nove anos, era tao distante quanto hoje é o continente asiático. O Pacaembu representava, para mim, o local onde os clubes cariocas padeciam. Como era difícil retornar com uma vitória de lá!
Quanto a Dulce Rosalina, ela nao foi o símbolo maior da torcida vascaína. Ela sucedeu ao Ramalho que conseguia hipinotizar, nas tardes de domingo, o Maracana com a sua famosa flauta de talo de mamoma. Era incrível!!!! Eu assisti a muitos jogos na torcida do Vasco fascinado por aquela flauta mágica.

Bonde São Januário

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Propaganda da construtora que construiu São Januário

conforme site http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?p=46736157

Som e vozes do Pacaembu e Maracanã de outrora

Os alto-falantes berram clássicas marchinhas de antigos carnavais, músicas de sucesso e sons de estática… De repente, a música para e um grande “clic” é ouvido em todo o estádio do Pacaembu. Silêncio! Expectativa! Zumbido desagradável de microfonia! A tensão aumenta! Os torcedores silenciam, interrompem o que estavam falando ou fazendo. Ouvidos atentos! Em seguida a voz do speaker:
– O posto Esso de Francisco Zambrana informa a escalação das duas equipes…

O locutor oficial do estádio do Pacaembu nos anos 1950 era J. Domingues. Já nos anos 1960-70  era Evilásio Simões de Carvalho.

Francisco Zambrana era o proprietário do posto de gasolina que ficava na avenida General Olímpio da SIlveira, perto da igreja de São Geraldo, na zona Oeste, conforme informou o historiador Mario Lopomo.
Durante quase duas décadas, praticamente desde a inauguração do estádio, essa voz metalizada pelas cornetas instaladas na concha acústica dava início às práticas ritualísticas que eram desenvolvidas, religiosamente (claro!), nas tardes dos domingos, fizesse sol, fizesse chuva.
E continuava:
– O Sport Club Corinthians Paulista vai jogar com Bino, Domingos da Guia e Belacosa… O São Paulo Futebol Clube vai jogar com Gijo, Savério e Renganeschi…

Ninguém, que eu saiba ou me lembre, jamais fez a pergunta fatal: “Onde, diabos, fica esse posto Esso? E quem é Francisco Zambrana?”.

Hoje, passados 50 anos ou mais, também não vou perguntar, “tô nem aí”, embora aqueles sons tenham sido arquivados em meus arquivos “neuronais” para sempre. Vez ou outra puxo uma pasta desse arquivo, passo um espanador nos “papéis” pra tirar a poeira e recordo aquelas tardes dos sorvetes de palito, do amendoim salgadinho em cones de papel e das balas Paulistinha.

Alguns torcedores gritavam coisas mais pesadas, mas imediatamente eram admoestados por algum alguém que se sentisse ofendido:
– Moço, não fala essas coisas… Não “tá vêno qui” tem criança aqui?
– Eu paguei “prá entra”! Eu “falu o que eu quisé”!
– Ah, é? “Intão eu vô chama” o guarda, quero vê “ocê falá prá eli!”. Ô seu guarda, olha esse “liga” aqui falando palavrão perto de criança…

Imediatamente vinha o “seu guarda” com seu fardamento de flanela azul-marinho, quepe, espadim no cinto de guarnição, revolver 38 invariavelmente apresentando marcas de ferrugem no coldre e um cacetete de madeira – uma verdadeira borduna! – na mão, tudo isso debaixo de um sol de 38° à sombra, babando, ‘feliz’ da vida:
– Cidadão, me acompanhe.
– “Qui foi qui” eu fiz, seu guarda?
– Está falando palavrão perto de criança… Não pode.
– Tem dó, seu guarda, eu vim da Penha pra ver esse jogo… Pelo amor de Deus, não “mi” leva, eu fico “quéto”…
– Tá bom, mas muda de lugar… Vai ver o jogo em pé lá na concha…
– Ô, seu guarda, lá é ruim, não “si enxerga” nada…
– “Oi”… – batendo ameaçadoramente com o cassetete na palma da mão.
– Tá bom, seu guarda, tava “brincano”… “Tô ino”!
– “Si” eu “ti vê puraquí traveis”, o produto do Amazonas vai “cantá” nas suas costa… Vai logo! Não fica enrolando…

O futebol e seus sons através das ondas do rádio e de vozes que silenciaram para sempre: Rebello Jr., o Homem do Gol Inconfundível, deu velocidade e vibração às transmissões esportivas:
– Gota, ciática, pressão alta? Lave seus rins com Urodonal.
Fazia seu merchandising no meio das transmissões.

Geraldo José de Almeida, voz de ouro, exuberante:
– Cerveja Anchieta, a melhor cerveja preta!
Ou dizia:
– Atilio Riccó, Gazômetro, três, zero, meia, um só!

Sons e vozes que ficaram retidos em nossas memórias…

“Loção Brilhante, lálálálá – não é tintura, lálálálá – loção Brilhante é restaurador – devolve aos cabelos a primitiva cor!”.
“Dor de cabeça? Melhoral, é melhor e não faz mal”.
“Maria, sai da lata. Aqui estou, senhor paladar exigente… Tosse, bronquite, rouquidão? Xarope São João!…”.

E a sirene da Rádio Gazeta, ao meio dia, tão pontual quanto o relógio do mosteiro de São Bento…
Texto parcialmente adaptado  de JoaquimIgnacio de Souza Neto

No meu tempo, a partir de 1962, a música e a propaganda cessavam de repente  e fazia-se  silêncio em todo o estádio, porque já era esperado o momento do speaker anunciar as equipes.
Ouvíamos assim:
A Secretaria Municipal de Esportes anuncia a escalação das equipes para esta tarde…….
Mais um silêncio de uns 5 segundos e anunciava com entonação:
CORÍNTHIANS!!!!!!
E depois anunciava o adversário:
PALMEIRAS!!!!
Não sei porque, mas o nome Corinthians era dito, falado, pronunciado com mais entonação. Seria o speaker corintiano? Ou será que era eu que via com mais emoção?
Gilberto Maluf
A seguir, vozes do Maracanã:

As estórias ou histórias (segundo os filólogos é a expressão mais correta) do passado são as minhas delícias esportivas. Recordo-me saudoso das inesquecíveis tardes do Maracanã, nos início dos anos 60. Antes do início de cada partida aguardávamos ansiosos as escalações dos “teams”. E lá vinha aquela bela voz, comprometida pelo horroroso sistema de som. ” E atenção desportistas! (seguido de pequena pausa). A ADEG (Administração dos Estádios da Guanabara, o novo estado) innnnnforma (assim mesmo estendido) equipes para a partida prinnnnncipal desta tarde.
Clube de Regatas Flamengo (nova pausa): Número 1- Garcia; 2 – Tomires; 3- Pavão; 4-……………… Fluminense Futebol Clube (pausa): Número 1 – Castilho; 2 – Píndaro; 3 – Pinheiro; 4 -………………….. Juiz da partida o Sr ……………………….. O nome do juiz (sempre acompanhado de vaias, fosse qual fosse o nome). Durante o jogo as informações: Atenção desportistas, a ADEG innnnnforma: em São Januário (expectativa e silêncio): Primeiro gol do Vasco da Gama. Agora Vasco 1 Bonsucesso Zero. Reclamações dos dois lados sempre torcendo para o mais fraco. Que droga!!!!!! Quando o Santos (também nos anos 60) fez do Maracanã a sua casa, o  Maracanã ficava  sempre abarrotado, e lá vinha o ritual. Só que a Coca Cola já era o patrocinador. Atenção desportistas! Coca-Cola informa equipes para a peleja principal desta tarde: Santos Futebol Clube: Número 1- Gilmar; 2- Mauro, 3- Dalmo; 4-…………………………………………………………………………10 – (longo silêncio e pausa) PeLÉ (delírio) e número 11 – Pepe (que ninguém escutava tamanha a euforia nas torcidas). Afinal não era sempre que se tinha o privilégio de todo domingo assistir ao gênio da bola! Saudades, muitas saudades.Jairo L. de Salles

Alguns comentários sobre Garrincha

Alguns comentários sobre o Garrincha

“Garrincha é um verdadeiro assombro. Não pode ser produto de nenhuma escola de futebol. É um jogador como jamais vi igual.”
(Gavril Katchalin, técnico soviético em 62)
“Eu digo: não há no Brasil, não há no mundo ninguém tão terno, ninguém tão passarinho como o Mané.” (Nélson Rodrigues, escritor, dramaturgo e jornalista esportivo, sobre Garrincha)
“Se há um deus que regula o futebol, esse deus é sobretudo irônico e farsante, e Garrincha foi um de seus delegados incumbidos de zombar de tudo e de todos, nos estádios.”
(Carlos Drummond de Andrade, escritor)
“Para Mané Garrincha, o espaço de um pequeno guardanapo era um enorme latifúndio.”
(Armando Nogueira, jornalista e escritor)

“De que planeta veio Garrincha?”
(Jornal El Mercurio, do Chile, na Copa de 62)

“Eu fazia o lançamento e tinha vontade de rir. O Mané ia passando e deixando os homens de bunda no chão. Em fila, disciplinadamente.”
(Didi, sobre Garrincha na Copa de 58)
“Ele me deu um baile. Pedi que o contratassem e o pusessem entre os titulares. Eu não queria enfrentá-lo de novo.”
(Nílton Santos, maior lateral-esquerdo da história do Brasil e do Botafogo)
“Eles começaram marcando no mano a mano. Tsarev contra Garrincha. De repente, passaram a amontoar vários outros naquele lado esquerdo do campo. Era hilariante o desmanche que Mané fazia por ali.”
(Nílton Santos, sobre Garrincha na partida contra a Rússia, pela Copa de 58)
“Um Garrincha transcende todos os padrões de julgamento. Estou certo de que o próprio Juízo Final há de sentir-se incompetente para opinar sobre o nosso Mané.”
(Nelson Rodrigues, escritor e jornalista)
“Estávamos em pânico pensando no que Garrincha poderia fazer. Não existia marcador no mundo capaz de neutralizá-lo.”
(Nils Liedholm, meia da Suécia na Copa de 58)
“Em cinqüenta anos de futebol jamais apareceu um jogador como Garrincha.”
(Jornal inglês Daily Mirror)
“Eles eram infernais. Ninguém os conteria. Se você marcasse o Pelé, Garrincha escapava e vice-versa. Se você marcasse os dois, o Vavá entraria e faria o gol. Eles eram endemoniados.”
(Just Fontaine, maior artilheiro em uma única Copa do Mundo, a respeito do time brasileiro da Copa de 58)
“Veja aquele beque do Brasil. Olhe seu uniforme, limpo, parece engomado. Olhe seus cabelos, penteados. Ele é Nílton Santos. Aquela cabeça armazena o que há de melhor em inteligência. Aquelas pernas limpas produzem o melhor estilo do mundo. Ele joga em pé, pleno de classe, como convém aos deuses da bola.”
(Nestor Rossi, indignado com o companheiro, que marcava Garrincha e estava todo sujo de lama)
“Rossi se esqueceu de dizer que eu sempre joguei junto com Garrincha. Contra ele, só no primeiro treino no Botafogo. Pedi que o contratassem. Graças a Deus, fui atendido.”

http://www.botafogopaixao.kit.net/garrincha

O teste n° 1 da LE e a Zebrinha

Em 19 de abril de 1970, era realizado o primeiro teste da Loteria Esportiva, que durante anos alimentou o sonho de riqueza dos brasileiros. Em destaque, uma reprodução do volante daquele teste número 1, experimental, apenas para os estados da Guanabara e do Rio de Janeiro. Os 13 jogos eram dos campeonatos carioca (profissional e de juvenis), paulista, gaúcho, mineiro, paranaense e português.

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A Loteria Esportiva havia sido criada em 27 de maio de 1969, pelo decreto-lei 594. Naquele primeiro teste, dos 100 mil cartões colocados à venda, 76.649 foram adquiridos. O prêmio líquido foi de Cr$ 253.958,00, mas como ninguém conseguiu acertar os treze jogos essa quantia acabou sendo dividida entre as oito pessoas que fizeram doze pontos. A partir de 1982, quando uma reportagem da revista Placar denunciou uma máfia de manipulação dos resultados envolvendo jogadores, dirigentes e jornalistas, a Loteria Esportiva perdeu sua credibilidade e nunca mais a recuperou. Entre 1987 e 1989, os jogos passaram a ser 16. Em agosto de 1989, voltaram a ser 13 e o nome foi mudado para Loteca. Atualmente, é necessário fazer 14 pontos para ganhar o prêmio maior, que está cada vez mais distante do que era oferecido há 40 anos. Em março de 2007, 7.792 apostadores chegaram a receber apenas R$ 32,67 cada um.
ESPN-Loucos por futebol.

A Zebrinha do Fantástico

A Zebrinha da Loteria Esportiva, estava sempre nos domingos da Rede Globo (Fantástico), e acompanhava o apresentador (na maioria das vezes era o Léo Batista), e juntamente com ele, dava o resultado dos 13 jogos. Quando algum resultado era surpreendente aos apostadores, ela, a Zebrinha, dizia com sua voz estridente: Olha eu aí…. Zeeeeeebra!!! A Zebrinha, saiu de cena no ano de 1986. Ela nos faz lembrar dos cálculos do matemático Oswaldo de Souza, que após a divulgação do resultado dos 13 jogos, baseado nos seus cálculos informava o provável número de ganhadores. Certa vez, meu pai me presenteou com um volante da Loteria Esportiva, e quando a Zebrinha falou, e anunciou: Olha eu aí de novo! Zeeeeeebbbrrraaa!!! Rasguei o volante e não esperei pelo restante do resultado. Se não me falha a memória, Botafogo havia empatado com o Olaria, (uma coisa assim). Mas pra falar a verdade, quando a Zebrinha saiu do ar, fez uma falta viu!
everardocaioprado.blogspot