Arquivo do Autor: Gilberto Maluf

Perfil: Mário Gonçalves Vianna – ex-FIFA-RJ

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Em campo, fazia de tudo: peitava, gritava, agredia até. Era seu jeito de se fazer respeitado por todos. Mário Gonçalves Vianna tinha 1.74 de altura e pesava 90 quilos de uma vitalidade que impressionava a todos que o conheceram.

Mário Vianna foi de tudo um pouco: baleiro, engraxate, jornaleiro, empacotador de velas, fiscal da guarda civil, policia especial, juiz de futebol, técnico do Palmeiras, Portuguesa e São Cristovão, e finalmente, comentarista de arbitragem na Rádio Globo.

Sua excelente condição física foi adquirida na Policia Especial. E foi apitando peladas, que José Pereira Peixoto, um policial amigo, o convenceu a fazer um curso de árbitro para Liga Metropolitana onde ingressou como primeiro colocado de sua turma. Sua estréia oficial foi na partida de juvenis entre Girão de Niterói e São Cristovão. Neste jogo ele definiu o estilo que trataria de aperfeiçoar ao longo de sua carreira até torná-la uma espécie de marca pessoal: expulsou Mato Grosso, zagueiro do seu querido São Cristovão.

Desde então, começou a construir sua fama de juiz rigorosíssimo, destes que não perdem as rédeas da partida, mesmo nas situações mais adversas. Como naquele Botafogo e Flamengo em General Severiano. Mário Vianna expulsou jogadores do Flamengo, os torcedores não gostaram e começaram a atirar garrafas e pedras contra ele. E Mário não teve dúvidas: devolveu tudo para as arquibancadas.

Mário Vianna nunca foi homem de meias medidas. Foi responsável pela única expulsão de Domingos da Guia em onze anos de carreira. Também teve uma passagem com Nilton Santos no clássico Botafogo e Vasco. Atendendo a uma denuncia do bandeirinha, expulsou Nilton Santos que era um gentleman, por ofender o auxiliar. Mário achou estranho o caso e, nos vestiários pressionou o bandeirinha que terminou confessando que tinha mentido. Ele ficou sem graça, foi ao vestiário do Botafogo e pediu desculpas a Nilton Santos.

Houve um jogador que, talvez por ser estrangeiro e desconhecer a fama de valentão de Mário Vianna, teve a infeliz idéia de desafiá-lo. Foi durante o jogo Itália e Suíça na Copa do Mundo de 1954. Inconformado com uma marcação do brasileiro, Boniperti partiu para cima do juiz aos empurrões. Mário Vianna aplicou-lhe um direto no queixo. Mandou que o carregassem para os vestiários e, ironicamente, disse para o massagista – “Se ele tiver condições, pode voltar para o segundo tempo”. Boniperti voltou bem mansinho.

Durante a Copa do Mundo de 1954, no jogo Brasil x Hungria, chamou o juiz Mr. Ellis e os dirigentes da FIFA, de ‘camarilha de ladrões’. Foi expulso do quadro de árbitros da entidade. Quando já era comentarista de arbitragem na Rádio Globo, quase perdeu o emprego por duas vezes. Na primeira, disse que o juiz Abraham Klein, além de judeu era ladrão. Os patrocinadores do programa eram, como Klein, judeus.

Como todo personagem folclórico, Mário Vianna também tinha o seu lado místico. Era espírita da linha Alan Kardec, rezava ao se deitar e se levantar. Alguns casos são conhecidos. Na Copa de 1970, era companheiro de quarto de Luis Mendes. Certa manhã ao se levantar, virou-se para o companheiro e disse – “Mendes, liga para tua casa porque seu irmão desencarnou”. Apavorado, Luis Mendes pegou o telefone, ligou para casa e ficou sabendo que seu irmão havia falecido naquela madrugada. Waldir Amaral conta que certa vez estava embarcando com Mário para São Paulo. E Mário advertiu – “Waldir esse avião vai pifar. Vamos esperar outro vôo”. – Que nada, Mário, deixe de besteiras – retrucou Waldir Amaral. Os dois embarcaram e quando o avião ia decolar, o motor enguiçou e o piloto foi obrigado a dar um cavalo de pau para não cair na baía da Guanabara.

Além dos problemas, Mario Vianna tinha outro orgulho: todos os técnicos brasileiros (da sua época), com exceção de Zezé Moreira, jogaram sob sua arbitragem. Por isso, ele se achava apto para julgar, e afirmar que Leônidas da Silva foi melhor que Pelé. Outros jogadores o enfrentaram em campo, com as armas da catimba. Zizinho, “macho dentro e fora do campo”. Eli do Amparo, “que quando tinha que expulsa-lo segurava pela pele”. E outra passagem de Heleno de Freitas. De Heleno, Mário lembrava-se com nostalgia. De vez em quando a mãe de Heleno telefonava pedindo paciência com seu filho que ele cansou de expulsar. No sul-americano de 1945, no Chile, Mário Viana apitava os treinos da seleção que tinha como técnico Flavio Costa. Num coletivo, ele marcou um impedimento e Heleno reclamou. E Mário foi logo retrucando – “ Flávio tira o Heleno do campo ou eu lhe dou uns sopapos”. É isso mesmo. Ele expulsava até treino.

Em compensação, foi suspenso tantas vezes pelas federações em que trabalhou – Rio, São Paulo e Pernambuco – que ele nem se lembra.
Quando encerrou sua carreira como arbitro, teve uma breve e frustrada experiência como técnico no Palmeiras. Como comentarista de rádio e televisão, Mario Vianna era considerado o rei das gafes.

A maior delas aconteceu quando entrevistavam, o ponta direita do Fluminense Cafuringa, num programa patrocinado pelo cigarro Corcel. Mário perguntou ao atleta – Você bebe, Cafuringa ?
– Não senhor.
– Muito bem. E fuma ?
– Fumar, eu fumo.
– Mas não deve. O cigarro é um veneno para a saúde. O cigarro faz muito mal.
O apresentador tentou avisar ao Mario Viana que o programa era patrocinado por uma fabrica de cigarro. Foi ai que o ex-arbitro deu a volta por cima.
– Todo cigarro tem veneno, Cafuringa, menos o Corcel, que tem uma dose mínima de nicotina.

Mas a sua grande mancada foi ao se despedir do apito em 1957. Ele dirigiu no maracanã um jogo de vedetes do Rio e de São Paulo. Ele mesmo é quem dizia – “Nunca ouvi tanto palavrão. Fui até agredido, e só não reagi porque eu matava uma com um soco. Mas precisei contar até dez para manter a calma.

Muitos que também viveram a época de Mario Vianna, afirmam que nessas histórias sempre existem um pouco de exagero. Com exagero ou não, as histórias são realmente deliciosas.

Faleceu em 16 de Outubro de 1989.

.Revista Placar

Casos da bola – Garrincha, João Saldanha e Pezão

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Garrincha, João saldanha e o zagueiro Pezão. Charge de Eklisleno Ximenes

Esta aconteceu mesmo e envolveu dois grandes personagens do nosso futebol: Mané Garrincha e João Saldanha. Aconteceu na época em que Garrincha estava no auge da carreira e era presença obrigatória em todos os jogos do Botafogo. Sem ele a cota reduziria pela metade.

Pois certa vez, num destes amistosos no interior, Saldanha, então técnico do time, era só preocupação. O motivo dos temores do bravo João, era um becão de 1,85m, o lateral que marcaria Mané. Atendia pelo sugestivo apelido de Pezão e, diziam, era daqueles que davam pontapé até na própria sombra…

Ciente de que precisava fazer algo para preservar as valiosas canelas de seu craque, Saldanha mandou, então, um mensageiro procurar o truculento zagueiro com um recado:

– O homem está a fim de te levar para uns testes no Botafogo. O problema é que você é muito violento e seu João prefere zagueiro clássico, que só joga na bola. Não vá desperdiçar a sua grande chance.

Final do jogo, Botafogo 5 x 0, com três gols de Mané Garrincha, um deles passando a bola por entre as pernas de Pezão, que até o dia de sua morte, sempre repetia nos bares por onde passava:

– Qualquer dia desses, seu João vai me chamar.

Jesus chamou primeiro…

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Canal 100 – Que saudades

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Era sagrado, antes do filme começar nada de trailers, ou propagandas,nada de informar a saída de incêndio,nada de pedir para desligar o celular,não… antes era o CANAL 100 !!!! que saudades…

Para muitos o cinema é o conjunto dos grandes filmes. Para outros, o cinema não passa de uma técnica de ilusão. Mas para aquele que quer conhecer a história do século XX, para quem busca desvendar o segredo dos deuses e das lendas do homem contemporâneo, o cinema é, sem qualquer dúvida, a mais importante das fontes de informação.

Daí a importância dos cinejornais. Como gênero de cinema, em todo o mundo, o cinejornal esteve presente registrando o século. No Brasil desde os anos cinqüenta, o CANAL 100 criou a legenda dos grandes cinejornais.

O criador Carlos Niemeyer, começou a fazer cinema nos anos 50, produzindo com Jean Manzon alguns documentários sobre o Rio de Janeiro.
Em 1958 fundou sua própria produtora que mais tarde se especializou em cinejornal, surgia o Canal 100 que de 1959 à 1986 produziu um cinejornal por semana, formando um importante acervo cinematográfico dos acontecimentos jornalísticos da época. (aproximadamente setenta mil minutos de imagens)

O nome Canal 100 foi uma analogia à televisão que até recentemente se identificava pelo número do Canal. Canal 13(Tv Rio), Canal 6 (Tv Tupi), Canal 4 (Tv Globo), etc.
Canal 100 era na visão de Carlos Niemeyer um número inatingível pela Televisão.

Desde 1959 as lentes do CANAL 100 tentam inovar; Seja na simples criação das vinhetas, ou na “mis en scene” da montagem, e principalmente nas filmagens, onde sobressaiu , Francisco Torturra , o melhor cinegrafista de futebol da história dos cinejornais. Tudo sob a supervisão de Carlos Niemeyer.

Na parte musical , foram compostas trilhas para cada vinheta do jornal, uma delas com partituras do maestro Tom Jobim. No futebol, após diversas tentativas, descobriu-se o samba de Luis Bandeira, “Na cadencia do Samba” que virou hino e trilha sonora do futebol brasileiro .

Criador de um estilo próprio, foi no futebol que a marca do nosso jornal se tornou mais famosa. O perfeito casamento entre o maior esporte do mundo e a síntese de todas as artes, o cinema.

Como dizia Nelson Rodrigues: “Foi a equipe do CANAL 100 que inventou uma nova distância entre o torcedor e o craque, entre o torcedor e o jogo, grandes mitos do nosso futebol, em dimensão miguelangesca, em plena cólera do gol. Suas coxas plásticas, elásticas enchendo a tela. Tudo o que o futebol brasileiro possa ter de lírico, dramático, patético, delirante…”

Mas, apesar de todo o sucesso, os tempos mudaram e em 1985 o ministério da Cultura do Governo Figueiredo, apoiado pelos lobistas do cinema americano, inviabilizou a produção, proibindo a propaganda comercial em cine-jornal. Era o fim do futebol do Canal 100 e de um estilo brasileiro de fazer cinema.

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Canal 100 Captou o Imaginário do Futebol

Sobre cinema e futebol, é difícil não incluir também na equação a televisão, que se apoderou do esporte, aparentemente para nunca mais largar, ao longo dos últimos 30-40 anos. A TV ao vivo substituiu o cinema filmado, que, após cada partida, precisava ainda ser revelado, copiado e montado. Caiu em desuso. A TV passou a apresentar o futebol instantâneo em tamanho menor, fator comercial maior e impondo ao mundo sua limitada escala eletrônica.

A associação cinema-futebol, no Brasil, tem um nome que ironiza a competição entre TV e cinema: Canal 100. A idéia de Carlos Niemeyer era exatamente oferecer algo de inatingível para o meio televisivo, um canal imaginário de som e imagem que suplantava a simples idéia de ‘canal 2’ ou ‘canal 13’. Lembra a briga cinema versus TV dos anos 50, quando o “CinemaScope” e o “Cinerama” tentavam fazer a diferença. E era exatamente na parte esportiva desse noticiário semanal, exibido no início das sessões de cinema do Brasil (de 1959 até 1986), que isso ficava claro.

O futebol do Canal 100 tinha releituras de jogadas impossíveis de serem vistas das arquibancadas ou na televisão, um futebol em 35mm, gingado nos seus mínimos detalhes. Mulheres na platéia geralmente amavam as imagens ampliadas de coxas musculosas dos atletas, os jogadores escarravam elegantemente ansiosos em câmera lenta, a tensão de uma barreira de homens preocupados com um chute potente, a bola rodopiando doida em direção à rede. Dezenas de imagens como essas tornaram-se assinaturas de uma estética que engrandecia um esporte já enorme dentro da cultura brasileira.

O fotógrafo-mestre Walter Carvalho (“Central do Brasil”, “Abril Despedaçado”, “Lavoura Arcaica”) diz que a estética do Canal 100 foi forjada por uns quatro grandes “cameramen”, especialmente Walter Torturra.

“Eles eram craques, capazes de segurar o foco na bola com lentes telescópicas de 600mm. Isso equivale a fazer uma cirurgia a laser no olho. Trabalhavam numa época em que os negativos eram menos sensíveis e as luzes dos estádios também não ajudavam. Se o Canal 100 ainda existisse hoje, seria mais fácil filmar futebol com o ganho na sensibilidade à luz dos filmes; os atuais refletores também fornecem condições ideais de imagem, no caso, para a televisão”.

A pesquisadora Ivana Bentes acha que a televisão ousa muito pouco hoje. “Poderia ser um campo fantástico de experimentação, principalmente com as novas tecnologias e câmeras digitais.”

E o que teria ficado do Canal 100 como herança para a TV?

Walter Carvalho acha que “nada” . Na televisão, o grande engodo é pensar que há ali uma imagem que domina, quando, na verdade, há mesmo uma hegemonia da palavra. Na TV, se você tirar o som, não vai entender o que está acontecendo. Já ao tirar a imagem, o som continua claro e repleto de informação. Há uma tendência ignóbil de fazer da TV um programa de rádio com imagens. Na verdade, o gol é bem mais sensacional no rádio, pois a narração usa a sua imaginação, enquanto, na TV, os comentaristas limitam-se a comentar aquilo que eu já estou vendo. É por isso que Galvão Bueno é tão chato”, diz Carvalho.
Kleber Mendonça Filho

Corinthians em Marcha – programa de rádio desde os anos 40

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Grande referência de informação para a torcida corintiana, o programa radiofônico ‘Corinthians em Marcha’ foi apresentado durante muitos anos na rádio Panamericana, hoje Jovem Pan, pelo saudoso Otávio Munis. Ficou célebre a forma como o jornalista anunciava o início da atração: ‘Torcida corintiana, cordialmente boa noite! São 18 horas e 30 minutos em São Paulo. Estamos iniciando pela Rádio Panamericana de São Paulo, a emissora dos esportes, o programa Corinthians em Marcha. Otávio passava à Fiel informações sobre o clube que tanto idolatrou, além de analisar os fatos relevantes relacionados ao clube.

Trinta anos após sair do ar, no início da década do ano 2000, o ‘Corinthians em Marcha’ renasceu na rádio Atual AM sendo apresentado por seu filho Otávio Munis Filho, o Tatá Munis. Em seu novo formato, o programa, que infelizmente deixou a grade de programação da emissora tempos depois, contava com quadros de humor e personagens que expressavam o amor pelas cores alvinegras.

Fonte: Marcelo Rozenberg

Reinventando uma fórmula já consagrada por Otávio Munis – o pai, nas décadas de 40, 50, 60 e 70, a equipe de esportes da Rádio Atual-Am1230kHz ,está com um programa diário com todas as informações do clube de Pq. São Jorge (2a. a 6a. das 20 as 21 horas) e passou também a transmitir todas as partidas do Corinthians e só do Corinthians, com muita irreverência e com o diferencial de “aqui não tem gol do adversário”, slogan utilizado nas jornadas esportivas.
As inovações não pararam por aí, afinal de contas, todo corintiano é antes de tudo brasileiro, motivo pelo qual passamos a transmitir, também, todas as partidas da Seleção Brasileira de Futebol, paixão maior do nosso povo.

Um clássico e a história de um torcedor

Em 08 de dezembro de 1983 Corinthians X Palmeiras disputaram uma das semifinais do Paulistão de 1983. No primeiro jogo, a marcação individual de Marcio sobre Sócrates deu certo, garantindo o empate de 1 x 1. Mas na segunda partida, bastou uma jogada individual do Doutor para dar a vitória ao Corinthians. O jogo terminou 1 x 0 para o Corinthians.
Mas vou relatar a epopéia que vivi neste jogo. Eu tinha acabado de vender meu carro e estava esperando o Nelinho, dono da agência , arrumar um bom ” usado ” . Enquanto aguardava ele me emprestou um Dodge Polara, uma verdadeira bicheira para ir ao jogo. E mandou eu ter cuidado com o podrão. Fomos eu e dois amigos pro jogo. Pegamos um trânsito terrível, o Dodginho começou a rajar o motor, pensei que não iria conseguir chegar no Morumbi. Para quem não é de São Paulo, ir ao Morumbi no começo da noite de um dia de semana é problemático.
Chegando no estádio, compramos numeradas superiores. Aí um dos amigos resolveu pular o muro e ir para as cativas. E me chamou……vêm que tá mole. Quando eu estava em cima do muro, literalmente, um tenente da PM estava passando e gritou: Desce! Do lado de dentro meu amigo falou: Pula! Que dúvida cruel. O tenente falou: se você pular para dentro vou te buscar. Desci , vai fazer o que. O tenente dobrou meu braço como se eu fosse um marginal e me botou pra fora do estádio, pelas rampas do setor 5 das numeradas. Mas o pior é que eu chamava ele de “ seu guarda “ .
E tem mais: a minha jaqueta com a chave do podrão estava com o meu “ mui amigo “ que estava rolando no chão de rir.
E não tinha mais ingresso….comecei a ficar desesperado. Aí eu vi um guarda que presenciou tudo e falei para ele: Chamei-o de Tenente e disse: – o senhor viu o que fizeram comigo, minha chave tá lá dentro, minha jaqueta, eu tenho que entrar, por favor.
O guarda olhou pra mim e viu que eu não era marginal e me deixou entrar.
Foi um sufoco.
Mas passado tudo isso, depois do jogo, peguei o carro pra voltar e o motor parecia uma britadeira. Quando fui devolver, o dono da agência falou que eu tinha estourado o motor dele. Pode? Mas eu acho que tive um pouco de culpa, porque acendeu a luz verde do motor. Acho que era falta de óleo ou a cebolinha não estava funcionando . A luz verde acendeu na avenida Cidade Jardim totalmente parada pelo trânsito. Se eu fosse deixar aquela bicheira ali naquela hora, iam me prender. Ninguém iria chegar no estádio.
Esta é mais uma das situações que creio todos vivemos um pouco no futebol.
Gilberto Maluf
ET: Se o carro não fosse uma bicheira, certamente pararia quando acendeu a luz verde.
ET: O “ mui amigo “ era um palmeirense . O outro, um amigo corintiano, que também riu do episódio.

Prenúncio de um acaso no Pacaembu

A título de curiosidade entre as torcidas de futebol, narro este fato que virou motivo de intensa provocação futebolística no Metrô de São Paulo. Venho relatar o ocorrido na tarde de 13/10/85 no estádio do Pacaembu. Jogaram Palmeiras x Corinthians, e a turma de Parque Antártica já estava 9 anos na fila. Na época a torcida do Corinthians se alegrava de ficar nas cordas que separavam as torcidas para a famosa contagem 1,2,3…..e 9! E cantava o Parabéns pra Você.

Eu estava perto das cordas, claro! Mas sempre comedido, não levantava com a torcida, apenas apreciava os enfurecidos torcedores do Palmeiras. Dava para ver o vermelho de raiva que brotava dos rostos.
Mas o jogo começou e estava por vir uma coincidência que iria deixar-me mais vermelho que a torcida do Palmeiras.

– 10 minutos do primeiro tempo, Barbosa, Palmeiras 1 x 0.

– 30 minutos do primeiro tempo, Mendonça, Palmeiras 2 x 0.

– 20 minutos do segundo tempo, Barbosa, Palmeiras 3 x 0.

Entre os 21.434 pagantes estava um indefectível amigo palmeirense, do lado de lá da corda, que trabalhava também no Metrô. Aí a torcida do Palmeiras, logo ao lado da corda, começou a tripudiar pra cima da torcida do Corinthians. E levantavam lá e cá. E eu, sentado. Ainda impassível. Mas, numa atitude impensada e única em toda a minha vida, levantei-me quando as torcidas sentaram. E fiz um gesto obceno pra torcida do Palmeiras. Mas o pior é que de forma concomitante levantou-se daquele lado apenas um palmeirense. Quem? O meu amigo que trabalhava comigo. Como pode ?

Não tenho palavras ainda hoje para tentar descrever esta sinistra coincidência. Fui execrado, o exagero fez que eu fosse achincalhado como um mal-educado para senhoras e crianças palmeirenses.

Será que estava escrito que iria acontecer este acaso? Será que o Barbosa era jogador de futebol? Como pode eu ter levantado sozinho e do outro lado somente o meu amigo? Foi meio vergonhoso.

Foto de um jogo Guarani x Santos em Campinas nos anos 60

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Nos anos 60, durante um Santos e Guarani, Pelé faz mais uma de suas jogadas geniais. Caravetti (só com o rosto aparecendo), Milton e o goleiro Dimas tentam abafar o Rei no desespero. O santista Toninho Guerreiro (encoberto pelos defensores) espera a conclusão da jogada enquanto Tarciso (ex-Palmeiras – em frente à trave) e o lateral Diogo observam o lance. Foto histórica e característica do maior jogador da história do futebol.
Por Marcelo Rosemberg em MN.

Os três tiros de João Saldanha

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Na noite de 17 de dezembro de 1967, a Resenha Facit – a mais esperada e de maior audiência na época – havia se transferido de armas e bagagens da TV Rio, no velho Cassino Atlântico, em Copacabana, para a TV Globo, nos estúdios do Jardim Botânico. Os personagens, porém, eram os de sempre: Luiz Mendes, João Saldanha (foto), Armando Nogueira, José Maria Scassa, Nélson Rodrigues, Vitorino Vieira, Alain Fontain e Hans Henningsen – que Nélson Rodrigues apelidou de “O Marinheiro Sueco”.

O assunto só poderia ser um: a vitória do Botafogo por 2 a 1, à tarde, no Maracanã (gols de Roberto e Gérson), conquistando o título carioca (o Bangu tentava o bi). Lá pelas tantas, João Saldanha, com sua habitual franqueza, disse que o goleiro Manga tivera uma atuação suspeita, frase que Luiz Mendes, outro dia, me confirmou pelo telefone.

Minutos depois, Castor de Andrade, que morava ali perto – e garantem era tricolor – invadiu os estúdios da TV Globo portando um revólver de ouro maciço e ameaçando João Saldanha, que não se intimidou: jogou um pesado cinzeiro sobre Castor e, logo em seguida, um copo d´água. O clima ficou pesado. Pesadíssimo, por sinal. Formado o tumulto – sem tiros, por sorte – a resenha saiu do ar, Castor foi retirado do estúdio e tudo, aparentemente voltou ao normal, para espanto de Nélson Rodrigues, principalmente, que não entendeu rigorosamente nada do que acontecera. A Resenha Facit prosseguiu e terminou sem maiores conseqüências – felizmente para todos, integrantes e fiéis telespectadores.

Na quarta, dia 20, à noite, na sede do Mourisco Pasteur, houve um jantar de confraternização, presidido por Althemar Dutra de Castilho que acabara de derrotar Ney Cidade Palmeiro nas eleições do clube. Quando a festa já começara, João Saldanha, chegou acompanhado de Luiz Mendes e Bebeto de Freitas – atual presidente do Botafogo e parente de Saldanha. Nesse exato instante, Manga levantou-se da mesa e caminhou decidido em direção a Saldanha. João, que sempre andava armado, sacou seu revólver e deu dois tiros em Manga, que só não acertaram o alvo porque Bebeto e Mendes seguraram seu braço de maneira mais do que providencial. Um terceiro tiro ainda foi disparado a esmo.

Manga, dotado de um porte físico extraordinário, fugiu em disparada e pulou, de uma só vez, o muro que cercava o Mourisco e desapareceu na noite. Sandro Moreyra, sempre galhofeiro, garantiu que Manga, naquela noite, batera o recorde mundial do salto em altura, pois que os muros do Mourisco mediam cerca de três metros.

Mas toda essa história tem uma razão de ser. A 19 de setembro daquele ano, a então CBD teve a infeliz idéia de nomear Castor para chefiar uma delegação brasileira que foi enfrentar o Chile no Estádio Nacional. O Brasil, dirigido por Zagallo, venceu o Chile por 1 a 0, gol de Roberto, contando em seu time com vários jogadores do Botafogo, como Manga, Moreira, Zé Carlos, Leônidas, Gérson e Roberto, o autor do gol. Daí surgiram os boatos de que Castor teria aliciado Manga caso Botafogo e Bangu fossem para a final do campeonato, como tudo indicava.

O fato é que Manga teve, como Saldanha disse, uma atuação suspeita. Num determinado lance, ao saltar com Del Vecchio, do Bangu, o goleiro alvinegro socou a bola contra as próprias redes, quando o placar (que seria o final) já era de 2 a 1 para o Botafogo. O árbitro deu falta de Del Vecchio mas a partir desse momento, Gérson passou a jogar de líbero, entre Zé Carlos e Leônidas. Aí não passou mais nada. Gérson mandou Carlos Roberto jogar no meio-campo e ficou ali como uma espécie de cão de guarda de Manga.

Até hoje Gérson silencia sobre o assunto. Mas Manga foi embora do Botafogo em 1969 – dez anos depois de chegar de Pernambuco. Hoje, 40 anos depois, o mistério permanece. Manga estava ou não vendido a Castor de Andrade?

Roberto Porto

PS.: Eu estava na redação do Jornal do Brasil acompanhando pelo rádio os acontecimentos do Mourisco. A arma de João Saldanha foi estrategicamente parar, escondida, no bolso do paletó de Althemar Dutra de Castilho. E Saldanha deixou o Mourisco no Kharman Guia de Luiz Mendes.