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Aquiles (ex-Marcílio Dias, Barroso e Internacional)

por Fernando Alécio
Diretor de Memória e Cultura do C. N. Marcílio Dias

Funcionário do banco Inco, Achilles Pagnoncelli chegou a Itajaí em 1959, aos 19 anos, transferido da agência de Concórdia, onde nasceu em 20 de setembro de 1940. Na cidade natal, jogava pelo time do Guaycurus e seu apurado faro de gol começou a despertar o interesse de clubes de outras regiões de Santa Catarina.

Jorginho e Aquiles no Guaycurus. Ambos jogariam depois no Marcílio Dias. Acervo Fernando Alécio.

A vinda para Itajaí foi uma operação articulada pelo diretor de recursos humanos do banco, Ary Garcia, que também era diretor do Marcílio Dias. “A transferência visava, no fundo, possibilitar que eu jogasse no Marcílio”, explicou o craque em depoimento ao livro Torneio Luiza Mello — Marcílio Dias Campeão Catarinense de 1963.

Ficha de Aquiles na Federação Catarinense de Futebol. Acervo Fernando Alécio.

Sua estreia se deu no dia 11 de outubro de 1959, na goleada de 5 a 0 aplicada pelo Rubro Anil sobre o Estiva, pelo Torneio Prefeito Carlos de Paula Seára, no estádio do Almirante Barroso, ao entrar no lugar de Antoninho Carvalho. Com o manto rubro anil, Aquiles (como seu nome era escrito nos jornais) não tardou para se tornar um dos ídolos da torcida. Artilheiro nato, formou com Idésio e Renê um trio que impunha terror aos goleiros. Juntos, os três atacantes somam mais de 300 gols pelo clube.

Renê, Idésio e Aquiles. Acervo Fernando Alécio

Em 1962, Aquiles foi um dos destaques do time no Campeonato Sul-Brasileiro. Marcou quatro gols na competição, o mais lembrado deles diante do Internacional de Porto Alegre, no 28 de fevereiro, uma quarta-feira à noite. Na época o Estádio Doutor Hercílio Luz não possuía iluminação noturna e o jogo foi realizado em Blumenau, no estádio da Alameda Rio Branco. Aos 32 minutos do segundo tempo, Sombra passou por três adversários e tocou para Idésio. Este serviu Aquiles, que chutou forte para as redes e decretou a vitória marcilista por 1 a 0.

Outro gol de Aquiles especialmente lembrado ocorreu em 17 de junho de 1964, contra o Coritiba do então jovem goleiro Raul Plassmann, no amistoso que marcou a inauguração do sistema de iluminação do Estádio Doutor Hercílio Luz. O Marcílio venceu por 1 a 0. Neste jogo, Aquiles foi observado pelo técnico do Internacional, Sérgio Moacir Torres, que indicou sua contratação ao clube gaúcho.

Gol de Aquiles no goleiro Raul Plassmann do Coritiba em 1964. Acervo Gustavo Melim.

Além de gols, Aquiles também colecionou títulos no Marcílio Dias, sagrando-se tetracampeão da Liga Itajaiense (1960, 1961, 1962 e 1963) e campeão catarinense de 1963. Participou de todos os 18 jogos da campanha do título estadual e marcou 11 gols, quatro deles no massacre de 8 a 1 sobre o Paysandu, em Brusque. Também deixou sua marca em outra goleada, novamente em Brusque, desta vez contra o Carlos Renaux, anotando um dos gols da vitória por 4 a 1 no jogo que garantiu o título com uma rodada de antecipação, no dia 23 de fevereiro de 1964.

Aquiles com a faixa de campeão do centenário (Liga Itajaiense de 1960). Acervo Fernando Alécio.

Duas semanas depois, em 8 de março de 1964, voltaria a fazer gols decisivos: balançou as redes duas vezes na final do torneio da Liga Itajaiense de 1963, na vitória por 3 a 2 sobre o Almirante Barroso, no Estádio Doutor Hercílio Luz. A vitória valeu ao Marcílio Dias a Taça Lauro Müller e a conquista do campeonato citadino pelo quarto ano consecutivo.

Internacional (1964)

O ímpeto goleador de Aquiles chamou a atenção de grandes clubes e ele foi contratado pelo Internacional em junho de 1964 por 10 milhões de cruzeiros, mas ficou pouco tempo em Porto Alegre. Fez seu primeiro jogo com a camisa colorada no empate sem gols contra o Grêmio Atlético Farroupilha, em Pelotas, no dia 9 de agosto de 1964, pelo Campeonato Gaúcho.

Carta de despedida da diretoria do Marcílio Dias a Aquiles, na qual destaca que foi um atleta exemplar. Acervo Gustavo Melim.

Onze dias depois, em 20 de agosto, o centroavante catarinense disputaria seu primeiro e único Grenal: vitória do Inter por 2 a 0, num amistoso realizado no Estádio Olímpico em homenagem ao Dia do Cronista. Naquela partida, Aquiles jogou improvisado no meio-campo, o que prejudicou seu rendimento no clássico. Aquiles atuou em apenas quatro jogos pelo Internacional, de acordo com o Almanaque Colorado, de Alessandro Moraes.

O Marcílio não viu a cor da grana da transferência e a cobrança virou uma anedota. Em 1966, o presidente Antônio Célio Moreira mandou o então diretor jurídico do clube, Delfim de Pádua Peixoto Filho (ex-presidente da Federação Catarinense de Futebol, falecido em 2016 na tragédia da Chapecoense) ir a Porto Alegre cobrar a dívida. O Inter alegou que não possuía dinheiro e ofereceu dois jogadores. Moreira não aceitou e ordenou que Delfim executasse a dívida judicialmente. “Foi a cobrança mais rápida na história da Justiça de Porto Alegre. O oficial era gremista e o juiz também”, contou Delfim, entre risos, em depoimento ao já mencionado livro sobre o título estadual de 1963.

Retorno ao Marinheiro

Em 1965, o atacante estava de volta ao Marcílio Dias. Permaneceu até fevereiro de 1967, quando rescindiu o contrato e recebeu passe livre. Em maio daquele ano, Aquiles “atravessou a avenida” e foi jogar no rival Almirante Barroso. Retornou pela terceira vez ao Marinheiro em 1969 e reencontrou Idésio, que também regressava ao clube naquela temporada. De acordo com dados apurados pelo pesquisador Gustavo Melim, Aquiles soma mais de 230 jogos e mais de 115 gols em suas três passagens pelo Marcílio Dias, estando entre os três maiores artilheiros da história do clube.

Aquiles: mais de 115 gols pelo Marinheiro.

Fonte: https://medium.com/marciliodias/aquiles-4fad8b7a0e1e

Edir Alves (ex-Noroeste, Marcílio Dias e Barroso)

Edir com a camisa do Marcílio Dias em 1965

Todo mundo sabe que Pelé iniciou a carreira no interior de São Paulo, precisamente na equipe juvenil do Bauru Atlético Clube, o Baquinho. O que pouca gente sabe, porém, é que além do menino que viria a se tornar o Rei do Futebol, aquele time também tinha um volante alto, forte, que jogava com raça e ao mesmo tempo com classe. E que fez história no futebol de Itajaí, onde reside até hoje.

Edir Alves tem muita história para contar. Filho de Crizanto Alves, jogador do Noroeste de Bauru, Edir nasceu naquela cidade em 9 de abril de 1939. Depois de passar pelo juvenil do Baquinho, foi para o Noroeste, onde conquistou uma vaga no time titular aos 17 anos e não tardou para despertar o interesse de grandes equipes.

Nos anos 1960, Edir resolveu provar a sorte no Sul do país. Jogou no Londrina e depois no Coritiba, ambos do Paraná. Mas o seu destino estava traçado com Santa Catarina. Certo dia, dirigentes do Marcílio Dias visitaram o Coxa em busca de reforços para o Marinheiro. “Eles precisavam de um zagueiro. Eu não era zagueiro, era volante, mas o então treinador do Coritiba disse que eu jogava em qualquer posição e o Marcílio Dias me contratou”, recorda.

Era o ano de 1964. Edir Alves chegou a Itajaí e logo se transformou num ídolo da torcida marcilista, graças ao seu bom futebol e ao seu bom caráter, que não foi abalado nem quando trocou o Marcílio pelo seu maior rival, o Clube Náutico Almirante Barroso. Edir explica como aconteceu. “Era a semana do início do campeonato e eu estava me preparando com meus companheiros do Marcílio. Depois do treino, fui procurado por um homem. Ele disse que o diretor do Barroso, seu Hélio Caldas, queria falar comigo”.

Edir conta que, mesmo ressabiado, foi ao encontro do cartola do clube rival, num restaurante onde hoje funciona o hotel Caiçaras. “Seu Hélio Caldas me fez uma proposta irrecusável. No princípio não acreditei que ele pagaria o que prometeu, mas ele colocou o dinheiro vivo em cima da mesa”. Edir não teve outra opção. “Conversei com os diretores do Marcílio e eles entenderam, pois não tinham como cobrir aquela oferta e eu era um profissional”, diz. “O curioso é que treinei a semana toda com o Marcílio e no domingo joguei pelo Barroso”.

Mesmo tendo deixado o Marinheiro para jogar pelo rival, Edir continuou sendo respeitado pela torcida rubro-anil, sentimento conservado até os dias de hoje. “As pessoas me paravam na rua, mas eu explicava e elas compreendiam. Afinal, sabiam que eu era um profissional. Nunca tive nenhum problema com a torcida, seja no Marcílio ou no Barroso”.

No Almirante Barroso, Edir Alves jogou dois anos (1965 e 1966), antes de ir para o Palmeiras de Blumenau e encerrar a sua carreira profissional no Flamengo de Caxias do Sul (RS), o atual Caxias. Depois de pendurar as chuteiras, Edir Alves continuou jogando futebol nas peladas da cidade. Só parou neste ano, por culpa do joelho. “Levei uma pancada forte no joelho direito e ele começou a doer sempre que eu jogava, por isso resolvi parar de brincar. Afinal, já tenho 66 anos”. Por outro lado, ele não quis mais saber de se envolver profissionalmente com o esporte. Teve uma rápida experiência como treinador do Barroso, ainda em 1970, mas depois não se interessou em seguir a carreira de técnico.

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http://baudomarcilio.blogspot.com.br

FONTE:

Adaptado do texto original publicado no blog “Baú do Marcílio” – http://baudomarcilio.blogspot.com.br