A história do futebol de Niterói, rica na revelação de atletas e jogos memoráveis, perdeu, há anos, uma de suas principais referências. Construído no “coração” de Icaraí, na Zona Sul da cidade, o estádio Caio Martins, ou Mestre Ziza, inaugurado na década de 1940, quem diria, virou uma espécie de “gigante” adormecido aos 74 anos de existência, completados no último dia 20, sem nenhuma comemoração.
Inaugurado em julho de 1941 junto com o ginásio poliesportivo e um parque aquático, o campo não recebe jogos oficiais de futebol desde 2004.
Atualmente, o estádio que pertence ao Governo do Estado, está cedido ao Botafogo através de um termo de concessão, desde 1988, com prazo de término em 2023. No mês passado, o clube iniciou uma tímida reforma, com vistas a uma possível utilização no Campeonato Carioca de 2016. A intervenção para a melhoria, é na realidade, uma espécie de ‘sopro’ de esperança para o histórico campo, quase vendido, no fim do ano retrasado à construtoras, interessadas em erguer no local um condomínio de apartamentos e um shopping. São dias de incerteza que nada lembram o “glamour” do passado de glórias.
Palco de partidas de várias edições de campeonatos estaduais, competições nacionais, e até da Seleção Brasileira, o campo, hoje, é utilizado pelo Botafogo apenas para treinos das divisões de base. Por causa dessa situação, o local por onde desfilaram craques de primeira grandeza do futebol brasileiro, passou os últimos anos vazio.
Para o presidente da Liga Niteroiense de Desportos (LND), Vanir Ferreira da Silva, o Dado, a concessão ao Botafogo é nociva aos clubes da cidade filiados à entidade, uma vez que a exclusividade dada ao Botafogo impede que equipes locais ou de regiões vizinhas possam realizar partidas no campo de Icaraí.
“É um contraste com a bela história que se construiu no futebol a partir do surgimento do estádio”, afirmou. Não são apenas os clubes de Niterói que gostariam de jogar em Icaraí. Em setembro do ano passado, duas equipes de São Gonçalo chegavam à final da 3ª Divisão estadual. Já classificados para a 2ª Divisão, Gonçalense e São Gonçalo Futebol Clube tiveram que disputar o título no Estádio do América, em Edson Passos, na Baixada Fluminense, bem longe de suas torcidas.
Em 2015, para a participarem da Segundona, as duas equipes enfrentaram o mesmo problema: foram obrigadas a jogar a competição fora de casa e a pagar aluguéis para essa finalidade. O vereador niteroiense Luiz Carlos de Freitas Gallo, que é ex-jogador profissional de futebol e faz do esporte uma das “bandeiras” de trabalho, manteve, nos últimos anos, uma autêntica “queda de braço” com o governo do estado e com o Botafogo em prol da revitalização do imóvel e formas de utilização, principalmente do campo, pelas equipes locais.
Gallo, que já foi administrador do Complexo do Caio Martins entre 1992 e 1996, diz que existem meios de manter o campo, após o fim da concessão ao clube alvinegro, através de novas parcerias. O vereador pretende, nos próximos dias, reapresentar em plenário o projeto que prevê o tombamento do estádio para que ele possa, num futuro breve, ser preservado não apenas como um patrimônio do esporte, mas também da história de Niterói.
Venda – No fim do ano retrasado, Gallo liderou um movimento em defesa da manutenção do estádio. Na época, o governo do estado estudava a possibilidade de negociá-la à iniciativa privada, o que acabou não ocorrendo, a partir da mobilização dos vereadores de Niterói e do Ministério Público Estadual.
“A municipalização seria a melhor forma de garantir a preservação daquele prédio histórico, estimular a prática do futebol e o surgimento de novos atletas”, declarou o vereador. A Assessoria de Imprensa da Suderj informou que o Botafogo, por deter a concessão desse local, em regime de comodato, é o responsável pela manutenção.
Na semana passada, o presidente do Botafogo, Carlos Eduardo Pereira, e o secretário estadual de Esporte e Lazer, Marco Antônio Cabral, fizeram reunião para acertar detalhes de uma possível utilização do estádio na disputa do Campeonato Carioca de 2016.
A direção do Botafogo busca, através da reabertura, uma alternativa em função da futura perda temporária do Estádio Nilton Santos, no Engenho de Dentro, do qual também tem concessão, e do Maracanã, ambos no Rio, por causa das Olimpíadas de 2016, cujos organizadores exigem exclusividade desses locais a partir de janeiro.
A tarefa, no entanto, não será das mais fáceis, já que existem também, na Justiça, ações de moradores contrárias à utilização do estádio, por causa de assaltos, furtos de veículos e brigas, engarrafamentos, entre outros motivos.
Campo não recebe um jogo oficial desde 2004
Muitas diferenças separam o Estádio Caio Martins do Complexo Esportivo – que inclui um ginásio poliesportivo e um parque aquático. No Estádio, a falta de manutenção do campo e do espaço físico nos arredores da área de jogo, até meados de junho, contrastou muito com o visual no restante do Complexo, que está bem cuidado e sem nenhuma pichação.
A sujeira deixada por vândalos existe do lado de fora de todos os muros do estádio. Até o mês passado, o problema mais grave estava na Rua Presidente João Pessoa, onde as paredes externas estavam tomadas por mato, do tipo ‘trepadeira’, que se espalhavam pelas calçadas, dificultando a passagem de pedestres. Mas o problema foi resolvido com a poda do mato e pintura de algumas partes.
Memória – No início de 2003, o Caio Martins chegou a passar por uma grande reforma para receber jogos do Botafogo pelo Campeonato Brasileiro da Série B. Com ampliação das arquibancadas, a capacidade de público foi aumentada para 15 mil pessoas, divididas entre arquibancadas de concreto e tubulares, cadeiras vips e camarotes. Importante na campanha que levou o clube de volta à Série A, o Caio Martins foi apelidado de ‘Caldeirão’ pela torcida alvinegra.
Um dos mais modernos painéis eletrônicos do Estado do Rio de Janeiro na época foi instalado no estádio. Mas em 2005, no entanto, as obras foram desfeitas. A última partida oficial no estadio ocorreu em 12 de dezembro de 2004, quando o Botafogo perdeu para o Corinthians por 2 a 1.
Escoteiro herói deu nome ao estádio
O Caio Martins foi inaugurado em 1941, atendendo ao desejo do então governador Ernâni do Amaral Peixoto, que queria que jogos do Campeonato Carioca fossem realizados em Niterói, a antiga capital Fluminense. No local existia um ‘canódromo’, onde aconteciam exposições e corridas de cães, e parte da estrutura das arquibancadas foram aproveitadas.
A escolha foi feita em função da boa localização para o acesso das torcidas do Rio, Niterói e cidades vizinhas. A partida inaugural aconteceu em 20 de julho daquele mesmo ano, e reuniu as equipes do Canto do Rio e do Vasco, pelo segundo turno do Campeonato Carioca.
O jogo tinha estímulo especial para a equipe niteroiense, que ganhava ‘casa própria’ para sediar seus jogos. Nas edições anteriores, o time alvianil, por não possuir campo oficial, tinha que jogar na capital (nas Laranjeiras, no estádio do Fluminense; no Andaraí, do América, e na Rua Ferre, do Bangu).
O jogo inaugural era também a chance do ‘Cantusca’ se reabilitar da goleada por 5 a 0 sofrida no primeiro turno, em São Januário. O Vasco jogou com Chiquinho, Jaú e Florindo; Figliola, Dacunto e Argemiro; Armandinho, Alfredo I, Villadoniga (Carlos Leite), Gonzalez e Orlando. Já o Canto do Rio entrou em campo com Valter, Draga e Degas; Vicentini, Portela e Canalli; Álvaro, Bocão, Geraldino, Beressi e Cussatti.
O gol inaugural foi do vascaíno Armandinho. Beressi empatou e Carlos Leite, que substituiu Villadoniga, fez o segundo para o Vasco, com Orlando fechando o placar para os cariocas em 3 a 1, diante de um público de mais de 10 mil pessoas.
Origens – Situado em área nobre da cidade, o estádio recebeu inicialmente, o nome do escoteiro Caio Viana Martins, que ficou conhecido nacionalmente por um ato heróico durante um grave acidente de trem na cidade mineira de Barbacena em 1938, que teve 40 mortos e dezenas de feridos, entre eles o próprio adolescente, aos 15 anos.
Caio, que mesmo ferido, ajudou os bombeiros e achou que outras pessoas precisavam de socorro mais do que ele, preferiu caminhar por quilômetros até o hospital. O esforço foi determinante para decretar sua morte, por hemorragia interna.
Além de Caio Martins, o outro homenageado na história do estádio foi Zizinho, craque do Flamengo popularmente conhecido como Mestre Ziza. Mas até hoje, os botafoguenses o tratam como Caio Martins, pelo fato de o jogador ter sido ídolo do clube rival e não do alvinegro.
FONTE: Jornal O São Gonçalo – Ari Lopes e Sérgio Soares
FOTO: Fundação de Arte de Niterói
Um estádio com uma história linda dessas , abandonado o Botafogo poderia aproveitar para realização de alguns jogos tipo campeonato carioca. No Brasil não se dão valor aos patrimônios como deveria. Assim como esses existes outros imóveis históricos sem utilização no Brasil .
O meu é curto
Minha tia construiu o Caio Martins em 1942 a primeira Prof Ed física mulher no Brasil
Formou a primeira turma de mulheres
E ficou 25 anos no poder
DALILA NICOLAU
PRIMEIRA CATEDRÁTICA EM BASQUETE