Durante anos, porém, a prática do novo jogo se limitou ao Colégio S. Vicente. Somente em 1901 ou 1902, houve tentativa para organização de um clube independente em nossa cidade. Foi ela de autoria de Salvador Fróes, nosso irmão, e de Bartlett James e Jorge Pereira de Andrade. O local das reuniões para fundação do clube batizado com o nome de “Clube Esportivo Petropolitano” foi um “chalet” que existia aos fundos do prédio nº 2 da avenida M.al Deodoro, nossa residência. Mas as atividades desse clube de tão grata memória para nós, se limitaram à ata de fundação e à escolha do campo que deveria ser o da Terra Santa. Morreu no nascedouro.
Pouco mais tarde, em 1905, já existiam, porém, três lugares onde o futebol era praticado: o Colégio S. Vicente, o Petropolitano F. C. e o Clube Esportivo Petropolitano. Esse Petropolitano F. C. foi um homônimo e antecessor daquele que viria a ser fundado em 1911 e que veio até os nossos dias, tendo seu campo localizado no morro da Igreja. O Clube Esportivo Petropolitano, por sua vez, nada tinha a ver com o seu homônimo a que já nos referimos, tendo sido fundado a 6 de janeiro de 1905 sob a presidência de Luiz Prates. Só o S. Vicente era o mesmo; consigne-se ainda, como curiosidade, que o Clube Esportivo Petropolitano tomou parte na reunião preparatória de 21 de maio de 1905 para fundação, no Rio de Janeiro, da Liga Metropolitana, juntamente com o América F. C., Fluminense F. C., Bangu A. C. e Football Atletic Club, fazendo-se representar por Aldemar de Faria e Edgard de Andrade Figueira.
De 1906 a 1910, nada se sabe sobre o ocorrido com o futebol em nossa cidade. Parece que, em todo esse tempo, só foi ele praticado nos colégios.
O ano de 1911 foi, porém, o da ressurreição. A 4 de julho, “Tribuna de Petrópolis”, como que prevendo a importância do acontecimento, publicava os seguintes versos escritos por Álvaro Machado:
Aos moços do Foot Ball Club
Bravos! bravos! muitas palmas!
Pela idéia genial!
Desse grupo, jovem d’almas,
Diretor do Foot Ball.
Divertimento hodierno,
Tem hoje grande procura;
Põe fogo ao frio no inverno,
Reteza a musculatura.
Referia-se o poeta ao Petropolitano F. C. cuja fundação estava marcada para a noite daquele dia.
Fundado o Petropolitano, começou o futebol a despertar o entusiamo que faltara por ocasião das tentativas anteriores. Havia um grupo de jogadores realmente da cidade e o clube era genuinamente petropolitano.
A estréia do Petropolitano se deu a 16 de julho de 1911, quando enfrentou a famosa equipe do Colégio S. Vicente de Paula, no campo deste, no Parque Imperial, vencendo-a espetacularmente por 5×0.
A 3 de setembro do mesmo ano, foi inaugurado o campo da Terra Santa, vindo a Petrópolis, pela primeira vez, uma equipe carioca. Foi o Roxura-Team que outra coisa não era senão o quadro do Fluminense F. C. – A equipe carioca venceu por 3×1.
A 7 de setembro, ainda em 1911, registrou-se a primeira excursão de um quadro de Petrópolis, indo o Petropolitano a Juiz de Fora para enfrentar o Grambery, do qual perdeu por 3×0.
A 25 de abril de 1912, com a cisão ocorrida no esporte carioca, o Petropolitano F. C., em companhia do Botafogo F. C., S. C. Americano, Catete F. C., Paulistano F. C., S. C. Germânia e Internacional F. C., todos do Rio, fundou a Associação de Futebol do Rio de Janeiro, passando a disputar o campeonato promovido pela entidade dissidente. Mas, após a disputa de dois jogos, o nosso clube se desentendeu com o Botafogo e retirou-se da Associação.
Tentou, então, o Petropolitano, com a cooperação do Luso-Brasileiro F. C. e do S. Vicente F. C., fundar a Associação Petropolitana de Esportes Atléticos que, no entanto, teve a duração da rosa de Malherbe.
Já no ocaso da primeira fase de sua vida, o Petropolitano F. C. assistiu, a 15 de julho de 1912, nascer o Círculo Católico S. Sebastião que outro não é que o atual S. C. Cascatinha. Chegaram os dois a terçar armas, jogando a 3 de agosto de 1913 uma partida no campo do 2º distrito. Foi canto de cisne do Petropolitano.
A 9 de fevereiro de 1913, sob a presidência de Manuel de Souza Matos, foi fundado o Esporte Clube Petrópolis, grêmio esse que, em matéria de popularidade, foi um autêntico antecessor do nosso Serrano F C. O Esporte, como era ele conhecido, teve dois campos: o primeiro à rua Carlos Gomes inaugurado a 2 de março de 1918 e o segundo na Terra Santa inaugurado a 16 de agosto de 1914. Sua vida foi intensa, embora curta. A 10 de outubro de 1915, derrotando o S. C. Internacional por 7×1 em jogo convencionado como válido para conquista do título de campeão petropolitano, corôou seus feitos esportivos com o galardão de primeiro pré-campeão de futebol da cidade. Mas esse galardão parece lhe ter pesado muito, porque, logo após a conquista, passou a definhar, até desaparecer com a entrega de seu campo ao Serrano F. C.
A 1º de outubro de 1913, com os remanescentes do Petropolitano F. C., foi fundado o Esporte Clube Koeler que já a 8 de fevereiro do ano seguinte inaugurava seu campo na Terra Santa, o mesmo que pertencera ao Petropolitano e viria a pertencer ao Esporte. O Koeler teve vida curta, mas gloriosa. Seu feito máximo foi um jogo realizado em Campos em que derrotou o adversário, mas que não acabou, por imposição da assistência, enquanto o clube local não passou à frente no escore. Durou a pugna quase 3 horas!
A 15 de novembro de 1914, sob a presidência de Rafael Ricci, fundou-se no bairro de Alto da Serra, o S. C. Internacional, cujo primeiro campo foi localizado no pequeno terreno situado entre as ruas Tereza, C.el Albino de Siqueira e Chile, datando de 3 de janeiro sua inauguração. O chamado clube carijó tem uma particularidade: além de campeão das lides esportiva, é campeão absoluto das praças de esportes. Nada menos de quatro teve ele até agora: a primeira, já referida; a segunda, em frente à estação do Alto da Serra, inaugurada a 13 de julho de 1919; a terceira, no terreno da CBEE, à rua C.el Albino Siqueira, inaugurada a 6 de março de 1921; e a atual inaugurada no ano passado.
Na mesma data do Internacional, era fundado no bairro do Itamarati, 2º distrito, o Itamarati F. C., outro clube de grande evidência nos primórdios do nosso futebol.
O 29 de junho de 1915 é um marco glorioso da história esportiva de Petrópolis. Nesse dia, enquanto a cidade em festas comemorava a data de São Pedro e São Paulo, nascia humildemente, na Terra Santa, o Serrano F. C. Local humilde, fundadores humildes e ambiente humilde, nada indicava que ali estava o clube predestinado aos maiores feitos do futebol petropolitano. Vencidas as primeiras dificuldades, alojou-se o Serrano no campo da rua Visc. de Itaboraí logo que o Esporte Petrópolis o deixou, para proporcionar aos petropolitanos, naquele local, durante cerca de três décadas, os mais impressionantes e inesquecíveis espetáculos esportivos. Foi de lá, daquele saudoso e pitoresco local, que o nome do Serrano se projetou, primeiramente pela cidade e depois para todo o Brasil, mercê das grandes vitórias nele alcançadas. Mas, como “não haja bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe”, a 5 de agosto de 1945, disputando com o Rio Branco o jogo do campeonato da cidade, o Serrano se despediu do campo da Terra Santa. E fe-lo com uma vitória de 3×1. Hoje, como se sabe, o Serrano está instalado magnificamente no Ingelhein, mas o torcedor veterano não esquece, temos certeza, o campo da rua Visc. de Itaboraí de tão gratas recordações …
Foi a 6 de julho de 1915, quando os bairros do Alto da Serra, Cascatinha, Itamaratí e Terra Santa já possuiam seus clubes, que o Morin fundou o seu Cruzeiro do Sul F. C. Em meio de grande e justificada alegria, foi inaugurado a 30 de abril de 1916 o pequenino campo do populoso e pitoresco bairro.
De 1915 até meado de 1918, pouco há a dizer da atividade futebolística. Os acontecimentos máximos foram os pré-campeonatos Esporte Clube Petropolis x Internacional em 1915, já por nós descrito; e o Internacional x Serrano disputado a 2 de julho de 1918 que terminou com a vitória do alvi-cerúleo.
Em meado de 1918, havia na cidade, em plena atividade, cinco clubes: S. Sebastião, Internacional, Itamarati, Serrano e Cruzeiro do Sul. Mas não se entendiam e não queriam ouvir falar em fundação de liga após os fracassos anteriores, um dos quais de Manuel Matos e Carlos Gomes Moreira, dois baluartes do esporte da época.
Eis, porém, que entra em cena Euclides Raeder. E tudo muda, tudo anda, tudo progride. Prático, realizador, persistente, enérgico e diplomata, Euclides Raeder foi o taumaturgo que deu fé aos céticos, ânimo aos fracos e disciplina aos revoltados. Em poucos dias, estava fundada a encantada Liga Petropolitana de Sports. Mas a atividade do “feiticeiro” Euclides Raeder não parou a 30 de julho de 1918 com a fundação da Liga. A 1º de setembro, um mes após, já era realizado o Torneio Início; mais uma semana, a 8, era reconhecida a novel entidade pela Liga Esportiva Fluminense; e, outra semana passada, ou seja a 15 de setembro, tinha começo a disputa do campeonato da cidade. Uma sucessão vertiginosa de acontecimentos que encantavam o petropolitano, mas deixavam-no, pelo imprevisto, como que atordoado … Euclides Raeder realizara o que a quase todos parecera impossível e que para muitos foi um milage. Um milagre, porém, inspirado pelo amor à terra natal, nada mais!
Com a fundação da Liga Petropolitana de Sports, ficou inaugurada a fase principal do esporte petropolitano, a fase definitiva, aquela que, embora todos os tropeços sofridos, chegou aos nossos dias com a apreciável bagagem, só no futebol, de 39 campeonatos anuais realizados sem interrupção. É verdade que a atual Liga Petropolitana de Desportos não é bem aquela fundada em 1918 que teve de ser sacrificada em 1927 para pacificação do esporte local. Mas o espírito das duas é o mesmo e a atual é a herdeira natural de todas as melhores tradições da antiga. As nossas homenagens, portanto, a ambas e, particularmente, o nosso muito obrigado aos homens de 1918, que, com o grande Euclides Raeder à frente, congregaram e oficializaram o esporte citadino, abrindo-lhe novos horizontes e traçando-lhe o rumo definitivo do progresso e da glória
Tentemos, agora, um ligeiro retrospeto dos 39 campeonatos anuais. O campeonato da cidade, ora chamado de efetivos, ora dos 1.os quadros, teve como vencedores: o Serrano por dez vezes (1918. 1919. 1920. 1930. 1931. 1932. 1933. 1936. 1939 e 1945); o Internacional por oito vezes (1921. 1922. 1927. 1928. 1929. 1941. 1946 e 1951); o Cascatinha também por oito vezes (1934. 1935. 1937. 1938. 1943. 1948. 1949 e 1950); o Petropolitano por seis vezes (1924. 1925. 1926. 1940. 1942. 1944); o Cruzeiro do Sul (1953 e 1954) e o Rio Preto (1955 e 1956) por duas vezes cada um; e o Itamarati (1923), Palmeira (1947), e o Corrêas (1952) uma vez cada um. No torneio dos reservas ou dos 2.os quadros, o Cascatinha se laureou dez vezes; o Serrano, oito; o Petropolitano, sete; o Internacional, cinco; o Cruzeiro do Sul, quatro; o Itamarati, três; e o Pau Grande e o Palmeira, uma vez cada um. O torneio dos 3.os quadros, só disputado de 1919 a 1922, teve como vencedores o Grêmio Juvenil, o Serrano, o Internacional e o Petropolitano. O torneio dos Juvenis, inaugurado em 1919, suspenso em 1920 e restabelecido em 1935, tem tido como vencedores: o Serrano por nove vezes; o Petropolitano, por cinco; o Internacional, por quatro; o Cascatinha, por duas; e o Coronel Veiga e o Palmeira por uma vez cada um. O torneio dos infantis instituído em 1952 tem tido como vencedores, o Petropolitano por duas vezes e o Cascatinha por igual número de vezes.
Petrópolis não tem sido muito feliz na disputa do campeonato fluminense de futebol. Afora os anos de 1945 e 1946 em que, respetivamente, Petropolitano e Serrano, representando a cidade, conquistaram o título máximo, sómente em 1949 conseguiu a Liga Petropolitana de Desportos laurear-se no certame estadual. Em 23 anos de disputa, há de se convir que três campeonatos são alguma coisa; mas muito mais poderia ter sido conseguido, é inegavel.
Fonte:Acervo Histórico de Gabriel Kopke
Olá Lise Moura, obrigado por prestigiar o História do Futebol!
Respondendo a tua pergunta: o ‘Hino oficial’ do Serrano F. C., foi escrito pelo Geraldo Ventura Dias!
Att.
Gostaria de saber quem é o autor do hino do Serrano?