AS ESTREIAS QUE EU VI (parte III)

Com este, encerro os artigos sobre as estreias do Brasil em Copas que já assisti. Obrigado pelas leituras e pelos comentários!

2002 – Brasil x Turquia

Nem todas as estréias anteriores bastaram para aliviar a minha ansiedade com o primeiro jogo do Brasil na Copa de 2002. Primeiro porque eu confiava muito na família Scolari, e depois pelo ineditismo de viver um Mundial que, para nós, seria todo de madrugada. Durante um mês inteiro eu troquei o dia pela noite. Como aqui, na serra catarinense, o inverno é muito rigoroso, tomava umas quatro canecas de chocolate quente com conhaque entre o primeiro jogo, às duas da manhã, e o último, ao amanhecer.
Passei a madrugada da estreia em frente à lareira, e estava com muito sono quando rolou a bola para Brasil e Turquia. Como a seleção demorou a engrenar, foi duro dominar o sono, já que a inversão do fuso horário ainda estava no começo. Por isso me assustei quando o carequinha Sas apareceu na cara de Marcos e soltou um petardo de canhota no último lance do primeiro tempo, para abrir o placar. Foi como se tivesse levado um chute na cara: – Acorda, rapaz, isso é Copa do Mundo!

Felizmente a seleção também acordou, e logo no início do segundo tempo Rivaldo dominou pela esquerda, viu Ronaldo se enfiando entre três zagueiros e a bola viajou em curva, até Ronaldo saltar entre dois beques para esticar a perna direita e empatar o jogo. A vitória sofrida veio no final, quando Luisão sofreu uma falta fora da área, mas que o árbitro coreano mandou botar na cal. Rivaldo chutou seco, Rustu saltou em branco e o Brasil arrancou para o penta. E eu, feliz, fechei a janela e dormi até às quatro da tarde.

Brasil 2×1 Turquia. 3 de junho de 2002. Local: Estádio Munsu, Ulsan, Coreia do Sul Público: 33.842 Árbitro: Kim Young Joo (Coreia do Sul) Assistentes: Visva Krishnan (Singapura) e Vladimir Fernandez (Eslováquia) Gols: Hasan Sas(TUR) 45’+2′, Ronaldo 50′, Rivaldo 87′ BRASIL: Marcos, Lúcio, Roque Junior, Edmílson; Cafu, Gilberto Silva, Juninho (Vampeta 72′), Rivaldo, Roberto Carlos; Ronaldinho Gaúcho (Denílson 67′), Ronaldo (Luizão 73′). Técnico: Luiz Felipe Scolari. TURQUIA: Rustu Recber, Korkmaz (Mansiz 66′), Akyel, Alpay; Unsal, Ozat, Basturk (Davala 65′), EmreEmre, Tugay (Erdem 88′); Sukur, Sas. Técnico: Senol Gunes. Cartão amarelo: Akyel(TUR) 21′, Unsal (TUR) 24′, Alpay (TUR) 44′, Denílson 73′ Expulsões: Alpay(TUR) 86′, Unsal(TUR) 90’+4′
2006 – Brasil x Croácia

O quadrado mágico. O futebol de outro planeta. O time mais ofensivo do mundo. Todas as bobagens faladas antes da Copa de 2006 criaram a sensação de que o Brasil tinha um escrete mágico, uma mistura de 1982 e 1970, que trucidaria os adversários com um sorriso no rosto, um sorriso a expor os dentões dos Ronaldos. Porém, já na estreia, os jogadores da Croácia com seu heróico uniforme xadrez (assunto para outro artigo) se espalharam pelo gramado como peças em um tabuleiro, ocuparam os espaços e o Brasil não acho o seu futebol mágico, nem naquele dia, nem no resto da Copa. O quadrado mágico virou dois meias apáticos e dois atacantes gordos, que seriam devorados por Zinedine Zidane nas quartas-de-final.

Mas para não dizer que não falei das flores, foi um golaço de Kaká, de canhota, que decidiu aquele primeiro jogo, e nos deu a ilusão de que o pouco futebol era uma consequencia do nervosismo da estreia. Talvez por esperarmos tanto tempo por uma Copa, nos recusemos a ver a verdade, como aquela que brotou no gramado do Estádio Olímpico de Berlim naquele dia 13 de junho: o quadrado mágico era um engodo e a volta para casa seria sem nenhum troféu na bagagem.

Brasil 1×0 Croácia. 13 de junho de 2006. Local: Estádio Olímpico (Olympiastadion), Berlim
Público: 66.021 Árbitro: Benito Archundia (México) Assistentes: José Ramirez (México) e Hector Vergara (Canadá) Gol: Kaká (43 minutos do 1º tempo) BRASIL: Dida, Cafu, Lúcio, Juan, Roberto Carlos; Émerson, Zé Roberto, Kaká, Ronaldinho Gaúcho; Ronaldo (Robinho) e Adriano. Técnico: Carlos Alberto Parreira. CROÁCIA: Pletikosa, Simic, Robert Kovac, Simunic, Srna, Tudor, Niko Kovac (Jerko Leko), Niko Kranjcar, Babic, Klasnic (Olic) e Prso. Técnico: Zlatko Kranjcar. Cartões amarelos: Émerson (Brasil); Robert Kovac, Tudor e Niko Kovac (Croácia)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *