MANGA, A CRONOLOGIA DE UM MITO

MANGA, A CRONOLOGIA DE UM MITO

Aílton Corrêa Arruda, o Manga para o torcedor brasileiro, Manguinha para os mais próximos como Sandro Moreyra, que o imortalizou como personagem dos seus causos ou Manguita para os Gaúchos, nasceu no dia 26 de abril de 1937, no bairro do Pina, em Recife/PE.

Logo no início de carreira, ainda nos juvenis do Sport Recife em Pernambuco o jovem Aílton começava a mostrar sua excepcionalidade como goleiro, ajudado pelo aprendizado teatral trazido de quando trabalhou num circo-teatro em Recife. Ao conquistar o título pernambucano de juniores de 1954, sem sofrer nenhum gol, começa a chamar a atenção dos frequentadores da Ilha do Retiro neste início de década de 50.

Sempre notado desde então e com a carreira ascendendo, conviveu com goleiros como Carijó, Moreira e Osvaldo Baliza, estreando na equipe principal do Sport Clube do Recife em 1957, durante uma excursão à Europa, onde Osvaldo Baliza, goleiro titular, havia se contundido logo na primeira partida do time pernambucano em solo europeu, contra o Sporting Lisboa. O técnico Dante Bianchi resolveu então promover Manga, que ainda pertencia aos juniores do rubro-negro pernambucano e em 1957 estréia pelo Sport Recife jogando contra o Macabbi Haifa de Israel, vencendo por 5×1.

“A primeira vez que os dotes artísticos de Manga ficaram evidentes foi na final do Torneio Início de Pernambuco em 1958. Clássico das Multidões. O Santa Cruz havia se consagrado Supercampeão do estado em uma final contra o Sport. Sport que lutava pelo tricampeonato. Manga foi considerado culpado pela derrota rubro-negra. Aquela calúnia apoquentava seu juízo e Manga passou a semana torcendo para o torneio – realizado na Ilha do Retiro – proporcionar-lhe a tão sonhada vingança.

 Quis o destino que o Santa Cruz eliminasse o Náutico e o ASAS. Coube ao Sport mandar pra casa mais cedo o Íbis e o Ferroviário. Pronto. O cenário estava pronto para a estréia de Marlon Manga, nome de picadeiro do goleiro que idolatrava Marlon Brando.

 Com arbitragem do uruguaio Ramon Charquero, o Sport alinhou Manga; Bria e Osmar; Zé Maria, Mirim e Índio; Mainha, Pacoti, Traçaia, Walter Morel e Eliezer. O Santa Cruz formou com Mauro; Breno e Diogo; Zequinha, Clóvis e Roberto; Didi, Hildebrando, Paraíba, Mituca e Newton Adrião.

O jogo foi sensacional. Traçaia abriu o escore e Paraíba empatou. Traçaia colocou o Sport novamente em vantagem e com 2 a 1 no marcador surgiu o Marlon Manga. Pois o Santa empatou em gol contra de Mirim. Paraíba na corrida entrou no gol para confirmar o tento e chocou-se com Manga. Paraíba fraturou a clavícula. Manga ficou desmaiado no chão.

Paraíba não retornou ao jogo. E depois de alguns minutos de silêncio na torcida do Leão, Manga se levanta com a ajuda do árbitro Ramon Charquero e diz que vai continuar jogando. Manga que manquitola com a mesma expressividade teatral que demonstraria no Beira-Rio quase vinte anos depois.

O Santa Cruz imagina que Manga está ferido e chuta de longe. Manga defende e cai no chão em espasmos de dor. Mituca manda bala. Manga espalma com um grito. Clóvis toca no canto e Manga num esforço supremo desvia para escanteio. O público chora nas arquibancadas. O tricolor está desnorteado.

Foi então que Eliezer bate uma falta. No ângulo de Mauro. Sport 3 a 2. O placar não se modifica. A sirene da Ilha do Retiro explode no final da peleja. Manga vai trambecando para os braços da multidão.

Pouca gente nota um sorriso discreto no craque.” (Blog de Roberto Vieira)

Permaneceu no Sport Recife até 1959, quando transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi defender o Botafogo. O goleiro estreou pelo clube em 18 de julho de 1959, aos 22 anos de idade, com um 2×0 sobre a Portuguesa-RJ, pelo Campeonato Carioca, no Maracanã, com gols de Quarentinha e Zagallo. Disputou a Copa do Mundo de 1966 pela Seleção Brasileira, tendo sido titular.
Por seu estilo arrojado, teve as mãos deformadas devido a tanto trabalho. Em 1967, acusado por João Saldanha de ter se vendido a Castor de Andrade patrono do Bangu, foi tomar satisfações e teve que pular um muro de 3 metros de altura em General Severiano para fugir de uma saraivada de balas. Desgastado, ainda jogou em 1968, despedindo-se em 28/04/1968, com uma derrota de 0 x 2 para o Vasco da Gama pelo Campeonato Carioca, no Maracanã. No total foram 442 jogos oficiais defendendo a camisa alvinegra, sofrendo 394 gols.

Cara marcada pela varíola, magro, alto, mãos enormes, e com invejável impulsão, contorcia o corpo no ar para espalmar a conhecida bola, pegador de pênaltis e com invejável domínio sobre as traves, partiu para o Uruguai, contratado pelo Nacional em maio de 1968.

Na República Oriental do Uruguai, consolidou seu sucesso e colecionador de títulos, conquistando o continente e o mundo no ano de 1971, e até hoje considerado um dos melhores goleiros que jogaram naquele país.

 Manga chegou ao Inter em 1974, aos 37 anos, ia para o Corinthians, mas foi pirateado na escala do avião em Porto Alegre. Pelo colorado gaúcho Manga chegou a glória de dois campeonatos Brasileiros, três campeonatos regionais ajudando o clube a conquistar seu octacampeonato regional. Em 1977 o clube contrata Benítez, goleiro da seleção Paraguaia o que imediatamente revolta Manga que não aceita ser reserva, somados a perda do campeonato Gaúcho, em 18 de setembro de 1977, no Gre-Nal de número 234, onde o grande goleiro é expulso de campo. Termina ali a trajetória deste grande goleiro no Estado do Rio Grande do Sul.

Acostumado a desafios o renomado goleiro recebe o convite de Carlos Castilhos, técnico do Operário de Campo Grande para juntamente com vários jogadores do clube gaúcho formar um grupo coeso para elevar o nome do futebol matogrossense, neste momento ainda unificado em um único Estado da Federação. Estréia em 23/11/1977 frente ao Caxias pelo Campeonato Brasileiro com um empate em 3 x 3 em Caxias do Sul. Leva o clube a um terceiro lugar, fato inédito  até os dias de hoje. No ano seguinte disputa novamente o Campeonato Brasileiro mas deixa o Centro Oeste e vai para a estrada novamente onde é contratado pelo Coritiba no Paraná. Neste ano o Coritiba forma um time maravilhoso e numa final de campeonato emocionante, Manga defende dois pênaltis dos atleticanos, sendo campeão Paranaense de 1978 em pleno Antônio Couto Pereira. Mas tudo o que Manga tinha de bom em campo, tinha de problema fora dele. Durante a se­­mana das finais, simulou uma contusão para forçar Evangelino da Costa Neves a aumentar seu bicho pela conquista. No intervalo da finalíssima, disse que não poderia voltar e conseguiu mais dinheiro para defender pênaltis supostamente no sacrifício.

“Ele não tinha contusão ne­­nhuma. Inventou aquilo tu­­do para conseguir mais di­­nhei­­ro. Tudo que recebia gastava em corrida de cavalo e sempre ha­­viam mulheres esperando ele fora do estádio para cobrá-lo”, recorda Cláudio Marques, ex lateral do coxa.

Em 1979, voltou à capital gaúcha para ser campeão estadual pelo Grêmio, onde ficou até 1980,

Já com 43 anos, saiu do país indo para o Equador onde defendeu durante três anos como jogador o Barcelona de Guayaquil, sendo bi-campeão Equatoriano (1980,1981). No Equador atuou com os também, brasileiros Escurinho, Chicota, Gardel, Toninho Vieira, Nei Celestino, Príncipe Jair, Vasconcelos, e com os treinadores Paulo Sérgio Poletto, Otto Vieira e Reinaldo Borba Filho.

 Abandonou os gramados mas permaneceu no Equador como treinador de goleiros sendo responsável pela formação de diversos titulados da seleção daquele país. Teve breve experiência de trabalho em Miami, onde moram filho e netos. Atualmente prepara sua volta triunfal para o país onde nasceu para trabalhar como incentivador do futebol, representante de marketing do Sport Club Internacional, sem evidentemente passar sua enorme experiência para os jovens goleiros do clube Colorado.

 

TÍTULOS

Sport (1955-1958)

Botafogo (1959-1969) 442j/ 394g

Nacional (1969-1974)

Internacional (1974-1977)

Operário-MS (1977)

Coritiba (1978)

Grêmio (1979-1980)

Barcelona de Guayaquil (1980-1982)

 

 

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