Após o futebol ganhar espaço em Manaus, era chegado a hora de atravessar alguma ‘fronteiras’. Afinal, já tinha recebido a visita de times provisórios formados por marinheiros ingleses quando seus navios aportavam na cidade, como também equipes de outros estados, como o time do Sport Club Pará, de Belém, que aqui chegou em 1909 ou o Combinado Paraense, que realizou uma série de jogos, em 1918.
Agora era o momento de um clube amazonense ultrapassar as linhas do Estado e enfrentar o “inimigo” fora dos seus recintos. Após uma tentativa dos dirigentes amazonenses, em 1913, de organizar um combinado local para enfrentar o Belém do Pará, mas por falta de organização, apoio e verba, acabou fracassando.
Então, seis anos depois, finalmente o dia tinha chegado. Em 1919, o responsável por esse pioneirismo coube ao tradicional Nacional, que tinha se sagrado tetracampeão amazonense (1916, 1917, 1918 e 1919). A convite dos ‘cartolas’ do Paysandu, a equipe nacionalina seguiu para Belém, no dia 9 de dezembro de 1919, tendo o senhor Mário Bayma foi designado como chefe da delegação, além dos jogadores: Nery, Fernandes, Antoniano, Amadeu, Eduardo, Jurandir, Orlando, Secundino, Craveiro, Leonardo, Rodolpho e Pequenino.
A população foi em peso ao porto acompanhar a partida dos jogadores. Cerca de 2 mil pessoas estavam presentes, ao som da banda de música da força policial do estado. Após dias de viagem,o Tejo singrava as águas da Baía do Guajará, aportando em Belém.
PRIMEIRO JOGO FORA DE MANAUS
O 1º jogo foi marcado para o dia 21 de dezembro de 1919, contra o Paysandu, no estádio do próprio Paysandu, na Avenida Tito Franco. O local estava completamente lotado pois, dois dias antes, já haviam se esgotado os ingressos. As escalações:
NACIONAL: Nery; Fernandes e Rodolpho; Amadeu, Eduardo e Jurandir; Orlando, Secundino, Azevedo, Dantas e Leonardo.
PAYSANDU: Joãosinho; Genaro e Garcia; Xavier, Suíço e Guimarães; Zito, Aristides, Leôncio, Mimi Sodré e Arthur Moraes.
O árbitro designado para o duelo foi o senhor Galdino Araújo. Foi posto um prêmio para o time vencedor, a Taça Moreira Gomes. Iniciado o jogo, o Paysandu abre a contagem aos 15 minutos, com um forte chute de Zito. Logo depois o time da casa ampliava, quando Leôncio driblou Rodolpho e marcou o segundo gol.
Um minuto depois, Aristides balança a rede dos amazonenses pela terceira vez. O nacionalino torce o pé gravemente e é levado por uma turma de escoteiros para fora do campo. E assim terminou o 1º tempo com a vantagem do Paysandu por 3 a 0.
Na etapa final, veio a reação do Nacional. Rodolpho marca o primeiro dos amazonenses logo aos quatro minutos. Jurandir, na sequência, assinala o segundo. Mas o Paysandu não estava morto e Aristides cola a bola na rede de nery, fazendo o quarto gol de sua equipe.
Já perto do final, Leôncio (em impedimento) fecha a contagem para o time local, marcando o quinto e último gol. Placar final: PAYSANDU 5 X 2 NACIONAL.
Após o fim do jogo,os nacionalinos foram bastante aplaudidos pela torcida adversária. O segundo jogo do Nacional foi realizado no dia 25 de dezembro, no campo do Paysandu, contra o time do Banco Ultramarino. O time amazonense estava desfalcado de Fernandes, Jurandir e Azevedo que eram alguns de seus melhores atletas
Enfraquecido,o Nacional acabou derrotado pelos bancários por 3 a 0. O terceiro e último compromisso do Nacional no Pará foi contra o seu xará: o Nacional de Belém. O jogo realizou-se no dia 28 de dezembro e o clube amazonense venceu o Nacional Paraense por 3 a 1, gols assinalados por Craveiro, Orlando e Rodolpho.
Novamente nesse jogo, o Nacional esteve desfalcado de seus principais atletas. Após a série de três jogos, os atletas manauaras se despediam de Belém e embarcavam no vapor “Tejo” rumo á Manaus.
Chegaram em Manaus precisamente ás 17 horas do dia 11 de janeiro de 1920. Um grande número de pessoas os aguardava no porto. Após desembarcar, os jogadores, acompanhados pela multidão, se dirigiram até a sede do clube onde muitos torcedores os aguardavam, como também a banda musical do Luso que os recebeu com seu vasto repertório.
À noite, houve na sede do Nacional animado baile que varou a madrugada. Dos jogadores do Nacional, apenas Rodolpho e Pequenino não voltaram. O primeiro foi contratado pelo Clube do Remo e o segundo ficou em um hospital para ser operado.
Era a primeira vez na história que um clube do futebol amazonense visitava e jogava em outro estado brasileiro, abrindo caminho para que outros clubes de Manaus fizessem o mesmo.
FONTE: Professor e Pesquisador do Futebol Amazonense, Gaspar Vieira Neto