Obdulio Varera

Em 1950, onze uruguaios derrotam o Brasil inteiro sob o comando de um jogador que mostrava uma raça e amor a camisa do tamanho do maracanã. Era Obdulio Varela que sempre dizia a seus companheiros – “É só para ganhar que se vive e se joga”.
Obdulio Jacinto Nunes Varela nasceu em 1917, num humilde bairro de Lateja, em Montevidéu. Ajudava a sustentar a família de muitos irmãos trabalhando desde menino como engraxate, entregador de pão e mensagem. Freqüentou a escola primária por três anos e, depois, tornou-se pedreiro. Nas horas de folga, atuava pelo Fortaleza, um time do bairro comercial. Um dia surgiu a oportunidade para um teste no Wanderers. Obdulio ganhava a chance de vencer. Logo depois passou para o Penarol. Seu futebol de técnica aliada a uma incrível raça o levara, finalmente, a seleção uruguaia. Nos primeiros anos aprendeu várias lições. Para ganhar um jogo é preciso garra. É preciso ter em campo 11 homens. Um grito bem dado é um jogador a mais dentro do campo. O que importa é ganhar. Para isso se joga e se vive.
No dia 16 de junho de 1950, o Brasil era o franco favorito para a decisão da Copa do Mundo de 1950, no maracanã. Quando Friaça assinalou o primeiro gol, a torcida explodia onde duzentas mil pessoas acreditavam que ali ia começar a goleada. Obdulio foi buscar a bola no fundo das redes, passou pelo juiz e reclamou impedimento. Esbravejou, esperneou, pediu intérprete, tudo para esfriar o entusiasmo do Brasil. Depois, no caminho até o meio do campo, tratou de sacudir seu próprio time. Pôs-se a gritar com todos seus companheiros, exigindo raça e amor à camisa. Aos 25 minutos, ele dá um passe para Ghigia que cruza e Schiafino empata. Quando faltavam 10 minutos Ghigia vai a linha de fundo e, quase sem ângulo, faz 2×1 para o Uruguaio. O estádio é um túmulo. De longe se pode ouvir a comemoração de Obdulio – “Fue gol, Perrito, fue gol”, berrava ele para Ghigia e ambos se abraçam demoradamente.
Fim de jogo. A Jules Rimet demora a ser entregue. O capitão se irrita – “Com Copa ou sem Copa os campeões somos nós”. Enfim, recebe a Jules Rimet e comanda a volta olímpica. Com a mesma raça e alma de sempre. Obdulio Varele é um desses heróis do futebol que jamais será esquecido.

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