Achei interessante e repasso aos amigos,
O Castigo de Ser Pequeno
Autor:Viana Filho
Quando o Clube do Remo alterou o horário do seu jogo com o C.S. Sergipe pelo Brasileiro do Grupo B, usando geradores de energia elétrica, era óbvio que a responsabilidade pela iluminação do Estádio “Curuzú” seria do clube paraense. Entretanto, a iluminação “pifou” quando faltavam nove minutos para o término do jogo em que o Remo evitava a degola pois vencia por 1 X 0. Nove minutos em um jogo de futebol podem ocorrer muitas alterações do seu resultado. São comuns partidas renhidas serem decididas até em períodos de descontos. Pois, nesse jogo o juiz encerrou o jogo por falta de iluminação e o caso foi parar no Tribunal da CBF, flagrante benefício do Remo era tamanho com aquela interrupção, que poucos duvidavam que o resultado do jogo seria mantido. Mas o Tribunal deu ganho de causa ao infrator e deixou o Sergipe na zona de degola! Porque? Faltou interesse dos dirigentes do Sergipe em continuar na série B do Brasileiro ou (mais uma vez) a sina histórica do Estado de Sergipe prevaleceu e fomos “engolidos” pelos interesses dos “grandes”?
A SINA É MUITO ANTIGA
A importância do Estado de Sergipe (território pequeno incrustado na discriminada região nordeste) nunca foi levada em consideração, há mais de um século – desde quando conseguimos nos separar territorialmente da Bahia. O poderio político do vizinho Estado resultou numa perda territorial enorme, diminuindo em quase um terço a área original de Sergipe, reduzindo-o ao menor Estado da Federação. No futebol, o Estado de Sergipe pouca (ou quase nenhuma) influência exerceu nas decisões da CBF (antiga CBD). Quando, em 1918, foi criada a primeira entidade dirigente do futebol em Sergipe ( a Liga Desportiva Sergipana) seus fundadores não se preocuparam em filia-la à CBD. E assim permaneceu até 1926, quando então Alfredo Rollemberg, dirigente da Associação Atlética de Sergipe, tomou a iniciativa de fundar uma nova Liga Sozinho (somente a Atlética e uns clubes fantasmas de usinas de açúcar do interior do Estado) conseguir filiar a LSEA (Liga Sergipana de Esportes Atléticos à Entidade máxima). Usando seu prestígio junto ao senador sergipano Gilberto Amado, a CBD aceitou a nova Liga sem , ao menos observar que, realmente, só existia um clube a ela filiada.
SUBJUGADO À BAHIA
Nas décadas de 1920, 30, 40 e 50 o principal certame nacional de futebol era o Brasileiro de Seleções estaduais. Como filiado, Sergipe teve de participar em 1927. Com um só clube filiado, a LSEA não conseguiu formar a verdadeira seleção sergipana e foi jogar no Rio de Janeiro com um amontoado de jogadores desconhecidos (somente três eram de grandes clubes) e levou uma tremenda “lavagem” de 13×1 da seleção fluminense. A partir de 1928 ( o certame era então anual) a seleção sergipana disputava uma fase eliminatória em Salvador com três participantes, incluindo os “donos da casa”. Somente um passava adiante. Então era tremendamente desigual esta disputa pois o futebol da Bahia era o mais poderoso do norte-nordeste (até o início da década de 1950) cabendo aos outros dois integrantes do grupo a condição de meros participantes. As goleadas sofridas pelos inexperientes sergipanos eram aterradoras, jogando em seu próprio campo (Campo da Graça) diante de sua torcida e possuidor de um nível técnico bem superior, a seleção da Bahia impôs goleadas impressionantes durante longos anos à seleção sergipana: 11×1(em 1928), 8×2(em 1929), 7×1(em 1931), 8×0 (em 1934), 6×2 (1930). Somente a partir da década de 1940 é que o futebol sergipano conseguiu diminuir esta diferença com a Bahia, conseguindo inclusive dois empates: (2×29 em 1943) e 1×1(em 1950).Mas um fator importante contribuiu para estes disparates no placar: a Seleção Baiana sempre jogou em seus próprios domínios. Nunca aceitou jogar em Aracaju.
OS PROTESTOS NÃO ECOAVAM NA CBD
Em 1934 surgiram os primeiros protestos contra a descarada proteção da CBD à Liga Baiana: “A insistência da CBD em programar a eliminatória entre Sergipe e Bahia sempre em Salvador, afasta qualquer esperança do futebol sergipano no certame Nacional…”. E adiante: …”Sergipe, que tem dado à Confederação todo o apoio moral de que a Entidade máxima brasileira tem necessitado, não merecia ser assim tratado, quando outros Estados vão enfrentar conjuntos de forças equilibradas”- publicava o “Sergipe-Jornal” de dezembro daquele ano. A partir de 1940 a CBD mudava o Regulamento do Campeonato Brasileiro, agora em dois confrontos diretos, um em cada sede dos disputantes. A seleção sergipana fez o primeiro jogo em Maceió e derrotou a seleção alagoana por 4×2. Diante do resultado, a seleção de Alagoa não compareceu ao jogo em Aracaju, nem comunicou a a tempo esta decisão, fazendo com que a seleção sergipana transformasse o jogo oficial num jogo-treino entre as equipes A e B! Se a CBD tomou alguma providência sobre o caso, a FSD não teve nenhum conhecimento.
ATÉ OS ALAGOANOS…
Em 1949 o futebol em Aracaju era disputado num campo improvisado num terreno que ficava nas proximidades aonde atualmente se encontra a CEASA. Era o campo do “Tobias Barreto”, cercado de pano, com arquibancadas de circo. É que o antigo campo “Adolpho Rollemberg” não oferecia condições de jogo e o Governo do Estado estava construindo o “Estádio de Aracaju” (aonde hoje é o Batistão). Em mais um exemplo do desconhecimento que os outros Estados tinham de Sergipe, logo no início de 1950, quando o Estádio de Aracaju estava praticamente pronto para ser inaugurado no jogo de estréia da seleção sergipana contra a de Alagoas (dia 15 de janeiro) a FSD recebia da CBD um ofício solicitando esclarecimentos a respeito do campo de jogo em Aracaju, pois a Entidade máxima havia recebido informações da Federação Alagoana que em Sergipe não havia um estádio adequado para os jogos do certame brasileiro e reivindicavam as duas partidas contra Sergipe no campo do Mutange, em Maceió. Perplexo, incontinente, Policiano (presidente da FSD) enviou telegrama à CBD solicitando o envio de um representante da Entidade para averiguar a verdade dos fatos e protestou contra as manobras excusas dos dirigentes alagoanos. A CBD então indagou do seu representante em Sergipe (o capitão Nascimento) sobre o fato e se deu por satisfeito com informações obtidas. O interessante é que, naquela ocasião, o Estádio de Aracaju era inaugurado com uma capacidade (parcial) de público de 10 mil pessoas (enquanto o Mutange, em Maceió mal chega quatro mil) além de uma arquitetura moderna e mais confortável.
E A BAHIA MANTEVE A “BANCA”
Eliminando Alagoas (2×1 e 1×1) a seleção sergipana enfrentaria (mais uma vez) a Seleção Baiana. Tomando conhecimento da inauguração de um estádio de porte, com uma capacidade de púbico condizente com o nível do certame, a Federação Baiana se apressou em exigir da CBD a realização dos dois jogos em Salvador, no arcaico campinho da Graça. Surpreso o público sergipano reagiu contra esta manobra ilegal indecente e discriminatória dos dirigentes baianos. Os jornais fizeram uma intensa campanha, solicitando inclusive a interferência do Governo Estadual. E mais uma vez a CBD desmoralizou o pequeno Sergipe, “rasgando” o regulamento e aceitando passivamente a descabida exigência da Federação Baiana. Os dois jogos foram então realizados em Salvador (1×1 e 4×0 para os baianos). Assim, desde que Sergipe participou do Campeonato Brasileiro de Seleções (1927 – 1962) a Confederação Brasileira de Desportos jamais marcou um jogo da Bahia em Aracaju, contrariando regulamentos e desconhecendo condições de campo. Assim, observando a história, não mudou quase nada em relação ao prestígio de Sergipe entre os órgãos governamentais. A CBD nunca se interessou pelo futebol Sergipe. Filiou a primeira Liga Sergipana desconhecendo que existia outra com todos os principais clubes. Em 1934 surgiram os primeiros protestos contra a descarada proteção da CBD à Liga Baiana. Até os vizinhos alagoanos desconheciam o que acontecia em Sergipe. Solicitaram inversão de mando de campo às vésperas da inauguração do Estádio de Aracaju. A CBD jamais marcou um jogo oficial da seleção baiana para Aracaju, mesmo com a inauguração do Estádio de Aracaju.